sexta-feira, 31 de outubro de 2008

UM AMIGO DO PEITO (12)

IVAN GIUNTA, O PUBLICITÁRIO
Quem você citaria assim de cabeça como um publicitário com a cara de Bauru? Eu não pensaria nem um pouco, cravando direto a resposta com o nome de IVAN GIUNTA. Esse baixinho, mente privilegiada, participou de campanhas muito comentadas por aqui (quem não se lembra das do início do nosso Shopping Center?). Pois é, a notícia triste é que Ivan nos deixou, foi embora desse mundo. Vai fazer muita falta. Adorava tomar umas cervejinhas pelos bares da cidade e só fazia amizades por onde andava. O danado também tocava bem pra caramba (baterista dos bons). Nas duas últimas vezes que estivemos juntos, foram eventos tendo a música como pano de fundo. Na primeira, logo depois do aniversário de Bauru, do show com o Jair Rodrigues, o vi cantando num jantar em homenagem ao cantor, na Fazendinha da Expô, junto com o Luiz Ornellas, esse no violão e voz e Ivan na percussão, sentado sob o instrumento. Repertório só de MPB, escolhido a dedo. Noite para privilegiados, ainda mais porque sentei bem ao lado dos dois músicos. Depois fui revê-lo no SESC, no show do Farofa Carioca, em outubro. Tirei uma foto dele (essa aí ao lado) e nem te conto onde fui encontrá-lo. Isso mesmo, no balcão do bar. Já joguei muita conversa fora ao lado desse cara e bebericar mesmo, acho que a última vez deve ter sido lá no Bar da Geni, na Praça Portugal. Boas lembranças tenho lá do seu estúdio, nos Altos da Cidade, onde ia para falar de serviço, mas o papo desandava para variados assuntos, daqueles de te fazer perder a hora de voltar para casa, esquecer os outros compromissos e deixar de tomar o último ônibus. Quando lá estive com Marcelo Pavanato (outro falecido), de Pirajuí, enquanto os dois travavam um papo de assuntos profissionais, pesquei um livro na sua estante e o li lá mesmo, de cabo a rabo. Era "Átila, você é bárbaro", do cartunista Jaguar. Possui uma rara biblioteca, inclusive com muitos quadrinhos, uma farta fonte de inspiração. O baixinho agora está em outra. Tô triste e prometo para mim mesmo, que a próxima gelada que tomar será dedicada a esse macanudo, bom de papo e de conversa. Com muito louvor!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CENA BAURUENSE, E PORQUE NÃO DIZER, BRASILEIRA (11)

GI, SUAS DORES E UMA TORTURA
Gisele Pertinhes é uma grande amiga. Completou 41 anos nessa semana e não passa por bons momentos. Sua coluna arriou, uma hérnia de disco maltratada (maltratada, também) travou tudo, indo parar na UTI. Coisa séria, dores mil e remédios em excesso. Quando as dores ficam mais fortes, dopada desmaia e assim dorme. Inferno astral. Um dia antes da eleição, o médico a deixa voltar para casa, sob dieta rigorosa. Aluga uma cadeira de rodas e fica em sua casa curtindo seus momentos de dor. Uma turma a leva assim mesmo para o show do Chico César (eu junto e ela bem que tentou) no SESC. Uma amiga dela liga dias depois, propondo ajuda em forma de orações. Só em casa, aceita. Chega momentos depois, trazendo consigo um pastor de uma conhecida igreja evangélica e um outro acompanhante. A fisionomia do dito cujo lhe é familiar. A ajuda oferecida é diagnosticada como um diabo, coisa-ruim, tranca-ruas, exú, chupa-cabra, que lhe infiltrou corpo adentro. Boquiaberta ela olha para a amiga, que absorta concorda com tudo. Aos gritos, o pastor conclama que essa “thurma” lhe abandone o corpo, pois do contrário irá se ver com ele. Aperta com força sua cabeça, gesticula muito, sempre aos gritos. Saca de um vidro de óleo, esfregando com força o conteúdo na região afetada. Nesse momento ela urra de dor e o pastor grita: “Você crê? Se crê, pede, ore, que ele irá te curar”. Atônita, pede calma para o dito pastor e somente após muita insistência consegue fazê-lo diminuir a fúria no tratamento. Trava um ríspido diálogo com ele: “Sim, eu creio, mas em algo superior, numa força maior vinda lá de cima, mas nunca lhe peço nada aos gritos. Meus Deus não é surdo e o seu é”. Finalmente consegue fazer com que a "troupe" deixe sua casa. O trio sai, mas por uma dessas coincidências da vida, tromba na saída com a sua mãe e filha chegando. Adentram novamente a casa. A mãe, educada por natureza ouve a ladainha: “Estava de saída, mas recebi uma luz me pedindo para voltar, pois minha missão estava incompleta e a cura seria alcançada”. A menina se refugia no quarto e a mãe, na ânsia de ajudar, a tudo permite. O pastor conclama para que sózinha se levante, pois resolveria tudo pela força da fé. Ela não consegue fazê-lo e precisa ser amparada pela tal amiga e o acompanhante. Consegue se manter pouco tempo sem amparo e desaba novamente na cadeira. Pede delicadamente que saiam. O fazem aos gritos: “Falta fé e a cura só acontece com fé. Precisa crer”. Ainda tem tempo para uma profecia: “Amanhã você vai amanhecer curada”. Acorda no dia seguinte com as mesmas dores, amortizada pelo efeito dos remédios. Liga a TV e entra em pânico, reconhece o tal pastor que estivera em sua casa, agora com a mesma encenação via televisão. Foi demais. Tudo isso acontece no Dia de São Judas Tadeu, tanto que, ela, mãe e filha pedem ao santo as devidas melhoras, sem que lhe aconteçam novas surpresas ou provações um tanto desnecessárias. Complementar uma história dessa com o que? É isso que acontece aqui, acolá e por tudo quanto é canto.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

UMA CARTA (20)

CARTA ABERTA: DOIS BETOS, DOIS RELIGIOSOS E DUAS POSTURAS
É pura coincidência, mas ela veio bem a calhar. Ambos são conhecidos pelo apelido de Beto, religiosos, ligados à religião católica, escritores e adoram, além da escrita e da religião, se meter em política. Ambos também o fazem, seguindo um direcionamento pessoal, que lhes conduzem as vidas. Mas é exatamente a partir daí, que surge um distanciamento, de idéias e de opiniões. Um deles possui uma vida toda dedicada para as causas sociais, a luta a favor dos menos favorecidos e contra as injustiças desse mundo desigual e injusto, além de estar umbilicalmente ligado a movimentos da dita esquerda. O outro nem tanto, escreve também muito bem, mas seu sacerdócio esteve restrito a regiões mais abastadas da sociedade e o discurso condiz mais com esse público, sem uma conotação de transformação, luta e resistência. Enfim, o posicionamento de um é bem diferente do outro. Questão de como encaram o mundo à sua volta. Não que isso possa desmerecer a um ou a outro. Cada um na sua, cumprindo o seu papel, até porque ambos possuem fiéis seguidores, justamente pelo posicionamento assumido. Ambos Betos rezam missa, não gostam muito de batina e se um possui programa de rádio o outro já exerceu cargo público. Ambos viajam bastante e falam muito disso em seus textos, fazem belas citações nesses escritos (demonstrando uma erudição divinal), só que um atinge muito mais a faixa da classe média para cima e o outro faz o oposto. Deve ser essa a missão designada para cada um. Um numa trincheira, outro noutra. Ambos possuem sua causa e a justificam com bons motivos. Um está mais ao lado dos que mais possuem e o outro nunca se colocaria ao lado dos que detém o poder oligárquico. Um até toma posicionamentos favoráveis às mudanças, mas no frigir dos ovos pende para o lado das minorias privilegiadas. Ambos devem enfrentar problemas mil dentro da hierarquia da atual igreja, muito pelas escolhas que fizeram. Produzem textos apaixonantes, com grande poder de convencimento, mas quem lêem a ambos, sabem muito bem diferenciá-los. Sendo assim, por mais que possa existir semelhanças, se parecem muito pouco. Deu para entender a diferença entre os dois Betos? Deu para sacar, que mesmo modernos, antenados, um luta por mudanças e o outro pisa no freio? Se já entenderam, sinto que o que me fez escrevinhar isso tudo foi só para explicitar a minha preferência por um dos Betos. Como ambos foram corajosos, um a ponto de fazer parte do staf do Governo Lula e o outro de assumir publicamente no Horário Eleitoral votar num candidato mais à direita (não do Pai Nosso), eu, dentro de minhas limitações, assim como ambos fizeram, assumo que o Beto de minha preferência é o frei e não o padre, o cujo nome é escrito com dois "t"s. Questão de preferência e de postura pessoal. Por tudo o que esse sempre representou na minha vida, não poderia deixar passar esse momento.

PS: Para aqueles que me acreditavam incrédulo, eis que me posiciono: devoto de Frei Betto. Amém!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

UMA ALFINETADA (40)

A MAIS EQUILIBRADA CAMPANHA POLÍTICA DO PAÍS
Passado um dia do resultado da eleição, onde aqui em Bauru, Rodrigo Agostinho, 30 anos foi eleito prefeito, quero fazer uns breves comentários sobre alguns procedimentos, que acontecem aqui e na maioria dos lugares onde rola uma campanha política. Nesses momentos parece vigorar uma espécie de vale-tudo, onde o ataque pessoal passa a ser algo até considerado como natural. Hoje, com a internet chegando ininterrupta em todos os lugares, existe condições de ir acompanhando quase tudo no mesmo momento em que eles estão ocorrendo. Deu para perceber, que tanto no primeiro, como no segundo turno rolou muita baixaria por aí. Coisa feia. E sempre foi assim. Quem não se lembra do Collor usando a mãe de uma filha do Lula e apregoando o negativismo dele possuir um simples aparelho de som. Usa-se muito o nome de Deus, como naquela perguntinha marota do Casoy: "Você acredita em Deus?".
Nos tempos atuais circula de tudo via internet. Nossas caixas de e-mail viveram entupidas de mensagens agressivas e desrespeitosas. Posso parecer tendencioso, mas gostaria que me provassem o contrário. Aqui em Bauru, recebi muitos e-mails, na sua grande maioria desmerecendo o Rodrigo, do PMDB e a Estela, do PT e nenhum cutucando o Caio (elogiando recebi muitos). A eleição já está encerrada e tudo vai acabar caindo no esquecimento, mas é sempre bom voltarmos ao assunto, até para tentarmos dar um basta nesse tipo de procedimento. Quero fazer um paralelo de tudo o que presenciei aqui, a baixaria da Marta na questão pessoal do Kassab e tantas outras e a campanha que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro. Por lá, mesmo estando ambos praticamente empatados, disputa acirrada, a baixaria praticamente não aconteceu e por onde estiveram, fizeram questão de manter um clima de cordialidade e respeito mútuo. Tanto que a manchete de ontem do JB era de aquela era a "mais equilibrada campanha política" na cidade. Ponto positivo para Paes, o vitorioso e Gabeira, o derrotado. Fizeram política na melhor acepção da palavra. Que sirvam de exemplo.

Ainda ontem, ouvi na 94FM, uma entrevista com o vereador Marcelo Borges, do PSDB, onde falou sobre o posicionamento das siglas durante a campanha. Gostei da parte onde ele diz que os partidos são um tanto hipócritas, pois não expõe de fato o que pensam e como vão agir, com mêdo do eleitorado e quando isso acontece, num deslise, logo surgem os desmentidos e fica esse negócio meio falso. Não sei se ele falou sobre o desmentido do Caio sobre o DAE, mas citou que Rodrigo pretende dar um basta na merenda, nos moldes atuais. Poucos possuem a coragem de dizer o que realmente pretendem fazer e como vão agir, como atua o grupo político que representam. Bom assunto para um debate amplo, que poderia ser iniciado desde já, sem mediocriadades.

Por fim, quero publicar duas fotos aqui, tiradas logo no início da campanha, quando Rodrigo, acompanhado do Darcy Rodrigues, da Rose, do Cláudio e do Missão estiveram lá no Jardim Mendonça, numa festa anual daquele bairro. Estava por lá nesse dia e registrei alguns flashes de um início de campanha, onde tudo ainda era um tanto incerto. Como não tenho fotos recentes do prefeito eleito em campanha, publico essas, logo dos primeiros dias. Valem pelo registro, algo que esse blog gosta muito. Muita coisa passou debaixo dessa ponte depois. Será que durante a campanha daqui, daria para ambos posarem para uma foto juntos, como a do JB de ontem? E a Marta e o Kassab? E lá em Belo Horizonte? E lá em Porto Alegre? E lá em Floripa? Política sem baixarias seria algo realmente admirável.

domingo, 26 de outubro de 2008

MEMÓRIA ORAL (51)

ÚLTIMOS MOMENTOS PRÉ-ELEITORAIS
A campanha do 2º Turno em Bauru assumiu ares de uma acirrada disputa. O candidato do PSDB/DEM, Caio Coube não levou a eleição no 1º Turno e viu sua situação se complicar quando Rodrigo Agostinho, do PMDB/PT, assume a dianteira e dela não mais de afasta. A cada divulgação de novas pesquisas, a distância entre ambos só aumentou, assim como o desespero de integrantes do grupo ligado ao já considerado eleito por antecipação. Nos derradeiros momentos, o clima esquentou, com o surgimento de novidades a cada momento, tudo com o intuito de reverter a situação. Uma constatação: nas ruas e nos carros, a do Caio possui maior visibilidade. Reflexo talvez da própria região central.

No último dia de campanha nas ruas, sábado, 25/10, uma nova pesquisa apregoa que a distância entre ambos já supera os 15%, exatamente o número do Rodrigo. O horário eleitoral no rádio e TV estavam encerrados, restando a campanha nas ruas, com as carretas e caminhadas. O termômetro na cidade também está elevado, passa dos 35º, o sol bate forte e ferve os miolos daqueles que parecem não entender e, muito menos aceitar a reviravolta. Abrir e-mails nesses dias é encontrar textos e mais textos clamando pelo voto em Caio: "a vitória da ignorância sobre a democracia", "quando um empresário tradicional, com um passado respeitado por todos, que tem a coragem de ver sua vida privada exposta...", "precisamos de pessoas preparadas, acostumadas a liderar..." e "embora longe de Bauru, tenho familiares trabalhando na Tilibra...". Fotos montagens mostraram Rodrigo em situações para lhe prejudicar o desempenho. Sei que devem ter ocorrido de ambos os lados, mas na minha caixa de e-mails só recebi de gente pedindo voto no Caio e ironizando o Rodrigo, como na montagem dele junto aos gays.

Um site local, o Vivendo Bauru, comprou uma briga na defesa do grupo ligado ao seu mediador, Renato Cardoso, desqualificando Rodrigo. Choveu no molhado, quer dizer, se indispôs com um monte de gente. Renato cutucou duramente o outro lado e quando questionado, disse estar sendo perseguido, "até com ameaças de morte", diz ele. Deve ter exagerado, tanto no que havia dito, como na reação do outro lado. "Esses momentos pré-eleitorais são propícios para a criação de uma indisposição difícil de ser dissipada. Você cutuca o adversário agora, a eleição acaba amanhã, mas a mágoa fica. É preferível ouvir e falar muito pouco", me orienta um conhecido, matreiro político, preferindo não se identificar, dando uma visão exata do momento vivido pelos grupos adversários.

Fui para as ruas no sábado. Os jornais anunciam a ocorrência de duas caminhadas, ambas no Calçadão da rua Batista de Carvalho. A de Caio, às 10h30 e a de Rodrigo às 13h00. Tudo previamente combinado para que os cabos eleitorias não se encontrem. Circulo pelas ruas por volta das 11h00 e o clima é calmo. O primeiro a encontrar é Roque Ferreira, recém eleito vereador, junto com a esposa. Esse vive um ótimo momento e a cada passo dado, pessoas vem lhe abraçar e dá-lhe cumprimentos. Nos poucos minutos ao seu lado, uma família faz questão da baordgaem, só para apresentar a filha, que queria muito conhecê-lo.

Subo a Batista e logo cruzo com o professor Vitor Martinello, que sempre votou com os tucanos, mostrando-se reticente com os destinos da ideologia no mundo moderno, explicitando a teoria defendida por ele: "A ideologia está com os dias contados. Não existe mais. Hoje, uma pessoa é adversária de outra, desce a lenha nele e amanhã estão juntos e nós ficamos sem entender nada. Acabou o compromisso ideológico. O que vai valer daqui para a frente é a honestidade. Vamos votar na honestidade dos candidatos, nada mais". Vitor fala para uma roda de pessoas, que cresce a cada momento, todos ligados no tema e nos destinos da cidade, tais como: Pedro Valentim, professor Reginaldo, Nelson Fio, Arnaldo Geraldo, Ubijara do Senai e outros.

A caminhada dos tucanos passa um tanto esvaziada, sem grande motivação. O candidato Caio não os acompanha naquele momento. Com a passagem do grupo e o tempo existente até a do Rodrigo, alguns do grupo decidem tomar uma cerveja num dos bares do centro. No caminho, Pedro Valentim, que no dia seguinte havia conseguido, por iniciativa sua suspender os direitos políticos do presidente da Câmara de Vereadores, ouve num tom de ironia, algo que não é levado muito a sério por esses lados: "Cuidado, hem! Qualquer dia você acaba com a boca cheia de formiga". O bar do Nélson Ret, na quadra um da Gérson França é o escolhido. O dono acolhe a todos com seu jeito falastrão e comunicativo, tocando seu bar com um lema, que também vale para o momento político da cidade: "A porta por onde se entra é a mesma por onde se sai".

Rojões espoucam no ar. Não se sabe de que lado estão. Arnaldo, solta o seu veridicto: "Isso não deve ser de nenhum dos lados. Isso deve ser coisa de corintiano, que joga hoje e deve voltar para a 1ª Divisão. A festa hoje é deles e amanhã será nossa". Dito isso, todos voltam para a rua. Numa movimentada esquina, um grupo ligado à Rodrigo espera a começo da caminhada, que está atrasada. Folhetos com os últimos resultados da pesquisa são distribuidos e até um cachorro está paramentado com a indumentária do 15, o nº do Rodrigo. Em todos, um contentamento de que a vitória está mais próxima do que possam imaginar.

Rodrigo demora a aparecer. A fome clama fundo e a turma na esquina continua esperando pacientemente. Faz barulho e demonstra não desistir tão cedo. Cansado decido ir almoçar, pois o relógio já passa das 15 horas. Passo por um camelô empunhando uma bandeira do Rodrigo. São sinais da adesão generalizada. Depois fico sabendo que Rodrigo veio só, com a namorada, por volta das 16h, juntando-se ao seu grupo. Em ambas manifestações, a constatação de que as caminhadas finais não foram tão expressivas assim. O mesmo não se pode dizer das carreatas, que movimentaram a cidade toda. Foi uma barulheira danada.
Pouco mais havia ainda a ser feito. Preferi assistir a vitória corintiana, com aquelas imagens cheias de muita emoção, de um time que retorna democraticamente para a divisão da elite do futebol brasileiro. Declarações explícitas de amor a um time de futebol, que ainda não podem ser comparadas com as vividas em nossas eleições. À noite, tentando se desligar totalmente do tema eleitoral, vou assistir Chico César, no encerramento do Circuito SESC de Artes, no show FFF (Francisco, Frevo e Forró). O último contato com a eleição foi rever Roque e a esposa, cantando o "Caminhando", do Vandré ("quem sabe faz a hora, não espera acontecer"), junto de uma galera predominantemente universitária. No dia seguinte, hoje, domingo, dia do pleito, acho que será só para sacramentar o que já está mais do que selado.

HPA (escrito na manhã do domingo, 26/10 e publicado na tarde do mesmo dia, após votar, mas sem nada saber sobre como anda a votação. São quase 16h e a eleição ainda rola por aí).

sábado, 25 de outubro de 2008

UMA FRASE (24)
EÇA DE QUEIRÓZ
"Estamos perdidos há muito tempo.../ O país perdeu a inteligência e a consciência moral./ Os costumes estão dissolvidos,/ as consciências em debandada./Os caracteres corrompidos./ A prática da vida tem por única direcção a conveniência./ Não há princípio que não seja desmentido./ Não há instituição que não seja escarnecida./ Ninguém se respeita".

"Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos./ Ninguém crê na honestidade dos homens públicos./ Alguns agiotas felizes exploram./ A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia./ O povo está na miséria./ Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente./ O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo./ A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências./ Diz-se por toda a parte, o país está perdido!/ Algum opositor do actual governo? Não! "

Seus pensamentos não necessitam de comentários. Para não perturbá-los muito, só mais um dele: "OS POLÍTICOS E AS FRALDAS DEVEM SER MUDADOS FREQUENTEMENTE E PELA MESMA RAZÃO". Boa votação para todos e todas. Amanhã nos falamos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

UM COMENTÁRIO QUALQUER (22)

CINEMA NACIONAL ANTES DO PLEITO ELEITORAL
A campanha do 2º Turno para as eleições municipais de Bauru come solta nas ruas. Pau puro a três dias do pleito, mesmo a contenda já estando mais do que decidida (15% de vantagem para o 15 - Coincidência? A diferença vai é aumentar...). Não dá para ficar indiferente, mas nas horas vagas a vida segue. O trabalho continua intenso e após ele, nada melhor do que mergulhar de cabeça em algo inebriante: CINEMA NACIONAL. Acompanhado do filho, na quinta (ontem), assistimos junto dois filmes.

O primeiro no Cine'n Fun, 19h45, "Linha de Passe", do Walter Salles e Daniela Thomas, com um time de atores desconhecidos, tendo à frente a ganhadora de melhor atriz do último Festival de Cannes, Sandra Coverloni. Um soco no estômago dos acomodados ou dos que insistem em não enxergar a imensa legião dos "invisíveis", bem ao nosso lado. Um filme terceiro-mundista, visão ampliada e atual das periferias mundiais. Saimos atordoados do cinema.
Corremos de lá para o Cine Shopping, 21h30, "Ensaio sobre a Cegueira", do Fernando Meirelles, da obra do português José Saramago. Inebriante. Melhor do que tudo foi o interesse do filho de ler o livro (já estou providenciando). A cegueira pode vigorar até mesmo quando temos a certeza de tudo ver. Nossos olhos são uma espécie de filtro, onde só enxergamos o que queremos, o que nos convém.

Quase meia noite saímos da sala, sem sono e com uma vontade danada de conversar sobre o que havíamos visto (foi o que fizemos). Campanha eleitoral já definida, acertamos a ida, ainda para esse final de semana, assistir "Era uma vez...", do Breno Silveira. Outro filme sobre nossas periferias, ou seja, o Brasil que continua valendo a pena. Que bela safra de filmes, hem? Todos continuam em cartaz por aqui. Nunca tivemos tantos filmes nacionais em cartaz na cidade. Fica a dica para as brechas eleitorais de cada um.
PS.: Detalhes dos filmes: http://www.adorocinema.com.br/

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

CENA BAURUENSE (10)

A ROTINA DO PICHA, PINTA. ATÉ QUANDO?
Exite uma luta meio que insana entre os pichadores e aqueles que pintam suas paredes. Desigual talvez fosse o termo mais correto. Bastou pintar e o muro estar localizado num local de boa visualização, para momentos depois estar pichado. Isso não é privilégio de Bauru. Ocorre em todos os locais. Enfeiam nossas cidades. Reclamar já não adianta mais. Existe um algo mais, que precisamos entender e compreender. Acompanho essa disputa com um certo olhar clínico. Fico na minha, mas a solução não é somente a da violência e da repressão. Aqui perto de casa, o dono de uma casa mal terminou de pintar sua parede com um lindo verde, chamativo. Amanheceu o dia havia por lá inscrições variadas, os tais hieroglifos ininteligíveis. Tenta outra solução, bem criativa: recolocou o verde, pintando por cima um desenho com pedras, dando uns retoques florais na parte superior. Já se passaram dois dias a a obra de arte resiste. Já na avenida Nações Unidas, o trecho rebaixado, embaixo da linha férrea é um dos preferidos das galeras do escrito esquisito. O local foi adotado pela Faculdade Anhangüera, mas o pintor deve ter cansado, pois mal pinta as cores da escola, no dia seguinte, está tudo borrado novamente. Haja tinta e paciência.

E o que fazer? Recorrer as autoridades ainda continua sendo a solução, mas não a única. Alguém já tentou dialogar com essa galera? Entender o que pensam, como agem e os motivos? Um professor amigo meu chegou a ouvir de um pichador, que ele precisava ser ouvido, não tinha espaço para se expressar e diante de tantas portas fechadas, a alternativa era uma revolta total contra tudo e contra todos, odiava o mundo como ele se apresentava . Não seria uma mensagem? Uma espécie de toalha acenada, demonstrando uma possibilidade de diálogo. A revolta juvenil precisa ser aflorada de alguma forma e se não existir outros meios dessa exposição, todas as brechas serão ocupadas. E enquanto essa aproximação não for tentada, quem padece são os donos das paredes. Conto nos dedos quantos dias irá durar a resistência do meu vizinho, o da parede com falsas pedras.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

RETRATOS DE BAURU (40)

INÊS FANECO, A DO MURO MAIS "MOVIMENTADO" DA CIDADE
Inês Faneco é moradora da vila Falcão desde que me conheço por gente. Ela e seus irmãos são pessoas, cujas histórias se misturam com a do bairro, importante reduto ferroviário de Bauru. Hoje, ela mora num local privilegiado, num quarteirão de acesso entre a vila e o viaduto que leva todos para a Castelo Branco ou para a Duque de Caxias. E passando defronte sua casa, lá está o famoso muro. Ela, numa criatividade bem própria, vai romovendo frases antigas e adicionando novas, bem ao seu estilo. Ficou famosa como a dona do muro mais famoso da cidade. Tempos atrás tentarão lhe impor o que escrever por lá. Ficou pê da vida e até carta saiu no jornal, pois estavam querendo censurar e direcionar o que lhe vinha na mente. Bateu o pé e seu muro continua mais democrático do que nunca. Inês tem 48 anos e já fez uma pá de coisas na vida. Quando lhe perguntam o que faz da vida atualmente, é simples e rápida: "Sou autônoma". E tenho dito, aliás, como a grande maioria do povo brasileiro. Circula pela cidade com um carrinho de pipoca, que loca para eventos variados pela cidade. O mais legal do carrinho é que ela vem junto, abrilhantando eventos mil por tudo quanto é canto. Inês é de um astral elevado, pessoa de responsa e faz e acontece, de um jeito bem próprio, só seu. Tem um brilho próprio, só seu.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

MAIS UM BATUTA QUE PARTE DESTA CONFUSÃO

A notícia triste da semana fica por conta da ida prematura de LUIZ CARLOS DA VILA, um sambista raro, daqueles inigualáveis, como não se fazem mais hoje. Mais um que o câncer leva de forma cruel. Com 59 anos deixa portentosos sambas no currículo, um poeta como poucos, retratando sua Vila da Penha, Ramos e o Rio de Janeiro como poucos saberam fazer. Tive o prazer de vê-lo no Teatro João Caetano na festa dos seus 50 anos, rodeado de gente bamba, já apresentando os primeiros sinais da fadiga fatal. Quando um Aldir Blanc, do alto de sua sabedoria diz que "costumo dizer que não tive o prazer de conviver com Cartola, mas tive o privilégio de conviver com Luiz Carlos da Vila", não se precisa acrescentar mais nada. Tudo está dito aí. Dois anos atrás brinquei com o pessoal do jornal Bom Dia, perguntando se eles sabiam de quem era a foto que mais havia saído no jornal. Eu mesmo dei a resposta, Luiz Carlos da Vila, na capa do disco aí do lado, que estampava diariamente um anúncio no Carderno Viva. Querem saber mais dele, pois vai lá, acessem: http://www.luizcarlosdavila.com.br/
UMA CARTA (19)
Recebo em meu e-mail os textos postados do site "Vivendo Bauru", do publicitário Renato Cardoso, que também usa um pseudônimo de Z Castel. Conheço ele superficialmente, como ele a mim. Por três vezes reproduziu no site textos meus. Leio a maioria recebida e nunca respondo. Dessa vez, preferi fazê-lo. Li seu texto postado no último domingo e não me segurei, estava apelativo demais. O texto que me chamou a atenção tinha por título "Representantes de Lions, Rotary, Maçonaria e outras entidades se reúnem em defesa de Bauru". Versavam sobre as nossas eleições. Ontem, segunda, repassei a resposta a ele. Acho que não deveria publicá-lo aqui, mas como ele citou meu nome em sua coluna de hoje no site, prefiro fazê-lo, deixando muito claro minha postura de criticidade. Isso deixa claro como penso e como são minhas ações.

CARO RENATO CARDOSO, DO "VIVENDO BAURU"
Recebi seu último texto (Representantes de Lions...) em minha caixa de emails e achei um tanto pesado e perigoso. Deixo claro não possuir nada contra aqueles que declaram seu voto num meio de comunicação. Acho isso ótimo, pois o fazem externando sua opinião, delimitando para seus leitores a preferência da publicação. Mino Carta fez isso nas duas últimas eleições presidenciais, posicionando-se ao lado de Lula, porém não baixou o nível. A revista Veja já age diferente, não assume o seu lado, mas desmerece só um deles. Dessa forma, perde credibilidade, pois tendenciosa como é, não consegue enxergar os dois lados da questão. Entrar nessa usando de falsas verdades é ficar marcado para sempre.

No seu texto, algo me intriga. Quando repercute a pesquisa de um jornal local, desfavorável ao seu candidato, diz que "há um esquema armado para desestabilizar uma das candidaturas" e logo a seguir desfere a sua opinião como se ela refletisse a única versão possível, com "nitidamente, ficou claro quem tem mais condições para assumir...". Na seqüência se mostra mais lamentável, com a afirmação de que o grupo contrário aos seus interesses "usa de discursos vencidos e deploráveis com foco no confronto de nossas polícias, que declaradamente repetem ações da CUT de épocas do sindicalista e metalúrgico (que nunca trabalhou), Lula Inácio" (aqui algo perigoso, misturando greve policial, CUT e Lula). Teve mais, com duas observações inadequadas: "agora com a adesão de um forasteiro João Hermann" (forasteiro do lado de cá pode, mas do outro não) e "o comentário é de que Izzo virá a ser o Secretário de Obras de Agostinho, caso este se eleja" (de onde tirou isso? Não seria um ato de desespero de causa?). Foi demais, selou seu conservadorismo.

Num dos parágrafos explicita ter sido marcada a reunião de lojas maçônicas e clubes de serviço por seu intermédio e externa no texto uma opinião sua, como se deles fosse. Usa um termo dos mais desgastados e preocupantes para os destinos dessa cidade, quando reafirma que "as forças vivas da cidade entram na luta para salvar Bauru...". Forças vivas para salvar o que? Lutando para obter o que? Envolvidas em que? Que interesses possuem essas tais forças vivas? Essa miscelânea de interesses, convergindo para o de um grupo, precisa ser melhor entendida e esclarecida para o conjunto dos eleitores. Vejo como real "força viva" da cidade o seu conjunto de trabalhadores, que alavancam suas reais e visíveis mudanças. Já da "força viva" de sua citação, não espero mais nada, além da defesa dos próprios interesses.

Por fim, diante de algo que também li no seu texto, "preocupação quanto a ingerência de veículos de comunicação no processo eleitoral", te faço a seguinte observação: se ficou descontente com a divulgação de algo num dos jornais, poderia alegar o mesmo do que li no seu site. No jornal foi a reprodução de uma pesquisa, só isso, no seu site, uma opinião sua, tentando impô-la como a vontade de um grupo. O que seria mais danoso? Façamos nossas reflexões...
HPA
Em tempo: As imagens aqui postadas foram retiradas dos sites do Renato, servindo para ilustrar meu texto. A resposta que ele me enviou via email, não posto, pois foi feita reservadamente. Havendo autorização, publico.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

UMA DICA (27)

POSTURA PESSOAL E O “TERRA VIVA”
dedicado à amiga Ivy Wiens e a sua causa

Aprendi a não consumir qualquer tipo de mercadoria. Não sou um“Eco-Chato”, mas também não abro mão de alguns posicionamentos. Nas pequenas ações tento construir um mundo melhor, mais palatável. Vou ao mercado com minha própria sacolinha e evito trazer aquele amontoado de sacolas plásticas para casa, não suporto ver pessoal varrendo calçada com jato d'água e não acho nada recomendável aqueles carrões turbinados nos trânsitos das cidades, os tais utilitários, totalmente desnecessários, tanto pela opulência, como pelo consumo excessivo de combustível e pela quantidade de gases em excesso que expelem. Foram feitos para a zona rural e destoam dentro da área urbana. Totalmente desnecessários. Costumo olhar nos rótulos antes de comprar algo. Se o produto for de uma empresa poluidora, das que não respeitam o semelhante, inimigo da natureza, transgênico, ou coisa que o valha, não consumo de jeito nenhum.

Reencontro nas prateleiras de Bauru um desses produtos que me dão imenso contentamento em trazê-lo para casa. Consumo muito leite e o “Terra Viva”, um tetra-pack desnatado, embalado pelos sem-terras catarinenses, produto da Cooperoeste (Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo-Oeste) é o meu preferido. Fez minha cabeça logo de cara. Comprava no Confiança Rodoviária, perto de casa e sumiu das prateleiras, de um dia para outro, como numa passe de mágica. Reencontro o produto no Panelão, do Redentor e trago logo duas caixas para meu consumo. A cooperativa deles é algo a ser valorizado, passam por transformações, estão crescendo, se modernizando, sem abandonar os propósitos iniciais. Ela foi criada há 10 anos, a partir da iniciativa de famílias assentadas no interior de Santa Catarina, preparando-se para dobrar a produção de leite e derivados, carro-chefe do empreendimento. Com investimentos de 20 milhões de reais, a empresa fundada e administrada pelo MST já beneficia diretamente 665 cooperados e as 2,7 mil famílias que fornecem matéria-prima para a organização. Os seus principais cargos estão nas mãos dos assentados. E o preço nas prateleiras é dos melhores. Não tem como não gostar da postura desse pessoal. Ou tem? Indico a todos, inclusive o site: http://www.terravivasc.com.br/

domingo, 19 de outubro de 2008

UM COMENTÁRIO QUALQUER (21)
AOS AINDA ECOMONISTAS NEOLIBERAIS DE PLANTÃO
Algo que me dá um incontido prazer é a constatar as artimanhas diárias, que alguns ditos economistas tupiniquins (incrustrados na imprensa diária) estão a fazer para tentar continuar demonstrando ser os EUA mais fortes do que antes, que o capitalismo selvagem e o neoliberalismo continuão sendo a única saída plausível para o Brasil, encurralado e para sempre de joelhos, subserviente às vontades expressas desde Wall Street. Alguns até ensaiaram críticas ao capital volátil advindo das malversações do insano governo Bush, mas não dão o braço a torcer totalmente (são uns incompreendidos). É divertido observar o engasgo nas explicações. Os tempos atuais não são nada propícios para que continuem cospindo as baboseiras de antanho. Afinal, o "deus mercado" está em baixa e esses economistas, inconsoláveis, pois falharam em quase todas suas previsões. Mentiram para todos nós. Dessa forma, não podem sair incólumes diante de tudo o que fomos obrigados a escutar esses anos todos. Se em 1989, com a queda do Muro de Berlim, enfatizaram ser o fim das ideologias, hoje, com toda a bancarrota financeira mundial, por que não se estabelecer o fim do capitalismo neoliberal? Afinal, até as soluções foram socialistas. Ou não? Será que a ficha cai dessa vez e desmascararemos definitivamente esses praticantes do "economês de balcão". Antes sabiam de tudo, viviam com uma bola de cristal nas mãos, verdadeiros deuses, propagando falácias como: o Brasil precisa continuar fazendo a "lição de casa" (era continuar dizendo amém ao neoliberalismo), a globalização é tudo (e fora dela não existe saída) e liberdade total para o mercado (um deus onipotente e inquestionável). A melhor solução para essas viúvas do falido sistema financeiro internacional foi a dada pelo jornalista Nirlando Beirão, quando afirma que é chegado o momento deles todos tirarem umas férias e até se aposentarem. Não farão falta nenhuma, passando até desapercebido tão edificante ato. Irão tarde. Tenhamos fé.

PS: Queria tanto que esse texto chegasse às mãos e olhos dos representantes locais desse nefasto segmento, que defende interesses que não os nossos. Me ajudem nessa empreitada.
(ilustrações retiradas de www.miguelrep.blogspot.com)

sábado, 18 de outubro de 2008

DIÁRIO DE CUBA (13)
UMA TARDE SÓ “TURISTANDO”...
Ainda continuo pelo 4º dia da viagem, uma terça, 11/03. Nesse relato adentro a parte da tarde e pelo visto, em cada dia irei ocupar de dois a três postagens. Não sei se suportarão. É que estou pegando gosto e querendo descrever tudo, sem hipocrisia e falácias. Como havia relatado, a manhã toda havia sido ocupada com a visita a UJC. Da saída em diante fomos perambular pela “Habana Vieja”, comprovando que não estivemos lá somente com atividades sérias. Naquela tarde assumimos nosso lado turista e saímos a conferir os pontos turísticos mais conhecidos no centro da capital cubana.

Logo de cara, numa esquina, seguindo nosso mapinha conseguido na portaria do hotel, aportamos no bar La Floredita. Fotos e mais fotos. Algumas quadras abaixo, o mais famoso bar cubano, La Bodeguita del Medio. Para não fugir à regra, ambos fazemos aquelas comprinhas básicas. As tais peças de recordação, como canecas e cinzeiros, com a logo da casa. Precinhos convidativos. Visitar o local e não tomar morritos é algo que não poderíamos fazer. Tudo por quatro pesos. Os preços são baixos e percebemos a cada contato, que nossa contada grana será muito bem aproveitada.

Ainda dentro da Bodeguita sou abordado por Orlando Laguardia, 75 anos, um simpático senhor, o poeta do local, trajando um paletó forrado de botons do mundo todo. Quando descobre sermos brasileiros, instantaneamente mostra o do “l3” petista e outro da campanha presidencial do Lula. Ele nem percebe, mas fixado lá, noto outro, um “tucano”, deixo quieto, pois acredito que nem ele deve lembrar ser aquela ave o símbolo de um partido daqui. Fala muito de Lula, numa intimidade vista em quase todos os cubanos, que o consideram um grande amigo da ilha. Pede meu nome e estado civil. Digo ser “tico-tico no fubá”, divorciado. Ele desaparece. Retorna em menos de cinco minutos. Traz consigo uma folha impressa com sua foto e uma poesia batida à maquina em minha homenagem.

Eis o poema: “Enrique si eres soltero/ Multiplicas tu valor/ Porque em comida y licor/ Alargas mas tu dinero/ Si se aparece un te quiero/ No estas a nada obligado/ Enrique porque has probado/ De tu Brasil bajo un polo/ De que es mejor estar solo/ Que estar mal acompañado/ Felicidades,obrigado”. Fico lisonjeado e lhe passo um peso. Tudo no local é inebriante, com as paredes cheias de assinaturas, inscrições de gente do mundo todo. Pena termos vindo muito cedo e a parte do restaurante estar fechada. Ficamos só no bar, na parte frontal. Na saída, uns 100 metros adiante, tiro fotos ao lado de um homem de bicicleta e duas cachorrinhas num cesto. Figura conhecida no centro. Vive de fotos e dos agrados dos turistas. Dou outro peso. Um velho nos aborda vendendo o jornal Gramma. Marcos filma o lindo discurso pró-Fidel, em defesa da ilha e das liberdades democráticas. Compramos o jornal.

Turistas por todos os lados (cadê brasileiros?). Em cada esquina uma novidade. Um grupo de teatro de rua, todos fantasiados e muito coloridos, promovem um carnaval defronte uma praça. A comissão de frente vem em cima de pernas de pau, espalhando música caribenha para todos ouvirem. Uma curiosidade: param tudo para um grupo de escolares atravessar à rua e tão logo passam, a festa continua. Um chapéu é passado ao final e todos contribuem, sem constrangimento. Não queria entender nada naquele momento. Estava feliz e isso me bastava. Caricaturistas de rua nos abordam e ambos somos desenhados. Pago mais do que Marcos e ele ri de mim. Mais uma bela lembrança. A risada seguinte foi quando tentei fotografar um cubano alto, negro, imensa barba, daquelas pontiagudas, com três charutos no bolso de um uniforme militar. Tiro fotos. Ele percebe, pede licença ao casal com o qual conversava e me diz ser um peso cada. Mostro a ele estar deletando as fotos. Nesse caso, preferi agir assim. Não farei nada por imposição. Sei que ele representa um personagem e vive disso. E preferi não pagar. Só isso. Nada mais que um personagem folclórico do centro de Havana.

A área central possui um amplo aparato montado para recepcionar o turista. Uns muito interessantes, outros nem tanto. De tudo, a comprovação in loco, estampada diante de nossos olhos, a de que vigora uma ampla liberdade para os habitantes, muito diferente do que lia no Brasil. Se assim não fosse, nada daquilo presenciado nas ruas seria possível. E as contradições, ao invés de me chatear, me deixavam muito alegre, pois via Cuba aberta para o mundo, mesmo que insistam em propagar o contrário. Na nossa frente a praça da Catedral, com visitas feitas em dois momentos (antes do almoço e no final da tarde), pois ali ocorre um encontro que muito nos marcou. O grupo musical “Los Mambises” toca na rua, sentado num dos cantos. Sózinhos eles valem um texto só para eles. É o que farei da próxima vez.