domingo, 30 de novembro de 2014

MEMÓRIA ORAL (171)


“E NINGUÉM VAI AVISAR A POLÍCIA...” – REPERCUSSÕES DA 1ª FESTA BOLIVARIANA DE BAURU, UMA HISTÓRIA PARA INGLÊS (NÃO SERIA PAULISTA?) VER


A idéia nasceu de um comentário feito via redes sociais, vindo de uma conhecida militante social bauruense, Tatiana Calmon: “Que inveja, a cidade de Ourinhos vai ter uma Festa Bolivariana e aqui nada”. Pronto, bastou isso para o tema ir fomentando discussões variadas e dentre os prós e contras, quando alguns mais ousados brincaram daquela forma resvalando em algo bem impertinente, beirando as raias do desagradável, foi o bastante, nascia ali a 1ª FESTA BOLIVARIANA DE BAURU. Esse que vos escreve, HPA inicia algo buscando aquecer as turbinas de todos aqueles que, estavam até dias atrás nas ruas e na campanha pela reeleição da presidenta Dilma, para que não abandonassem seus postos e se engajassem também nessa nova contenda.


“Sim, foi demais da conta isso de denominar tudo e todos com alguma conotação esquerdista de bolivariano. Nesse balaio cabíamos todos, mas o fizeram de forma pejorativa, com explícitas demonstrações de intolerância do tipo, ‘vá morar em Cuba’, ‘essa petralhada é tudo farinha do mesmo saco’ ou mesmo ‘comunista pdp’. Algo precisava mesmo ser feito”, escrevi. E foi. Eu e Tatiana pensávamos num lugar, algo intimista para começar a fomentar a discussão desses novos tempos, onde após a eleição algo a mais foi acirrado, incentivado e floresceu, vigorando uma permissividade de insultos, provocações e até mesmo achincalhes a tudo o que beire à luta social e desmerecendo o passado de luta e resistência. A escolha da casa de um antigo militante bauruense, professor de História, ex-presidente do Diretório Municipal do PT não foi por acaso. Oscar Fernandes da Cunha seu nome e do local onde reside outro problema, o Núcleo Residencial Presidente Geisel. Quando pensávamos que isso seria um problema, o próprio Oscar, aceita prontamente a realização em sua casa e diz que no convite poderíamos citar assim: “Rua tal, nº tal, bairro Ernesto G”. Pronto, pegou o espírito da coisa no ato.


O próximo passo foi decidir pela data para o mais rápido possível, daí dia 29/11, um sábado e fomentar a divulgação por todos os meios alternativos possíveis. Primeiro pelas redes sociais, por e-mail e depois pelo boca a boca. Nem precisa dizer que a cada novo post na internet, a discussão foi se acalorando. Mesmo os que não votaram em Dilma, mas não acirraram a questão para os lados mais bestiais do ser humano, tratavam o evento com certa ironia. “Vou se prometerem não me colocar num paredón”, escreveu Ricardo Coelho, engenheiro e da turma dos que desmerecem o PT em tudo, enxergavam mudança em Aécio, mas ainda aceitam brincar com o tema. O pior de tudo não veio daí e sim, quando um cartaz foi feito, após uma imagem bem apropriada ser gileteada via internet e produzido a mão e com as informações bem detalhadas da festa. Chegou às mãos de quem ainda não brinca nem um pouco com a questão. Resultado, o pau começou a comer.


Dentre outras provocações lá está uma: “Quem é de Bauru e região, por favor, divulgue isso e avise a Polícia! Essa imagem está rolando na internet”. A repercussão ajudou a esquentar ainda mais os tamborins e não arrefeceu os ânimos, aliás, os aguçou. Kizahy Baracat Neto, militou politicamente nas quebradas do movimento social em Bauru até 27 anos atrás, quando se mudou para Curitiba e não mais voltou, deixando por aqui inúmeros companheiros de convivência e mesmo ideal político. “Decidi vir e postei para todos tomarem conhecimento da passagem de ônibus de Curituba para Bauru”, diz. Não foi o único. Duílio Duka de Souza, professor de História aposentado, hoje residente em Botucatu, distante 100 km de Bauru, teve um enfarte há coisa de um mês e meio, ainda em resguardo, mas decide: “Vai ser meu retorno à vida política depois do problema que tive. Não posso ficar de fora dessa”. Na cidade a novidade ferveu, não saiu estampada em nenhum órgão tradicional da mídia, mas em todos os possíveis e imagináveis dos seus alternativos meios.

Convites foram impressos, distribuídos e por meros R$ 10 reais a entrada, com direito a um tradicional putchero, especialidade do Oscar, o dono do local da festa. Cada um traria uma bebedinha e junto disso, pedidos para trazer LPs, CDs com músicas dentro do padrão bolivariano de qualidade. “Resgatei Belchior, Taracón, Raízes da América, Mercedes Sosa, Fagner dos bons tempos e muito mais”, disse o produtor cultural Guilherme Reis. Ainda do cartaz o aviso, “Bauru nunca mais será a mesma...” e mais outro, respeitado e seguido pela maioria, o “vermelho é sempre bem vindo!”. A idéia era não abrigar não mais que sessenta pessoas, para não tumultuar a casa, vizinhos e nem possibilitar algo que fugisse do controle. Tudo a contento, assim foi feito e chegou o grande dia. E o povo foi chegando e chegando, totalizando aproximadamente umas cinqüenta pessoas. Na entrada, Duílio Duka estende um imenso cartaz, mandando fazer por ele com a reprodução do convite.

Muitas das mulheres presentes homenagearam uma personagem com cara de bolivariana, a mexicana Frida Kalo. “Foi a maior concentração de Fridas do interior paulista”, disse professora universitária Ana Bia Andrade. Ela, Tatiana, Helena Aquino, Rosângela Barrenha, Neiva Santos e outras tantas envergando sem nenhum despudor a cor vermelha em suas vestes. O putchero do Oscar fez o maior sucesso e servido em pequenas cumbucas, com cada um se servindo, rendeu boas conversas e receitas distribuídas aqui e ali. O entra e sai foi grande e dentre tudo, as histórias que rolaram. No meio da tarde, quando tudo estava ainda sendo formatado, eis que uma distinta senhora, Vera Padilha faz contato. “Queria tanto ir, mas não sei como chegar, tenho medo de me perder”, escreveu. Foi o bastante e um esquema foi montado para ir buscá-la (e depois devolvê-la intacta) em sua residência. E ela foi uma das que mais se divertiu, circulando de mesa em mesa, toda radiante e ao final disse em alto e bom som: “Quero mais, me convidem para outros eventos dessa natureza. Tive meu pai cassado em 64 e sei muito bem o que é isso de perseguição política”.

As histórias de uns e outros emocionavam. Num certo momento, casa já cheia eis que aparece um jovem no portão e olhando para os lados. “Estamos em cinco, minha amiga viu pela internet e queremos saber se podemos participar?”. Claro, foram recebidos e papearam a noite toda e só quando se foram, alguém indagou: “Ninguém perguntou o nome deles e acho que nos esquecemos de cobrar o valor da entrada”. Bolivariano prova assim, ser muito solidário com quem lhe faz chamego. Eles, pela simpatia irradiada fizeram isso. Daniel Hector Fernandez, argentino radicado há décadas em Bauru veio com a esposa e quando instigado sobre essas questões dos confrontos de hoje foi claro: “Quando da Copa, diante do que muitos fizeram com os argentinos acabei bloqueando meu facebook, fiquei um mês fora do ar, mas agora não, preferi discutir e enfrentar todos os que postavam algo onde via embutido a intolerância”.

A parte musical deixou a desejar. O aparelho de som não funcionou (o que não vem a ser nenhuma novidade), mas quem resolveu tudo foi o músico Júlio Miguel, uma viva réplica bauruense do herói dos quadrinhos Wolverine. Sacou do providencial violão, sempre no porta-malas do carro e encantou a todos. As preferidas, além das canções de fundo ideológico foram os clássicos de blues e estradeiras, suas preferidas. Ao seu lado, o estudante de História na vizinha Marília, Tales Freitas que adentra o local com uma suspeita mala, despertando curiosidades, algo só desfeito ao abri-la e lá os apetrecho para ligar o tal violão eletricamente (ufa!). A cantoria só não se prolongou mais porque Oscar, o dono da casa foi obrigado a bater o pezinho no chão: “Pô, ficamos sem incomodar os vizinhos até quase meia noite e agora, quando tudo parecia calmo, vocês começam. Bolivariano é do contra mesmo, hem?”.

O ferroviário e vereador petista Roque Ferreira trouxe alguns livros para distribuir, todos com a temática de sua facção partidária, o da Esquerda Marxista, mas esteve tão entretido em conversações outras, que acredito acabou esquecendo da literatura em cima de uma mesa, nos fundos da festa. Num certo momento a festa estava dividida, as mulheres na parte interna e num burburinho tamanho e na parte externa, na calçada os homens. Assuntando nessa roda externa, o militante e hoje aposentado Valdir Ferreira de Souza, relembrava de velhos tempos e hoje com mais tempo disponível para estar nas ruas e lutas dizia: “Tenho história para contar, participei de várias lutas e não me arrependo de nada. E te digo, estou pronto para outras tantas. Esses tempos que o digam”. E quando Oscar ligou seu enfeitado rádio com músicas ao estilo Violeta Parra, mereceu um sagaz comentário do Guilherme, vendo nele inscrições em chinês: "Essa a homenagem do Oscar ao camarada Mao".

Não deu para ir juntando todos os diálogos, uma pequena participação que fosse dessas 50 pessoas que lá estiveram, pois tudo foi ocorrendo de forma dispersa, tudo ao mesmo tempo. No final, quando muitos já haviam se debandado e uns poucos resistiam ainda conversando na calçada, na quente e abafada madrugada bauruense, o ex-bancário Cláudio Lago, outrora um inveterado agitador de movimentos grevistas em Bauru e região, militante cheio de histórias para contar e hoje aposentado (“Com muito gás ainda para gastar”, diz), junta alguns dos organizadores daquela inusitada reunião (mas não era festa?) e diz: “A importância disso tudo que vi aqui extrapola isso de uma festa. Foi impressionante a capacidade que tiveram de aglutinar as pessoas. Primeiro pelo motivo da festa, quando assumiram isso de todos sermos bolivarianos, depois fazendo algo cada vez mais difícil hoje em dia, que é a reunião dos iguais para conversar, trocar idéias e acabaram descobrindo uma forma de não deixarmos a peteca cair. Quero e sei que todos aqui precisam muito da repetição disso aqui. Sem perceber podemos estar nos realinhando”. Cláudio parecia estar num confessionário popular, ouvido por todos e deixando na cabeça dos que o escutaram uma minhoca a mais, a desse negócio de que tudo está apenas começando e muito mais ainda vai ter que continuar sendo feito daqui por diante.


Antes da dispersão, a somatória do que foi arrecadado e a felicidade de ter dado para saldar todos os pequenos compromissos, com um saldo credor de R$ 15 reais. Na saída, por mais que não pintasse em nenhum momento aquele clima de perseguição ou de vigilância à distância, alguém ainda lembrou: “E a polícia não apareceu e nem foi chamada. Não somos mais os mesmos”. Entre risos, os bolivarianos ainda encontraram forças para faxinar o local e pensar no que iria ser feito com as sobras, principalmente as latas de cervejas cheias (já não bebem como dantes) e a comida, que numa imensa panela, daria para muitos voltarem no domingo e continuar a refrega. Oscar refez o convite a todos e só depois do último se despedir, levantou de sua cadeira instalada na calçada, dessas tipo de praia, entrou para dentro e fechou o portão. Devia ser coisa de umas 2h30 da manhã. As admoestações só teriam continuidade no dia seguinte, quando as primeiras fotos começaram a ser publicadas na internet. “Os comunistas bolivarianos fizeram festa e na nossa fuça. Como pode?”, disseram os de sempre.

sábado, 29 de novembro de 2014

ALFINETADA (127)


O QUE ESTÃO A FAZER COM A PRAÇA DE PIRAJUÍ?*

* Esse texto saiu publicado na edição circulando hoje d'O ALFINETE, o intrépido semanário da vizinha Pirajuí SP e versa sobre um problemão em muitas cidades do interior paulista. Tem algo ainda não muito explicado e nem entendido nessas liberações absurdas de valores para remodelação das praças interioranas e como estão sendo executados a maioria desses projetos. Abaixo o texto e aberta a discussão, não só envolvendo essa praça, mas tantas outras que foram descaracterizadas com algo que era para sua remodelação, mas ocorrendo exatamente o contrário. Vamos ao texto:

"Nos últimos anos, tanto os Governos Federal como Estadual estão disponibilizando verba para que os municípios reformem e repaginem suas praças centrais. É uma verba carimbada, que os prefeitos fazem questão de usar, alguns de forma meio descabida. Os exemplos nesse sentido são bem visíveis nas cidades onde já ocorreram. Em Pirajuí está em andamento a tal reforma de sua praça central, causando rebuliço dentre os que a vêem piorando e não melhorando, como deveria ocorrer numa remodelação. “O moderno não deve priorizar a eliminação do verde, muito menos privilegiar o concreto”, esse o lema dos que querem rever o que está em curso.

Francisco Bonadio Costa é bancário aposentado, pirajuiense e residente em São Paulo, mas sempre antenado com as coisas de sua cidade natal. Está incomodado com as tais reformas na praça central da cidade, até porque não viu nenhuma consulta popular sendo feita antes da obra começar. Envia mensagem passada a ele pelo famoso homem de teatro, Naum Alves de Souza, também pirajuiense. Leiam o que ele escreveu e entendam mais um pouco do que verdadeiramente está em discussão.

“Autoridades de Pirajuí: em nome da memória de nossa nobre e querida cidade, mantenham o formato de nosso belo jardim, não o destruam com inconvenientes modernidades, justo quando se aproxima o centenário. Faço parte de um grupo de pirajuienses residentes em São Paulo e nos reunimos todos os meses para lembrar e falamos muito de nosso jardim. Será uma pena, um horror visitar a cidade no seu centenário e ver o jardim desfigurado, a exemplo do que foi feito no parque infantil. Ainda é tempo de parar essa obra destruidora, manter a forma original e recuperar o que está deteriorado. Ponham as mãos em seus corações e nas memórias de seus antepassados”, escreve Naum Alves de Souza, escritor, dramaturgo, diretor de teatro, ópera e artista plástico.

Na verdade, o que ocorre em Pirajuí já ocorreu em muitas outras cidades no seu entorno. Reginópolis uma delas. O Estado de SP provém recursos com essa finalidade, recuperação de praças e os prefeitos as usam para implantar uma tal de "modernização", que na verdade descaracteriza as praças, pois retira o verde e implanta em seu lugar o concreto. A de Reginópolis ficou pelada, uma parte dela sem sombra, tudo para privilegiar um espaço para eventos e shows (algo que poderia ter ocorrido em outro lugar). E no lugar do velho calçamento, foi colocando um concretão impermeabilizando o solo e deixando tudo com aquele piso liso, sem quase nada no entorno. Estão a piorar o interior e não melhorar. Uma modernização que veio para piorar, para enfeiar as cidades.

Dessa forma, a grita do Bonadio e do Naum é mais do que pertinente. Pior que isso, algo pouco discutido quando da chegada dessa verba. A população precisa entender melhor dos motivos desse projeto ter ocorrido sem uma discussão dos seus maiores interessados, a população. Qual o motivo de tudo ocorrer tão rapidamente, meio que as escondidas? Na maioria das cidades ocorre dessa forma, projeto pronto por uma equipe de fora, desconhecendo a realidade da cidade, dinheiro despejado na obra, necessitando de maiores explicações e entendimento em todas suas etapas. O motivo do poder público se recusar a sequer discutir o assunto demonstra insensibilidade. Nada que uma boa mobilização popular não os demovam da idéia de que são os senhores todo poderosos. Lembram-se do lema: “O povo unido jamais será vencido”. Pois que ele ocorra, de fato e de direito".

OBS.: As fotos são todas ilustrativas da praça central de Pirajuí.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

MEMÓRIA ORAL (170)


A EQUATORIANA DANDO AULAS AOS BAURUENSES – GIOCONDA SE DESCOBRIU PROFESSORA DE ESPANHOL E NUNCA MAIS PAROU
Nesses tempos prevalecendo algo pelas vias da intolerância, quando tudo é colocado num mesmo balaio e a denominação de “bolivariano”, engloba tudo e todos dentro de um raio de ação pelas vias esquerdistas, nada melhor do que conhecer demonstrações explícitas da má utilização do termo. Até os latinos, até então tão bem aceitos entre nós, passaram a ser vistos meio que atravessados, com olhares enviesados. E olha que, Bauru foi palco de uma infinidade deles, áureos tempos da efervescência das ferrovias e do Trem da Morte, um que nos ligava umbilicalmente com a Bolívia. Eles faziam dessa cidade uma bela “terra de passagem”. Muitos ficaram, outros vieram e aproveito o momento para contar a história de uma equatoriana, que acabou vindo aqui morar, ficou e não pensa mais em sair. EMPERATRIZ GIOCONDA AGUIRRE TORRES é seu nome, professora de línguas e aqui estabelecida com um conceituado curso de espanhol e inglês.

Gioconda, como gosta e é normalmente chamada, de certa forma prefere que não a chamem pelo primeiro nome, Emperatriz, pois esse foi um título que seu pai resolveu juntar ao nome escolhido e a acompanhará por todo o sempre. Mora em Bauru desde 1987 e relembra como veio a primeira vez ao país. “Sou de Guayaquil, uma das maiores cidades equatorianas, com mais de dois milhões e meio de habitantes e lá me formei em Ecomomia. Sou graduada na área e meu pai me deu um presente, uma viagem ao Brasil, para fazer compras e montar uma loja. Fiquei quinze dias no Rio de Janeiro e outros quinze em São Paulo, fazendo as compras necessárias para montar a tal loja de produtos esportivos. E no penúltimo dia de minha estadia, conheço por acaso o meu ex-marido e isso dá uma guinada em minha vida”, conta.

Nem é preciso contar que, para uma moça criada dentro dos padrões equatorianos, sua vida sofreu uma transformação. “A loja durou um ano e comecei desde que voltei ao meu país a trocar cartas, e-mails e telefones contínuos com ele. Voltei nesse período umas quatro ou cinco vezes fazer novas compras e em todas o reencontrava. Resultado, casamos no civil em São Paulo, no religioso em Bauru e aqui me estabeleci”, continua seu relato. O casamento não deu certo, mas algo mais descoberto em relação a essa cidade, tanto que daqui não mais saiu. Hoje confessa já fazer mais de sete anos que não retorna ao Equador e muita coisa mudou em sua vida depois disso. “Como economista comecei a pensar esse país e com o dinheiro que tinha consegui fazer alguns negócios que me mantinham, como comercializar terrenos e até comprar uma casa”, diz.

Mas o que fazer após o casamento desfeito? Tudo ainda estava incerto até o momento onde leu pelo jornal um anúncio de um executivo necessitando de aulas particulares de espanhol e daí o click para esse novo momento em sua vida. “A educação no Equador é muito boa, desde a privada como a pública. Muito barata, tipo cem dólares a mensalidade de um Curso de Medicina. A diferença é mera questão de status e as mulheres possuem um alto índice em estudos no meu país. Tive ótimos professores e na universidade três anos seguidos de castelhano, isso para todos os cursos. Existe um lema, uma obrigação seguida por todos lá que é o de ser inadmissível qualquer profissional escrever errado sua própria língua. Daí me vi preparada para dar aulas particulares de espanhol para brasileiros. Tudo começou aí”. Começou e não mais parou, pois fez história por onde passou. Antes da escola em casa teve uma no centro da cidade, outra em outro bairro. Não possuía automóvel e voltando a pé num dia a noite, quase 23hs foi assaltada e daí a idéia de juntar tudo no mesmo lugar.

Aqui mais duas coisas. Uma o fato de não querer mais possuir um veículo próprio. Sofreu um acidente quando teve um e isso a constrangeu, daí disse para si mesmo, não mais. E se dá muito bem sem um quatro rodas estacionado na sua garagem. E depois sobre o não voltar ao seu país por longos sete anos, isso se deve exclusivamente por um simples motivo, o “dos meus alunos, pois como vou fazer para deixá-los sem aulas, algo ininterrupto, saiu um e entra o outro. Não consegui resolver muito bem isso até hoje”, confessa. Conclui o assunto dizendo que folga mesmo tem só em intervalos curtos entre os dias 25 e 31 de dezembro, depois tudo volta à rotina. Isso mesmo, Gioconda ministra aulas na escola montada em sua casa, a ‘Español Global – Escola de Línguas” nos três períodos do dia, preferindo as individuais, mas não abrindo mãos das em grupo, de no máximo 5 alunos, para dessa forma obter o rendimento deles que acha conveniente.

“Tenho comigo que, se o aluno não aprende, prefiro que ele pare de estudar e se enganar. Trabalho na maioria das vezes com adultos e se trabalho com quem não dá conta de suas mínimas obrigações, por favor, não serei eu a mudar seu estilo de vida. Em grupo percebo que uma boa parcela não possui a devida atenção e são muitos aspectos. Levo em conta a vergonha, interesses distintos e até mesmo o professor não tem como ter a mesma atenção da obtida no trabalho individual. Trabalho por resultados, esse meu cronograma, acompanho o que cada um tem a dar e minha maior satisfação é ir vendo eles vencendo etapas”, conta emocionada sobre como gosta de atuar. Nisso percebo um entra e sai na casa. Só dai percebo ser o de sua filha, 21 anos, Carolina, fluente em português, espanhol e inglês, tudo aprendido ali e também em outras escolas. Gioconda confessa, sem contar (e nem lhe pergunto) a idade, mas revela já ter completado 27 anos de Brasil, ou seja, de Bauru.

Como toquei no tema sobre suas aulas, ela faz questão de dizer um algo a mais. “Eu quase não faço divulgação nenhuma de minhas aulas, sendo a maioria no boca a boca. As vezes, muito raramente faço algo pelo jornal ou mesmo pela internet. Na verdade, meus alunos acabam indicando uns aos outros e não posso reclamar de falta de movimento. Não tenho parado, ou melhor, tenho grupos de alunos que vão se renovando e isso é uma forma de reconhecimento”. Sim, ela é uma pessoa feliz, namorado novo, totalmente integrada à cidade, filha bauruense, uns vinte alunos cursando inglês e aproximadamente uns sessenta no de espanhol, casa sempre cheia, movimentada e quase sem tempo para mais nada. Mas não reclama, pois com muitas amizades bem construídas ainda encontra tempo para sair bastante e divertir-se numa cidade que aprendeu a gostar e chamar também de sua.

Por fim, se existe a mais remota possibilidade dela ser inserida nessa provocação de tudo e todos serem denominados de bolivarianos, ela demonstra isso ao dizer: “Adoro ler o Tijolaço e a Carta Capital pela internet. Tenho identificação pela linha de pensamento deles. Vejo também que um povo nunca deve ser aprisionado e o melhor mesmo é a liberdade de ir e vir. Quando autoritário e prepotente, um líder e um Governo estão a agir errados, sendo eles de direita ou de esquerda. A liberdade do meu povo custou muito sangue, a vida de muitas pessoas. Não sofremos uma ditadura cruel como a de outros países e podemos ser considerados um oásis, diante da Colômbia e do Peru, por exemplo. O Equador é um país muito bonito e barato de ser visitado. Dos países ali próximos vejo que a Bolívia é o que hoje está conseguindo realmente se transformar e pela Educação, algo que até então não ocorria e reconheço isso”.
OBS.: Para os interessados a Español Global está localizada à Rua Alto Purus 4-35, Jd. Bela Vista e o seu fone é 14.32324992.

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (65)


O HIP HOP PROCURANDO UM LAR E DOIS DELES EM PETIÇÃO DE MISÉRIA
A hoje ex-morada da Casa do Hip Hop em Bauru

Ao abrir o facebook ontem, um lamento do Renato Magu, do Ponto de Cultura Hip Hop Bauru, dessa forma e jeito: https://www.facebook.com/renato.moreira.31586/posts/10205529432859712:0. Hoje uma carta publicada na Tribuna do Leitor do JC, escrita por Yuri Rodrigues de Freitas, na íntegra abaixo reproduzida:

“Hip Hop bauruense sem direito a moradia
O Direito à moradia adequada se tornou um direito humano universal, aceito e aplicável em todas as partes do mundo como um dos direitos fundamentais para a vida das pessoas, no ano de 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Mas o que é uma moradia adequada?
O Mussum na parede Casa Hip Hop

Moradia adequada não é aquela que apenas oferece guarida contra as variações climáticas. Não é apenas um teto e quatro paredes. É muito mais, é aquela com condição de salubridade, de segurança e com um tamanho mínimo para que possa ser considerada habitável. Deve ser dotada das instalações sanitárias adequadas, atendida pelos serviços públicos essenciais, entre os quais água, esgoto, energia elétrica, iluminação pública, coleta de lixo, pavimentação e transporte coletivo.

E essa semana o Movimento Hip Hop bauruense perdeu sua casa, localizada na Cussy Junior, 13-55, Centro. Os bauruenses que passarem por ali não mais terão o colorido dos grafites o sorriso do saudoso Mussum, terão somente uma casa, como tantas outras que em breve será mais um ponto comercial. Mas esse está longe de ser o maior dos problemas. Nessa semana dezenas de artistas bauruenses perderam sua casa, são inúmeros artistas que se concentravam por lá para compor, produzir discos, eventos, trocar experiências e o mais importante, levar cultura, lazer e entretenimento para as periferias da cidade.
Soc. 19 Junho: o escrito no alto da casa é histórico

Barrada pela “burrocracia” do sistema, quem perde mais uma vez é a população. A solução por parte da Prefeitura Municipal, através da Secretaria Municipal de Cultura, tardou a ponto de perder a Casa do Hip Hop e veio através de uma casa abandonada que não atende em nadas as necessidades básicas de uma moradia muito menos as do movimento Hip Hop de Bauru. Alguns membros do movimento brincaram com a musica de Vinicius de Moraes e Toquinho, dizendo ser uma casa muito engraçada, por não ter teto e não ter nada. Pois eu digo o contrário: tínhamos uma casa muito engraçada, não tinha teto para as ideias, não tinha nada e nem limites para o movimento. Sabe por quê? Ela era feita com muito esmero!”.


AGORA O MEU PITACO – Tanto o Magu como o Yuri falam em não querer esmolas e pressionam o poder público. Faria o mesmo estando à frente de entidade com tamanho poder e apoio popular. Também gostaria de saber em que pé estão as condições propostas pela Lei dos Pontos de Cultura. Existe um valor recebido ou ainda a receber? Isso foi interrompido? Esse valor não daria para manutenção de uma entidade como essa, bancando os R$ 2.500 reais mês?
O resultado do fogo
Isso uma coisa, outra é o que ocorreu tempos atrás com a ATB – Associação de Teatro de Bauru e região, que em acordo com a Secretaria Municipal de Cultura estava prestes a receber em comodato (isso mesmo?) uma bela edificação na região central da cidade, tombada pelo CODEPAC – Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural da Cidade e sob a guarda da Cultura, o imóvel da SOCIEDADE BENEFICENTE 19 DE JUNHO, situado à Rua Sete de Setembro 4-46, processo sob nº 2497/03. Seria um precedente de cessão para entidade cultural, mas não foi consumado e o motivo não foi burocrático, mas porque pouco antes da efetivação algo ocorreu no imóvel. Invadido por moradores de rua e após uma briga entre eles, ocorre um incêndio no local e tudo vem literalmente abaixo. Hoje só ruínas no local. Nem ATB tem a sede prometida e nem o imóvel tombado encontra-se em condições de habitação. O que vai ser feito do prédio não se sabe e se a ATB pleiteia outro local, não sei informar.
Ruínas na paisagem da Casa dos Pioneiros

Tem outro lugar. A CASA DOS PIONEIROS, localizada ali na rua Araújo Leite nº 2-63/2-65, também tombada pelo CODEPAC e processo recebendo o nº 18.029/96. Foi objeto de desapropriação pela Prefeitura Municipal, os herdeiros foram notificados, mas acredito que até hoje não foi efetivado o pagamento, mesmo sendo considerado baixo. A importância desse imóvel é por ser o último representante em pé (quase não mais) de uma habitação dos primórdios de Bauru. O local é menor, mas poderia abrigar variadas instituições, desde que tivesse ocorrido o restauro/reforma conforme orientado pelo Conselho. O tempo passou e a ruína se acentuou. Muito se falou de abrigar ali isso e aquilo (Casa dos Artesões e até a ABL – Academia Bauruense de Letras), tudo ficou no campo das idéias.

Junto essas duas situações e faço algumas ilações. Existe mesmo condições legais para esse tipo de repasse? Nem sei se isso é possível. Sei que, aberta uma exceção, outras terão todo direito de pleitear o mesmo. E mais, quem promete, deve estar ciente do que faz. Vivemos sob permanente estado de pressão, essa somente mais uma delas. E por fim, em janeiro segundo consta terá início a reforma/restauro da Estação da NOB. Diante das imensas possibilidades ali existentes, sei e informo de antemão do antigo pleito da APFFB - Associação de Preservação Ferroviária e de Ferromodelismo de Bauru, em busca de sede definitiva para abrigar suas reuniões, maquetes e projetos. E, pelo sim, pelo não, admiro muito o trabalho do Magu à frente do Hip Hop na cidade e tudo isso aqui colocado é só para colocar um pouco mais de lenha nessa fogueira.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

AMIGO DO PEITO (97)


A PREMIAÇÃO DO MAHIN, ALGO MAIS DE PREMIAÇÕES E MAIS AINDA DE ALGUNS AMIGOS
Bauru e o mundo todo fervilham de premiações variadas e múltiplas. Elas acontecem de todo o jeito e maneira. Hoje, o que mais viceja por aí são os prêmios JABÁS. Sabe o que venha a ser isso? O cara paga para ser premiado. De vez em quando saem listas e listas de premiados e com fotinhos deles recebendo a láurea. Firmas especializadas nisso vão até sua empresa e oferecem o prêmio, daí se você aceita, paga o combinado e sai na foto. Flashes pipocam e sua foto sai publicada em tudo quando é coluna social. Qual a validade disso? Nenhuma. Outro dia estava com o vereador Roque Ferreira lá em Tibiriçá quando recebemos uma premiação, a Medalha Zumbi dos Palmares, após escolha de pessoas da família Queté para umas vinte pessoas que contribuem para diminuir esse evidente preconceito pairando no ar. Roque me sussurrou num certo momento: “Essa premiação vale muito. Vindo de onde vem, pela simplicidade e honestidade da escolha, valçe muito mais do que aquelas cheias de pompa”. É exatamente isso.

Hoje, quarta, 19h, salão junto ao Teatro Municipal mais uma premiação e ao mesmo estilo da ocorrida com o Zumbi dos Palmares. Dessa vez é o Conselho da Comunidade Negra quem realiza cerimônia de entrega do Prêmio “Luisa Mahin”, dentro da programação de atividades do “Mês da Consciência Negra”. “O “Prêmio “Luisa Mahin” é concedido a 18 pessoas da sociedade que em seu ramo de atividade tenham prestado relevantes serviços à comunidade e contribuído para a redução do preconceito, racismo e discriminação contra a população negra. Os premiados deste ano são: Dalva Martins Costa, Pedro Miguel de Camargo Júnior, Geraldo Martins Francisco, Nanci Massinatori Oliveira, Silvio Durante, Nádia Barnes, Júlio Cesar Ribeiro Barbosa, Audren Ruth Victorio, Leandro Ferreira, Eunice Barbosa, Adílio Nascimento, Márcio Beltrani dos Santos, Diogo Alves, Sidnéia da Silva, Rogério de Melo Gantus, Francisco Maia e João Carlos Andrade”

Tutti buena gente, cada um com uma bela justificativa para ser agraciado, assim sendo queria escrever de todos, mas o faço de uns poucos, talvez mais próximos de mim. Nãop me seguro nas calças quando vejo amigos sendo agraciados com o reconhecimento do que estão aprontando cidade afora. Um chamego a mais para:
SILVIO DURANTE – Um meninão na acepção da palavra, com um engajamento nas ruas e lutas não por questões funcionais (vejo muitos na luta só por causa do cargo que ocupam), mas por acreditar de verdade nas transformações tão necessárias a essa cidade, estado e país. É desses que, pela idade, tem muita garra, fibra e disposição, para dar e vender.
NÁDIA BARNES – A vida nos apronta inesperados e reveladores esbarrões, safanões e encontrões, uma espécie de provas de fogo para conosco mesmo. Quem supera tudo, finge estar tudo maravilhosamente bem e não abandona a cancha de luta por nada desse mundo, merece mesmo um abraço mais apertadinho, um acarinhamento mais pessoal. Essa está a merecer isso e muito mais.
AUDREN RUTH – Que dizer de uma pessoa com uma voz divinal, dessas abençoadas por algo supremo? Isso por si só já a consagra, mas junto da voz a pessoa, daí ela bate recordes. Simples, singela, dedicada e eficiente, um maravilhamento, que ainda é mal aproveitada. Tantos projetos com sua chancela dão certo quando a vejo junto deles, pois essa luz interior, mesmo a gente se esforçando, não é para todos. Ela é especialíssima.
CHICO MAIA – Um cara que sabe o que faz, como faz e trilha o bom caminho, aquele que sabe ser mais do que necessário para esse país ir se tornando pouco a pouco mais palatável e onde as contradições e diferenças possam ir diminuindo. Pessoa muito sensível, sabe como tratar o semelhante mais simples, com uma altivez e sapiência de cair o queixo. Como é gostoso elogiar gente desse naipe.
JOÃO CARLOS ANDRADE – Conheci quando o vi chegando em Bauru, um meninão cheio de sonhos e pouco a pouco vi ele conseguindo realizar alguns. Hoje, pode ser considerado um vencedor. Vive no meio de um mundo em plena transformação, o sindical e sabe que o seu papel, além de tudo é não deixar que essa luta de décadas não caia na vala comum, pois o sindicato é sempre mais forte quando está ao lado, de fato e de direito do trabalhador e na ode siglas partidárias. Ele pode ser um divisor de águas disso tudo.

Queria (e vou) escrever de tantos outros, mas para tanto quero conhecê-los melhor. Para tanto, estarei lá logo mais a noite na premiação. Para bens a todos os agraciados.

A ENTREGA DO PRÊMIO LUIZ MAHIM - Ontem postei algo aqui sobre alguns amigos recebendo a honraria do diploma. Fui lá conferior e o que vi foi algo inebriante. Voltei com uma só certeza, a de que a entrega desses prêmios de caráter popular são, além de os mais honestos, os mais vibrantes, os cheios de calor humano. Daí me pus a imaginar como seria os bastidores dessas festas onde o cara paga para ser homenageado, como se dá as conversas nos momentos daquele informal encontro para saborear do buffet. O presenciado ontem é indescritível. Uma alegria que irradiava por todos os poros e além dos reencontros mil, muitas novas amizades. Não existe nada igual.

AINDA ONTEM DIPLOMADOS COM O LUIZ MAHIM - A HISTÓRIA DO TURBANTE - Essa merece um escrito especial. Vai pintar por esses dias um curso de Turbante patrocinado pela Nina Simone, ops, desculpe, Nina Barbosa, especialista no quesito. Eu, Tatiana Calmon e Silvio Selva já estamos inscritos por antecipação. Por enquanto imaginem o que ocorreu vendo as fotos.......

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

CENA BAURUENSE (126)


DUAS DA RÁDIO BAURUENSE

PRIMEIRA – REINALDO CAFEO é o economista da “zelite” local, intransigente defensor do neoliberalismo como única saída plausível para o mundo atual e também, seguidor dessas ditas incontestáveis leis do “mercado” financeiro. Fala diariamente pelas ondas da 94FM, no matutino Informa Som, ao lado do dono da emissora, o jornalista Paulo Sérgio Simonetti e do jornalista Luiz Roberto Tizoco. Esses dois insistem em dar pitacos econômicos enquanto Cafeo profere seus divinos pronunciamentos. Num dos programas do início dessa semana, Cafeo falava com seu peculiar jeitão impositivo, definindo tudo, sem hipótese de contestação. Tizoco resolve fazer um aparte ao sacralizado e leva uma bordoada no ar. Cafeo fez biquinho e responde em algo assim: “Tudo bem, já que é assim, não falo mais nada, me calo. Daqui por diante deixo tudo por escrito nos meus artigos”. Paulo engoliu em seco, até tossiu (deve ter engasgado), petrificando o ar rarefeito naquele momento no salão oval da emissora. Tizoco, contemporizador, tentando aplacar a ira do colega de bancada propôs um armistício, colocando panos quentes na situação. Dialoga até acalmar o contrariado (dá logo um diazepan). Daí conclui que, quando escrevo sobre o enunciado pelo incorrigível Cafeo devo ter lá minhas razões. Deve ser mesmo difícil ser o absoluto dono da verdade e ser obrigado a suportar opiniões contrárias e totalmente desabalizadas e descabidas (sic). Foi hilário e histórico.

SEGUNDA – Ouço muito rádio, principalmente quando aqui no mafuá, trabalhando, batucando escritos e com algo de som ligado ao meu lado, de preferência rádio. No final do dia tenho por hábito ouvir os programas esportivos. Antes dele, acabo escutando o único jornalístico no horário das 18h, o “Plantão das Seis”, apresentado pelo discutível Chico Cardoso (ele faz questão de deixar mais do que exposto ter suas preferências políticas, nadica imparcial, totalmente parcial). Nessa semana, Alexandre Pitolli (agora diretor da rádio – ufa, uma luz no fim do túnel) apresentou o programa e observei algo diferente, uma abordagem menos tendenciosa. Gostei. Assim como gostei do Auri Verde Notícias, das 11 às 12h com apresentação também do Pitolli, dando voz ao vivo aos ouvintes (um risco que só os mais ousados praticam). Estou gostando, apesar também de gostar do Rafael Antonio, que faz uso de um tom mais agressivo (adquirido na Auri-Verde, pois não possuía isso antes). Vamos aos esportivos. O da Auri-Verde está inaudível nos últimos tempos. Com Rafael de férias o Timão da Auri-Verde está reduzido ao Jota Augusto, praticante hoje do time do eu sozinho e com participação do Ubriratan Silva, que antes tinha somente 3 minutos e hoje, por falta de outrem, dá seus pitacos durante programa inteiro. Num outro dial, o da 87 FM, das 18 até 19h, o Giro Esportivo, com a Equipe 100 Limites dá um banho e com um timaço composto por Tony de Paula, Théo Oliveira, Claudinho do Queijo, Jota Martins, Roberto Maldonado, Ademir Elias, Marcelo Efigênico e Jose Carlos Gonçalves. A hilariedade do programa é saborosa, melhor que os programas humorísticos da TV atual. Tenho gostado muito, inclusive quando o Jota diz: “vamos restaurar a seriedade”. Não sei o que vai ser da antes inquebrantável Auri-Verde se não der uma chacoalhada na roseira, dessas de fato e de direito. Tenho ouvido também o Observatório da Unesp, na FM Unesp, aos sábados 11h e num outro à noite. Um debate esportivo em alto nível, estilo saboroso e com primorosa degustação. Era isso.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

FRASES (124)


PEQUENOS E GRANDES GOLPES – DE COMO ESTAMOS TODOS ENVOLVIDOS
Fico cada vez mais estupefato com os pequenos golpes que vejo ir ocorrendo bem ao nosso lado. Ontem um dileto amigo me disse no portão de sua casa de como é bem claro com vizinhos, parentes e amigos que lhe pedem para endossar ou avalizar papéis e contratos variados. Ele é direto: “Não. Primeiro porque não quero ter dor de cabeça e depois porque quero continuar sendo seu amigo”. A pessoa retruca: “Mas você acha que, logo eu lhe darei trabalho?”. Sua resposta é de doer: “Sim, e você acha que os outros que me pediram eram o que meus? Todos conhecidos e hoje não sou mais amigo de nenhum deles”. Isso não me faz continuar recebendo pedidos dessa natureza. Em primeiro lugar sei o quanto a vida está dura e entendo tudo. Minha saída não é clássica, é a mais pura realidade: “Tenho o nome inscrito em todos os SPCs da vida e não poderia fazê-lo mais por estar já impossibilitado por esses, que rejeitam meu nome já de cara”. Quando diante de um amigo (a) em situação de necessidade, não tenham a menor dúvida, deixo de pagar uma conta, de fazer uma viagem, de comprar algo para mim e ajudo de bate pronto. Mas como nem sempre tenho muito, minha ajuda é quase imperceptível. Levo sempre em conta que o mundo do faz de conta é uma coisa e o da vida real bem outro.

Mas não é disso que quero escrever. Tem um casal de conhecidos meus passando por um perrengue por causa de confiar no semelhante. Eu quero continuar acreditando e continuo agindo assim, mesmo ciente de que muitos hoje em dia já estão mais do que contaminados por esse mundo onde as sacanagens prevalecem. Conto a historinha deles. Não são daqui e sim, de longe, lugar incerto e não sabido (em Bauru isso não existe, terra de gente da melhor estirpe). Montaram lá uma publicação mensal e tiveram sucesso. Querendo ampliar a coisa pegaram uma pessoa conhecida para agenciar a venda das publicidades. A dita cuja vendeu horrores, uma enormidade e a revista ficou toda cheia de belos anúncios, engordou até no número de páginas. Passado pouco mais de um mês e a conta chegou. Clientes começaram a ligar sobre umas comprinhas feitas pela representante da revista em seus estabelecimentos, tudo em nome da revista. Foram verificar e em quase todos os estabelecimentos ela vendia o anúncio, mas já deixava ele integralmente comprometido. Junto fazia compras acima do valor e para serem quitados pela revista. Foram somar tudo na ponta do lápis e o rombo foi tão grande que a revista foi obrigada a parar de circular.

Foram questionar a até então vendedora. A mesma não assumiu nada, disse que era bom tudo se findar por ali, sem reclamações e todos de bico calado, pois ela havia trabalhado esse tempo todo sem registro em carteira. E assim foi feito, meus conhecidos assumiram a pinimba e calaram o bico. Hoje, as duras penas tentam saldar o buraco e faz dois meses que a revista não circula. A cidade, pelo que sei lá deles, se recente da falta da circulação da mesma, mas querem antes saldar todos os penduricalhos deixados por tão zelosa e prestativa vendedora, que além de suas comissões, ficou com todo o lucro angariado e ainda saiu também por cima da carne seca. Quem está errado nesse imbróglio, quem contratou e não registrou ou quem ganhou o combinado, mas fez questão de ficar com algum a mais? Eu não sei e nem quero saber, mas não é isso que me fará pegar total desapego pelo ser humano. Essa habilidade extra-sensitiva e altamente profissional, todas angariadas na convivência do dia a dia usual desses tempos é a coisa mais corriqueira desse mundo. Fazem parte de um mundo onde cada vez as relações trabalhistas estão se fragilizando, tudo feito no improviso e daí, terreno mais que fértil para surfistas de terra e mar.

Quem nunca passou por situação mais ou menos parecida que atire a primeira pedra... E que dizer dos que ainda cem no do Bilhete Premiado? Nesse mundo onde o deus dinheiro é tudo, ver gente entrando bem por querer ganhar algum mais fácil que todos é demais. É para rir e não motivo para prender. Seu aplicador um verdadeiro artista.