domingo, 31 de janeiro de 2016

ALFINETADAS (141)


ANDO MEIA BOCA - MINHAS JUSTIFICATIVAS
Não está sendo possível fazer nada mais do que venho tentando nos últimos dias. Depois da enchente que acometeu o mafuá, isso quase quinze dias atrás, tudo ainda por lá parece um tanto marron, embaçado, opaco, ares de acas cheia de água e barro. Tentando retormar a vida aos poucos e só para terem ideia, até hoje não resgatei meus arquivios do computador. Todos meus trabalhos acadêmicos lá contidos, eu teclando algo nos intervalos quando Ana não faz uso do seu. Tenho tentado levar tudo numa boa, sem traumas, mas confesso, tem momentos difíceis, onde está complicado contornar as coisas, principalmente os prazos acdêmicos. Tenho me visto como uma barata tonta diante de uma borrifada de veneno paralisante em sua face. Se as coisas andam um tanto meio boca, entendam, em breve sei que tudo deve voltar ao normal, mas por enquanto ainda não voltaram. E o mafuá continua com as pernas todas para o ar. Ontem, ao buscar coragem para abrir uma das últimas caixas com coleção completa de livros de João Antonio e do Plínio Marcos, quase todos primeira edição, um trabalho extra, pois não posso me desfazer dessas preciosidades. Não perdi nada delews, mas suas páginas estavam para se colar. A cada dia uma nova novidade. Ontem me chegaram dois sofás doados pela sogra Darcy, via Sampa e mais estantes de metal. Sobrevivo e dou vida ao meu pai, aos 87 e ele sem entender de fato tudo o que aconteceu. A pinimba é comigo, mas de uma coisa tenham certeza, os tais das barragens, dos açudes lá nos altos do Batalha, irei identificá-los e farei de tudo para que sejam punidos pela irresponsabilidade que causaram à cidade e aos ribeirinhos como eu. A cheia não foi motivada só pelas fortes chuvas e isso merece um boa investigação, a qual não tenho condições de efetuar nesse momento, mas a farei em breve.
OBS ALFINETISTA: Olha eu salvando as primeiras edições d'O Alfinete, colocando todas para secar, quarar ao sol e tentando recuperar algo da história, que sei, nem o próprio pessoal lá do jornal possui, toda a sequência do jornal no tamanho diminuto. Salvei ao meu modo e jeito. Quando estiver tudo limpinho, vou doar para arquivo lá deles. Um registro histórico e antológico da participação de Marcelo Pavanato na imprensa pirajuiense. Mês que vem recomeço a publicação dos textos antigos lá escritos. Nesse janeiro não houve jeito.

CARTAS (153)


CARNAVAL - A DESINFORMAÇÃO DA POPULAÇÃO É ALIMENTADA*

* Texto de minha lavra e responsabilidade publicado na edição de hoje do Jornal da Cidade, Tribuna do Leitor:

Bauru não está mesmo lá essas coisas em muitos quesitos e isso não é de hoje. Só que agora virou moda jogar as culpas das mazelas mal resolvidas da cidade no Carnaval. Eis o mais novo vilão pela cidade estar mal das pernas. Interesses inconfessáveis despontam insuflando incautos para uma adesão a linha de pensamento único: o dinheiro gasto com a festa poderia ser utilizado para tapar buracos. Muitos desconhecem os procedimentos administrativos, a segmentação financeira em cada Secretaria, sabemos disso e só querem ver resolvidos seus percalços diários, o que é justo, mas outros gostam mesmo de não explicar nada e confundir muito. Nesse balaio, o senso comum acaba virando retórica de um único enredo. De alguns não se espera outro discurso, mas vindos do seio do povão, sentimento de pura tristeza. “Sou contra gastarem o que não se tem com essa besteira. Cidade acabada, esburacada, tanta coisa para fazer e liberam nosso dinheiro para isso. Seria essa a prioridade maior?”, leio por aí.

É mesmo difícil deixar de ir na onda de que a solução possa passar por essa via. Existe toda uma rede a alimentar esse discurso. Muitos refletem melhor e não entram nessa, mas sei também ser muito mais fácil aceitar como correto o discurso da verdade absoluta, uma que não quer contextualizar nada, muito menos discutir o tema na sua profundidade. Prefere o raso discurso pronto e acabado. Virou moda. Manipular o pensamento coletivo ao seu bel prazer e para atender suas conveniências, eis a questão. Um graúdo qualquer veio a público afirmando em alto e bom som ser o Carnaval coisa do diabo, que o povo não pode festar e joga ao léu que, eternos problemas de uma cidade poderiam ser solucionados (ou mesmo minimizados) com a utilização de verba destinada para o Carnaval com o tapa buracos. Sim, reverberar é sempre mais fácil do que contextualizar a discussão.

Bauru não banca, não subsidia o Carnaval. Seria um erro fazê-lo na sua totalidade. Ocorre uma contribuição pública como forma de incentivo para que a festa ocorra. O retorno financeiro auferido pela cidade é imensamente maior do que o despendido dos cofres públicos. Existe toda uma cadeia produtiva por detrás da festa e ela faz crescer o bolo, amplia possibilidades. Os ganhos são imensos e, pelo visto, são desprezados na superficial análise sendo propagada ao vento. Isso tudo é menosprezado, ignorado diante do buraco na frente da casa do contribuinte. Os cofres municipais não devem ser um balaio de gatos. E o pior disso tudo é que o primo pobre, nesse caso a Cultura, sempre paga o pato diante dos primos ricos que não souberam fazer o dever de casa a contento e o ano todo. Já alimentar o populismo barato e eleitoreiro, isso pode e sempre.

Que ocorra a cobrança por uma cidade mais limpa, moderna, menos esburacada, com melhor Saúde, Educação, transporte digno e adequado, lazer a contento, habitação e impostos justos o ano todo. E que se destinem também mais verbas para a Cultura, consequentemente para o Carnaval. Quando uma coisa inviabiliza a outra, baita sinal de algo não estar lá muito bem. O grande negócio é não comprar gato por lebre saindo por aí externando o primeiro discurso encontrado pela frente. A maior festa popular brasileira merece ter um incentivo a mais do poder público, pois envolve as massas, gosto e preferências de uma nação. Enfim, o dinheiro para tapar o buraco e para bancar o médico no seu plantão é um e o do Carnaval é outro. Saem do mesmo cofre, mas possuem roteiros e destinos diferentes. Misturando tudo já não é nem Carnaval e sim, bagunça.

Quero pular meu Carnaval, ver os buracos tapados (não remendados) e tudo o mais ocorrendo a contento, pois do contrário um dos lados ficará manco, caolho e até doente. E pelo visto, mesmo com problemas, vejo isso sendo possibilitado na cidade. Parabéns pela firmeza de nosso Executivo (nessa questão) em não se deixar levar por cobranças um tanto fora de propósito. Que venha logo a festa!

sábado, 30 de janeiro de 2016

DIÁRIO DE CUBA (77)


O DIA EM QUE UM CUBANO FEZ UMA SÓ PERGUNTA AOS BRASILEIROS

Vale a pena rever e por vários motivos. O primeiro deles é porque Ernesto Varela, o intrépido jornalista que deixava tudo e a todos num estado de desconforto, pois fazia as perguntas que os de hoje se cagam de fazer, ele não mais existe. Foi abortado, expelido pelo seu criado, o Marcelo Tas, que também aderiu ao conformismo jornalístico. Depois, o melhor de tudo, para confrontar a tal da liberdade existente nesse país varonil, algo de fachada, beneficiando sempre a uns poucos privilegiados e nunca a grande massa, que será sempre explorada pelo cruel e insano sistema, triturador de pessoas. Na simplicidade do regime cubano, na pobreza de recursos, mas na sapiência de saber se posicionarem, de saber exatamente o que querem, como querem e onde querem, uma perguntinha que até hoje causa comoção em alguns. Tenha certeza que reações virãos nos comentários, pois é mesmo difícil aceitar que estamos adormecidos, acuados por um sistema opressor. Essa matéria deve ser do final dos anos 80, começo dos 90 e como todos sabemos muito bem, nada mudou por aqui, onde uns poucos endinheirados mandam desgraçadamente nesse país, subjugando todos os demais aos seus interesses, o do capital predatório e insano. Reproduzo na expectativa de gerar um amplo debate. Que ele venha, enquanto adentro meu dia cheio de muita correria mestradina. Me desligo hoje do computador para terminar um trabalho, mas deixo o debate pairando no ar, assim como uma névoa inebriante. Boa quarta para tudo, todas e todos.

Eis o vídeo: https://www.facebook.com/NossaEpoca/videos/1107240972620323/?pnref=story

ESSA AQUI CAI COMO UMA LUVA PARA OS QUE INSISTEM EM DIZER QUE A CRISE É LOCAL, NACIONAL, SÓ E TÃO SOMENTE BRASILEIRA

Pera lá, Nova York é Brasil? Nova York é Terceiro Mundo?
Reflexões múltiplas e variadas.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

RETRATOS DE BAURU (183)


DARLENE TENDOLO VIVE 24H DO DIA ASSISTINDO SOCIALMENTE AS PESSOAS
Estava a escrever do mendigo Pezão, um que foi viver nas ruas após desilusões e desencontros de uma vida cheia de percalços. Ele se foi ontem e nos comentários do texto, um já chegou dizendo que a Prefeitura nada faz para tirar os moradores de rua de sua condição. Ciente de que a coisa não é bem assim, fui conhecer os tais projetos sociais nos quais o poder público está mergulhado dos pés à cabeça e me encantei, não só com a quantidade, como com a qualidade da maioria deles. Conto isso tudo em breve em texto por aqui e num trabalho que estou terminando numa disciplina do mestrado. Para tomar ciência dos tais projetos entrevistei a secretária da pasta e aqui nesse perfil, só um bocadinho de uma Lado B lotada na administração pública municipal.

DARLENE MARTIN TENDOLO é agudense de nascimento, mas bauruense desde áureos tempos. Se é que existe alguém com a cara da sua profissão, ela é uma Assistente Social já identificada pela fachada. Cara de um focinho de outro. Ela pode considerar isso um rasgado elogio, sabe disso, pois poucos possuem essa característica. Secretária da SEBES – Secretaria do Bem Estar e Assistência Social por três mandatos e dois prefeitos diferentes, ela vive seu trabalho 24 h por dia e faz disso uma extensão quase natural de sua vida. Vive a própria correria criada pelas tantas atividades inerentes a Bauru ter se tornado padrão no quesito Assistência Social no país, tal a quantidade de entidades atuando no setor e outras tantas públicas, irmanadas e com o mesmo objetivo. Seu local de trabalho é o que se pode chamar de bagunça organizada, tudo dentro de padrões normais diante de tanta coisa diária para ser lida, entendida e colocada em prática. Ela faz tudo sorrindo, alegre, falante até pelos cotovelos e agora ainda mais, com o nascimento do primeiro neto. Está pimpona da vida, candidata a canditada a prefeita, continua sua rotina, ali na extensão da rua Alfredo Maia (hoje quase alagada com a chuva da tarde), antiga Escola da Rede, prédio ainda do Governo Federal e sem possibilidades de reformas estruturais. Com uma janela coberta de papel, ela parece nem se importar, pois o que vale mesmo é o tanto de trabalho sob sua mesa, algo que ela vai tirando de letra. A considero uma agente pública Lado B dessa cidade, pelo envolvimento que possui com os desse segmento cidade afora.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

BEIRA DA ESTRADA (58)


ESSA CENA NÃO MAIS SE REPETIRÁ, PELO MENOS COM PEZÃO

José Antonio, o mendigo que permanecia horas do dia deitado diante de uma marquise do supermercado Pão de Açucar morreu ontem e nem velório terá, mas será enterrado hoje. Escrevi dele recentemente o texto abaixo no meu blog, com algo reproduzido também no facebook, podendo ser lido clicando a seguir:
http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…

Quando publiquei o texto inicial, uma amiga me enviou um perfil mais completo desse antigo morador das ruas de Bauru: "Conheço o Pezao desde de 1983 quando me mudei pro Octavio Rasi sempre foi rebelde deu muito trabalho pros pais..era morador de uma antiga carvoaria na vila Aymorés... Dizem que perdeu o pé devido ao uso de drogas...dizem também que é portador do vïrus HIV se quizer mais informaçao só ir na Vila Aymorés, os moradores antigos todos o conhecem e sabem sua história.". Ontem a noite outro recado dela, mas sobre sua morte: "Boa noite tudo bem? Lembra daquele rapaz deficiente que pedia nos altos da cidade que eu disse que conheço morador da vila Aymores, o Pezao, ele falęceu fiquei sabendo agora que o irmao dele está no IML reconhecendo o corpo... Tinha tudo prá ser um homem de bem que pena! Recebi a noticia a pouco...mas Já me disseram que não terá velorio. Fiquei chateada, pois o conheço a mais de 30 anos. Que tenha uma boa passagem ...".

Desde que que publiquei o texto com ele, 08/12/2015, o vi em vários outros lugares perambulando pela cidade. Outro dia numa banca de revistas na Duque de Caxias, comprando cigarros e outro sentado na calçada de um supermercado lá no Rasi, perto dos seus parentes. Ou seja, Pezão circulava e insistia em não sair das ruas. Nada sei dos motivos de sua morte, mas sei que se foi e dessa forma hoje faz parte apenas das estatísticas dessa cidade, algo frio, mera contabilidade. O registro feito agora, ao acordar é para que, ao menos, alguns possam tomar conhecimento e se proventura passarem pelo Pão de Açucar e sentirem falta dele, terem ciência, nunca mais o verão por ali. Provavelmente a notícia não sairá em nenhum outro lugar, mas fica aqui o registro.


OBS. DE FINAL DE DIA: Muito me emocionou tomar conhecimento pelos comentários feitos no facebook que Gustavo Mangilli, proprietário da banca de revistas na avenida Duque de Caxias, quase esquina com a Rua Gustavo Maciel tinha aberto uma linha de crédito para Pezão ir comprando coisinhas e ele pagava quando podia e como podia. São particularidades da vida cotidiana de Bauru que me encantam. Na foto publicada hoje pelo facebook dele, o registro de como ia marcando as despesas do cliente.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (17)


ESSA TAL DE SOLIDARIEDADE... – MAIS DE MIM E DO LENÇOENSE DÉCIO DE SOUZA
CASO 1 – Eu continuo a receber o troco pela vida que escolhi levar. Acabo de ganhar livros de uma importante biblioteca, a de uma vida toda, de uma conceituada professora universitária, ela entendendo ter chegado o momento de se desfazer de suas preciosidades. Toma conhecimento do perdido por mim e me diz: “Venha aqui e escolha o que lhe interessa. É tudo seu”. Irei e ainda peço se posso ir acompanhando do Carioca, o da banca de livros na Feira do Rolo e de outra popular e de rua, a Biblioteca Móvel Quinto Elemento. Iremos coletivamente nos próximos dias. Está sendo assim: perdi de um lado e estou ganhando do outro. Uma surpresa a cada novo dia. Teve mais, ultimamente vivo de surpresas, uma melhor que a outra. Ganhei duas novas estantes de aço e hoje fui buscá-las. Lá no local da coleta me vejo diante de uma coleção de livros iguaizinhos aos que tive até dias atrás e todos perdidos para as águas barrentas e bostentas do rio Bauru. A minha coloquei na calçada e fiquei observando tristemente ela ser levada para reciclagem, tirando-os da ordem mantida por quase uma década nos confins do mafuá. Ao carregar as estantes, a doadora me diz se não quero escolher nada dentre tantos que possui. Conto a história dos livros perdidos e ela assim de bate pronto me responde: “Leve. São seus a partir de agora, faça ótimo proveito”. Já estão ornando o mafuá e estreando a nova estante ainda em lugar não muito bem definido dentro da nova reorganização do lugar. A solidariedade recebida é do tipo indescritível.

CASO 2 – DÉCIO DE SOUZA é um conceituado artesão radicado na vizinha Lençóis Paulista. Produz peças de grande valor e seu trabalho é bastante reconhecido em toda a região. Além de incomensurável profissional, um ser humano pra lá de bom, ótimo. Viveu dolorosas experiências nos últimos anos. Recentemente perdeu um filho e isso é dessas dores incontornáveis. Justo agora, quando estava fazendo de tudo para contornar o trauma, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, retomando seu trabalho, eis que avassaladora enchente acometeu Lençóis e sua casa, localizanda na área central foi coberta pelas águas e assim permaneceu por alguns dias. Perdeu tudo, mas tudo mesmo, só sobrando ele e a esposa. Vive até hoje em lugares distantes do que foi seu lar. Junto da esposa vivem aqueles momentos onde tenta a cada novo dia buscar forças e reconstruir não só suas vidas, mas sua casa, ateliê e ter novamente bens pessoais para chamar de seus. O que não perdeu, larápios levaram na cara dura. Décio não é orgulhoso, mas está sem forças até para pedir, lançar um campanha em causa própria. Consciente de não ser o único na mesma situação, é reticente de algo ser feito somente para si. Pensa e age coletivamente, mas está na fase de necessitar e muito ter tudo novamente, voltar a viver com um ser humano normal dentro do seu habitat.
Não sei como posso fazer para ajudá-lo (assim como fizeram para com minha situação) a contento, mas como quero dar o meu quinhão, mesmo tendo passado por situação similar (menos trágica), sugiro uma Campanha em prol da sensibilização dos lençoenses e afins com o intuito de minimizar o sofrimento dele e de tantos outros na mesma situação. O pontapé inicial está dado aqui e agora. Décio de Souza é mais do que merecedor do abraço coletivo em torno dele e feito pelo povo de sua cidade. Vamos fazer algo por ele?

Eis um post dele dias após a tragédia: “A maior tragédia que eu poderia imaginar passamos recentemente qdo nosso filho voltou para Deus. Agora o caos se instalou novamente, zerou tudo com água até quase o teto de casa. Tudo se foi, documentos, fotos, movéis, lembranças... pensei que tinha perdido tudo mas não, não tem como citar nomes porque são muitos e muitos. Amigos que estão juntos para nos manter em pé, ajudando, acolhendo que não tiveram medo de pisar junto com a gente nessa lama de que veio a tona com o descaso. Agradeço a Deus pelos muitos amigos que estão conosco, a cada um muito obrigado, muito obrigado. Abençoada seja essa dadiva que se chama amizade que nos irmana.”.OBS.: Todas as fotos a ilustrar esse texto foram retiradas do facebook do Décio de Souza.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

COMENDO PELAS BEIRADAS (11)


EU ABOMINO OS QUE CRAVAM ESTACA NO CORAÇÃO DO S.U.S. - O JORNAL NACIONAL FAZ ISSO ESSA SEMANA

Nosso Sistema Único de Saúde deve ter mesmo costado mais do que quente, tais as bordoadas que leva e continua na ativa, fazendo e acontecendo, ponta de lança do atendimento médico hospitalar no país. Não vive o seu melhor momento (eu também não vivo o meu), mais em função da forma inadequada como o ser humano o trata. Vivemos hoje num mundo permeado pelos desvios de todas as matizes e na área da Saúde, mesmo inconcebíveis, são incontáveis. Aqui mesmo em Bauru ocorreu um imenso escândalo, ainda não muito bem esclarecido, que foi o caso do Mensalão da AHB – Associação Hospitalar de Bauru, quando o Governo Federal enviava verbas mensais e carimbadas para o Hospital de Base e outros, porém boa parte caia nas contas bancárias de gente com ligação umbilical com nosso deputado estadual. Isso ocorre no país todo e depois ainda possuem o disparate de acusar o SUS de estar enfraquecido e coisa e tal. Ele não é vilão, é sim, saco de pancadas, mas mesmo assim continua cumprindo o seu papel, aos trancos e barrancos, como boa aroeira, verga mas não quebra.

Ouço algumas vezes por semana o programa de rádio que a médica vereadora Telma Gobbi tem na Auri-Verde, ela que foi gerente da Unimed em Bauru e ainda mantém laços de diretoria por lá, uma cooperativa privada cobrando muito do usuário e assim como todos os planos de saúde privados nesse país se recusando a fazer todos os tipos de cirurgia. O SUS faz e ainda é o ruim. Temos três médicos vereadores e não vejo nenhum deles fazendo uma calorosa defesa do SUS. Um deles, Raul de Paula disse certa vez numa demonstração do que veio: “médico não trabalha por mixaria”. Escrevo deles porque sinto demais a falta da classe médica na defesa do SUS, do que representa e de sua cobertura ampla, geral e irrestrita. Adoram desdizer do mesmo e colocam o dedo em suas feridas que é uma beleza, mas viceja hoje em nível nacional elogios exaltados e rasgados para a medicina privada, como sendo de primeiro mundo, tecnologia de ponta, só que na hora do vamos ver quem faz o serviço pesado continua sendo o SUS. Cirurgia com complexidade, ou seja, de altíssimo custo, os privados recusam e dão o jeito de encaminhar para realização de forma gratuita, sem onerar seus cofres. Fazer e incentivar esse procedimento é o mesmo que sonegar imposto, roubar ao estilo dos de colarinho branco. Aqui em Bauru criaram uma Fundação, mais um intermediário no meio da Saúde, num papel antes dos governos, hoje repassados criminalmente para OSS e OSCIPs.

Escrevo isso tudo porque nessa semana no Jornal Nacional, da TV Globo, o William Bonner está apresentando para a nação reportagens diárias descendo a lenha no SUS e colocando num pedestal (ou no próprio altar) o sistema privado. Compra gato por lebre quem quer. Mostram descaradamente só o lado ruim do SUS, nunca o bom, o que atende a todos, indistintamente. Vejo isso como parte de um sórdido plano para ir minando as forças do SUS e o que representa para todos nós, usuários e contribuintes. A intenção é alavancar mais e mais o sistema privado, onde tudo é pago. Nele, quem tem dinheiro tem ótima saúde, quem não tem, péssima. Adoraria ver reportagens mostrando as falhas todas, mas apresentando sugestões, soluções e encaminhamentos propositivos. Não vou algo assim na TV Globo, sei disso. Isso nem mesmo os nossos médicos vereadores fazem, preferem se omitir. Como é triste ver a maioria dos de jaleco enveredarem pelo mesmo caminho do mostrado na TV.

Fiquemos todos de olhos bem atentos. Se o SUS de hoje é ruim, o de amanhã poderá piorar. Tem muita gente torcendo e fazendo das suas para isso ocorrer. Não se deixe levar por tudo o que a TV apresenta como pronto e acabado. Enxergando o outro lado daremos início a uma bela de uma discussão, justamente a que eles não querem fazer, a do fortalecimento do SUS. 


O grande negócio mesmo é defender o SUS. É o que faço, aqui e agora.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

BEIRA DE ESTRADA (57)


DEPOIS DE MESES SEM DAR NOTÍCIA, ELA VOLTOU...
Andreza de Oliveira Caetano é uma dentre tantas perambulando na região central da cidade, principalmente os trilhos urbanos. Tenho boa recordação dela a alguns anos atrás quando a vi pela primeira vez nas ruas. Aparentava muito menos idade do que de fato tinha. Apareceu assim do nada e começou a morar na rua e circular entre os tantos usuários de drogas. Uma moça bonita, que o tempo nas ruas alterou rapidamente o visual. Tempos depois apareceu grávida e a vizinhança toda a acompanhou até o nascimento do filho. Tinhamos preocupação do filho nascer nas ruas. Ela ficou com aquele barrigão, dormindo debaixo das marquizes até os estertores do nascimento, mas quando sentiu as contrações ligou para o SAMU e a levaram para a maternidade. Tentou fazer um escarcéu quando a Assistência Social lhe retirou o filho ainda na Maternidade. Nção havia outra alternativa, ela se recusava a voltar a morar com a mãe e queria permanecer nas ruas. Assim ficou até tempos atrás, quando num estalo suimiu. Eis o que já escrevi dela no blog:http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…. Comparem as duas fotos publicadas junto a esse texto com as dos meus textos anteriores.

Sumiu assim por encanto. Mas ninguém some dessa forma sem motivo que o justifique. O vigilante noturno cantou a bola: "Ela está presa". Sim, estava. Ontem, domingo, apareceu no meu portão e com o mesmo chamamento de antanho, gritando lá da frente: "Tio". Vou assuntar e reencontro Andreza, dessa vez mais gordinha e sem vergonha nenhuma de dizer onde estava. "Tio, acabo de sair da prisão. Não roubei ninguém. Aprontei sim, pois quebrei uma porta de vidro lá na maternidade e peguei cinco meses de cadeia". Vem da rua, dos mesmos lugares de antes, mas diz que dessa vez está morando com a mãe. o fato é que me pede dinheiro e com as mesmas justificativas de antes, sem tirar nem por. Dou e a instigo mais sobre sua atual situação.
De posse de um papel quer dar a entender ser sua soltura, não quer entrar em detalhes, mas afirma ter aprendido boas coisas por lá e algo que nãoquer repetir e a viver se drogando e se prostituindo nas ruas. Acredito, dou o que me pede, mas digo que se a ver uma só vez de novo no meio dos 'nóias", pode esquecer de vir no meu portão, pois não lhe darei mais nada.

Ela ri, pega o dinheiro e dá uma meia volta, indo no caminho de quem vai atravessar a linha férrea, logo ali na frente. Não quero segui-la, mas ficaria contente de que, dessa vez, tenha mesmo conseguido se safar dos males das ruas e dos envolvimentos todos que a transformaram numa pária humana. Fico cá do meu canto torcendo para que consiga dar a volta por cima. Na despedida, diz que está conseguindo um emprego numa grande empresa da cidade. "Eles dão emprego para ex-presidiários e vou levar esse documento para garantir minha vaga". Ela consente que lhe tire algumas fotos e digo que acompanharei sua trajetória, pois ficaria muito contente no dia em que me certificar de que, de verdade, deixou às ruas para trás. Ri e diz que já saiu. Eu volto para meu afazeres e ele segue seu caminho. Andreza está novamente no pedaço e com ela, tento ao meu modo e jeito, sempre dialogando muito ir tentando demonstrar que ainda pode conseguir algo de bom em outra caminhada. Veremos no que vai dar. Foi sócia por um bom tempo dos meus caraminguás, mas dessa vez não vou dar mole. Assim espero.

domingo, 24 de janeiro de 2016

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (98)


FOI HOJE NUM RESTAURANTE – ELES SÓ PENSAM EM PRENDER O LULA...


Agruras com desagradáveis encontros e desencontros na hora do almoço.

Vou almoçar com o pai Heleno e Ana Bia logo ali no parque Vitória Régia, no restaurante Convívio. Gosto do lugar, o dono sabe receber, o lugar é agradável, um amontoado de cadeiras postadas debaixo das árvores e aquele vento aprazível batendo no rosto e canelas. Tudo deveria ser algo mais do que inebriante, hora do almoço, fome chegando, cheirinho de boa comida no ar, a cerveja gelada e a feijoada/costela (especialidades da casa) sempre no ponto exato. Algo a destoar disso tudo, infelizmente. Na mesa do lado estavam postados uma turma com ódio nas ventas e ali reunidos num bate papo antes do almoço. O motivador é sempre dos melhores, o bar ao ar livre e o reencontro de pessoas queridas, mas a conversação fluindo da mais volumosa mesa foi algo para estragar o almoço de qualquer ser ainda pautado pela sensatez.

Tudo é deprimente quando analisado de forma vesga. Pois é, o pessoal dessa movimentada mesa, todos com seus carrões últimos tipos, modelos de vetustice, histórias de sucesso e empreendimento cidade afora possuem uma só fixação e fazem questão de exaltar em voz cada vez mais alta, tudo propagado para as demais mesas: querem porque querem colocar o ex-presidente Lula na cadeia, numa fixação coletiva. Nem se importam se para isso tornam-se meros reprodutores de variadas mentiras. “Viram só o filho do Lula acaba de comprar mais uma fazenda, essa de 15 milhões de dólares. É o fim da picada”, apregoa um. Deslavada mentira e se inquerido para comprovar o que diz, com certeza vai se exaltar e te chamar de petralha. O fato é a reprodução da mentira como a coisa mais normal desse mundo.

O que movia a tal mesa era a última declaração do Lula. Independente do que tenha dito, a forma e a circunstância, de como o foi, nem se importam de saírem do contexto. O que vale é esmerdalhar mais e mais Lula e seu total e pleno envolvimento com tudo o que é podre nesse país. Será que eles percebem que a podridão pode, e com certeza está também muito presente aqui na aldeia bauruense, bem ao lado deles todos, inclusive nos atos e procedimentos diários deles todos, os endinheirados, os que se deram bem na vida por essas e outras bandas? Enxergam tudo de ruim só em Lula e quando o verem preso, acreditam que o país estará à salvo. Salvo do que? Salvo deles, com certeza, não. Com Lula preso e o PT no limbo, o caminho estará mais do que aberto para os barões da perversidade continuarem na execução do baú de maldades que sempre fizeram uma vida inteira: nos engambelar.

Se Lula tem lá suas culpas, quando descobertas e comprovadas que pague por seus atos. Mas a forçação de barra passa das raias do tolerável e o que presenciei na mesa ao lado da minha é a exata amostra grátis do que se pode denominar como “bosta ao vento”, ou seja, o esmerdalhamento do quanto esse país piorou com esse tacanho pensamento. Está cada vez encontrar com o tal do impoluto por essas bandas, aquele que nunca tenha enfiado a mão na jaca na incrementação dos seus negócios e o alavancar dos seus rendimentos, mas o culpado continuará sendo somente um, Lula. O deputado daqui pode estar envolvido até o pescoço com o mensalão já comprovado da AHB, mas isso pouco importa, pois ele é dos nossos e o Lula nunca o foi. Pode o empresário estar envolvido com o doleiro Youssef, Furnas e repassar grana desviada para Aécio, que nada fará a tal mesa demonstrar consternação, pois eles são iguais a todos os que estão contra Lula. Isso é o que conta.

O socialismo deve ser mesmo motivo de chacota e pisoteado até os extertores da tolerância humana, tudo em nome de uma desmedida exaltação ao mundo do capital predatório. A crise vivida hoje pelo país não pode nunca ser analisada no macro, mas no micro, tudo sempre culpa do Governo federal e, consequentemente, de Lula e os seus. Enfim, estamos sob o domínio do reinado da mais insana hipocrisia predominando por essas bandas como praga. Sei que com esses não devo nem tentar perder tempo e expor o contraditório, propor algum tipo de diálogo. Sabe o que faço? Simples. Mudamos de mesa, estávamos todos com fome e fomos sentar longe da raivosa conversa, dos que espumam pelos cantos da boca, assim não perco o bom humor, muito menos o apetite. A feijoada estava ótima, mas só a degustamos numa mesa bem longe daquelas verdadeiras aves de mau agouro.

sábado, 23 de janeiro de 2016

AMIGOS DO PEITO (115)


AMIZADE É COISA MAIS DO QUE SÉRIA – EU ME ENCANTO COM ALGUMAS ATITUDES DESSES MEUS AMIGOS
Como todos por aqui já sabem o Mafuá do HPA foi invadido dias atrás pelas águas barrentas e bostentas do rio Bauru, imediações entre a Disbauto e o CIPs. Muita coisa de grande valia para qualquer escrevinhador, ou seja, seus papéis, coleções e afins foi perdida, colocada na calçada e devidamente recolhida para lugar incerto e não sabido, as recicladoras espalhadas cidade afora. Algumas coisas demorei mais para descartar, pois a dor era imensa na inesperada separação. Achava que algum milagre ainda poderia acontecer e aqueles papéis todos pudessem se desgrudar num passe de mágica e tudo voltar a ser como antes.

Minhas estantes de discos, os tantos LPs juntados ao longo das décadas de minha existência foram quase todos salvos. Ufa! Perdi somente uma única parte da coleção, justamente a dos catalogados como Músicas de Filmes, nacionais e internacionais (uma pequena perta deles, a que estava quase rente ao chão). Dentre eles raridades. Estavam uma maçaroca, colados pelo barro e não me vi em condições de ficar limpando peça por peça. Como sei que um baita amigo, o Carioca lá da banca de livros e LPs da Feira do Rolo tem adoração por algumas das mesmas coisas que eu, ligo e peço para vir ver se algo lhe interessava. Fiquei constrangido em lhe passar algo já considerado como perdido e sei que isso não é verdadeiro papel de amigo, mas vislumbrei que algo poderia ser feito por ele para não perder tudo de vez.

Ele veio, olhou tudo em volta, batemos aquele papo reparador e reconfortante. Por fim, levou o lote e disse que veria o que salvaria. Não refugou em nenhum momento. Estava repassado para alguém a dar, pelo menos um bom destino para parte de minha coleção. Os dias se passaram e na quinta passada o telefone toca e Carioca me convida para ir em sua casa, pois tinha uma surpresa para mim. Disse ter comprado uma coleção de livros das mais interessantes e que precisava me mostrar em primeira mão antes de fazê-lo para qualquer outra pessoa. Fui na sexta, finalzinho do dia.

Quase me mata do coração. Chego lá e logo na sua sala dentro de uma caixa os tais discos todos recuperados, lavados, cheirosos e ali à mostra. Ele me entrega a caixa e diz: “São seus. Limpei, cheire para ver se ficou aquele cheiro de barro. Não podia ficar com eles, recuperei para você”. O que podia fazer a não ser desabar ali, estatelado no chão. Quase chorei e acabamos cervejando nossas vidas ali em sua casa, ao som de nada menos que um velho e inesquecível disco de Elza Soares. Enquanto ela/ele rodava na vitrolinha, Carioca me mostrou o que havia me levado até ali, a tal da coleção de livros de uma famosa editora universitária, algo conseguido por ele praticamente de graça, descartado num lixão. Comprei alguns.

Escolhi um dos meus discos e num de um velho filme mineiro, Cabaret Mineiro, ouvimos a Suíte do Quelemeu, com o mineiro Tavinho Moura, uma dessas safadas e bem humoradas canções, moda de viola bem brasileira, num LP, que segundo ele vale uns R$ 200 reais pela aí. Ouvimos outro, o de um filme norte-americano cuja trilha sonora é inebriante, o Walker, sobre um norte-americano que governou a Nicarágua no século passado. Era verdade, meus discos voltaram para mim e da forma mais inesperada possível, graças ao meu bom e dileto amigo do peito, o Carioca.

Eu não me canso de escrever deles, da forma como agem e me encantam mais e mais. Debilitado emocionalmente nos últimos dias, essa história e a de como recuperei minha máquina fotográfica, devolvida pelo Moisés Moisés Luceli Bastos no portão de casa eu vou repetindo por onde ando. Conto também a do casal lá do Rasi que lavou toda a roupa enlameada da casa dos meus pais, a Silvia Regina e seu marido. Outra, a da mobilização dos tantos amigos reconstituindo a casa do meu pai assim de forma tão rápida. Hoje, uma outra amiga, Tatiana Calmon (que também muito me ajudou) acabou me dizendo que sou repetitivo, pois já contei umas três vezes a mesma coisa para ela. Para não mais incorrer esse risco, deixo de contar de boca, escrevo aqui o causo como se deu e encerro o assunto.

Eu amo alguns desses meus diletos e insubstituíveis amigos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016


A CONVERSA SOBRE O PODER DOS ENDINHEIRADOS: O POBRE SEMPRE PAGA A CONTA E O CASO DAS REPRESAS NO ENTORNO DE BAURU
Vou comprar ração para meu cão, o Charles e o dono da loja, localizada na entrada da Baixada do Silvino é outro que passou poucas e boas por causa da última (toc toc toc) enchente. Ficamos divagando um tempo sobre as tais barragens rurais que inundaram Lençóis Paulista quando se romperam. Hoje, digo a ele, que esse pode ter sido um dos motivos da inundação em Bauru, a que nos acometeu. Ouvi isso hoje do locutor da TV Record, quando afirmou categoricamente que os alagamentos daqui não são provenientes só por causa de uma forte tempestade. Teve algo mais e esse algo foram as tais barragens/represas, construídas de forma irregular na área rural, sem fiscalização quando do seu levantamento e conclui com algo triste, lacônico: “Tudo acabará dando em nada, como sempre”.

A conversa toma outro rumo: rico burla tudo, paga sempre muito pouco, faz tudo do seu jeito e na imensa maioria das vezes contorno os problemas que é uma beleza. Ele me dá um exemplo. Certa feita foi convidado para uma pescaria no rio Xingu, região norte do país. Foi num grupo, juntou grana e ficou hospedado num rancho, dentro das terras de um latifundiário aqui do interior paulista. Rodaram mais de 100 km dentro da fazenda do mesmo até chegar ao local exato da pescaria. No caminho viu de tudo, mas o que mais o impressionou foi se deparar com tratores puxando grossos cabos de aço, cada um amarrado num deles e derrubando tudo à sua frente. Colocavam as arvores abaixo instantaneamente e tudo para plantar soja. Nem aí com a ecologia, a mata. Depois delas todas deitadas chegariam as plantações e o gado. Eu lhe perguntei se por lá não existe fiscalização e ele foi claro: “Até existe, mas o dinheiro que ele diz gastar com as multas ou para burlar a legislação é muito pouco perto do lucro auferido. Prefere continuar atuando conforme lhe convém”.

Disse mais, num outro exemplo. No final de um dia armaram um grande churrasco e para tanto mataram um boi ali diante de todos. Carne fresca e tudo sendo armado, pegaram a costela inteira e iam assar enfiada em espetos no chão, mas antes me pediram para ir buscar madeira para o fogo. Diante de muita variedade ali cortada, trouxe somente o que já estava derrubado. Quando chego o fazendeiro fez chacota dele dizendo que a madeira colhida por ele não prestava pra nada. Descartou e pediu para um deles ir colher, ou seja, cortar as arvores mais nobres, madeira de lei, todas proibidas de serem cortadas e o fez somente para assar o churrasco. Por fim, sua conclusão: “O problema, meu caro, com os ricos desse país é meramente cultural, ou seja, a falta de cultura. Pensam só no dim dim e na ostentação e não estão nem aí para mais nada”.

Concluo com ele que nesse país o endinheirado tudo pode, faz tudo pela sua cabeça e depois contorna que é uma maravilha. Encerro com algo que me lembrei, uma poesia de um homem encantado com a natureza e menosprezando os que a sacaneiam, o poeta Manoel de Barros: “Prezo insetos mais que aviões/ Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis/ Tenho em mim esse atraso de nascença”. Mas estamos perdendo feio essa batalha, essa das barragens no entorno de Bauru é só a ponta do iceberg.

PARA AMENIZAR O DIA: QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA...
Esse é um dos personagens mais conhecidos do centro velho de Bauru. Foi muito paparicado por nada menos que a EnY Cesarino, a famosa do bordel, era uma espécie de office boy de luxo da casa. Deitou fama na cidade por causa disso. Hoje mora num antigo hotel na beirada dos trilhos na quadra um da rua Agenor Meira, de sua propriedade e sob os cuidados de uma família que toma conta do lugar e cuida inclusive dele. Ele continua o mesmo de sempre, um andante de nossas ruas, fazendo e acontecendo, como na manhã do último domingo, quando de posse de seu violão saiu de casa e o empunhando saiu cantarolando pelas imediações da feira da Gustavo. Quando o encontrei, estava cantando para os bombeiros da corporação, no comecinho da rua Marcondes Salgado em direção ao ajuntamento humano da feira. Me acheguei dele e vi que cantava Raul Seixas. Sabe letras de cor e salteado e quando lhe dá na telha, não se contenta em cantar entre quatro paredes.
Estava numa inspirada manhã e queria cantar e cantar. É dessas pessoas que ninguém consegue segurar. Que o diga o pessoal lá no Teatro Municipal, onde vez em sempre parece e senta na primeira fila, fala alto, interrompe apresentações,dá opiniões e assim toca sua vida. Frequenta também a Biblioteca Municipal, a Câmara dos Vereadores, a praça Rui Barbosa, o Calçadão da Batista e todas as imediações e cercanias do centro da cidade. Quando vai ao teatro, veste sua melhor roupa, calça social e camisa de manga longa, sapato também social e fica sempre na fila do gargarejo. O registro é para mostrar que não existe tratamento melhor para as agruras dessa vida do que ser livre, leve e solto, ainda mais quando de posse de um violão. Esse cidadão bauruense é marca registrada dessa cidade e merece apupos e palmas quando passa cantarolando e fazendo arte (ou praticando arte?) pelas ruas. Eu, sempre que posso, paro e estou a papear com ele. Gente com luz mais do que própria.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016


NA POSTAGEM DE UM AMIGO, ALGO DE MINHA LAVRA NA SEQUÊNCIA
"Eu não tinha a menor intensão de publicar nada sobre isso. É uma atitude que tenho com os coletores de lixo, como reconhecimento e gratidão ao serviço prestado. Toda semana entrego a eles quatro litros de refrigerantes bem gelados, pois me disciplinei a colocar na geladeira assim que saio de manha, eles sempre me agradeciam "muito obrigado senhor, o senhor nos ajuda muito". mas a partir de dezembro eles me agradeciam diferente. " obrigado professor", ai perguntei como sabiam que eu era professor ? " nós vimos a matéria na TV TEM, que o senhor foi professor da Camila Maio que passou numa grande escola de balé, confirmei, sim fui professor da talentosa Camila Maio. Mas hoje quando entreguei os refrigerantes um deles me disse, " meu sonho é que minha filha seja sua aluna e se torne uma grande bailarina", infelizmente minhas lagrimas não bastam para que o poder público de uma oportunidade para essas pessoas !!!", esse é Sivaldo Camargo, bailarino uma vida inteira e hoje o carro chefe da Cia Estável de Dança, projeto que propicia jovens adentrarem o mundo da dança em Bauru SP.

Essa sempre foi sua postura de uma vida inteira. Esse olhar para o próximo, algo que sei, a Cia estável faz de forma maravilhosa na cidade. Na sequência disso, me surge a possibilidade de escrever sobre uma menina que vi dançando no asfalto no distrito de Tibiriçá. Eis a história:

A MENINA LIVIA APRENDE A BALIZAR SUA VIDA
Crianças que levam os adultos em seus sonhos e os transformam merecem serem vistos com olhos mais do que atentos. Acompanhamento mais do que especial, primeiro para não terem seus sonhos abortados e depois, para tentar um algo mais, um deslumbre que as transformem para uma vida inteira. O despertar de algo em cada uma delas pode ser uma sinal para ser feito um algo mais dentro daquele gosto e preferência. É lindo demais ver como eles se soltam em atividades pelas quais gostam do que fazem. Só de ver aquele brilho magnetizante nos olhinhos de uma dessas, pronto, bateu a vontade de contar algo por aqui.


LIVIA BIANCA SOUZA CARDOSO tem apenas 10 anos, mas já saber se destacar na vida. Filha da Caroline e recebendo cuidados especiais da avó Lucimar, ela mora no distrito de Tibiriçá, distante 16 km de Bauru, após cinco anos, quando a família residiu em Macatuba e por lá ela começou os estudos e aprendeu algo pelo qual a acompanha desde então. Na Escola Odilia Gallista, uma que conta com apoio da Marinha do Brasil em algumas atividades aprendeu a ser baliza, a desfilar na frente das corporações, especialmente em desfiles. E ela adorou balizar sua vida, tanto que sai esse ano pela segunda vez na frente do bloco carnavalesco do distrito onde mora, bem na frente dos foliões, fazendo suas acrobacias e encantando quem as assiste. Vai começar adentrar agora o quinto ano na Escola Estadual Major Fraga e quer ver se desfila pela escola como baliza ou algo que a incentive a continuar dançando. Do Carnaval, uma peculiaridade, todos gostam da festa em sua casa e aprendeu desde cedo a tocar esse barco para frente. No bloco saem sua bisavó, avó, mãe, tios e amiguinhas, sendo que uma das tias, a Camila, 14 anos é porta bandeira. Uma família dançante e encantante, sendo a mais nova representante na avenida e já pensando em como seguir adiante com a dança a vibrante Livia, cheia de gás e cada dia querendo aprender mais e mais. A mãe a segue por onde vá, incentiva e fica encantada com sua encantadora filha.

Não tive como deixar de juntar um relato com a história que colhi nas ruas e contatos feitos diariamente pelos mais diferentes cantos.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

RETRATOS DE BAURU (182)


NICOLA É O BAIXINHO, CRIATIVO E SEMPRE EM AÇÃO
Para conhecer mesmo uma pessoa você precisa passar uns dias ao lado dela. Hoje conhecemos a maioria das pessoas superficialmente, em breves contatos, nas trombadas da vida e delas extraímos algo e isso serve para emissão de conceitos básicos sobre a mesma. Sabe aquilo do ditado popular, “a primeira impressão é a que fica”? Acertamos na maioria das vezes, outras não. Porém, quando após ocorrer a convivência lado a lado com as pessoas por mais tempo, você tem a oportunidade de notar o algo mais, aquilo que está embutido e vai se revelando sem que ninguém precise dizer nada. O notável só com a convivência. Tenho algo a relatar após uns dias ao lado de um baita de um sujeito.

NICOLA AUGUSTO GONÇALVES, 53 anos é casado com a Sueli Regina há muito tempo e moram no coração do Rasi, bem ao lado da praça central do bairro e do conjunto de aparelhos esportivos ali colocados para utilização comunitária. Pela baixa estatura, seu apelido é claro só podia ser um, Baixinho e ele o incorporou sem traumas, enfim, um grande baixinho. O diferencial deles é notado já pela forma como cuidam daquilo tudo. Viraram uma espécie de guardiões do lugar e se aquela praça é mais cuidada que algumas outras espalhadas por outros bairros isso se deve a pessoas como eles. Compradores de briga na defesa do lugar onde moram e na preservação de direitos básicos, garantia do que lhes é fornecido. Cuidam não só da praça, mas são fiscais contra a dengue, cidadãos na acepção da palavra. Abnegados e persistentes, um casal diferenciado num mundo cada vez mais manada. Nicola trabalhou muito tempo como encarregado de frotas na CGS, aposentou e depois continuou trabalhando em muitos bicos e empregos, como o faz até hoje, mas o seu diferencial é o mesmo da esposa (já retratada meses atrás por aqui), o olhar em prol do social. Estão metidos em variados e múltiplas ações junto a instituições, órgãos públicos e privados, mas todos visando o bem comum. Se doam por completo e dessa forma e jeito tocam suas vidas. Os incansáveis deste mundo pipocam por aqui.

ABRO MAIS UM ESPAÇO NESSE TEXTO: Conto algo mais. Sempre leio sobre a criatividade do brasileiro para ir resolvendo ao seu modo e jeito alguns dos seus problemas diários, o seu imenso poder de, diante do algo a ser feito e na imensa maioria das vezes sem as plenas condições de comprar (ou até podendo, mas querendo eles mesmos fazer suas próprias peças) e fabricado pelas indústrias, acaba ele mesmo produzindo peças para atender suas necessidades. Vejo isso ocorrer em Nicola com tudo. Sua casa é a própria adaptação da vida humana para o possível e dentro de suas possibilidades. Ele é um criador de peças, essas coisinhas que vão resolvendo nossas vidas de forma mais ágil. Conto só uma. Ele mantém há coisa de uns cinco anos nos fundos de seu quintal uma piscina de plástico, dessas de tamanho médio. Foi até trabalhar com um profissional no assunto para entender melhor como agir com uma. Aprendeu e passou a criar os próprios mecanismos de sua manutenção. Com um velho aspirador, adaptou um sugador de sujeiras para retirar a sujeira depositada nos fundos d’água. Motor ligado, tudo passa por um sugador, também adaptado e por um filtro feito por ele mesmo com um resistente pano. E tudo dá tão certo, roda de forma tão magnífica que, impossível não permanecer ali diante de sua criação, adaptação e funcionabilidade sem ficar de queixo caído. Nicola é dessas pessoas que dá um jeito para tudo, resolve tudo não com improvisações, mas com observação e depois a colocação em prática e com o seu entendimento. Poderia ser também chamado de professor Pardal, tal o grau de resolutividade de sua residência. Do espanto inicial, fui aprendendo muito nos dias em que por lá passei, primeiro quando o casal me salvou lavando minhas roupas enlameadas pela implacável enchente (na região do Rasi não faltou água) e depois pela amizade construída com gente tão simples e tão cheia de amor para dar. Precisava retribuir de alguma forma o amor recebido e o faço com esse escrito.