UMA ALFINETADA (7)
ODE A AMIZADE
Amigo é algo mais sério do que imaginamos. Raridade pura. Dificilmente alguém hoje em dia os possua em quantidade maior do os dedos das mãos. Ou melhor, de uma delas. E quem tem cinco amigos verdadeiros, fiéis, paus para toda obra, podem se dar por satisfeito. Eu tenho alguns e faço de tudo para preservar esse relacionamento. Esses poucos sabem mais de mim do que meus próprios familiares, pois são meus confidentes, trocamos juntos figurinhas, idéias, planos e na grande maioria das vezes, comungamos da mesma linha de pensamento. Não consigo viver isolado e ter alguém ao meu lado, nos bons e maus momentos é algo primordial.
O mundo em que vivemos é muito cruel. Ele facilita o distanciamento entre as pessoas, favorece o isolamento e aumenta a tristeza coletiva. A disputa por uma fatia do mercado de trabalho e a luta pela sobrevivência é algo que já faz parte da rotina do nosso dia-a-dia e incentiva o individualismo. Parece até que não nos querem mais ver alegres, sorridentes e fraternos uns com o outro. A insensibilidade prevalece na maioria de nossas ações. Não temos mais tempo para os outros. Ou seja, o sistema de vida que estamos submetidos nos torna cada vez mais tristes, apáticos e sem forças para reagir. E assim “eles” nos fazem de “gato e sapato”.
Essa competição fratricida que estamos submetidos é altamente prejudicial para tudo, principalmente para nossa saúde. Perdi muitos amigos novos, que acabaram tendo um “periquipaco” antes da hora. Seus corpos foram acumulando o mal desses tempos; as derrotas, fracassos, insucessos, insegurança, inconstância e num dado momento explodiu tudo. Alguns morreram, pois eram caixas de acúmulo, não dividiam nada e o corpo não agüentou mais o tranco. Uns piraram e continuam vivendo num mundo totalmente à parte. Outros se entregaram à bebida e as drogas e acham que estão fugindo. Quando pinta o problema, correm para o copo. Tem aqueles que se deixaram levar por seitas de discursinhos “cerca Lourenço” e continuam penando no paraíso (que, com toda certeza, é aqui mesmo). Tem aqueles que foram cooptados pelo sistema, se deixaram levar, fecharam os olhos e vivem como gados, sem força e condição de reação.
Alguns mais fortes resistem, remam contra a maré, mas não entregam os pontos. Sofrem pra caramba, mas não se vergam diante das adversidades. Esses são imprescindíveis. É cada vez mais difícil manter essa postura nos dias de hoje, quando tudo conspira para sermos gado, seguir a cartilha do conformismo e da resignação. Tenho exemplo para todos esses segmentos e tive/tenho amigos em todas essas situações, porém, me identifico mais com os que resistem e pegam o “touro à unha e matam um leão por dia”. A esses minha admiração eterna. Viva a resistência.
Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, adepto de muita conversa pela Internet, mas não dispensando um papo olho-no-olho e uma relação cheia de muito contato físico.
ps.: O desenho lá de cima foi chupado do livro antológico do LAERTE, o "Ilustrações Sindicais", aquele que permite o Gilete Press.
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