terça-feira, 6 de novembro de 2007

UMA ALFINETADA (8)
Essa saiu publicada no sábado passado e por falta de tempo acabei publicando só hoje.

COISAS BEM PRÓPRIAS DO CAPITALISMO
Tem coisas que não consiguiria fazer de jeito nenhum. Me revirariam o estômago. Ouço histórias pessoais o dia todo, me comovo, mas muito pouco posso fazer pelas pessoas. Quando ouço uma envolvendo a exploração e a insensibilidade humana, o meu dia está estragado. Sofro calado, mas não resignado. Algo que posso fazer é escrever e propagar as injustiças desse mundo. É o que faço.

Um funcionário de um empresa de ônibus mora numa cidade distante uns 150 km de Bauru. Acorda todo dia às 4h30, prepara sua marmita e vem trabalhando no ônibus como cobrador. Chega aqui por volta das 7h e às 7h30 bate cartão na mesma empresa, num setor interno. Seu almoço é feito rapidamente, pois não pode ficar muito tempo longe do balcão de atendimento. Quando quer dar uma volta nesse horário, é olhado com desconfiança. Mal termina o turno da tarde, embarca no ônibus de volta, não como passageiro, mas novamente como cobrador, chegando em sua cidade por volta das 21h. Não tem vontade de fazer mais nada. Cai na cama e dorme.

Exerce duas funções numa só e não pode abrir o bico, pois precisa e muito do salário de R$ 400 mês. Aos sábados, o turno termina às 12h, novamente ida e volta como cobrador. Acaba fazendo mais uma viagem de ida e volta, por falta de funcionário no horário e só chega em casa depois das 19h. Está sempre cansado. A empresa não, ela cresce a olhos vistos e a equipe de trabalho, cada vez mais enxuta. Para não reduzir seus ganhos, o patrão obriga todos a fazerem o trabalho de pelo menos mais um, porém ganhando salário de um. O capital dela cresce cada vez mais.
Por essas e outras, constato que não conseguiria ser um eficiente capitalista. Não consigo agir dessa forma. Não está em mim explorar ninguém. Chego a conclusão que o capitalismo não é algo saudável. Essa insensibilidade cruel, essa ganância toda sem sentido, tudo por causa de um tal de Deus Grana é algo que demonstra claramente a falência desse sistema. Ele nunca pensou na pessoa humana.



A questão do leite me faz pensar da mesma forma. Por que alguém compraria lotes de queijos estragados, os lavaria, colocaria nova embalagem e os revenderia novamente? Por que outros comerciantes misturariam soda cáustica e água oxigênada no leite para aumentar sua validade? Por que alguns donos de postos de combustível misturam água nos tanques e nos revendem como algo consumível? É o Deus Lucro, que move isso tudo, não pensa no seu semelhante. O pensamento é um só, ter cada vez mais, acumular e ficar rico. Grana, muita grana.

Em outra cidade daqui de perto, uma fábrica de peças de próteses para implantes, retira o titâneo e no seu lugar coloca ferro comum, não se importando se isso irá necrosar os usuários. O Deus Grana está espalhado por tudo quanto é canto. Não me venham dizer que isso são ocorrências isoladas, pois passo um dia aqui relatando fatos bem perto de nós, até dentro de nossas próprias casas. O fato é que o capitalismo está falido. Ele já está com sua data de validade vencida e não sei mais quanto tempo resistirá até bater as botas definitivamente. A barbárie que se aproxima é fruto desse sistema, que nos transforma em feras, verdadeiras bestas humanas. Um outro mundo terá que sair disso tudo e é nisso que aposto. Não tenho como estar ao lado os poderosos, da ganância e de um sistema que só pensa em idolatrar o Deus Grana.

Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, chegando a conclusão de que há mesmo um modo idiota de resolver problemas.

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