CUBA É TUDO ISSO MESMO?
Foi só abrir a boca e manifestar uma provável intenção de ir à Cuba ainda nesse mês de janeiro, para ter início algumas considerações, que pelo volume, acabei dando mais corda, estimulando o seu prosseguimento, tudo para tentar obter uma espécie de perfil do que o brasileiro acha de Cuba e de como acredita que seja a vida naquele país. De cada um ouvi algo diferente, quase todos na mesma linha de pensamento, o que me deixou deveras preocupado, pois pela maioria das considerações ouvidas, a grande maioria acredita que Cuba vive num mundo de opressão, falta de liberdades e de condições mínimas de vida decente (sic), precariedade instituicional e a mais cruel ditadura. A pergunta que fica num primeiro momento é: Como construiram essa idéia? O que leram, viram ou ouviram para construir esse perfil?
Em casa, ao pronunciar a viagem, quem me interpela durante o almoço, é dona Cida, 56 anos, que há 10 trabalha na casa dos meus pais como empregada doméstica. Vendo meu entusiasmo, enquanto almoçamos, ela me diz: "Ouvi que os cubanos passam fome, que o racionamento é muito grande e que eles vivem com muitas necessidades. Eles não comem carne como a gente, pois só uma cota mensal é permitida para cada família. Ninguém quer ficar por lá, veja a quantidade de cubanos que vivem nos EUA e outros tantos que fogem de barcos naquelas malucas viagens para outros países". Tentei argumentar, dizendo que "aqui temos a abundância, tudo diante de nossos olhos, mas não podemos consumir tudo o que queremos, pois na maioria das vezes não temos dinheiro para tudo o que queremos e até para suprir nossas necessidades". Tentei prosseguir argumentando sobre a quantidade de brasileiros que foge daqui, tentando entrar ilegalmentete nos EUA como clandestino e que numa proporção é até muito maior que a deles. Quer dizer, se eles fogem de lá, uma outra quantidade foge daqui, do México e de outros tantos países latinos. Percebi que não a iria convencer de nada, pois a carga de informações recebida do outro lado já havia consolidado o seu pensamento.Foi só abrir a boca e manifestar uma provável intenção de ir à Cuba ainda nesse mês de janeiro, para ter início algumas considerações, que pelo volume, acabei dando mais corda, estimulando o seu prosseguimento, tudo para tentar obter uma espécie de perfil do que o brasileiro acha de Cuba e de como acredita que seja a vida naquele país. De cada um ouvi algo diferente, quase todos na mesma linha de pensamento, o que me deixou deveras preocupado, pois pela maioria das considerações ouvidas, a grande maioria acredita que Cuba vive num mundo de opressão, falta de liberdades e de condições mínimas de vida decente (sic), precariedade instituicional e a mais cruel ditadura. A pergunta que fica num primeiro momento é: Como construiram essa idéia? O que leram, viram ou ouviram para construir esse perfil?
Por uma dessas coincidências da vida, quem me aparece em casa, no mesmo dia da conversa, é o militar aposentado Darcy Rodrigues, que viveu mais de dez anos em Cuba. Contei a ele os diálogos que havia tratado e diante de minha mãe e da Cida, sua resposta a elas foi: "Cuba é uma sumidade em medicina e saúde, estamos muito longe de uma equiparação com o estágio alcançado por eles. Por aqui recebemos as notícias pela TV do sr Roberto Marinho que, cresceu e se desenvolveu recebendo financiamentos dos EUA. O SBT a mesma coisa, Silvio Santos tem negócios por lá e bajula o império. Como podemos esperar que as informações recebidas por esses meios de comunicação nos contem a verdade?".
Quando comuniquei a amiga Gisele Pertinhes, 40 anos, pedagoga da minha intenção, a primeira reação foi: "Você estará pertinho dos EUA". Logo a seguir me disse: "O duro de lá é que você não pode ficar na rua até tarde. Vigora uma espécie de toque de recolher, que te impede de ficar nas ruas, nos bares até a hora que você bem entender". Algo na mesma linha ouvi de outra amiga, Maria José Ursolini, 49 anos, educadora, que havia estado em Cuba há 10 anos atrás, num congresso sobre educação e me diz: "Não adianta te falar nada, pois você verá pessoalmente. Não gostei de muitas coisas que presenciei, como uma carência coletiva muito grande. Sentem falta de muitos produtos. As lojas são completamente diferentes. Foi difícil trazer presentes, pois não existem como aqui". Tento argumentar: "a educação, o esporte e a saúde são prioridades e estão num estágio mais avançado do que o nosso, tendo o básico, o necessário e não precisam de muito além disso. Nós, do lado de cá, vivemos muito em função do supérfluo". Não a convenci, nem quando usei como resposta: "Na verdade não precisamos de 20 marcas diferentes de shampoos, massa de tomate e papel higiênico".
Na véspera do Natal quem fica sabendo do meu intento em viajar para Cuba é meu irmão, Edson Antonio Perazzi de Aquino, 43 anos, arquiteto, que desfere logo de cara: "Você deve ter recebido algo que te enviei por e-mail sobre o patrimônio cultural de Cuba. Lá está tudo com um péssimo aspecto, muito degradado e com um descuído intolerável, sendo que alguns prédios são considerados Patrimônio Histórico da Humanidade. Se eles não cuidam nem de suas edificações históricas, que dirá do resto. Está tudo comprovado, com fotos de marquises caindo, lastimável". Mais ouvi do que falei, pois antes queria ter acesso ao e-mail e a forma como foi divulgado (já o havia deletado). Só digo a ele que "em tudo que faço enxergo os dois lados, principalmente as intenções de quem enviou, para depois emitir algum conceito". Quem acabou me mostrando um outro lado foi o Marcos Paulo Resende, 27 anos, professor de inglês, quando me alertou: "Cuba faz algo que poucos países fazem. Eles reformam 300 mil casas por ano, no que eles denominam de Programa de Reforma Urbana, onde quem reforma sua casa é o Estado e não você. Lá ninguém tem necessidade de reformar sua casa, pois isso é obrigação do Estado. E só não fazem mais por absoluta falta de dinheiro. São mais pobres do que nós. O cubano pode viajar para onde quiser, como o brasileiro, só que, assim como no nosso país, uma porcentagem infima pode fazê-lo, pois não tem dinheiro para a viagem. Não é igualzinho. O país é pobre. Só que lá ninguém fica sem o básico, já aqui. Lá hoje há 902 estudantes universitários brasileiros, todos bolsistas, entre os quais 472 na medicina. Tudo gratuito, como deve ser o verdadeiro ensino".Numa agência de viagens, um senhor ao meu lado, quando me vê consultando preços sobre pacotes para a ilha de Cuba, não se faz de rogado e faz questão, mesmo sem me conhecer, de me alertar: "Não iria para um lugar desses de jeito nenhum. Lá não têm nada que procuro. Vou é alguns quilômetros à frente, na Flórida. Aquilo sim é lugar para passear e fazer turismo". Mais não lhe deixo falar, pois me viro para o atendente e de costas para ele, deixo claro minha indisposição. Falando sózinho, a cantilena pára por aí. Quando ele se afasta, o constrangido atendente fez questão de me dizer: "Aqui a gente é obrigado a atender todo tipo de cliente, inclusive desse tipo. Eles acham que por terem dinheiro suas idéias devem prevalescer sempre". Evito comentários, pois essa era a melhor resposta que poderia ter ouvido.
Abro minha revista semanal, a Carta Capital e na seção Brasiliana, o título é dos mais sugestivos, "Réveillon nos anos 50". A jornalista Ana Paula Souza foi passar a virada do ano em Havana e fez comentários favoráveis e desfavoráveis à ilha. Algo que marca, logo num box no meio da matéria é a frase: "Em Havana nem sombra de fogos ou compras" e a constatação de que havia "atravessado um túnel do tempo (...) sinal de que estamos, sim, nos anos 50". Cutuca quando aponta algumas contradições: "Os CUCs (unidade de conversão tornada moeda para turistas e mercado paralelo) são o símbolo do mundo paralelo que as esquinas de Havana escondem" e "a literatura oficial parece resumir-se a Che Guevara e ao poeta José Martí". Por outro lado, li que: "Em Havana, não há serviçais.Todos tratam a todos como iguais" e "pensei na ausência de gente de feitio servil". O que tento fazer é colocar isso tudo numa balança, pesar os prós e contras e tirar minhas próprias conclusões.
No final de semana passada, algo me chama a atenção num jornal aqui da cidade, quando pedem a um entrevistado: "Para quem você daria nota Zero?". A resposta é direta: "Hugo Chávez". Como deve ser também para o cubano Fidel, seu irmão Raul, Morales, o boliviano e Correa, o equatoriano. Na rádio Auri-Verde ouço o locutor Luiz Carlos Silvestre, afirmar com ironia no noticiário das 18h: "Os cubanos vivem numa saia-justa que é brincadeira. Vivem muito mal". Um outro ao seu lado, ironiza o irmão de Fidel, Raul, por haver colocado terno para receber o presidente Lula e da intenção desse de abrir o regime (será que conhecem Raul?). E diante disso, fico a pensar sobre outra coisa que acabo de ouvir, como crítica para o regime cubano: "Como deve ser ruim viver com tudo igualzinho, naquele marasmo". Não tive tempo de responder (o faço aqui), mas acredito que o inverso também é do mesmo jeito, pois nada pior do que o pensamento único, esse que tenta nos fazer crer que o neoliberalismo e a globalização são a definitiva e irrefutável solução para todos nossos problemas. Todos os que tentam viver diferente disso, crucificados são. Nossas fontes de informação, na maioria das vezes, passam dados distorcidos, segundo o seu ponto de vista e interesses. E o pior é que os que estão do lado de cá, acabam acreditando em tudo, como se fossem verdades incontestáveis. Portanto, seria ótimo tirar minhas próprias conclusões, sendo assim, continuo cruzando os dedos para que o sonho dessa viagem finalmente se concretize (toc toc toc).Henrique Perazzi de Aquino, escrito em 15 de janeiro de 2008.
Henrique, sobre esses comentários das pessoas, repito uma coisa que já te disse: As pessoas criadas no neoliberalismo, carregam no fundo de seus sentimentos as manifestações mais hipócritas do ser, pregam a perfeição quando não somos perfeitos como nada nesse mundo é, quando algo se aproxima de grandioso tratam de exaltar defeitos para esconderem o quanto de insignificante é nossa existencia no mundo neoliberal, olham para os outros mas esquecem de colocar a si proprios na balança da justiça, é aí onde o coletivo é deixado em troca pelo egocentrismo.
ResponderExcluirCompanheiro carregue isso com vc e sempre mostrará na pratica o quanto essas pessoas tem sua sensibilidade limitada pelo neoliberalismo.
marcos paulo
Cuba, Cuba, Cuba não sei o que vcs tanto vêem nesse país borra botas.
ResponderExcluirNÓS VEMOS O QUE REALMENTE É UM PODER POPULAR, OPORTUNIDADES IGUAIS, EDUCAÇÃO, SAÚDE PARA TODOS, VEJA SE LÁ EXISTE ANALFABETO OU ALGUÉM MORRENDO NAS FILAS DE HOSPITAIS, VEJA SE TEM ALGUMA CRIANÇA DORMINDO NA RUA.
ResponderExcluircOMENTÁRIOS COMO O ACIMA É DO TÍPICO REACIONÁRIO QUE VIVE ALIENADO COM AS "INFORMAÇÕES" DESTA PORRA DE SOCIEDADE IMPERIALISTA, VISTO QUE O COVARDE NEM SE INDENTIFICOU.
VIVA CUBA
MARCOS PAULO