domingo, 10 de fevereiro de 2008

UMA ALFINETADA (18)

A QUESTÃO DO CARTÃO CORPORATIVONão se fala em outra coisa. Esse é o assunto do momento. Eis mais um motivo para nova crise e talvez até uma CPI. Fala-se em novo escândalo, mas venho aqui minimizar um pouco a coisa. Não vejo motivos para o alarme ser ligado. Vejo o tal Cartão Corporativo como um instrumento moderno, que permite melhor controle do que o velho talonário de cheques. O Governo Lula acertadamente o mantém aberto desde o início, permitindo a todos acompanhar os gastos feitos nos tais cartões, graças à política de transparência pública. Até 2004 essa possibilidade simplesmente inexistia. Pode-se falar mal de Lula o quanto quiserem, mas desde o início do seu Governo está tudo lá na internet. Ninguém fez investigação nenhuma para descobrir isso ou aquilo, bastando apenas acessar o site do Transparência. Os nomes e os gastos sempre estiveram lá. Sendo assim, quem fez algo errado que pague pelo que fez.

O que não podemos continuar é sendo hipócritas de achar que tudo é um grande fim de mundo. Fim de mundo é continuarmos colocando o dedo na ferida atual e relevando a do passado. Hoje, a transparência é evidente, já no passsado, no Governo anterior não existia e ninguém fala disso. Vejam os números: em 2001 foram gastos R$ 213,6 milhões e em 2002 a bagatela de R$ 233,2 milhões com os tais cartões. As datas referem-se ao Governo de FHC, onde não existia o sistema atual de você poder conferir na internet como foram efetuados os gastos. No atual Governo, os gastos foram reduzidos e mantêm-se numa média anual de R$ 143,5 milhões.

Existe sim, uma clara e evidente manipulação na mídia, que cutuca um lado e joga sujeira para debaixo do tapete em outro. Novamente deixo aqui registrado que a transparência atual não existia e devemos louvar sua existência hoje. Hoje, sabe-se que um ministro gastou menos que R$ 10 reais com tapioca está ali na internet, mas continuamos não sabendo como os secretários do Governo Estadual paulista fazem para pagar os jantares no famoso restaurante Fasano, pois essas contas são fechadas e não são publicadas. E por que pede-se CPI somente para um e não para o outro? Essa é a hipocrisia reinante. Escândalo é quando não existe a tal transparência, quando se oculta o gasto. Por aqui, quem facilita a identificação ainda é acusado de mancomunar-se com falcatruas. Durma-se com um barulho desses. Lula institui a Transparência quando tudo é feito às claras e recebe pau, FHC e os Governos Estaduais não o fazem e são isentos. São coisas que não consigo entender.

Repasso isso para nossa região. Muitas cidades permitem gastos de secretários, assessores e nada divulgam sobre esses extratos (em Bauru nada disso é permitido). Ainda persiste muitas Prefeituras pagando celulares ilimitados para gente do alto escalão e essas contas não são divulgadas. Podem sim, serem conferidas quando um Promotor as exige, mas do contrário estão lá fluindo calmamente como um rio sem obstáculos.Isso não é transparência. Transparência é ter a coragem de publicar tudo. Lula erra ao permitir a execração de sua ministra negra, que usou indevidamente e devolveu, sendo que, num passado não tão distante, jatinhos da FAB foram usados por ministros de Estado para viagens à Fernando de Noronha (lembram-se do FHC Tur?) e nada foi devolvido, nem as pessoas foram exoneradas. Dois pesos e duas medidas. Aguardo ansioso a publicação de onde são gastos o dinheiro do orçamento paulista, da mesma forma que o Governo Federal publica todos os seus. Que os múmeros abaixo não passem desapercebidos: total em 2007, R$ 75 milhões de cartões no Brasil inteiro, enquanto só no estado de SP foram gastos R$ 108 milhões. Nosso rico estado está gastando mais do que o país todo e isso não gera nenhuma curiosidade da mídia nativa. Quando formos brincar com essa questão dos cartões, não devemos expor somente a carinha barbuda do presidente e isentar a dos governadores, pois esses são muito mais nocivos, quando não expõem seus gastos. Sabe por que essa CPI não vai dar em nada? Simplesmente porque começa a aparecer os gastos com os cartões tucanos e como, nem mídia, nem ninguém está interessado em pegar tucanos, vão acabar deixando por isso mesmo.

Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, abolindo de vez o talonário de cheques para utilizar 24h por dia um cartão de débito, porém mantendo saldo no vermelho, como dantes.

2 comentários:

  1. Muito bem Henrique.
    Compartilho de sua opinião. O fenômeno da tapioca e dos cartões corporativos são forte apelos jornalísticos mas nada acrescentam ao que realmente interessa: "Crescimento econômico com distribuição de renda".
    Um forte abraço,
    João Carlos de Andrade
    CUT Bauru

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  2. Prezado Henrique, obrigado pela importante mensagem. Fraternalmente, Vicentinho.
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