sábado, 3 de maio de 2008

UMAS CARTAS (7)
Em 23/04 o jornal Bom Dia aqui de Bauru publica uma carta minha sobre algo que havia lido num texto do articulista deles, o advogado Ivan Garcia Goffi:

O USO DE TERMOS CHULOS
“Leio rotineiramente nos textos do articulista desse jornal, Ivan Garcia Goffi e de alguns missivistas, o uso indiscriminado de termos chulos quando retrata algo referente ao Presidente da República, o popular Lula.
Além da deselegância, existe um algo mais embutido nisso tudo, algo um tanto discriminatório, totalmente desnecessário. Lula possui seus erros (muitos, aliás), porém o país hoje é infinitamente melhor do que o deixado por seus antecessores. Reconhecer isso é algo edificante, demonstra humildade e não querer falsear a verdade dos fatos.
A corrupção está enraizada em nossa sociedade e não é exclusividade desse Governo (vide o caso dos Cartões Corporativos, enlameando tanto os atuais, como os anteriores). Esse, pelo menos mantém as coisas mais claras, com os gastos publicados no site Transparência Brasil, o que antes não acontecia e pune os deslizes.

Quem de fato, luta por um país cada vez melhor, não se importa nem um pouco se temos como presidente um letrado ou um iletrado, pois a inteligência e a honestidade vão muito além disso.
O buraco é mais embaixo e, quer queira ou não uma parcela da população, Lula faz um Governo como nunca dantes tivemos. Não enxergar isso demonstra algo mais, além de uma simples miopia. Reconhecer qualidades nos adversários é um verdadeiro gesto de nobreza e quem o pratica não mente pra si mesmo”.



Esperava algo dele e veio numa carta publicada na edição de 26/04, com o título “Lula”:
“O leitor HPA, em carta publicada na edição do BOM DIA de quarta-feira, sob o título “Lula”, parece que não tem entendido a abordagem que faço do governo Lula. Os fatos, irrefutáveis, demonstram que nunca houve, na história deste país, esquemas de corrupção tão arraigados na máquina administrativa.

Mais que endêmica, a corrupção tem sido sistemática, deixando-nos a nítida impressão que jamais nos livraremos dela.

Embora a corrupção seja uma chaga desde tempos imemoriais, esse governo a oficializou. O presidente, em vez de calar-se, avalisa a conduta de cada integrante, mesmo com provas que vicejam em sentido contrário.
A verdade é que Lula encontrou um cenário altamente promissor. O capitalismo rege-se por regras próprias e, nessa condição, o Brasil caminha sozinho há anos, fruto que amadureceu por causa do Plano Real.

Os programas e bandeiras de governo de Lula apenas geram despesas que, concorde ou não, são mantidas às custas do esforço hercúleo e trabalho da elite e da classe produtiva. A mesma elite que Lula tanto critica.

Assim, na condição de cidadão diretamente lesado pela política populista e perniciosa de Lula, ninguém me tolherá o direito de criticá-lo, independente dos argumentos ou expressões que eu venha a usar”.

Pois bem, para não continuar enchendo o saco do leitor, resolvi não enviar para o jornal outra resposta. O faço aqui nesse espaço e se conseguir que ele leia, melhor:

“Goffi, como afirma em sua carta enxerga tudo somente sob sua ótica, caolhismo desenfreado, ainda mais porque pronuncia algo que não conseguirá provar: “nunca houve corrupção tão arraigada na máquina administrativa”. Uma pena, que pessoa com tanto preparo, omita nosso passado de muita lama. O que nunca houve, na verdade, é tanta gente intimada, respondendo por seus atos escusos. Isso é sinal de que algo funciona, vide o trabalho da PF.

Ele não me entende. Faço questão de cutucá-lo, pois ele tem a mania de criticar o atual presidente, escondendo para debaixo do tapete o que foi feito por governos anteriores, que ele defende e prega o retorno. Isso para mim é insuportável. Aqueles que criticam ambos com a mesma veemência, isento de ficar enviando cartas.

Logo a seguir, me faz rir quando diz que Lula “encontrou um cenário altamente promissor” para navegar na calmaria que o país hoje atravessa. Falar em calmaria é algo mais do que tendencioso, pois enquanto os EUA, o condutor do mundo neoliberal está em profunda crise, dissolvendo-se a olhos vistos, o Brasil de Lula segue seu rumo, sem transtornos. E Lula nada faz? (O megainvestidor George Soros escreveu que está é a maior crise dos capitalismo nos últimos 60 anos).
Ser opositor é uma coisa, ser caolho é outra. Acredito até que Goffi esteja tentando nos passar uma mensagem nas entrelinhas: se Lula navega na calmaria, com os EUA no atoleiro, nada melhor do que Lula continuar no comando da embarcação. Afinal, já pensaram se entra alguém sem sorte no seu lugar?

Para encerrar, sigo em frente, citando dois textos de dois gurus aqui do mafuá. O mestre Mino Carta diz: “A minoria privilegiada repete as frases feitas que os jornalistas e os seus patrões lhe põem na boca, enquanto a maioria dos brasileiros forma a caravana, e passa ao largo, indiferente”. De outro batuta, o escritor Luis Fernando Veríssimo (que estará em Bauru, no SESC, dia 07/05): “Agora tivemos um terremoto de escala respeitável. Não faltará quem culpe o governo Lula pela nova instabilidade nacional, o que é obviamente um absurdo. Todos sabem que os desastres climáticos e geológicos se tornaram mais freqüentes e destrutivos no mundo, nos últimos anos, por culpa do neoliberalismo”.

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