UMA FRASE E UM QUESTIONAMENTO (20)
O ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh (http://www.greenhalgh.com.br/) faz um lobby escancarado para o banqueiro Daniel Dantas e provoca escárnio em todos os que o admiravam. Mas nem sempre foi assim. Leio nesse momento um livro sobre o grupo Clamor ("Clamor - A vitória de uma conspiração, Samarone Lima, editora Objetiva RJ, 2003, 262 pgs), criado durante os momentos mais nefastos da ditadura militar brasileira, por três pessoas, numa ação clandestina, de grande velocidade e denunciando todos os perseguidos pelas ditaduras militares na América Latina, principalmente as do Cone Sul.Essas pessoas ousaram desafiar frontalmente o regime militar. Os fundadores da Clamor foram a jornalista inglesa Jan Rocha, o pastor Jaime Wright (com o decisivo apoio de dom Paulo Evaristo Arns) e o advogado Greenhalgh. O Clamor começou a reunir-se em 1977 e a história do grupo foi, ao longo de mais de dez anos, uma fantástica luta, uma rede de solidariedade de reconhecido valor. Não há como não reconhecer o que fizeram.
Hoje, ao ver Greenhalgh envolvido dos pés à cabeça nesse escuso caso da defesa ao nefasto Daniel Dantas, fico sem entender a mudança. Como uma pessoa que fez aquilo tudo no passado, consegue se aliar ao que de pior existe no país? Eu não entendo e continuarei não entendendo, até ouví-lo, pois ainda não consigo deixar de nutrir respeito pelo seu passado. Hoje, sentado ao meu lado, em meu carro, folheando uma revista semanal, um senhor ao ver a foto de Greenhalgh me diz: "Esse tem cara de malandro. Nunca confiei nele". Comigo acontece exatamente o contrário. Acreditei, e muito. Ele possui passado dos mais ilibados e dignos. O que nos deve é uma explicação, até para que entendamos melhor como conseguiu passar de um lado para outro. Como alguém, possuindo todo o envolvimento (o de uma vida toda) voltado para os direitos humanos dos desaparecidos políticos, pode se bandear para as hostes de Daniel Dantas? Não encaixa e fico mais perdido que cego em tiroteio.
De tudo, tiro das páginas introdutórias do livro sobre o Clamor, uma frase de Hannah Arendt, in "Homens em tempos sombrios", para reflexões coletivas: "Mesmo no tempo mais sombrio temos o direito de esperar alguma iluminação, e que tal iluminação pode bem provir, menos das teorias e conceitos, e mais da luz incerta, bruxuleante e frequentemente fraca que alguns homens e mulheres, nas suas vidas e obras, farão brilhar em quase todas as circunstâncias e irradiarão pelo tempo que lhes foi dado na terra". Serve tanto para aquele período, como para o atual. Cai o pano rapidamente.
De tudo, tiro das páginas introdutórias do livro sobre o Clamor, uma frase de Hannah Arendt, in "Homens em tempos sombrios", para reflexões coletivas: "Mesmo no tempo mais sombrio temos o direito de esperar alguma iluminação, e que tal iluminação pode bem provir, menos das teorias e conceitos, e mais da luz incerta, bruxuleante e frequentemente fraca que alguns homens e mulheres, nas suas vidas e obras, farão brilhar em quase todas as circunstâncias e irradiarão pelo tempo que lhes foi dado na terra". Serve tanto para aquele período, como para o atual. Cai o pano rapidamente.
O passado ilibado não o isenta nem um pouco da culpa grave cometida nos dias de hoje.
ResponderExcluirGenaro
RECEBI DO DEPUTADO VICENTINHO, MEU AMIGO, UMA NOTA, QUE ACHEI POR BEM PUBLICAR AQUI:
ResponderExcluirEm nota, Greenhalgh critica distorção e má-fé de delegado da PF
1) Há 15 dias fui surpreendido com o envolvimento de meu nome em uma operação da Polícia Federal - Satiagraha. Fiquei sabendo que era investigado e que tinham pedido minha prisão temporária, que restou indeferida. Desde então, procuro saber o que de fato era e é atribuído a mim, o que até hoje não consegui. Jamais fui chamado a prestar esclarecimentos.
2) Hoje, 23 de julho, diante de reportagem que atribui a mim o pedido de US$ 260 milhões para viabilizar a "supertele", não posso me calar. O diálogo em questão tratava de uma negociação em curso e os valores citados se referiam a essa negociação como um todo. Não há no diálogo nenhuma menção à tentativa de lobby. Mas a conclusão distorcida do relatório do delegado Protógenes Queiroz é que esse valor se destinava a remunerar tráfico de influências. Pior, sem que nenhuma palavra sobre isso fosse mencionada, escreve que o dinheiro seria usado em "caixa dois" de campanha eleitoral. Querer ver neste diálogo a existência de propina, lobby, de dinheiro para campanha eleitoral é pura má-fé. Além das interpretações distorcidas do delegado Protógenes, deparo-me com a publicação de trechos do relatório pela imprensa que ajudam a distorcer ainda mais as conclusões do delegado.
3) Jamais, no trabalho profissional prestado ao grupo Opportunity, se discutiu propina, porcentagem, recursos para campanha eleitoral de quem quer que seja. Isto é uma calúnia a que vou repelir, custe o que custar. Meu trabalho consistiu em analisar processos em curso envolvendo o Banco Opportunity, nas esferas civil e criminal. Advoguei. Ajudei a conformar as propostas que foram exaustivamente debatidas entre as partes até chegar ao acordo final. Advoguei. A negociação que resultou na criação da BrOi foi árdua, foi longa, foi tensa, mas não teve nenhum ilícito.
4) Não me amedronta a possibilidade de ser processado. Aqui está em jogo a minha honra pessoal e profissional. Aqui está em jogo também a questão democrática. Aqui está em jogo o respeito pelos direitos dos cidadãos assegurados pela Constituição Federal. O respeito ao exercício da profissão de advogado, que hoje exerço em tempo integral.
Luiz Eduardo Greenhalgh