SEU VERO, A VEROLÂNDIA E A MAQUETE DA ESTAÇÃO
Veraldo Rosetti, 78 anos (05/11/1929), ferroviário aposentado há mais de vinte anos é uma pessoa, que gosta muito de minúcias e delas extrai verdadeiras maravilhas. Foi desenhista técnico da extinta RFSSA - Rede Ferroviária Federal S/A, pela qual trabalhou por mais de 30 anos. Teve uma vida quase toda dedicada à ferrovia, sempre no Departamento de Patrimônio, o prédio mais velho da administração da Estrada de Ferro, bem ao lado do Museu Ferroviário de Bauru. Essa vida ao lado dos trilhos, o faz afirmar, com certa pitada saudosista: "Trabalhei ali a minha vida inteira. Conheço cada cantinho daquilo tudo". Com uma vida toda construída em função da ferrovia, quando se viu longe d atividade diária, pensou logo em como poderia levar um pouco daquilo tudo para dentro de sua casa.
Foi quando começou a se interessar por miniaturas de trens, começando com as peças de ferromodelismo. Comprou as primeiras e pegou gosto pela coisa. A cada dia aparecia com uma novidade; trilhos, engates e sinalizações, montando e desmontando tudo em locais variados dentro de sua casa. Paralelo, outra coleção, de miniaturas de carros. Em ambas, possui verdadeiras preciosidades. No lar, a esposa não interferia no gosto refinado do marido e a filha única, Cibele, incentivava, pois no seu canto, sempre manteve coleções de coisas miúdas, como animais de louça, tendo predileção por gatos. O negócio foi ganhando cada vez mais corpo, ocupando mais espaço dentro da casa e tomando cada vez mais tempo de toda a família.
Dizem que esse negócio de ferrovia quando se infiltra numa pessoa, não o abandona nunca mais. Com seu Vero, como é carinhosamente chamado por todos, visitá-lo em sua casa é a comprovação da veracidade desse conceito. O homem transpira ferrovia por todos os poros, mas não somente isso. Ele sempre foi uma pessoa das mais versáteis, ativo como nunca e curioso por natureza. Artista nato e autodidata, pinta e borda em outros segmentos. Tem telas espalhadas por toda a casa e para os que não acreditam muito que são suas, mostra velhos álbuns, com convites, fotos de exposições e recortes de jornais, todos muito organizados e comprovando cada fase de sua incessante atividade.
Aliás, sua casa é sui generis, pois, mesmo não sendo muito grande, possui uma perfeita divisão, onde tudo está muito bem exposto. Ao lado da sala, está situado um escritório de trabalho, que muitos poderiam chamar de atelier, ou até como oficina de reparos. Tudo é feito ali, desde as pinturas, até a montagem de uma maravilha fixada junto ao teto. Quando faltou espaço na casa, veio a idéia de fazer o percurso do ferromodelismo no alto, dando uma volta pelo quarto. Ver a composição férrea dando voltas dentro do seu quarto é algo indescritível. É claro, que junto a tudo isso, não poderia faltar a estação, para a parada dessa composição, cujo nome veio bem a calhar,Verolândia. Quando lhe pergunto o motivo desse nome, a resposta só poderia ser uma: "Todos na ferrovia, os amigos e parentes me chamavam de Vero e como tudo está montado aqui no meu cantinho, ficouVerolândia mesmo".
Mesmo aposentado, por mais um tempo continuou fazendo uns bicos como desenhista técnico de arquitetura e pintando sob encomenda. E tudo o que entrava, ia sendo empregado no hobbie. Até que pintou uma idéia inusitada no começo dos anos 90: "Até aquele momento ninguém tinha se proposto a fazer uma maquete da nossa Estação Central. Decidi fazer, seguindo as escalas que conhecia, mas sem nunca ter feito algo parecido antes". Foram uns três meses de pura dedicação. O resultado impressionou tanto, que num primeiro momento não queria se desfazer da peça.A maquete da estação foi totalmente feita em papelão e pintada com tinta acrílica. Possui 1,61 metros e chama muito a atenção pela riqueza de detalhes. A incrível semelhança do relógio na frente do prédio, feito em algarismos romanos e na parte coberta, a chamada gare, com bancos internos e a entrada do túnel, que dá acesso ao outro lado da plataforma. Cada janela, minuciosamente montada, deixa claro como deve ter sido trabalhoso a sua execução. Trabalho de um minucioso artífice.
Passado algum tempo, por incentivo de ferroviários e de funcionáriosdo Museu, fez a doação e a peça foi logo a seguir exposta. Dessa época, seu Vero guarda muitos recortes de matérias nos jornais: "Montei um álbum, onde fui colando fotos de meus trabalhos, matérias de jornais e documentos recolhidos". Em 01/01/2002, o Jornal da Cidade dava a primeira manchete sobre a maquete, com o título "Aposentado homageia ferrovia". Passado algum tempo a peça foi recolhida para a reserva técnica do museu, pois caiu no chão ao ser removida de um local para outro. Ficou guardada por mais de um ano. No começo de 2005, quando o Museu Ferroviário reuniu peças para a exposição "Ferrovia em Miniatura", a maquete foi reativada. Por iniciativa de Darci Bueno, então presidente do Conselho do Museu, seu Vero foi procurado e se prontificou a restaurar a parte danificada: "Eu sabia onde ele morava, fui lá e ele veio restaurar a peça no próprio local em que seria exposta". Nem é necessário afirmar, que mesmo com um trenzinho em miniatura funcionando lá dentro, a maquete voltou a chamar a atenção. Novas reportagens foram feitas e seu Vero voltou a ser notícia.
Passado algum tempo, por incentivo de ferroviários e de funcionáriosdo Museu, fez a doação e a peça foi logo a seguir exposta. Dessa época, seu Vero guarda muitos recortes de matérias nos jornais: "Montei um álbum, onde fui colando fotos de meus trabalhos, matérias de jornais e documentos recolhidos". Em 01/01/2002, o Jornal da Cidade dava a primeira manchete sobre a maquete, com o título "Aposentado homageia ferrovia". Passado algum tempo a peça foi recolhida para a reserva técnica do museu, pois caiu no chão ao ser removida de um local para outro. Ficou guardada por mais de um ano. No começo de 2005, quando o Museu Ferroviário reuniu peças para a exposição "Ferrovia em Miniatura", a maquete foi reativada. Por iniciativa de Darci Bueno, então presidente do Conselho do Museu, seu Vero foi procurado e se prontificou a restaurar a parte danificada: "Eu sabia onde ele morava, fui lá e ele veio restaurar a peça no próprio local em que seria exposta". Nem é necessário afirmar, que mesmo com um trenzinho em miniatura funcionando lá dentro, a maquete voltou a chamar a atenção. Novas reportagens foram feitas e seu Vero voltou a ser notícia.
De lá para cá, a maquete nunca mais deixou de ser exposta. Ficou um tempo no Museu Ferroviário e depois, junto a um pequeno acervo ferroviário no Museu Histórico de Bauru. Quando o Chefe do Museu Histórico, Valter Tomás Ferreira idealizou uma exposição para a unidade local do Poupatempo, denominada "Passageiros", com uma retrospectiva sob a visão das pessoas, que embarcavam e desembarcavam nas várias plataformas ferroviárias da cidade, nada melhor do que ter a maquete como o primeiro objeto a ser visto, logo na entrada do prédio, como um chamarisco para as outras peças dispostas lá dentro: "Ela é nossa mais bonita e imponente estação e essa maquete, pela forma como foi feita, representa muito, pois tem a dedicação integral de um ferroviário na sua execução". A exposição aconteceu no Poupatempo e a maquete do seu Vero, "da nossa maior e mais bonita estação", abrilhanta tudo. Depois voltou para o Museu Ferroviário, onde permanece até hoje.
A lamentar só o fato do seu construtor não estar lá com a saúde muito perfeita, pois como ele mesmo nos disse, "ando com o rim meio atrapalhado". Até para ir rever sua obra, depende da ajuda de outros, principalmente das horas de folga da filha, pois "não gosto de deixar a casa vazia, sem ninguém. Se ela fica aqui, alguém me leva até lá". Porém, nem a saúde o impede de continuar fazendo o que gosta. Sua mesa de trabalho está sempre cheia de papéis e seus trenzinhos continuam funcionando regularmente nos trilhos no alto do seu escritório. O mesmo pode-se dizer das pinturas, pois volta e meia se atreve a expor algumas delas por aí. Na estação de Verolândia os trens não pararam de funcionar esses anos todos, dando um ótimo exemplo de como deveriam ser as coisas com os trilhos de verdade. Com a estação a mesma coisa, pois a do seu Vero foi erguida para ser exposta, vista, como se funcionando estivesse: "Quem me dera isso também fosse possível na verdadeira".
OBS.: Esse texto foi escrito em agosto de 2007 e ainda não havia sido publicado aqui. O faço agora, com pequenas correções, devido ao I Encontro Histórico Ferroviário e de Ferromodelismo de Bauru, a realizar-se na Estação Central de Bauru, nos dias 27 e 28/09/2008.
olá H.P.A. estou usando o expdiende de resposta por ser mais pratico, nao se ache chato por isso, seus e-mails sao sempre bem vindos, aliás, esperados pois sempre trazem coisas boas e interessantes, é vero. um forte abraço
ResponderExcluirLÁZARO CARNEIRO
henrique,
ResponderExcluiros mesmos que "mataram" as ferrovias, vão matar o "Aeroclube de Bauru"...
Ótimo texto...Não entendo como um país de dimensões continentais não tem ferrovias !
Na Alemanha, nas duas margens do Reno há ferrovias, passando um comboio a cada 3 minutos...Compare o tamanho da Alemanha com o Brasil...
De boas "intenções políticas" o inferno está cheio...
Abraços.
muricy