quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CENA BAURUENSE, E PORQUE NÃO DIZER, BRASILEIRA (11)

GI, SUAS DORES E UMA TORTURA
Gisele Pertinhes é uma grande amiga. Completou 41 anos nessa semana e não passa por bons momentos. Sua coluna arriou, uma hérnia de disco maltratada (maltratada, também) travou tudo, indo parar na UTI. Coisa séria, dores mil e remédios em excesso. Quando as dores ficam mais fortes, dopada desmaia e assim dorme. Inferno astral. Um dia antes da eleição, o médico a deixa voltar para casa, sob dieta rigorosa. Aluga uma cadeira de rodas e fica em sua casa curtindo seus momentos de dor. Uma turma a leva assim mesmo para o show do Chico César (eu junto e ela bem que tentou) no SESC. Uma amiga dela liga dias depois, propondo ajuda em forma de orações. Só em casa, aceita. Chega momentos depois, trazendo consigo um pastor de uma conhecida igreja evangélica e um outro acompanhante. A fisionomia do dito cujo lhe é familiar. A ajuda oferecida é diagnosticada como um diabo, coisa-ruim, tranca-ruas, exú, chupa-cabra, que lhe infiltrou corpo adentro. Boquiaberta ela olha para a amiga, que absorta concorda com tudo. Aos gritos, o pastor conclama que essa “thurma” lhe abandone o corpo, pois do contrário irá se ver com ele. Aperta com força sua cabeça, gesticula muito, sempre aos gritos. Saca de um vidro de óleo, esfregando com força o conteúdo na região afetada. Nesse momento ela urra de dor e o pastor grita: “Você crê? Se crê, pede, ore, que ele irá te curar”. Atônita, pede calma para o dito pastor e somente após muita insistência consegue fazê-lo diminuir a fúria no tratamento. Trava um ríspido diálogo com ele: “Sim, eu creio, mas em algo superior, numa força maior vinda lá de cima, mas nunca lhe peço nada aos gritos. Meus Deus não é surdo e o seu é”. Finalmente consegue fazer com que a "troupe" deixe sua casa. O trio sai, mas por uma dessas coincidências da vida, tromba na saída com a sua mãe e filha chegando. Adentram novamente a casa. A mãe, educada por natureza ouve a ladainha: “Estava de saída, mas recebi uma luz me pedindo para voltar, pois minha missão estava incompleta e a cura seria alcançada”. A menina se refugia no quarto e a mãe, na ânsia de ajudar, a tudo permite. O pastor conclama para que sózinha se levante, pois resolveria tudo pela força da fé. Ela não consegue fazê-lo e precisa ser amparada pela tal amiga e o acompanhante. Consegue se manter pouco tempo sem amparo e desaba novamente na cadeira. Pede delicadamente que saiam. O fazem aos gritos: “Falta fé e a cura só acontece com fé. Precisa crer”. Ainda tem tempo para uma profecia: “Amanhã você vai amanhecer curada”. Acorda no dia seguinte com as mesmas dores, amortizada pelo efeito dos remédios. Liga a TV e entra em pânico, reconhece o tal pastor que estivera em sua casa, agora com a mesma encenação via televisão. Foi demais. Tudo isso acontece no Dia de São Judas Tadeu, tanto que, ela, mãe e filha pedem ao santo as devidas melhoras, sem que lhe aconteçam novas surpresas ou provações um tanto desnecessárias. Complementar uma história dessa com o que? É isso que acontece aqui, acolá e por tudo quanto é canto.

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