terça-feira, 25 de novembro de 2008

DIÁRIO DE CUBA(16) - publicado em 29/11/2008


JINETEROS, GAYS, CDs PIRATAS, A FEIRANTE E APARTADOS
Após quatro dias na ilha estamos conhecendo melhor como se processa o relacionamento com os tais “jineteros”. Estávamos numa área hoteleira à beira mar, onde é inevitável a abordagem. Dois se aproximam. O papo sempre começa com o pedido de cigarros. Decepção, ambos não fumamos. Uma das primeiras perguntas é sempre sobre a quanto tempo estamos em Cuba.Tudo para saber se já estávamos escolados. A nossa tática é sempre responder algo infalível para encurtar esse tipo de conversa: “Estamos aqui como representantes de organizações comunistas brasileiras e estamos a caminho de reunião com as organizações cubanas”. É o suficiente para não virem com propostas indesejáveis. Já escrevi sobre eles aqui, uma corja, permitida dentro da liberalidade existente no país. De um deles, me foi oferecido uma hospedagem num apartamento particular, com “acomodações confortáveis e preços módicos”. Queria conhecer, mas demonstramos desinteresse e seguimos em frente.

Entre 12 e 14h paramos para um descanso no hotel e para uma pizza no almoço. Não consigo ficar muito tempo por lá. Vou dar novas voltas, dessa vez já procurando onde vamos ficar quando retornarmos do interior. Teremos nessa volta, mais cinco dias em Havana e os hotéis parecem estar cheios. Na primeira volta ao quarteirão, vejo numa sala uma imensa bandeira do Brasil a ocupar todo o local. Juan, o morador me diz ter ganho de uma amiga brasileira, de Brasília. Me convida para um rum. Calor danado, não tomo, mas fico de voltar. Há uns 500 metros do hotel, diante de um imensa e movimentada igreja, na Calzada de Infanta, conheço Laura e Liester, dois garotos de uns 16 anos, ambos gays assumidos. Um deles já está bem transformado, vestindo roupas femininas. Pessoas passam um tanto incomodadas, olhando muito. Um carro buzina. Um deles me diz que circula pela orla do Malecón por volta da 1h da manhã e sem repressões.

Aqui um aparte atualizado. Na semanal Carta Capital, edição de 5/11/2008, leio algo sobre o assunto e incluo aqui: “Novidades na ilha. Recém chegado de Cuba, onde participou de um Congresso sobre a Poesia na Diáspora Afro-Americana, o escritor e historiador Haroldo Costa conta que tomou um susto quando, em Havana, aguardava uma condução na porta de um hotel em que estava hospedado, no bairro de Vedado. De repente, eis que surgem dois rapazes, ao meio-dia, com cílios postiços e batom rubro. Depois soube que era por causa da Parada do Orgulho Gay. No dia seguinte, assistiu pela TV a usa sessão do seminário sobre homofobia. Da mesa fazia parte uma filha de Raul Castro. “Realmente, quem a viu, quem a vê. A ilha do Comandante está mesmo mudada”, garantiu o surpreendido e surpreso Haroldo, veterano viajante à terra de Reinaldo Arenas, o autor de Antes que Anoiteça”. (in Carlos Leonam, Cariocas quase sempre).

Eu não me surpreendo com nada. A surpresa é sempre com as mentiras sobre a ilha que nos são contadas no Brasil. Como falseiam tudo ao seu bel-prazer, algo repugnante quando constatamos in loco a realidade. Continuo a percorrer os hotéis e nada de vagas para daqui uns dez dias. Reencontro a conhecida feirante e fico a observar sua rotina de trabalho. Como é alegre, linda e comunicativa. Imantada, queria ir ficando ali. Passando pela Calle 25 vejo diante de uma casa a placa anunciando “Renta room”. Aperto a campainha e sou atendido por Lugo. Falo sobre os três dias que passaremos em Havana no retorno do interior. Me oferece um apartado (espécie de quitinete de luxo) por R$ 30 dólares (90 pesos). Fico com um cartão estampado com a foto da Sra Magalis Sánchez López, com endereço, fone e email, tudo legalizado. Depois pergunto para a recepcionista do hotel sobre essas casas: “Conheço suas filhas, vá sem medo, não existe problemas”. Ficamos de decidir.

Compro na loja temática sobre cinemas ao lado do Cine Yara uma camiseta com uma estampa de um Documentário sobre Che (7 pesos). Numa livraria na esquina no hotel Habana Libre compro o CD “Querido Pablo”, com canções de Pablo Milanes (10 pesos). Andando mais um pouco, na varanda de uma casa vejo expostos muitos CDs piratas, compro outro, iguaizinhos ao vendidos no Brasil, com o último trabalho do Pablo, “Regalo” (2 pesos). Acordo Marcão e vamos sair para conhecer a praça John Lennon, um sonho dele, mas essa história fica para a próxima vez.

6 comentários:

  1. amigo Henrique
    Cuba não é um país capitalista,mas infelizmente possui muitos defeitos adquiridos dos países capitalistas. Uma pena!
    Marisa

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  2. Não surpreende comunista é tudo gay mesmo e gosta de carninha nova, estes diários do blog estão ótimos, estão esculhambando com Cuba, será que o autor que tem costume de frequentar seção de cartas de jornal para defender comunistas e marajás anistiados percebeu isso?
    I

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  3. Henrique não ligue para esses covardes que comentam aqui contra Cuba, os diários estão bons e por se tratar de Cuba será sempre normal a polemica e engraçadinhos passarem por aqui.
    Nicolas

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  4. Henrique
    Gostei de sua coragem ao defender Cuba e mais que isso, fazer algo que poucos possuem a coragem de fazer, mostrar um lado não muito positivo. É isso, pois muitos do que elogiam, fazem questão de esconder algumas coisas. Você não. Mostra um lado muito bom, o grande diferencial, mas não se omite em mostrar também os pontos negativos. Tenho certeza que fazendo assim, você estará sempre querendo ressaltar mais o lado bom, que é o que fica.
    Continue...
    Pedrão

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  5. Eu já escrevi algumas vezes neste blog sobre esses diarios e nunca dão o braço a torcer.
    O blogueiro até agora não mostrou nada de diferente de nosso país, pelo contrário mostra mesmos problemas e alguns até piores não justificando seu raciocinio de que Cuba é uma alternativa melhor do que vivemos no nosso brasil e lá se tem o agravante de não poder se discutir e tentar mudar algo por eleições diretas assunto esse evitado até agora de discussão, sem contar a falta de relatos sobre saúde e educação, algo sempre muito falado de peito estufado pelos defensores de cuba.

    Celso

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  6. Meuca caro Henrique e blogueiros interessados em Cuba:
    Sempre vão existir os contrários e os favoráveis à Cuba. Ela é polêmica e isso nos move. Gosto dessa coisa, de uns tentarem a todo custo cutucar, ficar só citando coisas ruins e não enxergando as boas, as vantagens, as benesses... Como gosto do outro lado, dos que fazem questão de ressaltar o lado bom, o que ela pode nos mostrar de caminhos, sem tocar nas falhas, deslizes...
    São dois lados da mesma questão. O que o Henrique faz aqui (e muitos não entenderam até agora) é fazer um relato de uma viagem, o que ele foi vendo, o contato com o povo, as decepções, os acertos. Acho que irá abordar, como disse um outro aí, a questão da educação. Ele cita estar no quinto dia, de vinte viajados. Aguardemos e vamos acompanhando. Sinto que um dia irá acabar. Mas que ele tem coragem de mostrar, ao seu modo, os dois lados, isso tem. Deu para perceber com esse texto, talvez o mais crítico até agora.
    João Paulo - Bauru

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