terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

DIÁRIO DE CUBA (23)

ESTUDANTES EM ATIVIDADE NA PRAÇA CENTRAL DE SANTA CLARA
Continuo relatando acontecimentos de 14/03/2008, uma sexta-feira, em Santa Clara – Cuba. Dia intenso com visita ao Monumento ao Che, Museu do Trem Descarrilado, passeios pela linha e estação férrea, lanche de “jamón e queso, com tu cola” e uma grande movimentação, um barulho de adolescentes em festa diante do Instituto de Segunda Ensenanza. Todos os alunos da escola estavam reunidos na praça, bem defronte a escola, numa apresentação musical ao ar livre. Uma espécie de concurso entre as várias classes e séries.

O mais bonito, o mais inusitado, pelo menos para mim, foi ver tudo aquilo sendo apresentado na praça central da cidade, com todos os alunos fazendo um grande círculo e a população em volta, cantando e aplaudindo, contando com um número enorme de turistas. Depois da apresentação musical segue um desfile de modelos, onde as meninas se mostram muito mais desinibidas que os meninos. Marcos me diz “ter sido uma pena Che não presenciar isso, pois quando se foi o processo ainda estava em construção, consolidado, mas sem isso, o resultado gerações depois”. Num outro momento diz: “Olham para uma casa descascada, mas não reparam no que está acontecendo dentro dela”.

Chama muito nossa atenção a desinibição do apresentador, um adolescente, também aluno. Ao serem chamados, pegam o microfone, vão para o centro do círculo formado por eles mesmos e dão o seu recado sem nenhuma vergonha ou acanhamento. Os apupos ocorrem quando algum se apresenta de forma mais espalhafatosa. Eu, do alto dos meus 48 anos nunca vi nada igual no Brasil. E acho que da forma como vimos, não deve ocorrer em nenhum outro lugar do mundo. Uma coisa espontânea. Isso é Cuba. Nesse momento tenho plena certeza de estar encontrando o que viemos buscar por aqui.

Ouvimos a explicação de um cubano ali na praça. São três as fases estudantis. Na primeira, os Pioneiros, com short vermelho, camisa branca e gravata ao estilo escoteiro, na cor vermelha. Vai dos 5 aos 14 anos. Na segunda, a Intermediária, com calça e saia mostarda e camisa branca. Vai dos 14 aos 16 anos. Por fim, com a vestimenta azul irão até terminar o estudo nessa fase. Ficamos por ali até, pouco a pouco, irem se dispersando da praça.

Na verdade acho que ficamos horas vendo aquela manifestação espontânea da juventude. Não percebemos as horas passarem. Fomos ficando e seguimos em frente até o imponente prédio, já nosso conhecido, da Biblioteca Central. Percorremos o andar térreo e ao subirmos ao primeiro, a grande e decisiva surpresa. Dirigimos-nos para a sala da Diretora do local, a licenciada Ana Delia Monteaqudo, 44 anos e 26 vividos ali. Não esperávamos pela recepção que tivemos. Acontece a seguir um dos momentos mais maravilhosos vividos na ilha. A fala dessa e de outras professoras nos tocou profundamente, mas terei que deixar para meu próximo relato.

2 comentários:

  1. Seu Henrique
    Acabei de te descobrir nesse momento. Sou daqui de Manaus e ao teclar Diário de Cuba no google, me apareceram várias indicações para esse blog. Entrei e me surpreendi. Acostumado a ler um monte de baboseiras sobre a ilha comunista, dessa vez vi coisas positivas e como já sabia, confirmei, Cuba é um daqueles lugares que ainda restam nesse globo, onde se encontra paz, tranquilidade, vida sem atribulações e aquela correria por ganhar e ter cada vez mais mais. Vou ler todos os relatos. Me diga uma coisa, esse Diário ainda vai longe?
    Jorge Manuel de Manaus AM

    ResponderExcluir
  2. Meus caros
    Respostas como essas é que incentivam qualquer blogueiro a continuar. Mesmo sabendo que poucos nos lêem, receber um afago assim é gratificante. Sim, o Diário vai longe. Foram dezenove dias, vividos intensamente em Cuba, por mim e pelo Marcão. Nem chegamos no meio da viagem. Falta muito o que relatar. Cada dia está se transformando em três ou quatro textos. Peguei gosto e quando parar com os Diários sentirei falta...
    Henrique, direto do mafuá

    ResponderExcluir