CENA BAURUENSE (25)
UM ATO CONTRA A VIOLÊNCIA, SÁBADO À NOITE, ÁREA NOBRE
Manifestações sempre caíram no meu gosto e agrado. Ainda mais quando dizem respeito ao desrespeito aos Direitos Humanos, tão mal entendidos e interpretados por essas plagas. Ontem, sábado, 04/04, 20h, num local considerado cartão postal da cidade, a Praça da Paz, na avenida Nações Unidas, acontece o Ato Público promovido pelo "Movimento Contra a Violência e Violação de Direitos Humanos" para lembrar os dois anos da morte do mecânico Jorge Luiz Lourenço, então com 22 anos, durante uma perseguição policial. Sua morte ocorreu em 05/04/2007, depois dele ter-se evadido de uma ação de rotina da polícia. Perseguido e baleado na cabeça no bairro Mary Dota, hoje, passado esse tempo todo, os três policiais envolvidos foram demitidos da corporação e continuam respondendo a processo na justiça. É o mínimo que se espera.
O local escolhido pela família e organizadores é um marco, pois a pomba da paz, com sua asa esquerda quebrada, possui todo um simbolismo de luta desse segmento, o da esquerda e dos menos favorecidos brasileiros contra a violência que lhe impuseram ao longo da história. Laranjeira, o artista plástico, criador da obra, presente ao Ato, fica todo pimpão de presenciar sua arte sendo entendida e usada da forma como imaginou quando a idealizou. A praça encravada na zona mais rica da cidade, além do citado, foi escolhida exatamente numa tentativa de envolver a comunidade que lá faz uso nos finais de semana. Notou-se uma indiferença de muitos, mas outros tantos estiveram presentes. Lindo presenciar a tentativa de cobertura da pomba com um manto, simbolizando o luto e a pomba resistindo, permanecendo descoberta, com sua asa quebrada bem a mostra. O ato em si contou com a presença de uma turma das mais conhecidas na cidade, envolvidas nesse tipo de manifestação. Além dos familiares, amigos, poucos populares e uns trinta militantes da dita esquerda bauruense, dentre os quais me incluo. Clodoaldo Meneghello e esposa, Roque Ferreira, Maria Luiza Carvalho, Majô, Jorge do Acesso Popular, Ademir Elias, Alberto Luz, Gaspar Moreira e tantos outros. Dos amigos uma manifestação emocionante com todos postando seus capacetes no chão, num mesmo local, em sinal de luto. Num varal fotos de Jorge e de outros tantos que tiveram o mesmo fim, quase do mesmo jeito. Nos cartazes o grito de dor e de revolta. No chão, muitas velas com o intuito de manter a chama sempre acesa e latejante. Na voz dos que fizeram uso do microfone a repetição de que “se isso tivesse ocorrido com um filho dos Altos da Cidade, cairia até o comandante da polícia, mas como foi com um da periferia, foi tratado como um mero acidente de percurso”. Nas camisetas do grupo organizado de familiares e amigos uma mensagem de dor e resistência: “Lembre-se que estar com raiva não lhe dá o direito de ser cruel”. Noites assim, quando conseguimos nos reunir, por para fora o engasgo de nossas gargantas me são gratas. Saio sempre com a alma renovada, recarregado para novos embates, que estão logo aí, no virar da próxima esquina.
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