DIÁRIO DE CUBA (27)
UMA BANDA DE ROCK NUM CASARÃO DE CIENFUEGOS
Essa viagem para mim e para o Marcos Paulo, ou simplesmente Marcão, não acaba mais. Os relatos vão se alongando e cada dia surgem fatos novos, vividos todos intensamente, como esse em Cienfuegos, do dia 15/03/2008, sábado. Uma cidade nova para nós, um visual deslumbrante diante de nossos olhos e por trás de tudo isso, novas histórias diante de nossos olhos. Na parada para descanso, um refresco para meus cansados pés, eis que um som chama a atenção.
Vindo de um dos lados da praça, acordes de puro rock-roll. Na terra da salsa e do merengue, som de guitarras e bateria. A decisão é rápida e clara: vamos checar de onde vem isso. E fomos. Não demoramos a decifrar a charada. Num dos cantos da praça, num casarão dos mais antigos, meio que desocupado por dentro, após conseguirmos a autorização de um senhor na portaria, subimos uma escada, que com toda certeza devia ter mais de cem anos. Algumas salas desocupadas e numa delas, justamente a de frente para a praça, uma rapaziada reunida, com uma aparelhagem das mais atuais, ensaiando para futuras apresentações. Um som de "garagem", como dizemos no Brasil.
Foram todos muito simpáticos desde que colocamos nossa cara na porta. Deram até uma parada no som e ficamos papeando sobre nossos países. Marcos, conhecedor de rock, muito mais que eu, bate longos papos com todos eles. Ele também fala espanhol com muito mais fluência que eu. Estavam quase no final do ensaio, rolava um rock da pesada. Tiramos muitas fotos, trocamos e-mails. Todos muito jovens, com menos de 18 anos e usando um prédio desabitado, destinado pela Prefeitura local exatamente para essa finalidade. Algumas outras salas eram utilizadas para outras atividades culturais.
A banda deles é a CONDOR, e o líder é o Denis. Por uma dessas falas da vida não anotei o nome de todos e vou ficar sem citá-los. Acho que estava meio que em transe, curtindo adoidado aquele momento, que nas tantas conversas sobre música, não fiz questão disso. Ficamos mais de uma hora ao lado deles e Marcos até que tentou tocar alguma coisa numa guitarra. Uma moça, cronner do grupo me disse: “Existem mais bandas por aqui, além de muitos outros grupos de outros ritmos. Todos aprendem música na escola básica. E em todas uma uma quantidade grande de instrumentos e professores só para essa finalidade”. Morri de inveja lá deles lembrando dos meus tempos de moleque quando as escolas públicas brasileiras ainda tinham aulas de música. Hoje, só saudade.
Saudade mesmo senti do meu filho. Ele fez 14 anos hoje e nas duas tentativas que fiz para falar com ele, havia saído. Fico sem ouvir sua voz. Eu e Marcos passamos bom tempo na Efecsa – Empresa Telecomunicações de Cuba, onde compro muitas “tarjetas”, o cartão para ligações internacionais, mas o filho demora a voltar para casa. Como o tempo urge aqui em Cuba, prefiro continuar gastando sola de sapato a ficar parado. Fomos também curtir um pouco mais o gostoso hotel. E ainda teríamos uma decisão importante a tomar: Qual o próximo destino? Ficar em Cienfuegos mais uns dias, ir para Camaguey, em busca de um lugar novo ou voltar para Santa Clara e entender melhor o sistema de ensino cubano? E a noite começa a cair na cidade. Isso tudo eu conto no próximo escrito, semana que vem.
Henrique e Marcos:
ResponderExcluirEssa viagem de vocês é completamente diferente de tudo o que já li sobre pessoas viajando para Cuba. Fizeram turismo, sim, mas por trás de tudo está uma afinidade ideológica e a busca de encontrar essas afinidades. Percebi que enquanto na imprensa descem a lenha na probre Cuba, vocês viram exatamente o contrário. Uma beleza. Não sou aí de Bauru. Sou paulistano e tenho muita vontade de ir conhecer Cuba, numa viagem como a que vocês fizeram. Quem poderia me explicar se o Consulado, a Embaixada possui pessoas que poderiam receber a gente por lá e acompanhar em alguns lugares, indicar outros. Não quero fazer uma viagem meramente turística. Queria fazer o que vocês fizeram. Penso em ir só. Conhecem alguém aqui em São Paulo que possa me ajudar.
Irineu
Aposentado do CBTU