O NOME NA PLACA - Texto publicado no BOM DIA e n'O ALFINETE, edições de 23/05
Cantarolo até hoje uma das canções mais engajadas de Eduardo Dusek: “Troque seu cachorro por uma criança pobre”. Tem muita gente que cantou isso sem entender direito, deu até risada, como se engraçada fosse a situação. Aquele trecho merecia uma campanha de sensibilização do entendimento de nossa pobreza, não só real como principalmente cultural. Se aquela não deu certo naquela oportunidade, queria lançar outra aqui, diante de um fato inusitado na política brasileira. Na incessante luta pelo aprofundamento da democracia brasileira, a Câmara de Vereadores de São Carlos por unanimidade aprovou um Projeto de lei alterando o nome da Rua Sérgio Paranhos Fleury, denominando-a agora de D. Hélder Câmara. Retira-se o nome do delegado torturador e no seu lugar, o nome de um símbolo da paz e da justiça social. Vibrei em êxtase. Seria muito mais emocionante se isso sensibilizasse também os vereadores de Bauru e de outras cidades para fazerem o mesmo. O caso mais gritante de Bauru é o do bairro Geisel, em homenagem ao ditador presidente. Conheço quem tem muita vergonha de morar lá, tudo por causa do nome do bairro. Depois poderia vir às homenagens feitas aos presidentes norte-americanos Kennedy e Roosevelt. Nem tudo que é ruim deve ser eternizado. Sempre é tempo de reparar erros cometidos no passado. Em São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy fez o contrário, tirou um nome de Av . Águas Espraiadas, denominando-a Jornalista Roberto Marinho. Num ato de protesto, alguns manifestantes foram lá e cobriram o nome dado, substituido-o por Jornalista Vladimir Herzog. Também achei muito mais adequado, mas infelizmente era só uma manifestação. Para tudo nessa vida se faz necessário uma boa dose de coragem. E já que não iremos mesmo trocar nosso cão por uma criança pobre (mesmo figurativa, uma campanha dessas sensibilizaria, ou não?), que ao menos tenhamos coragem para retirar de algumas placas, homenagens a quem delas não façam jus.
HPA, professor de História, 48 anos e procurando emoções fortes, como Bruce Lee, quando enfrentava, sózinho, cinco indignados adversários.
O MEDO DO MEDO QUE DÁ - Texto publicado no BOM DIA e n'O ALFINETE, edição de 30/0
Semana passada fomos agraciados com mais uma manifestação medrosa da atriz Regina Duarte. Anos atrás havia manifestado seu medo quando da eleição de Lula para a presidência, hoje volta à carga. Lá atrás, eleitora de FHC, dizia temer o sapo barbudo. Na verdade se borrava toda é com a mínima possibilidade de algum tipo de mudança, das do tipo que os menos favorecidos começassem a encurralar a elite política, exigindo o seu quinhão de benesses e direitos não respeitados. Passado o tempo, seu medo se mostrou infrutífero e inconseqüente. Lula errou bastante, deixou a desejar, mas acertou infinitamente mais do que FHC, que entregou para o petista um país quebrado e sem credibilidade nenhuma. Situação bem diferente da que Lula entregará o poder. Vivemos nesse momento outra situação e só de pensar num retrocesso bato na madeira, toc toc toc. A atriz, que possui laços latifundiários, hoje investe contra os índios. Um medo de quem possui algo a perder. Ou seria a temer? A situação latifundiária brasileira é algo a ser ainda resolvida e a dos índios, os primeiros habitantes e donos naturais de nosso território, não deveria nem sequer ser discutida. Pior que tudo isso é ir verificando, beirando o cômico, moradores de grandes cidades que não possuem um milímetro de terra ter tanto horror ao movimento dos sem-terra e a uma solução para o problema fundiário. Vê-los tomando posição ao lado de quem grilou e usurpa dos poderes que possui é algo para se lamentar. Regina faz parte de um país que não quer avançar, tem medo de dar passos nesse sentido. Nesses momentos sinto muita saudade da ousadia, já não existente hoje em dia de atrizes como Leila Diniz, uma mulher deliciosamente imperfeita, mas cheia de uma vitalidade, pronta para mudar e enfrentar novos desafios. Aberta para o mundo e não fechada para seus interesses. A maioria artística de hoje somente está voltada para seus interesses. O Brasil que Regina defende é o Brasil de uns poucos privilegiados, bem distante do Brasil que vejo daqui de minha janela., necessitando (e clamando) por profundas mudanças.
Henrique Perazzi de Aquino, 48 anos, seguidor de uma frase de Noel Rosa: “Palmeira do mangue não vive na areia de Copacabana”.
Em tempo: Extrai do livro, "Leila Diniz - Perfis Brasileiros", de Joaquim Ferreira dos Santos uma frase fatal sobre nossos medos, que servem tanto para a mudança do nome do bairro, como para o caso do da atriz Regina Duarte. Disse Leila, a sem medo: "Tô chegando a conclusão de que a pior peste da humanidade é o medo. Puta que pariu, como a gente tem medo. Do futuro, do presente, do passado. De gente, de sofrer, de amar, de viver. Porra!" (extraído do seu diário pessoal, início de 1972).
" Para sempre ,Leila Diniz "
ResponderExcluirSUA IRREVERÊNCIA NA ÉPOCA,verbalizando sem sensura,escandalizando a sociedade com sua liberdade de expressão,sem alienação,foi criticada, marginalizada e muitas vezes sensurada pela imprensa e perseguida pelo sistema político.
Ela nunca desistiu do seu objetivo,ser uma "MULHER LIVRE".
Estava sempre disposta para enfrentar novos desafios,com coragem,vencendo seus medos, angústias e dificuldades sem preconceitos.
Apesar da repressão sofrida,provocou em nós mulheres,uma mudança de comportamento,social e político.
Parabéns Henrique, pelo texto a a citação dessa" MULHER FANTÁSTICA" que incomodou uma elite hipócrita da sua época.
Bjo
M.J.
Leila Diniz, mulher e brasileira, sonhadora que encantava os sonhos mais ousados, ardentes, rebeldes.
ResponderExcluirNunca precisou usar e se esconder atrás de fundamentalismos feministas, apenas mostrava-se a verdadeira mulher, com M gigante, apaixonada, a minha mulher do Brasil.
Viva Leila!!!!!
Marcos Paulo Guerrillero
Comunismo em Ação