Mafuá do HPA

FRASES DE UM LIVRO LIDO (26)

LIVROS, SEMPRE ELES, SARAMAGO, LEILA DINIZ E ATÉ O MANIFESTO COMUNISTA
Eu não me canso de escrever sobre livros. Não vivo sem eles e se forem me dar presentes, prefiro essas peças às de vestuário. Acabo de ler nesse momento sobre o fim dos livros impressos, que sei serão substituídos um dia pela tela de um computador, talvez o tal do Kindle DX (tela de 9,7 polegadas e, dizem, perfeito para leitura de livros e jornais). Tudo bem, desde que sejam livros. Não será por isso que continuarei travando uma eterna batalha contra os cupins e traças, esses sim meus inimigos (os humanos me lixo para eles, pois a mente humana é mesmo dadivosa para artimanhas variadas). Não me afastarei dos de papel enquanto viver. Das minhas separações amorosas, algo que não me separei foram os livros e discos. Elas não fizeram tanta questão, eu sempre fiz.

Conto aqui, sem contar o santo, algo sobre o último de Saramago, “A viagem do elefante” que emprestei de uma amiga, li e o repassei para outra pessoa. O livro já me veio meio amarfanhado, pois a dona me havia dito que ele chegou a ser pisoteado em seu carro. Li e repassei para outra pessoa antes de devolvê-lo, mesmo sem consultar a dona. A missão do livro é essa, circular e assim deve ser feito. Foi lido e transportado para vários lugares. Num desses, por um descuido, uma bolsa de gelo foi parar em cima do dito cujo. Ficou todo molhado e ela ainda teve o cuidado de colocar uma folha de jornal entre cada página, secá-lo, para que voltasse a ter aspecto apresentável. E foi muito bem sucedida. Ficou preocupada, me liga e diz se precisa comprar um novo ao devolver. Eu, conhecendo a dona, disse que não. Livro precisa ter cara de ter sido lido e esse foi várias vezes, está tendo sua missão mais do que cumprida. Imagine um livro novinho em folha lá na estante, sem indícios de ter sido um dia manuseado. Quer algo mais triste.

Depois dessa, conto outra. Ontem, sexta, estive em Pederneiras e à noite o deputado comunista Aldo Rebelo receberia o Título de Cidadão da cidade. Conheci por lá um ótimo sujeito que não é comunista, mas se diz admirador do deputado. Veio até Bauru, distante 30 km, só para comprar um livro para o deputado autografar. Comprou o “Manifesto Comunista” e estava todo pimpão, pois seria ali que seria cravada uma dedicatória do comunista. A intenção foi boa, mas o livro não será lido. Receberá o autógrafo, mas depois irá para uma estante, lá permanecendo “ad eternum”. Uma tristeza de dar dó.

E por fim, empresto um livro para ler, de outra amiga. É a biografia da Leila Diniz, obra do Joaquim Ferreira dos Santos. Vendo minha mãe com depressão repasso a ela e vejo uma transformação em seus traços. Durante dias não falamos em outra coisa. Ela me conta passagens, ri da ousadia da personagem, divaga sobre as oportunidades que perdeu de agir da mesma forma e esquece da depressão. Queria que esse livro durasse um tempo interminável. Olha que coisa maravilhosa. Tenho comigo que, uma boa leitura e um rádio ligado ao nosso lado, não nos permiti sentir a solidão. Viajo com as leituras e assim toco minha vida. E ainda sobre emprestar livros, outro dia um amigo se espantou quando disse que empresto livros na biblioteca pública para ler. Sou rato de bibliotecas e empresto de qualquer lugar, desde que possa devorá-lo. E procuro sempre devolver, intacto quando possível. E empresto também, mesmo ainda possuindo um arraigado sentimento de posse. E adoro quando voltam (ufa!), amarfanhados ou não. Veja esse cartum do leitor sendo sugado pelos livros. Lindo, não?

Citei o livro de Saramago lá em cima, sendo assim, algumas frases de seu último livro, recolhidas num caderno que mantenho só com essa finalidade:
- “A dura experiência da vida tem-nos mostrado que não é aconselhável confiar demasiado na natureza humana, em geral”.
- “Costuma-se dizer que as paredes têm ouvidos, imagine-se o tamanho que terão as orelhas das estrelas”.
- “A experiência já me ensinou que dois destacamentos militares colocados frente a frente numa fronteira tudo se pode esperar”.
- “Somos, cada vez mais, os defeitos que temos, não as qualidades”.
- “...poucas coisas na vida doam mais a consciência de haver traído os ideais da juventude...”
- “Que bonita é a neve vista por trás da vidraça, (...) mas lá fora, com os olhos cegados pela ventania e as botas feitas numa sopa, com as frieiras dos pés e das mãos a arderem como fogo do inferno, é caso para perguntar aos céus o que fizemos para merecermos tal castigo”.
- “...a história não é apenas relativa, é também discriminatória, só colhe da vida o que lhe interessa como material socialmente tido por histórico e despreza todo o resto, precisamente onde talvez poderia ser encontrada a verdadeira explicação dos fatos, das coisas, da puta realidade”.
- “...o respeito pelos sentimentos alheios é a melhor condição para uma próspera e feliz vida de relação e afetos”.
- “Não basta saber como e onde nasceu fernando de bulhões, há de esperar para ver como e onde irá morrer santo antonio.

Em Tempo: Obrigado, amigo Antonio Carlos Pavanato, pelos cartuns livrescos. Aí estão.

OBS.: Tenho que sair correndo, desculpem, uma fila me espera. É a da retirada dos ingressos para os shows da Virada Cultural aqui em Bauru, de sua parte realizada no Teatro Municipal, que começam a ser distribuidos daqui 20 minutinhos. Tchau...