MEMÓRIA ORAL (68)
ESQUERDA VOLVER, COM PASQUAL MACARIELLO
Fiquei chateado com algo lido num blog, vindas de um cidadão pelo qual tenho profundo respeito. O texto era sobre ser jovem e também esquerdista, depois com o amadurecimento, a mudança de ideologia. “Eu sei como é, quando mais jovem, eu pensava exatamente desta forma, fui da esquerda, do PT, participava de manifestações, lia Marx e Galeano e acreditava naquela balela, tinha até camisa do Che... Aí, ele perguntou:- Pô cara, que aconteceu? Respondi:- Eu cresci”, o texto a me entristecer foi esse. Num comentário outra estocada: “O esquerdista é aquele cara que fica politicamente adolescente a vida inteira”. Por fim fizeram uso de uma frase do dramaturgo Nélson Rodrigues, muito usada nesses momentos: “Jovens, envelheçam!”.
Tenho plena convicção de que o engajamento político de esquerda não deve ser passageiro na vida de uma pessoa. Tudo bem que o capitalismo acabe cooptando a maioria, integrando-os ao modo de pensar e agir, ou seja, com o dinheiro sendo a mola mestra de suas vidas. Eu, diante dos meus 49 anos sou a prova viva de que existem muitos a pensarem e agirem diferente. Fui ao Rio de Janeiro na semana passada e aproveitei para conhecer uma pessoa que fez da luta ao lado dos movimentos de esquerda a mola mestra de toda sua vida. Falo de Pasqual Macariello, 67 anos, funcionário público aposentado da Petrobras, divorciado, com formação marxista, portanto, esquerdista convicto e irredutível.
Recebo e-mails dele há mais de dois anos, todos com posicionamentos firmes em relação à luta dos povos menos favorecidos e causas sociais. Vem de tudo pela minha caixa de mensagens, desde manifestos favoráveis a Cuba, contrários às privatizações, defesa do MST e de Brizola, cutucando a Rede Globo e os BBBs da vida, além de textos assinados por Fidel Castro, Frei Beto, Eduardo Galeano, Boff, Veríssimo, ou seja, tudo o que gosto de ler. Não preciso deletar nada, tudo merece ser lido. E ficava matutando algo comigo mesmo: “Preciso conhecer esse cara”.
A oportunidade surgiu e não a perdi. Fui de encontro a ela. Em visita à cidade do Rio de Janeiro, na manhã do último sábado, 11/07, quase na hora do almoço me encontro com ele defronte a praça Saenz Pena, Tijuca, local de sua residência. Foi fácil demais me localizar, pois estava com uma camiseta do Che. Andamos uns dez quarteirões a pé, pois queria me mostrar algo que ambos gostam muito, os botequins. Começamos conversando sobre a Petrobras e sobre sua aposentadoria, ocorrida há mais de dez anos. Sobre isso diz: “Quando me aposentei não quis continuar por lá como terceirizado. Não acho justo, pois iria ocupar o lugar de alguém mais novo e que precisa do emprego. Temos que entender isso”. Foi empatia à primeira vista.
Nossa primeira parada foi no Escorrega, no velho e bom estilo pé-sujo. Uma confraria onde acontece uma gostosa reunião para fazer algo cada vez mais difícil nos nossos dias: jogar conversa fora. Sou apresentado ao português atrás do balcão, que associou o apelido com o nome do seu estabelecimento, mora quase dentro do estádio de São Januário e de mal só tem a cara ranzinza. Por lá, Athayde, diretor do América, o time vermelhinho do Rio, segundo time de todo carioca, irradiando alegria, pois o clube começa o campeonato da 2ª Divisão Carioca agora com a ajuda do ex-craque Romário. Uma hora de papo e cerveja. Falamos de tudo e quase resolvemos todos os problemas do Brasil.
De lá, sabendo que queria conhecer o famoso Bar da dona Maria, freqüentado por Aldir Blanc e Moacyr Luz, caminhamos para lá. Estampado na parede o nome oficial do local é Café e Bar Brotinho. Saboreando um risoto de camarão, preparado pela dona Maria, com 89 anos, aproveitamos para dissecar outro assunto que entusiasma Pasqual, o Vasco da Gama. “Fizeram de tudo para tirar o Eurico de lá. Ele peitava a Globo e hoje ninguém mais faz isso. Hoje, quem está lá é um pau mandado da TV. Disse certa vez para o Eurico, que nunca votaria nela para nenhum cargo político, mas admirava sua postura contra o império televisivo e que além dele só Brizola tinha essa coragem”, me diz. José Ramos, o Zezinho, filho da dona Maria, também vascaíno senta na nossa mesa e a conversa vai longe. A via-sacra continua no Bar do Momo, com mais cerveja, onde conheço uma das figuras mais populares do bairro, o garçom. “Olhe para ele e me diga com que parece. Todos só o chamam pelo apelido e ninguém sabe seu nome”, me diz. Olho bem e constato que o gorducho é a cara da Saddam Hussein. Esse lado carioca da convivência nos bares é de admirar.
Já em sua casa faz questão de mostrar os “recuerdos” trazidos de Cuba e as boas lembranças das muitas coisas com a cara estampada do Che. Cada um possui uma história própria. Conversa longa e detalhada, que se deixar, vara noite adentro. Com assunto para uma vida toda, observo em cima de sua mesa, revistas, jornais e muitos recortes, todos com temas relacionados à sua preferência editorial. Ganho de presente leitura para muitos dias em exemplares do Fazendo Média, Inverta, Gramma Internacional e um Informativo do Sindipetro com uma entrevista de Maria Madalena da Costa, presidente da Associação Nacional dos Cubanos Residentes no Brasil, com o título: “Precisamos de diálogo, mas não podemos perder a autonomia”.
Acabo pernoitando de sábado para domingo em seu apartamento. Outro mimo ele fez questão de fixar em minha camisa, um botton sobre a questão dos cinco cubanos detidos irregularmente nos EUA. Na conversa noturna me apresenta o CeCAC – Centro Cultural Antônio Carlos Carvalho (http://www.cecac.org.br/ ), que foi inaugurado com o intuito de “resgatar e incentivar a trajetória de lutas populares pela democracia, pelo progresso social, científico e cultural de nosso povo e de povos de outros países”. Freqüenta o CeCAC com certa regularidade, trabalha na Associação Cultural José Marti, além de participar de atividades nos Centros Bolivarianos, todos ligados à causa brizolista. É o cerne de sua vida.
Vive num amplo apartamento ao lado da filha de 15 anos, que passa alguns dias com a mãe e outros com ele. Dela uma história que nos fez rir. “Ela vai fazer 15 anos e prometi uma viagem de presente. Foi rápida e disse que queria ir para a Disney. Sofri, tentei convencê-la para escolher outro lugar, mas engoli. Não queria contar isso para os amigos, mas eles ficaram sabendo quando me viram comprando dólares. O único lugar onde não queria que ela fosse, foi o escolhido. Um velho esquerdista, marxista e com filha indo para a Disney”, me diz meio que antecipando como é a relação hoje em dia entre a geração que fazia parte e a atual. Por fim, refletindo em conjunto, ambos sabemos que o mundo não vai ser mesmo marxista, mas não é por isso que deixaremos de continuar acreditando na possibilidade de um outro mundo. Envelhecemos e não mudamos, continuando autênticos e com os pés bem postados no chão, diferente daquele sentido dado à frase do dramaturgo.
Grande amigo henricão
ResponderExcluirvenho aqui para lhe
dizer que hj tirei o dia
pra dar uma de vagal
e atualizei minhas leituras
e li seu blog (ALELUIA)
e digo com toda emoção obrigado
pelas doces palavras que disse a respeito desse gordinho que vos escreve pois essas fizeram um
cafuné na minha alma.
e quanto a sucupira belo texto
e com tudo digo que não é meu pai
e sim minha maínha que tem o problema e continuo comprando só que mobilizei uma galera que vai pra capitar toda semana alguém me traz dez reais mas ta caro ainda pois como lhe disse tem que tomar de porrada e a da rodoviaria é ou não?
bom fico por aqui vou voltar a trabaia e deixo um grande abraço a vc amigo.
Atenciosamente
Daniel.
Henrique que gostoso passear pela Tijuca pelo seu olhar...as saudades só aumentaram!praça Saens Pena...o povo do Rio,q delicia!!bjão! Marisa,a Fernandes.
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