terça-feira, 20 de outubro de 2009

FRASES DE UM LIVRO LIDO (30)

O JOVEM CHE GUEVARA - RONIWALTER JATOBÁ
Repasso muitos livros aqui do mafuá para meu filho ler (um dos últimos leu antes de mim, o "1808", do Laurentino Gomes), mas o contrário também ocorre. Dia desses vejo no seu quarto esse, "O jovem Che Guevara", do Roniwalter Jatobá (edit. Nova Alexandria sp, 2004, 160 págs.), que havia emprestado de um colega de classe. Com outros na fila, pego para ler, não sem antes ouvir uma recomendação: "Não vai demorar muito, vai?". Não demorei, pois li hoje de uma só sentada. Sei que a preferência do filho hoje é pelos de ficção, aventura e suspense (André Vianco, Douglas Adams e Percy Jackson), mas fico todo pimpão quando o vejo variando. Roniwalter é meu velho conhecido e dele já havia lido, acho que por volta dos anos 80, dois de seus livros, o famoso "Crônicas da Vida Operária" e "Filhos do Medo" (vou procurá-los aqui no mafuá). Desse nem conhecimento tinha, mas acabei devorando nos intervalos de umas vendas hoje, ainda mais porque muita coisa é similar com o que já havia lido no "Diário de Viagem - de Moto pela América Latina", do próprio Che. Foi um aperitivo rápido, com algumas poucas frases, como essa resposta, quando lhe perguntaram na Bolívia, pouco antes da formatura, já viajando pelo continente:

" - O que o levou a operar em nosso país?"
- O senhor não vê o estado em que vive os camponeses? São quase selvagens, num estado de pobreza que deprime o coração, tendo apenas um aposento no qual dormem e comem, sem roupas para vestir, abandonados como animais...".

Num outra passagem algo significativo do Che, cheio de travessuras, ainda menino, quando metia-se em altas diabruras. Vejam essa: "Ele e seus companheiros saíram por Alta Gracia quebrando as luzes dos postes com seus estilingues. O motivo era que a companhia de luz, uma empresa suiça, estava cobrando quatro vezes mais caro do que qualquer outro lugar. A população tentou resolver o problema, diminuindo o consumo. Não adiantou nada. A solução foi encontrada pelos meninos. Isso porque existia uma lei municipal que obrigava a companhia a repor, no mesmo dia, qualquer lâmpada queimada ou quebrada. Aí, o bando de crianças percorria as ruas quebrando as lâmpadas, com espetacular pontaria. O prefeito fazia vistas grossas com às peraltices dos meninos e aplicava a multa de dez pesos por cada infração. O comissário de polícia também fazia questão de não ver nada. A companhia passou a cobrar o preço exigido".

Achei a solução muito criativa e isso me fez refletir junto com o filho sobre uma situação que alguns de sua classe estão a vivenciar com uma professora autoritária, dessas que costumam ridicularizar os alunos, menosprezar pedidos de repetir a matéria não entendida e se enxergar no alto de um pedestal. Uma boa guerrilhazinha produz ótimos resultados nessas ocasiões. Passei a idéia a eles. Sou professor, defensor do ensino público e do sindicato da categoria (a Apeoesp), mas detesto gente autoritária e prepopente, estejam onde estiverem. Tomara que minha conversa sirva para usarem da criatividade e perderem o mêdo de educador (onde já se viu isso, aluno com medo de educador). Escola não é para isso. Che tem mesmo mil e uma utilidades, essa mais uma.

Um comentário:

  1. Acho interessante juntar mais essas frases lidas no livro:

    Entre os homens sós e desesperados surgem facilmente as formas mais altas de solidariedade e de lealdade humanas.

    No dia em que eu resolver me filiar a alguma coisa, vai ser por convicção, não por imposição. (Tentaram fazer o Che se filiar ao Partido Comunista para conseguir um emprego de médico no governo da Guatemala).

    Cada vez mais marxista, Ernesto acredita que, por causa da situação da América Latina, nenhum partido seria revolucionáfio se participasse de eleições. Se fizesse isso, seria obrigado a entrar em alianças táticas com a direita e buscar a acomodação com os Estados Unidos. Para que uma revolução fosse vitoriosa, não se podia evitar o confronto direto com o imperialismo "yankee".

    Apesar de minha vida errante, minha reiterada informalidade e outros defeitos, tenho convicções profundas e bem definidas. Essas convicções me impedem de aceitar um emprego do tipo que voce descreve, porque esses lugares são covis de ladrões da pior espécie, que comercializam a saúde humana. Sou pobre, mas honesto. Assinado: Stálin II (Sua tia Beatriz estava ajudando a conseguir um emprego num laboratório mexicano, essa foi sua resposta).

    Henrique, direto do mafuá

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