Mafuá do HPA

UM COMENTÁRIO QUALQUER (53)

SANTA CATÓLICA DOS ATEUS e DEUSA DA VOZ DA/NA AMÉRICA LATINA
1. Ontem quando volto de uma longa peregrinação pelo interior, me deparo com uma notícia no JC, “Procissão encerra comemorações do Dia de Santa Teresa de Lisieux”. Foi o suficiente para me recordar de um texto que escrevi em 10/04/2000, que enviaria para publicação na Tribuna do Leitor, do mesmo JC, mas não o fiz, permanecendo guardado aqui no mafuá. A tal santa é também conhecida como a “Padroeira dos Ateus” e quem me havia dado a dica foi o jornalista Fausto Wolff (já falecido), num texto de sua lavra. Fiquei com aquilo guardado e hoje, com algumas atualizações publico aqui. O dia da santa é 01/10 e aqui em Bauru foi comemorado com pompa lá na paróquia de Santa Teresinha, até com a presença do atual bispo. Vamos ao texto:

“Nos dias da Semana Santa, quando nos templos as imagens estão escondidas em panos roxos (ainda será assim?) e recordamos a crucificação de Jesus Cristo, lamento estar longe de um livrinho que todo mundo deveria ler. Chama-se A SANTA DA ERA ATÔMICA, e nos fala da teologia de Santa Teresa de Lisieux. É a nossa padroeira – a minha e a de muitos dos meus amigos. Pelo menos é o que nos diz o tal livrinho, que ela é a santa dos ateus, dos existencialistas e dos marxistas. E por que não? Por que nós não teríamos também a nossa Teresinha? A lição que me ensinaram é que Deus não dá muita bola para os cristãos, alegando que já o são; ao passo que os ateus carecem de Deus e, portanto, toda a energia divina se emprega na conversão dos ateus. É o tal de dizer que a Igreja estará sempre aberta para aqueles que nunca entraram n’Ela. Conheço muitos católicos tronituentes, marxistas e existencialistas (se é que isso é possível), que no passado alardeavam: “pouco a pouco o catolicismo está ficando como eu quero”. Hoje, após João Paulo II e Ratzinger I, a coisa mudou, ainda mais com o advento dos padres Marcelos. Existem os que continuam “botando fé” naquela outra igreja, uma minoria, isolada num gueto. Certos pensadores católicos, que tem horror ao mundo grosseiro, deveriam meditar o seguinte: ser católico é um imperativo da nossa identidade nacional. Nosso catolicismo é como o feijão com arroz do nosso almoço, muitos não passam sem ele. O problema é saber se esses pensadores possuem ou não serenidade espiritual para suportar que o “povo humilde que vai à igreja” seja substituído pelo “povo orgulhoso que vai à igreja”. Orgulhoso no bom sentido: orgulhoso de si, de sua identidade. Entra-se na igreja de cabeça erguida e não de cabeça baixa, para confirmar que são iguais em Cristo para todos os efeitos e não apenas com vistas à salvação eterna. Se esses aristocratas não atrapalharem (como o fazem), o catolicismo até poderá chegar onde nós queremos. Nós, os marxistas, ateus, existencialistas – e Santa Teresinha de Lisieux”.

2. Também no meio da mesma viagem tomo conhecimento através de e-mail da amiga MARISA FERNANDES, me dando conta dos graves problemas de saúde enfrentados por uma das maiores cantoras da América Latina, MERCEDES SOSA. Ela, junto do cubano Pablo Milanes, foram os latinos que mais ouvi em minha vitrolinha. Tenho LPs antológicos deles aqui no mafuá. De Buenos Aires trouxe um que reúne a nata da música de resistência, “Argentina Quiere Cantar!”, com três nomes de peso do cenário musical argentino; ela, León Gieco e Víctor Heredia. Não me canso de ouvir essa altaneira voz, que a todos nós, os descontentes e deserdados dessa imensa América, acaba por confortar e não deixar esmorecer. Ela sempre foi e será para mim uma voz de resistência, nos mostrando um caminho de possibilidades, diante das agruras constantes a que somos submetidos. Hoje, 03/10 é o DIA DO LATINO AMERICANO e lembrar de Mercedes Sosa é lembrar de todos os “hermanos latinos”. Reproduzo aqui um texto extraído do diário Página 12, edição de 02/10, no original, em espanhol:

"Mercedes Sosa, en estado crítico
La noticia cayó como un balde de agua fría por el cariño que ha sabido cosechar a lo largo de su extensa trayectoria: Mercedes Sosa está internada en estado reservado desde el 18 de septiembre en el Sanatorio de la Trinidad, según confirmaron fuentes familiares y médicas. La folklorista está en la sala de terapia intensiva de esa clínica porteña con la asistencia de un respirador artificial. Personas cercanas a la Negra, indicaron que Sosa está internada hace once días en el Sanatorio de la Trinidad “debido a un problema hepático que le afecta los riñones y los pulmones”. La novedad en el delicado cuadro de la artista, que es una de las voces esenciales de la canción popular argentina, es que el miércoles por la noche “levantó temperatura” y horas después se le colocó un respirador. Los admiradores de la cantante tucumana colapsaron ayer su página web (www.mercedessosa.com.ar) con mensajes de aliento, tras conocer el agravamiento de los problemas de salud de la artista. La página tuvo 700 mil visitas. “Negra, quedate más con nosotros”, “No aflojes ahora, que nos hacés mucha falta” o “Peleá, que vos podés con todo”, son algunos de los mensajes enviados por sus admiradores desde diferentes países. La frágil salud de la Negra le impidió lanzar formalmente el ambicioso álbum doble Cantora que compartió con Joan Manuel Serrat, Luis Alberto Spinetta, Caetano Veloso, Shakira, Gustavo Cerati, Charly García, Calle 13 y Joaquín Sabina, entre otros destacados músicos. El ingreso hospitalario de la cantante tucumana se produce en medio del suceso de ventas de su nuevo disco, en el que combina su talento con los de artistas de la talla de los mencionados. El álbum se convirtió, a su vez, en un excelente regalo por sus 74 años. Por otro lado, para el cincuentenario del Festival de Cosquín estaba programada una noche de “tributo” a la artista con la participación de artistas considerados ahijados de la Negra como Víctor Heredia, León Gieco, Alberto Rojo, Pocho Sosa, el Dúo Orozco-Barrientos y sus sobrinos Claudio y Coqui Sosa, entre otros".