BAURU POR AÍ (30)
PISADA NA BOLA DO PREFEITO DE AGUDOS e ROSALINA, UMA BAURUENSE SEM-TERRA EM IARAS
Tem notícias que circulam meio que vagarosamente por aqui. Mostrar o outro lado dos assentados do MST em Iaras, os mesmos que ocuparam a dita fazenda da CETRALE em Borebi e suas justificativas, não merece o mesmo destaque de espicaçá-los acintosamente. Questão de estilo e de enxergar tudo vesgamente. Pois bem, li algo muito interessante em matéria na revista Carta Capital, edição 574, de 02/12, com o título “Os vencidos não se entregam – Visita ao acampamento dos invasores rechaçados das terras da CUTRALE”, escrito por Luana Lilá.
Primeiro algo muito instigante: “o acampamento Rosa de Luxemburgo não está ali por acaso. Na região existem 50 mil hectares de terras públicas indevidamente ocupadas por particulares”. Tudo começou por volta de 1920, quando a União compra terras dentro dos municípios de Águas de Santa Bárbara, Iaras, Borebi, Lençóis Paulista e Agudos, para a colonização de famílias de imigrantes. “Com o passar do tempo, particulares começaram a tomar conta e registrar as áreas em cartório. (...) Em 1994, o Incra começa a fazer um levantamento e em 2002 começa a identificar os ocupantes irregulares. Tudo baseado em artigo da Constituição que determina que as terras públicas devem ser prioritariamente destinadas à reforma agrária”, afirma a matéria.
Só em Agudos (aqui tão pertinho de nós) existem onze fazendas, cerca de 15 mil hectares já consideradas improdutivas pelo Incra, aguardando uma certidão de uso e ocupação do solo da prefeitura de Agudos, para que o processo de desapropriação tenha início. O prefeito Everton Octaviani (sobrinho do Carlão, ex-prefeito e ex-Gerente daquela cidade), contrariando a lei, usa uma justificativa das mais insensatas para não assinar nada: “Eu ainda não emiti porque não quero que venham para o município essas famílias de outras localidades, que são do MST. Eu tenho negociado com o Incra e exijo que sejam colocadas ali famílias da minha cidade, famílias de trabalhadores que vão fazer um bom uso da terra, que vão produzir. Eu não posso dizer que só quero agudenses, mas preferencialmente de Agudos, e que não sejam do MST”. Quer dizer, cara pálida, que só por ser do MST, já prejulgou não farão bom uso da terra e sendo agudenses, sim? Isso me cheira favorecimento ilícito, algo perigoso. Como será que o prefeito pretender fazer essa escolha entre os agudenses? O Incra tem que tomar partido disso e assumir as rédeas da situação.
Dentro desse emaranhado estão muitos bauruenses, todos lá no acampamento de Iaras. Na foto da revista fui rever uma pessoa conhecida daqui de Bauru, Rosalina Beatriz de Oliveira, há um ano por lá e aposentada da área de enfermagem, quando atuou por muitos anos em hospitais daqui. Mais feliz ainda fiquei ao saber de sua utilidade entre os assentados, pelos ensinamentos sobre o uso de ervas medicinais: “O tradicional do hospital não serve para nada aqui”. Ela faz parte de um grupo de cerca de mil famílias assentadas na região, exigindo (assim como o prefeito de Agudos o faz de uma outra forma) um debate sobre uma dívida social existente na questão agrária brasileira. Mesmo em condições mais do que precárias, pessoas iguais a Rosalina acreditam no seu direito à vida. E lutam por isso, como poucos hoje neste país. Torço por eles.
Caro:
ResponderExcluirNa realidade, a família Mattos adquiriu uma vasta fazenda em 1895 e em 15 de fevereiro de 1910, transferiu 4.000 alqueires para a União. Interessante nesta história é que até hj, os 4.000 alqueires continuam registrados em nome da União. Ambev, Duratex, Chapadão e outras empresas estão em área da união. A documentação, acima citada, foi entregue ao Corpo Jurídico do MST. Aguarde novidades.
Henrique, esse é apenas um exemplo de como anda a questão fundiária no país. Grileios em pleno centro do Estado mais desenvolvido da União. Daí a importância de movimentos como o MST.
ResponderExcluirVeja bem, meu caro Henrique:
ResponderExcluirDiscordo em alguns posicionamentos adotados pelo MST, mas entre o que já fizeram, o quanto a reforma agrária andou pela ação corajosa derivida de seus atos e a ação do atual e do anterior prefeito de Agudos, acho que o INCRA não pode perder tempo, coloque-os na parede, já. A lei tem que ser cumprida e por que a parte mais fraca, o pobre sempre acaba pagando o pato? Seria bom uma pressão lá na frente daquela Prefeitura, não?
Gustavo B.