'AVATAR' É ACUSADO DE SER PROPAGANDA POLÍTICA DA ESQUERDA
"De bem com as bilheterias e com boa parte das críticas de cinema, James Cameron só tem um pequeno "senão" a lidar depois da estreia de Avatar, seu mais novo filme. Seu pequeno problema agora é com os críticos politicamente mais conservadores dos Estados Unidos que, a partir de diversos jornais, tais como o Los Angeles Times e o The New York Times, estão condenando a produção de Cameron por sua "propaganda política de esquerda". Na trama, o ex-fuzileiro naval Jake Sully entra para uma missão de espionagem do povo que vive no planeta Pandora, os Na'vi. A relação humanidade (dos Na'vi) versus a ambição capitalista (dos humanos) começa a se construir a partir dessa relação entre Sully e o povo que, a princípio, seria "estrangeiro". De acordo com o Los Angeles Times, em uma reportagem publicada nessa segunda-feira (4), partidários da direita nos Estados Unidos estão unindo vozes para dizer que Avatar é uma propaganda da "América de Obama". E que existe uma quase não velada mensagem contra o "imperialismo americano" no filme. Escrevendo para a publicação New York Press, o crítico de cinema Armond White alegou Avatar "deturpa os fatos do militarismo, do capitalismo e do imperialismo" e descreve o filme como "guiado por uma culpa do desejo de matar que surgiu depois do 11 de Setembro". No blog do jornalista americano John Nolte, o Big Hollywood, há "um desejo de morte para os esquerdistas" e que a produção de Cameron seria "uma fantasia simplista, de vinganças revisionistas". O jornal inglês The Daily Mail, poucos dias depois da estreia do filme, em dezembro de 2009, publicou um artigo com o título "Avatar: o mais caro filme antiamericano já feito". Na opinião do jornal The New York Times, o filme é uma "22ª versão dos colonialistas americanos versus os colonialistas ingleses, India versus os Rajás, ou a América Latina versus a United Fruit." Ou seja, algo entre brigas de ideologias políticas e luta de classes" - Redação Terra
Meninos e meninas: recebi esse artigo da amiga Marisa Fernandes e estamos convidando quem quiser ir conosco conferir o filme pessoalmente hoje, na sessão das 19h, no Cine'n Fun do Alameda Quality Center, meia entrada para todo mundo e depois um bate papo informal sobre o tema e algo mais que surgir. Acho que deveríamos montar uma trupe e além de conferir 'in loco' o que está de fato embutido no tal contéudo disfarçado do filme. Além da possibilidade real de um encontro de começo de ano, de todos estarmos nos revendo, vamos começar discutindo algo, pois já estou com comichão, talvez por não discutir nada já faz alguns dias. Topas? Faça contato, envie sinal de fumaça ou se manifeste, a favor ou contrário... aguardo manifestação de todos (as)
Após o recado acima ser distribuido para uma lista de amigos (as), busquei o filho e levamos a Marisa. Chegamos atrasados, assistimos e na saída nos deparamos com o Wellington Leite. Estávamos saindo para um lanche quando nos deparamos com Roque Ferreira, Tatiana Calmon e Silvio Durante na fila da sessão das 23h. O debate ficou para outro dia, mas para esquentar os comentários, publico algo recebido do professor Almir Roberto Ribeiro:
Avatar é somente um filme ruim, com roteiro tosco, interpretações grosseiras, e cheio de efeitos ‘bonitinhos’. Se tem alguma ‘mensagem’ vamos ler o Pondé... "O romantismo idiota de "Avatar" No filme de James Cameron, a relação com a Natureza é de vida ou morte, ou ela ou nós O FILME "Avatar", de James Cameron, é melhor do que "2012". "Avatar" também tem um ar apocalíptico, mas reúne elementos estéticos e de conteúdo mais elaborados do que "2012" e seu besteirol maia. Mesmo assim, "Avatar" acaba sufocado por outro tipo de besteirol que é seu romantismo para idiotas: a fé no povo da floresta que vive em harmonia com a natureza. Nenhum povo vive em harmonia com a natureza. A diferença na relação com a natureza sempre se definiu pela maior ou menor capacidade técnica de cada cultura em controlá-la. Os índios brasileiros que cá estavam quando chegaram os portugueses ("nossos libertadores") só viviam "em harmonia com a natureza" porque eram tão atrasados que nem conheciam a roda. Preste atenção: a relação com a natureza é de vida ou morte, ou ela ou nós. A expressão "lei da selva" não foi inventada pela avenida Paulista e seus bancos, mas sim como descrição da natureza e seu horror. Isso não significa que não existam limites para a exploração da natureza, mas isso tampouco significa que exista uma coisa que seja "a doce Natureza". Serpentes e barbeiros (os besouros da doença de Chagas, não seu cabeleireiro unissex) e câncer são tão naturais quanto os passarinhos. O romantismo é uma escola literária de peso. Último grande grito contra a vida brutalizada pela fúria mercantil, ele reúne uma crítica contundente ao capitalismo tecnicista e sua crença brega na ciência - "a ciência é o grande fetiche da burguesia", dizia o filósofo Adorno. Em "Avatar", o romantismo degenera em conversa de retardado. Revolucionários românticos sonhavam com uma vida que recuperasse "valores pré-modernos" identificados com uma vida em comunidade onde as pessoas não seriam monstros interesseiros. O problema desses revolucionários é que "comunidade pré-moderna" não é uma comunidade de hippies legais, mas um tipo de sociabilidade onde o padeiro da esquina sabe que sua mãe é amante do padre, que seu pai é brocha, e que nem você nem ninguém têm pra onde ir. A idealização do que seria uma comunidade é uma das marcas dos idiotas utópicos. Ninguém está disposto a abrir mão da liberdade individual moderna em nome de qualquer comunidade, por isso toda tentativa de "re-fundar" comunidades fracassa, apesar da admiração de muito pós-moderno bobo por culturas que não conheciam a roda. Não basta ter um filtro de barro em sua casa na Vila Madalena pra você conseguir viver em paz na comunidade da deusa natureza. O filme se passa num planeta (Pandora) tipo Amazônia, onde existe uma enorme riqueza mineral escondida sob o solo coberto por uma floresta tropical cheia de "monstrinhos e plantas que ascendem ao toque das mãos", habitada por uma população linda de seres que muito se parecem com índios americanos. Pandora já remete à narrativa da "caixa de Pandora" e suas maldições. O nome da raça que habita Pandora, os Na'vi, soa muito próximo da palavra hebraica para "profeta", "navi" ou "nabi". Os humanos gananciosos não são capazes de perceber como os Na'vi são seres em contato com a deusa cósmica. Os índios de Pandora são profetas da deusa. O personagem humano principal é paraplégico, mas ao se tornar um Na'vi recupera as pernas: eis a metáfora da condição humana vista pelas lentes do romantismo degenerado. Somos uns aleijados em comparação aos belos índios místicos donos da verdade cósmica. E qual é essa verdade? Que a natureza é um grande cérebro pensante e que devemos nos dobrar a ela porque assim a vida será bela. Meu Deus, como ter paciência com esses aleijados mentais? Ninguém leu Darwin? Ninguém nunca observou a natureza de perto? Nunca sentiu o odor de sua violência? Numa cena, nosso herói escapa de uma fera. Esta mesma fera se oferecerá em seguida como montaria dócil para a heroína Na'vi a fim de combater os humanos gananciosos. Hipótese do filme: se um leão come a cabeça de uma mulher, isso é "bem cósmico", mas diante da ganância humana, ele se oferecerá como montaria dócil e fará discernimento entre sua crueldade "do bem" e a "maldade humana". Noutra cena, na qual a heroína Na'vi salva o mocinho, ela dirá: "Eu tive que matar essas belas criaturas porque você fez barulho". Moral da história: se você não respirar e não andar, a natureza o amará pra sempre. Caso apareça um porco capitalista, os leões virarão gatinhos. Só um idiota pensaria isso". Luiz Felipe Pondé, crítico da Folha SP.
Oi Henrique!
ResponderExcluirEsse texto da Folha foi típico: se provocou o furor dos conservadores norte-americanos, claro que provocaria o mesmo nos servos sul-americanos...
Sempre que leio um texto com adjetivos em demasia, faço um exercício: tento ler o mesmo sem eles pra tentar resgatar o mínimo de elegância.
Não me lembro de crítica tão recheada de ódio quando fizeram o filme BOPE, que em outras medidas, expõem as nossas misérias. Talvez porque o "mocinho", Capitão Nascimento, seria o ideal matador de pobre e preto e favelado dos amigos da Folha.
Se o filme é tecnicamente ruim, se o roteiro é fraco, se o romantismo ganha do naturismo descambando para a pieguice, um crítico conseguiria dizê-lo sem tantos excessos.
No fim, pra mim valeu o filme (pra quem assistiu ao Titanic deve ter ficado surpreendido) e a companhia.
Abração
W.Leite
Henricão
ResponderExcluirAmericano não gosta de perder nem em jogo de par e ímpar. E quando perdem uma guerra e são obrigados a sairem de cabeça baixa, mesmo com todo o aparato militar que possuem, acham que tudo é fruto de uma conspiração para difamar e por fim ao sistema de governo injusto que tanto defendem e praticam. A incoerência do capitalismo predatório está explícita no filme, pois dizimaram o planeta Terra e seguiriam fazendo isso em outros planetas. Uma fala do filme me ficou gravada: Não existe moeda de troca, pois não existe nada que podemos dar a eles em troca do queremos. Nada do que temos interessa a eles.
Eles, os habitantes do tal planeta não se interassam por nada deste, esse negócio de capital, acúmulo de bens não diz respeito a eles e essa foi uma lição. Só de ver esse lado mercantilista do norte-americano perder mais uma batalha é algo maravilhoso. O filme pode ter lá seus defeitos, mas sai de lá em estado de graça.
Rosana
Henrique,
ResponderExcluirvocê nem imagina, nunca saio de casa e quando li seu e-mail hoje (7/01) sobre o filme levei a Paloma para o Alameda pensando que era hoje.
Chegando lá estava completamente vazio, e só agora quando reli esse e-mail que vi que foi dia 06.
rsrsrsrsrsrsrs.
Só nós mesmo né?
bjos, Neli
"O custo do filme Avatar de James Cameron, segundo o New York Times, entre produção e marketing chegou a inacreditáveis 500 milhões de dólares..."
ResponderExcluir"Avatar conquistou nesta quinta-feira (7/1) o segundo lugar no ranking dos filmes mais rentáveis dos últimos tempos, após acumular US$ 1,131 bilhão..."
"Eles, os habitantes do tal planeta não se interassam por nada deste, esse negócio de capital, acúmulo de bens não diz respeito a eles e essa foi uma lição. Só de ver esse lado mercantilista do norte-americano perder mais uma batalha é algo maravilhoso..."
Releiam a crítica do Pondé com cuidado.