sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

UMA MÚSICA (55)

MENINOS EU VI (GRAVIDEZ), MÚSICA DE GONZAGUINHA E A FELICIDADE DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NAS RUAS
Essa música e letra do Gonzaguinha (tenho tudo dele aqui no mafuá, tudo em LPs, os bolachões) embalou um belo momento de minha vida. Esse LP é de 1984, ano das 'Diretas Já' e do meu primeiro casamento (com a Wilma Cunha). Tinha 24 anos e explodia em mim uma revolta pelas injustiças sociais (não aplacadas até hoje). Vivenciei bons momentos do povo nas ruas, coisa das mais improváveis e difíceis hoje em dia, quando o marasmo e a inércia tomam conta da vida das pessoas. Sintam o clamor do poeta na ousadia da letra:


"Meninos eu vi/ o povo nas ruas/ querendo dar à luz para quem quisesse ver/ para quem quisesse ganhar o brilho da luz/ meninos eu vi/ o povo nas ruas/ querendo dar o sol/ para quem quisesse ver/ para quem quisesse ganhar o brilho do sol/ bebi com eles/ a coragem das cores/ na avenida brasil/ aprender a colorir/ ergui com eles um brinde/ ao futuro/ sem o medo Brasil/ caminhar e color rir/ meninos eu vi/ que luto não é pra chorar/ é um verbo pra viver feliz/ Meninos eu vi/ o povo nas ruas/ em plena gravidez/ para quem quiser saber/ para quem quiser ganhar/aos filhos dessa gravidez".


Estava na cidade hoje pela manhã quando numa virada de esquina me deparo com algo a me devolver o brilho nos olhos: "o povo nas ruas em plena gravidez". Uma manifestação promovida pela CUT para o lançamento da chapa 2, que concorre em oposição ao comando do sindicato local dos Bancários (hoje na mão da Conlutas), em eleições marcadas para os dias 24, 25 e 26/janeiro. Logo de cara me deparo com Duílio Duka e Lulinha, ambos queridos combatentes das injustiças sociais brasileiras e ambos empunhando bandeiras vermelhas, desfraldadas ao vento, gritando palavras de ordem. Sinto-me trêmulo nesses momentos e fui ouvir do Duílio algo que também sinto: "Como gosto disso aqui, sinto falta". De Lulinha algo também bem peculiar de quem tem um envolvimento especial com a luta dos trabalhadores brasileiros: "Estou de férias, mas vim assim mesmo, nem precisaram me convocarem". Na esquina seguinte outro encontro, com um professor e poeta (esqueci seu nome) e algo sobre o que víamos: "Nos tempos da ditadura militar o povo ia seguidamente para as ruas, era normal manifestações e tudo isso se perdeu rapidamente. Hoje é inusitado ver algo assim e quando o vemos ficamos estupefatos". Triste essa constatação, com a qual concordo e endosso. Parei tudo o que fazia, juntei-me aos amigos e conhecidos, ouvi os discursos já na fase final, defronte a CEF (eles haviam circulado com um caminhão de som pelo centro bancário todo) e vim para casa mais leve, com uma bruta vontade de que na próxima virada de esquina outro movimento igual aquele estivesse também acontecendo. Já não somos mais os mesmos, mas existem uns a resistirem e como é salutar isso.
Somos todos filhos daquela gravidez.

Um comentário:

  1. A frase do professor e poeta diz tudo camarada.
    A imagem é linda, mas nada a ver com as atitudes passadas.
    As centrais sindicais se perderam ao envelhecerem com o capitalismo, é um querendo passar a perna no outro, CUT, Conlutas, não tem mais jeito amigo.
    Aquela estrutura se foi e hoje muitos dos que se escondem em bandeiras de chapa 1, chapa 2, chapa branca e o caralho, atuam dentro da estrutura da lógica capitalista, conta-se a bufunha, um ideal economicista que não sai do lugar.

    Marcos Paulo
    Comunismo em Ação

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