UM JORNAL ÚNICO E UM JORNALISTA COMO POUCOS - SÉRGIO FLEURY E O "DEBATE"
Sempre que vou para Santa Cruz do Rio Pardo, saindo ou entrando naquela cidade, é inevitável passar diante do prédio com a inscrição "DEBATE", bem lá no alto de uma parede de esquina na avenida Clementino Gonçalves. E sempre me batia uma vontade de ir conhecer o jornalista SÉRGIO FLEURY MORAES, dono de uma dos semanários mais diferenciados que conheço em todo o interior brasileiro. Dessa vez parei (incentivado pela companheira nessa viagem, Zezé Ursolini), era por volta das 19h, porta da frente fechada e só uma lateral, que dá acesso à gráfica aberta. Anunciam a visita e subo às escadas ao primeiro andar, onde está a redação. Ao adentrar vou espiando as paredes, com fotos e legendas de matérias do jornal, posicionamentos assumidos e uma história de fazer inveja.
Antes de relatar o encontro com o diretor e uma espécie de faz tudo no jornal, conto o motivo da admiração. Visualmente O DEBATE (http://www.debate.com.br/) me ganhou de cara, pois possui um visual arrojado, despojado e gostoso de ser visto e lido. Isso não basta num jornal, mas o quando o conteúdo segue na mesma linhagem, sim. Sérgio pratica um tipo de jornalismo cada vez mais difícil de ser feito pelo interior (pelas capitais também), ou seja, independente e imparcial (a tal da verdade factual dos fatos, que Mino Carta apregoa). Folheio seu jornal e não encontro nenhuma publicidade como os mortais editais de prefeituras, aqueles que compram a isenção do veículo de comunicação. Sérgio abomina isso, muito menos estar vinculado a qualquer partido político e isso aumenta a credibilidade do que faz. O jornal e o jornalista ficaram famosos nacionalmente pelas denúncias contra um juiz local, que lhe causaram uma ação na justiça, com a maior indenização já registrada a um pequeno veículo, por volta de R$ 600 mil reais. Mais detalhes disso consultem o tal do Santo Google, pois lá tudo está mais do que esmiuçado. Queria saber o resultado da ação, pois li que havia um prazo para ele quitar e se não o fizesse, teria seus bens arrolados e as portas fechadas. Minha torcida sempre foi para que conseguisse reverter tudo, continuando com o jornal em circulação, fazendo o que melhor sabe fazer, Jornalismo com "J" maiúsculo.
Sua sala é como imaginava uma mesa de redação de uma pá de gente que admiro, com papéis espalhados por toda sua extensão, organizados de um forma que só seu dono sabe como encontrar o que procura. Diante de um desconhecido, Sérgio foi de uma simpatia imensa. Falamos de tudo e de todos. A empatia foi imediata. Faço um comentário sobre seu nome e o hononimo famoso. Rimos, confirma não existir parentesco nenhum com o falecido torturador e diz das explicações que teve que dar quando trouxe para a cidade nomes como Hélio Bicudo e Plínio de Arruda Sampaio, entre outros. Do processo diz estar numa fase de contestação junto aos órgãos superiores e lutando para ver vingada uma tese de que os prazos foram expirados e a ação deve ser extinta. Seu advogado na questão é nada mais, nada menos que Samuel Mac Dowell (namorado de Elis Regina quando de sua morte). Estão no aguardo e seu dia-a-dia não tem alteração por causa disso. Noite de sexta, tudo ferve por ali, pois a edição semanal fecha no sábado e no domingo circula na cidade e região. Com o desenrolar da conversa foi mostrando como tudo começou, aos treze anos num jornalzinho, "O Furinho", feito na unha, com as publicidades desenhadas por ele mesmo. Com uma tiragem de 500 exemplares, só não imprimia, pois do resto fazia tudo, escrevia, corrigia, dobrava e distribuia. Pegou gosto e logo a seguir fez jornalismo em Bauru e criou o DEBATE, que nesse ano estampa na sua primeira página estar no "ano 33" de sua existência. Sérgio tem 50 anos completos e vive para o seu jornal. Hoje, seu semanário está mais do que consolidado, com uma tiragem ótima para uma cidade de 40 mil habitantes. São oito mil exemplares semanais, muitos desses sendo também distribuidos em toda a região e mais cinco jornalistas além dele próprio.
Ele sabe da responsabilidade que tem nos costados e produz algo singular, quase único, de excelente qualidade e reconhecido valor. Diante de um jornalismo de rádio onde o locutor é obrigado a comprar o horário para poder continuar exercendo sua profissão e muitos jornais criticam a administração municipal até conseguirem terem em mãos a publicidade da Prefeitura, Sérgio rema contra a maré e prova que exercer a profissão com dignidade é possível. Seu jornal está cheio de anúncios e o pau come solto em suas páginas, como nunca deixou de ser feito. Comentamos até de uma admiração mútua, a da curta experiência do Jornal da República, do Mino Carta, que durou meses mas deixou saudades eternas em muita gente. Saio de lá com um exemplar do DEBATE nas mãos, onde em 16 páginas, a constatação de que existe sim salvação para o saudável e sempre necessário jornalismo honesto e real. A comprovação estava bem ali diante dos meus olhos. Sérgio demonstra por A + B que, "resistir é preciso" e necessário.
Henrique,
ResponderExcluirParabéns pelo texto sobre o Sérgio Fleury do jornal "DEBATE",de Sta Cruz do Rio Pardo.
Fiquei lisonjeada por ter tido o privilégio de conhecer esse jornalista e sua esposa Cláudia,que nos receberam com muito carinho.
Ele é um profissional diferenciado,publica seus artigos sem alienação,de uma cultura ímpar que transcende no seu diálogo,exerce sua cidadania com dignidade ,simplicidade ,sem medo de ser feliz.
Realiza seu trabalho por excelência,despojado sem preocupacão de "ESTRELISMO",brilha pelo seu talento ,confirmado pela tiragem hoje do seu jornal.
Voltamos extasiado,comentando sobre tudo o que ouvimos.
Como diz meu amigo Henrique,"Foi um delírio....
Nesta quinta-feira ,já confirmamos presença,no "Baile de Máscara",na abertura do carnaval de lá.Vai ser tudo de bom.....
Beijos
Maria José Ursolini
A DEMOCRACIA E OS JORNAIS LOCAIS
ResponderExcluirEDITORIAL
O ESTADO DE S. PAULO
27/6/2009
O Brasil continua sendo o país onde mais se processam jornalistas no mundo inteiro. Realizado pelo site Consultor Jurídico e divulgado durante encontro internacional promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, o último levantamento do setor mostra que os cinco maiores grupos de comunicação no País empregavam 3.327 jornalistas, em 2007, e respondiam a 3.133 processos judiciais por danos morais e materiais. Além disso, enquanto o salário-base da categoria era de R$ 2.205, sem aumento real nos últimos quatro anos, o valor médio das sanções pecuniárias aplicadas pelos tribunais aumentou quatro vezes no período, passando de R$ 20 mil, em 2003, para R$ 80 mil.
E em um ano e meio a situação se agravou atingindo especialmente os pequenos jornais publicados nas capitais dos pequenos Estados e no interior das grandes unidades da Federação. Segundo o Consultor Jurídico, um terço dos periódicos de circulação diária, semanal e quinzenal filiados à Associação dos Jornais do Interior de São Paulo responde a algum tipo de processo na Justiça.
E boa parte dessas ações tem objetivo intimidatório. Elas são impetradas por políticos e autoridades que usam os tribunais para tentar cercear a liberdade de expressão dos jornais que circulam em suas bases eleitorais. É esse, por exemplo, o caso do jornal A Cidade, de Adamantina - uma cidade de 35 mil habitantes situada no noroeste do Estado de São Paulo. A publicação está sendo processada por ter reproduzido uma crítica feita ao prefeito da cidade por uma vereadora de oposição, durante a campanha eleitoral de 2008. Em vez de acionar a parlamentar, o prefeito decidiu processar o periódico, pedindo uma indenização de 200 salários mínimos - o equivalente a R$ 93 mil - por danos morais. Com um faturamento mensal de R$ 6 mil, o jornal terá de fechar, se for condenado pela Justiça. A audiência está marcada para setembro. Segundo o editor de A Cidade, Rubens Galdino, seria esse o verdadeiro objetivo do prefeito, que nem sequer pediu direito de resposta depois da publicação da crítica da vereadora.
Outra pequena publicação do interior que também está com sua sobrevivência ameaçada é o jornal Integração, de Tatuí - uma cidade de 103 mil habitantes, distante 130 quilômetros da capital. Por ter noticiado uma moção de repúdio apresentada por um vereador contra o conselho diretor da Associação dos Amigos do conservatório local, que extinguiu o cargo de diretor artístico da entidade e demitiu o maestro que o ocupava, o periódico responde a um processo por danos morais. O valor da indenização pleiteada pela associação equivale a 70% da receita mensal do jornal, que é de R$ 25 mil.
ResponderExcluirUm dos casos mais antigos é o do jornal Debate, de Santa Cruz do Rio Pardo - uma cidade de 42,5 mil habitantes localizada próximo a Ourinhos, na região sudoeste do Estado. O periódico foi acionado por ter noticiado que o juiz da comarca morava numa casa cujo aluguel era pago pela prefeitura e ainda usufruía de um telefone público em sua residência, o que é ilegal. Pouco após a publicação da reportagem, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou a suspensão do pagamento do aluguel e a devolução do telefone, o que levou o magistrado a entrar com um processo por danos morais contra a publicação. A ação já foi decidida no mérito, contra o jornal, e não pode mais ser objeto de recurso. O processo agora está na fase de execução e as partes agora divergem sobre o cálculo da indenização, que foi fixada em R$ 593 mil. Por não dispor de patrimônio para garantir o pagamento, o jornal fechará as portas, se esse valor for mantido.
A existência de jornais é essencial para o exercício do direito dos cidadãos à informação. Nas pequenas e médias cidades, as publicações locais são fundamentais para a vida comunitária e ajudam a estabelecer os canais de comunicação que garantem o pluralismo cultural e ideológico. É por isso que os tribunais precisam ser cuidadosos ao julgar as ações impetradas com óbvios fins intimidatórios contra os pequenos jornais do interior. Se não souber separar o joio do trigo, aplicando penas pecuniárias que levam ao fechamento dessas publicações, a Justiça poderá comprometer liberdades públicas que tem o dever de preservar e garantir.
ACHEI ISSO NA INTERNET E ACHO QUE DÁ UMA MELHOR COMPREENSÃO DO OCORRIDO (PUBLIQUEI EM DUAS PARTES, PORQUE NÃO ACEITARAM DE UMA SÓ VEZ).
PAULO LIMA
MEUS CAROS - REPRODUZO UM EMAIL RECEBIDO DO SÉRGIO, DO DEBATE. ELEFICOU DE POSTAR UMA RESPOSTA, MAS COMO AINDA NÃO O FEZ E COMETI ALGUNS ERROS NO MEU TEXTO, ACHEI POR BVEM REPRODUZIR O QUE HAVIA ME ESCRITO. HENRIQUE - DIRETO DO MAFUÁ
ResponderExcluirNossa, Henrique!!!
Estou emocionado. Que texto maravilhoso. Você simplesmente me enganou quando disse que era um jornalista frustrado. É, na verdade, um dos bons, daqueles que "pegam" a informação no ar e praticam a essência do puro jornalismo.
Gostei muito mesmo e vou comentar no blog assim que dormir um pouco e terminar a edição.
Ah, o Samuel foi meu advogado na causa, mas não é mais. Hoje um colunista (bom) do jornal, o Marcelo Picinin, patrocina minha causa. E também fui impressor, sim, tanto do "Furinho" como do DEBATE (durante 10 longos anos). Bons tempos.
PS: Nos intervalos da edição, na madrugada, dei uma olhada no blog e li parte da matéria sobre Cuba. Que inveja, pois tenho um sonho de conhecer a ilha. Invejo, aliás, minha irmã Neide, que há alguns anos esteve lá, para um congresso, e conheceu o comandante de perto. De capitalista convicta, voltou admirada com a luta daquele povo. A outra mulher na foto é amiga dela, irmã do compositor Guilherme Arantes.
Não sei mesmo como agradecer o texto maravilhoso. Por enquanto, um fortíssimo abraço e meu muito obrigado.
Sérgio Fleury - DEBATE
Caro Henrique:
ResponderExcluirReafirmo meus agradecimentos pelo texto. Não o fiz antes por problemas operacionais. Depois, ainda tive problemas na conexão. Coisas da modernidade. Os antigos sempre vão insistir que com a velha Remington coisas assim não aconteciam. Paciência.
Quero dizer, ainda, que fiquei mesmo impressionado pela bela forma do texto. Isto, sim, resgata a reportagem na sua essência. Bastaram alguns minutos de conversa para gerar um ótimo texto. O verdadeiro jornalista capta a informação por inteiro, observando as coisas ao redor, percebendo as entrelinhas e não fica bitolado apenas no que diz o entrevistado.
Sei que não fui exatamente entrevistado, mas percebi tudo isto no seu texto. Esta mesma perspicácia está presente em outros textos que li no blog. Por isso, mais uma vez parabéns. Fiquei emocionado, envaidecido. São textos como esse que, naqueles momentos de angústia, mostram que tudo valeu a pena.
Aliás, permita-me contar uma passagem curiosa na história do jornalismo. Getúlio Bitencourt (que não conheci) queria uma entrevista exclusiva com o ditador de plantão, João Figueiredo, lá pelos idos de 1980. O general, autoritário como todos na ditadura, mandou avisar que toparia, mas o repórter não poderia usar gravador, caneta, papel, máquina fotográfica, nada... Enfim, foi uma maneira de dizer um "não"...
Ocorre que Getúlio topou. E ficou duas horas conversando com o ditador sem fazer sequer uma anotação.
Na semana seguinte, publicou uma entrevista no formato ping-pong, com perguntas e respostas, que lhe valeu o Prêmio Esso de Jornalismo. Acredito que mais pela memória do que propriamente pelo conteúdo. Afinal, Figueiredo certamente não tinha muito o que dizer.
Desejo, pois, sucesso ao "Mafuá do HPA", cuja lista de admiradores acaba de ser engrossada.
Um abraço fraternal.
Sérgio Fleury Moraes
Jornal DEBATE
Santa Cruz do Rio Pardo-SP
OI HENRIQUE... EU SOU A NEIDE, IRMÃ DO SÉRGIO QUE VIAJOU PRA CUBA COM SUA ESPOSA.... BAITA COINCIDENCIA HEM!!!! FIQUEI MUITO FELIZ COM A "REPORTAGEM" QUE FEZ SOBRE O DEBATE E MEU IRMÃO. EU TENHO UM ORGULHO DANADO DELE, E UMA ADMIRAÇÃO QUE NINGUEM IMAGINA!! É UM HOMEM QUE FAZ HISTORIA E NÓS QUE O CONHECEMOS, VAMOS SEMPRE AGRADECER POR COMPARTILHAR UM POUQUINHO MAIS DE PERTO SUA TRAJETÓRIA.
ResponderExcluirUM GRANDE ABRAÇO PRA VC E ESPOSA.
NEIDE FLEURY MORAES
FLEURY@TERRA.COM.BR
Esse jornaleco de merda e comandado por esse imbeciloide que se acha jornalista. E um moleque que devia fazer revistinha de skate e não rastejar pelos salões de ofícios públicos. Esse idiota não respeita nada nem coisa nenhuma e usa do expediente parase esconder detrás desse panfleto com cara de jornal. Deviam proibir esse canalha de brincar de jornalista. E um cretino, senão for um débil mental, essa que e a verdade!
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