domingo, 28 de fevereiro de 2010

UM COMENTÁRIO QUALQUER (62)

AMIGOS QUE LIGAM, ESCREVEM E LÁ VOU EU
Meu telefone toca e do outro lado o querido Arconcio Pereira da Silva, do alto dos seus 94 anos, dizendo estar em Bauru há 15 dias, com a voz embargada e de difícil compreensão. Veio fazer um tratamento nas cordas vocais e talvez precise até operar. Passo em sua casa, pois não dá para perder a oportunidade de bater um papo com tão altaneira pessoa, um dos poucos que fez de toda sua vida um campo de batalha, combatendo as agruras do ser humano. Lutou por melhorias, comandou greves ferroviárias, conscientizou pessoas e pagou um caro preço pelas opções feitas. Foi alijado do seu emprego, comeu o pão que o diabo amassou e só agora, depois dos 90 anos viu sua situação ser restabelecida numa anistia ainda não totalmente concretizada. E vive a vida intensamente, como se cada novo dia fosse uma dádiva (não dos céus, pois acredita é na vida terrestre). Vê-lo falar da política de hoje é algo inebriante, pois esse não perderá nunca a disposição de luta. "Depois de outubro, volto para morar em Bauru de qualquer jeito. Deixo Rio Preto, onde não conheço ninguém e volto a viver ao lado de pessoas que aprendi a gostar e conviver a vida toda", me diz com a voz embargada. Aguardamos ansiosos, com festa e rojões preparados. Trago emprestado um livro que ele acabara de ler, o "Em defesa do interesse nacional - Desinformação e alienação do patrimônio público". Domingo que vem levo ele até a Feira do Rolo, onde irá rever a Associação dos Aposentados (é sócio nº 1) e bater perna.

Num e-mail vindo de Marília SP, Paulo Giorgi me manda notícias. No final do ano encontrou meu cão perdido numa rodovia lá perto do Gasparini, levou-o para Sampa, depois sua casa e divulgou o fato em listas de animais perdidos, até me encontrar e promover a repatriação do animal. Pimpa vai bem, velhinho e lento com seus quase quinze anos, cada vez mais carinhoso com os de casa. Acompanhamos sua velhice com todo carinho. Paulo diz abrir meu blog de vez em quando (“Qual seja o texto, quanto mais eu leio mais eu acredito que o real valor está na capacidade humanitária da pessoa, independente de qualquer outra variável”) e que lembrou de mim numa viagem: “Eu e a Ju fizemos uma viagem maravilhosa para a Itália em janeiro, e lembrei-me especialmente de você quando estava em Genova!! Tirei essas fotos para te enviar. Ao vê-las você deverá entender o porque da carinhosa lembrança”. Eram de Cuba e ele me tirou as fotos dos locais.

Viajo com Vinagre e Tech para Barra Bonita no sábado à tarde. Fomos a uma reunião com o deputado federal Cândido Vaccarezza (http://www.vaccarezza.com.br/), líder do governo federal petista na Câmara dos Deputados. Aproveito e muito, em primeiro para ver como anda a campanha da Dilma, pela qual não só torço, como votarei e farei campanha. Não suportaria um retrocesso maior do que o visto e com o PSDB no poder no país em algo tão triste como o presenciado aqui no estado paulista, comandado por eles há quase 20 anos (uma eternidade). Segundo, atendemos pedido pessoal de Marcelo Cavinato, coordenador da Macro Região do PT, sempre antenado, reunindo muita gente de toda a região e papear com todos eles é constatar como anda a luta/labuta diária de defender um governo voltado para o social, quando um tsunami exerce força no sentido contrário e quer alicerçar a defesa de uns poucos privilegiados. Quando me dão a palavra, digo do porque do apoio a Dilma e aproveito para dizer do meu também à Cuba ("Como podem ver em minha camiseta", disse). Abraço gente de Mineiros, Pirajuí, Areiópolis, Pratânia, Reginópolis, Dois Córregos, Botucatu... Do encontro e do visto na Barra, escrevo aqui nos próximos dias. Na volta, uma inevitável cervejinha com peixe, num bar rural entre Barra e Macatuba.

Domingo, 20h, três caipiras reunidos na casa de um deles, Lázaro Carneiro, nos altos do Jd Bela Vista. Tudo preparado com muita antecedência para recepcionar outros dois, no caso, eu e Wellington Leite, o radialista das FMs Veritas e Unesp. Papo saudosista e muito assunto para virar tese folclórica, dessas de figurar num programa ao estilo "Rolando Boldrin" (alô TV Preve, façam algo com o Lázaro, pois histórias/estórias/causos não faltam na sua cachola). Quando ele começa a contar um causo, ligo a máquininha de fotos e gravo. Além de nós três, só a esposa do Lázaro, que preparou três (disse três, com uns 8 pedaços cada) pizzas, daquelas carnudas e cheias de sustância (sic), ou seja, quase fomos carregados na saída. Falamos de tudo um pouco, desde a maldizer os tucanos no pleito eleitoral que se aproxima, até a reviver histórias escabrosas passadas na Bauru de hoje, como as muitas do AHB, bastidores culturais de muito baixo astral e uma ou outra passada com cada um. Falamos de mortes sentidas nesses dias, como a do Walter Alfaiate, a da professora unespiada Adriana Chaves (grande parceira intelectual de Tuga Angerami), do produtor musical Sabá e do bibliófilo José Mindlin. Saio de lá com o bucho estufado de tão cheio e triste, muito triste, pois não deu tempo de colocar nem 10% das conversas em dia. Teremos que voltar outro dia e prosseguir o papo, diminuindo a despensa (comemos bem) do amigo, sempre muito cortês.

10 comentários:

  1. Henrique que desperdicio de um sabado a tarde. O Vaccarezza é um babaca, desses que pelegam por aí.
    Veja no endereço abaixo um trecho da sua entrevista no Roda Viva quando questionado sobre o que é socialismo e sobre o MST, é na mão desses "intelectuais" de "esquerda" que estamos.
    Assita e chore, ou ria porque é ridiculo o deputado sendo colocado na parede.

    http://www.youtube.com/watch?v=P-4Pz0t-ZBA&feature=related

    Marcos Paulo
    Comunismo em Ação

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  2. Não sabia da morte da Ardiana Chaves. Será verdade? Figura das mais dignas desta cidade. Deixou a administração Tuga, a última, por desavenças com o Canalli. Tenho dela ótima lembranças.

    Moacir

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  3. Henrique

    Voto na Dilma, mas tenho algumas restrições em algumas pessoas. Por exemplo. Abro os jornais de hoje e vejo que o deputado Vaccarezza é a favor dos ficha-sujas, ou seja, ele é a favor de que deputados, políticos em geral, condenados pela Justiça fiquem de fora das eleições. Veja o que aconteceu com o Arruda. Deram uma segunda chance para ele e ele comprovou a que veio. Não podemos mais dar segunda chance para esse povo. Fico com um pé atrás com quem defende isso.
    Marcos

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  4. Desculpe, uma pequena correção no meu comentário:

    Vaccarezza é a favor de que os condenados NÃO fiquem de fora das eleições. Esqueci do NÃO e é isso que é a diferença.

    Marcos

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  5. Como fui citado, vou usar o meu direito à réplica: concordo com tudo isso aí, companheiro HPA. E o bom é que nós falamos e mostramos a cara!!! Parabéns pelo blog, sempre antenado nas novidades políticas. Quero deixar público aqui também a notoriedade do HPA nas estradas vicinais do estado de São Paulo. O homem conhece tudo de vicinal. A inevitável cervejinha merece bis, com mais peixe no bar rural. Abraços.

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  6. Não sabia do falecimento de Adriana Chaves, grande professora da Unesp, intelectual da educação e militante de primeira hora das causas universitárias e sociais. Só temos a agradecer sua presença entre nós todo esse tempo. Adriana deixou um legado, que merece ser respeitado e seguido. Valeu, Adriana!

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  7. O sorriso desse velhinho lutador de 94 anos e a historinha contada por esse outro, com sua simplicidade e jeito gostoso de ouvir, mostra que gostas de coisas simples, mas cheias de significados.

    Teu blog está muito bom, viu!!!!!!!!!!!!!!

    João Henrique Bollini

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  8. Amigo, Henrique, sim é verdade. Sabá faleceu na segunda-feira passada, aos 83 anos de idade, vítima de infecção generalizada. Estava hospitalizado. Conheci-o em um sebo de vinis aqui em São Paulo, há muito tempo e tive a oportunidade de visitá-lo várias vezes na Rádio Trianon, em São Paulo (prédio da Gazeta), onde apresentava um programa, no qual entrevistou o Tito Madi umas três vezes. Por falta de patrocínio o programa saiu do ar, mas ele continuava comparecendo uma ou duas vezes à rádio para gravar locução de seleção musical programada por outro funcionário. Há um ano, passando em frente ao prédio da Gazeta, resolvi subir para ver se o encontrava (há tempos não o via). Ele estava sentado num banco em frente à rádio, aguardando a filha que o ia buscar. Conversei com ele a respeito de um especial do Dick Farney na TV Cultura, no qual ele aparecera na noite anterior, mas o papo dele, aparentemente, era de pessoa meio alheia (acho que nem me reconheceu). Quando a filha chegou, ele se levantou alquebrado, caminhando meio encurvado e se apoiando na filha e numa bengalinha. Foi uma imagem triste de um grande músico e, sobretudo, de uma grande figura humana. Certa vez, na rádio, o Élvio Borelli, diretor artístico, me falou que a filha havia pedido para não o manterem mais na emissora, porque ele não estava bem, com a memória falhando e sofrendo quedas. Há uns 6 meses, liguei para a casa dele, para saber como estava (o Tito me pedia sempre informações). Infelizmente, foi bem na hora em que ele sofrera uma queda e a família estava agitada, tentando acudi-lo. Fiquei inibido de voltar a telefonar após esse incidente. Compareci ao seu enterro, no Araçá, mas como fora avisado em cima da hora, cheguei quando o caixão já estava fechado e o cortejo iria sair. Ali fiquei sabendo que, num espaço de três anos tivera duas perdas sentidas, o mano Luiz Chaves, que tocava com o Zimbo Trio (este eu sabia, pois, quando foi detectado Alzheimer, o Sabá me falou que os médicos previam sua morte naquela semana, mas ele aguentou ainda muito tempo) e uma irmã.
    Infelizmente, a Folha de S.Paulo, que assino, e, provavelmente, a mídia em geral não deu uma única nota, exceto o Ruy Castro, seu amigo, que assina uma crônica às 2ªs, 4ªs e 6ªs na página 2 do 1º caderno da Folha, e que escreveu, na quarta-feira, um belíssimo texto sobre o músico, mestre de muitos outros contrabaixistas, paraense que se iniciou nas boates em São Paulo, acompanhando Johnny Alf. Tenho dois recortes do texto, mas não sei onde os guardei. Quando achá-los, vou mandar o texto por email. Aliás, certa vez o Sabá me falou que a mídia não noticiara o falecimento do Toninho Pinheiro, seu companheiro no Som Três e no Dick Farney Trio e que , semanalmente, num trio com o Sabá se apresentava no Clube Atlético Paulistano. Toninho morava em Santo André e estava afastado por doença e, segundo o Sabá, ele queria isso mesmo, que o ignorassem, tamanho é o desrespeito à memória daqueles que fizeram história em qualquer campo da atividade humana, especialmente, na artística. Quem sabe, Sabá também não tenha querido isso?

    Bem, Henrique, espero que tudo corra bem com você por aí. Tenho lido sua coluna n'O Alfinete (adorei e me emocionei com aquela sobre sua cachorrinha), mas tenho achado o jornal muito ruim (inclusive graficamente), apesar do aumento do tamanho, do número de páginas e da simpatia de seu diretor.

    Um abraço do Francisco Bonadio Costa - São Paulo SP

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  9. Acompanho o trabalho do deputado, desde quando era deputado estadual e gosto muito de sua atuação. Discordo de algo que li num comentário aqui. Não quero polemizar. Acho que picuinhas nesse momento, prejudicam a campanha em cima do nome maior, a eleição de Dilma. Que estejamos todos juntos e que a fala e prática do deputado seja levada em consideração: "estejamos todos unidos em prol desse motivo maior".
    Ele é um grande aglutinador e nos ajuda muito.

    Pedro Campos

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  10. Henrique, aqui vai a reprodução do artigo do Ruy Castro sobre o Sabá.

    Ontem, à meia-noite, passou no Canal Brasil (NET) o especial de música que fala do tema sexo na música. Apareceu uma entrevista do Tito Madi, em seu apartamento. Parece que haverá reprise amanhã à tarde e domingo à meia-noite. Fiquei esperando o programa em meio a cochiladas (pelo adiantado da hora), acordando exatamente na hora em que se iniciava a entrevista do Tito. Depois mudaram o entrevistado e não consegui ficar acordado. Se foi apenas aquela participação do Tito, então foi muito pequena.

    Abraços do Francisco Bonadio Costa, de São Paulo.



    RUY CASTRO

    Sabá
    RIO DE JANEIRO - Os olhos ampliados pelas lentes absurdas pareciam crescer mais ainda quando se falava de certos nomes. Conversar sobre música com Sabá era assistir a um espetáculo de admiração. Sua paixão pelos grandes pianistas ou cantores com quem trabalhara refletia-se na sua expressão, na gesticulação, no tom de voz. Deixava de ser um colega de palco, era um fã.
    Mas o próprio Sabá merecia todo o respeito. Paraense de 1927, era um senhor contrabaixista. Em 1955, foi o primeiro a acompanhar Johnny Alf quando este chegou a São Paulo vindo do Rio -e tocar com Alf tornou-o o baixista favorito dos músicos modernos paulistanos. Dez anos depois, com Cido ao piano e Toninho na bateria, formou o Jongo Trio, um grupo instrumental/vocal que estourou com "Menino das Laranjas". Chamados a acompanhar os jovens Elis Regina e Jair Rodrigues no show "O Fino da Bossa", no Teatro Paramount, co-estrelaram um LP que vendeu milhares e não lhes rendeu tostão.
    Em 1967, sem Cido e com Cesar Camargo Mariano, o Jongo se tornou o Som 3, que acompanhou Wilson Simonal nos dias de glória do cantor. Eram 365 shows por ano, em cidades, Estados ou países diferentes, com escalas quinzenais em Congonhas para beijar a família e trocar as malas de roupa. Em 1972, sem Cesar, ele se juntou a outro pianista: Dick Farney.
    Sabá foi uma fonte inestimável sobre a bossa nova em São Paulo para meu livro "Chega de Saudade", de 1990. Lembrava-se de cada boate e de quem tocara nelas, onde, quando e com quem. Anos depois, fiz palestras sobre bossa nova ilustradas musicalmente por um conjunto que ele armou para a ocasião. Ali conheci melhor o ser humano. E conquistei o privilégio de poder dizer que trabalhei com Sabá.
    Sabá morreu em São Paulo, na terça passada, aos 83 anos.

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