quarta-feira, 26 de maio de 2010

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (31)

UM BATUQUEIRO NA NOITE DE TERÇA e UM BICENTENÁRIO NO PAÍS VIZINHO
Quase bom de uma encruada gripe (a garganta ainda raspa, rec rec), saio na noite de terça. A falta de grana não é motivo para resignações. Juntamos os trocadinhos e partimos, eu e Ana Bia, a fazer algo que gostamos muito, ver e ouvir a boa e insubstituível música brasileira de qualidade comprovada. Antes repasso a todos uma frase lida na revista Brasileiros, tirada de uma entrevista com o Paulo César Pereio, um ator peralta e sapeca (como eu), do alto dos seus 69 anos, sobre esse meu momento (e o dele): “Eu tenho um nome a zerar... alguns caras tem um nome a zelar, eu tenho um nome a zerar... Estou devendo no banco, estou com o cheque especial estourado, então eu tenho um nome a zerar. Como o dia tem 24 horas, uma hora eu não penso em nada, em problema nenhum, em conta de banco... eu vou zerar essa hora. Tchau!”. Fui zerar umas horas na noite de ontem. E as zerei da melhor forma possível.

Um show pouquíssimo divulgado, o “BATUQUEIRO”, no bar Templo (do amigo Fernandão), com nada menos que o monstro sagrado das baquetas ARISMAR DO ESPÍRITO SANTO na bateria, seu filho Thiago Espírito Santo no contrabaixo e Michel Leme na guitarra (esses dois são feras). Couvert de meros R$ 10 paus. Imperdível. Na mesa, junto a nós, Valéria Villaça (confirmamos por lá o evento para homenagear o amigo Percy Coppieters) e Zequinha de Agudos, dos Correios daqui, uma fera cervejeira, que me impediu de tomar cerveja da forma errada. Insistia em inclinar o copo, levei um esfrega e capitulei, passando a tomar com um vetusto colarinho. Foi uma aula, que aos quase 50 anos, resignado, como bom e eterno estudante, fiz questão de aprender direitinho.
Do show só elogios. Arismar faz o que quer das baquetas de sua bateria. Um monstro sagrado, tocando num lugar que gosta muito, tendo o amigo Fernando como contratante. Tinha uma galerinha de músicos em estado de êxtase na boca do gargarejo, que nem respiravam direito e quase ao fim, Arismar cedeu seu lugar para dois deles e ficou a observá-los do balcão, bebericando algo e papeando com o dono do estabelecimento. Foram horas de puro contentamento, um desestressante magnífico. Nunca é demais rever Arismar e seu refinado som e ele encarna maravilhosamente o batuqueiro que dá nome ao show. Áliás, é o próprio.

Minhas contas continuam do mesmo jeito que entrei (do jeito que o diabo gosta), mas a mente e o corpo cinqüentão saíram revitalizados. É disso que gosto, é isso que faço, sempre ao lado das pessoas que gosto e que me fazem bem. E assim vou vivendo.

UMA OUTRA COISA: Ontem foi uma data mais do que histórica para a vizinha Argentina. Duzentos anos de sua Independência (www.bicentenario.argentina.ar/) e nos festejos lá ocorridos, quase todos os presidentes latinos americanos. Inauguraram juntos o Salão dos Patriotas Latino-americanos. Foi uma festa de bicentenário com o povo nas ruas. Sabe quem foram os mais aplaudidos na noite? Chávez, Evo e Correa. Ao fundo, uma imensa foto de Che, do Korda, a famosa, dele com os cabelos esvoaçantes. Escrevo isso para demonstrar meu apreço pelo país vizinho. E o faço também para demonstrar minha ojeriza pelas propagandas vistas na TV, quando nos rivalizamos com nossos irmãos do sul. Enquanto povo, admiro muito todos eles, pois vibram muito mais que nós, estão constantemente nas ruas, batendo seus panelaços e expondo mais livremente uma forma de fazer política que perdemos ao longo dos anos. E como lêem. Só a avenida Corrientes possui mais livrarias que todo o Brasil. E o Colón, defronte o Obelisco ficou lindo, não? Que besteira ficar batendo numa cansativa tecla de rivalidade no futebol, fazendo com que o brasileiro pegue um ódio gratuito dos argentinos. Quando vejo aquele comercial da Skol na TV, nem penso em rir. Fico é triste. Mas hoje estou feliz, por todos eles, comemorando um bicentenário, num momento em que o país tenta sair de eternas crises. Segue “adelante” ao lado dos novos rumos latinos, tendo ao lado Mujica, Lugo, Lula, Cháves, Correia e Evo. Na tal Galeria inaugurada, uma lista de nomes mais do respeitados, todos homenageados: Che, Farabundo Martí, Augusto César Sandino, Prestes, Túpac Amaru, Solano López, Allende, Belgrano, San Martín, Rosas, Yrigoyen e para eles, não podendo faltar, Perón e Eva. E aqui cai como uma luva a frase do poeta caipira bauruense, Lázaro Carneiro: "Meu pan-americanismo não permeia toda a América, só vai até o México". Se tempo tivesse ficaria horas vendo as imagens do evento já postadas no Youtube. São vibrantes, mas o trabalho me chama.

Um comentário:

  1. Essa foto do Fernando fotografando ou filmando o Arismar é uma boa sacada. Não sabia destes dotes do cozinheiro de mão cheia. Sua casa é um oásis dentro dessa provinciana cidade. Ele deve ter pago muito mais de cachê para os 3 músicos do que ganhou na noite passada. Quem ainda faz isso?

    Fernanda Prado

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