terça-feira, 15 de junho de 2010

PERGUNTAR NÃO OFENDE (14)

NUMA VIAGEM LITERÁRIA, ZUENIR VENTURA E A IMPRENSA MARROM
São Francisco Xavier, turístico distrito da cidade de São José dos Campos SP, 12/06, sábado, Dia dos Namorados, 16h, presencio junto de Ana Bia e dos amigos e anfitriões Nélson e Mônica, uma etapa do projeto VIAGEM LITERÁRIA (Bate papo com o escritor – literatura para todos), iniciativa do governo do estado de São Paulo, através de sua Secretaria de Estado de Cultura, com nada menos que ZUENIR VENTURA. Tudo consiste em levar autores consagrados a bibliotecas de municípios paulistas. Em 2010 serão 72 cidades participantes, de junho a novembro. Zuenir está presente aqui no mafuá com “1968 – O ano que não terminou”, “Cidade Partida” e um último de antigas reportagens (credito ser o seu melhor), que li emprestado da Biblioteca Pública Municipal, o “Minhas histórias dos outros”.

Zuenir se limitava a falar sobre sua obra para uma pequena platéia, com perguntas restritas sobre como havia escrito seus livros, como foi a repercussão, qual a motivação, enfim, coisas do tipo. Num certo momento solto minha pergunta: “Zuenir, como jornalista tarimbado deve se sentir incomodado com o jornalismo da grande mídia atual, algo repugnante e nem sombra de um passado no mínimo mais digno. E em toda sua trajetória, algo que o dignifica foi quando jogou uma lata de tinta marrom sobre Hélio Fernandes (irmão do Millor), dono da Tribuna de Imprensa por ataques injustificados, personificando nele a própria imprensa marron. Fale disso e mais, comparando com os dias atuais, muitos também o mereceriam, não?”.

O velho jornalista, do alto dos seus 70 anos, não perdeu o prumo, mas desacelerou. Antes de responder pediu para desligarem a filmadora, pois não queria ter sua resposta gravada, pois segundo disse, o filho do Hélio é seu atual patrão. Demonstrou receios e só depois iniciou com um “Você ainda se lembra disso?”. A partir daí fez uma bela reconstituição da história. “Recebia ataques injustificados e seguidos do Hélio, dono da Tribuna de Imprensa, comparando-me à Roberto Marinho e Adolpho Bloch e isso me incomodava. Tive a idéia de reagir comprando uma lata de tinta a óleo marrom, com a intenção de jogar sob o jornalista. No mesmo dia que a comprei, o achei no seu cooper de final de tarde na Lagoa Rodrigo de Freitas e ali mesmo fiz o serviço. Me escondi atrás de um carro e ao se aproximar, despejei tudo sob o mesmo, virando às costas e deixando-o ali todo borrado. Quando a imprensa fica sabendo, volto ao local para tirar algumas fotos e vejo que acertei o alvo em cheio, pois poucos pingos restaram no chão. Dos frentistas de um posto, me dizem terem ajudado a limpar com gasolina o corpo de um senhor todos lambuzado de tinta. O fato tem certa repercussão, mas nunca fui processado. Hélio, na verdade, nunca gostou de falar sobre o assunto e até no programa do Jô, quando questionado, desconversou”, basicamente foram suas palavras.

Ainda tento extrair dele algo mais, pedindo para falar sobre a situação atual. Demonstra claramente não querer falar sobre o assunto e que prefere voltar ao assunto anterior, o sobre o teor dos seus livros. E assim o faz. Estávamos em quatro pessoas e diante disso, dez minutos depois, batemos em retirada. Sempre admirei Zuenir, dono de um fino texto, mas não esperava vê-lo aos 70 anos ainda com receio de tocar em certos temas. O motivo, talvez venha do fato de escrever atualmente para dois órgãos ligados à família Marinho, o jornal O Globo e a revista Época. Saio de lá achando que se fosse hoje não tomaria a atitude irreverente e corajosa de décadas atrás, justamente a que credito ser uma das passagens mais dignas de sua existência. Para nós, leitores diários da imprensa marron, também confundida com uma tal de PIG – Partido da Imprensa Golpista, a repetição do fato seria algo salutar para marcar os que produzem jornalismo de péssima qualidade. Ótima idéia, não?

Ainda sobre o projeto “Viagem Literária”, duas datas e escritores aqui próximos de Bauru: Em 16/06, 19h30, Jaboticabal, Ignácio de Loyola Brandão e dia 24/06, 19h30, Novo Horizonte, Mário Prata. Bauru ficou de fora do projeto ano passado e também neste ano (acho que eles nem sabiam da existência do mesmo). Veremos nos próximos...

NOTÍCIAS DA COPA 1: Overdose de Galvão Bueno. Sobre o locutor, o melhor sobre ele quem disse foi Nélson Piquet: “Ele deveria narrar esportes calado”. Da também overdose de evangélicos na seleção, algo retirado de uma crônica do Aldir Blanc, n’o Globo (sim, ele voltou a escrever semanalmente a partir de junho): “O lobby dos evangélicos está se movimentando para introduzir, nos esportes coletivos das próximas Olimpíadas, a modalidade Desabamento de Templos. Desistiram de andar sobre as águas na piscina porque afundariam com o peso dos dólares e do cadeado no tornozelo” (Cliquem no texto ao lado, na íntegra e o lerão grandão - chupado do blog Buteco do Edu). Ri muito, porque não sei o que nos espera na estréia contra um dos times mais fracos do Mundial.

8 comentários:

  1. Sr. Henrique o melhor a fazer é deixar a TV sem som,por que é sofrível ouvir esse pessoal que transmite,tem um deles do Sport TV que é o menos ruim,mas Galvão Bueno é de passar mal,não sei quem é pior se ele ou o Luciano do Vale uma briga feia de foice no escuro!eles conseguem errar até nome de jogador e depois de décadas de transmissão,fora os comentariozinhos paralelos,de doer!e tem gente que consegue assistir!abraços!Karina

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  2. Henrique
    Sempre achei o Zuenir meio amendrontado. Agora ficou comprovado. Prefiro um Veríssimo, muito mais audaz. Zuenir faz parte hoje de uma linhagem que não crítica tanto o sistema, como o Ubaldo, Millor, Cony e um que só escreve merda, o Arnaldo Jabor. Depois de velhos é que devemos ficar mais corajosos, vide o Saramago e nesse caso, por causa de um emprego, ocorreu o contrário. Esquisito.

    Paulo Lima

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  3. Cassio M.Cardozo de Mello Filho18 de junho de 2010 às 18:29

    Henrique,
    Como jornalista de formação e ex-integrante do jornal alternativo "O Movimento" gostaria de fazer a seguinte ressalva a sua observação em seu texto a respeito do jornalista Zuenir Ventura em relação ao fato do jornalista Zuenir Ventura ter jogado em determinada ocasião, um balde de tinta marrom no jornalista Helio Fernandes (da Tribuna de Imprensa e irmão do Millor Fernandes) querendo taxá-lo de “imprensa marrom” e onde você diz no seu texto ser esta atitude uma das coisas mais dignificante da existência do Zuenir em represália a matérias envolvendo o Zuenir, deixando assim implícito que o jornalista Helio Fernandes e sua Tribuna de Imprensa eram assim a representação deste tipo de forma e conduta de se fazer jornalismo no Brasil. Creio que a historia não seja bem assim como esta sendo colocada em seu texto e gostaria de recomendar a você e todos os seu leitores a matéria publicada no jornal eletrônico da ABI cujo link tomo a liberdade de grafar aqui que é o seguinte: http://www.abi.org.br/jornaldaabi/Abril-2006.pdf. Neste caso gostaria de citar o Jornal Última Hora do jornalista Samuel Wainer como o órgão que mais apropriadamente poderia fazer jus aos adjetivos citados em seu texto. Tudo assim por uma questão de justiça, creio eu!
    Quanto ao projeto cultural citado por você (Projeto Viagem Literária) gostaria de informar que o mesmo já existe há muito tempo desde que eu era Delegado Regional da Cultura de Bauru, da Secretaria de Estado de São Paulo e chamava-se Projeto “O Escritor nas Cidades” e funcionava da seguinte forma: as cidades que recebessem o escritor a partir de uma escolha em uma extensa lista fornecida e disponibilizada deveriam comprar um mínimo de oito livros e disponibilizá-los a um grupo de leitores de sua biblioteca que depois de lidos, iriam participar do encontro com o escritor em questão. Em nossa região sempre tivemos dificuldades em fazer este projeto rodar, pois ou não havia interesse em promover estes encontros ou esbarrava-se na questão da compras dos exemplares que não eram muitos, mas...nem mesmo assim eram comprados e disponibilizados. Infelizmente a dificuldade parece ainda existir em nossa região (na abrangência da extinta Delegacia Regional com 42 cidades) agora mais ainda agravada pelo fato de não mais termos um representante oficial da SEC que era o Delegado Regional e a Delegacia Regional que cuidava especificamente das ações da Difusão Cultural.
    Com um grande abraço
    Cassio

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  4. cássio
    Muito boas suas observações.
    Trabalhei durante anos no Rio e em quase todas minhas viagens comprava a Tribuna, algumas vezes diretamente ali na rua do Lavradio, sua sede e gráfica. O jornal me era simpático demais. Os textos do Hélio, ao estilo tijolões que o Brizola adorava fazer eram sempre contundentes e fortes, muito fortes. Lá , além do próprio Hélio, tinha Sebastião Nery, Carlos Chagas, Newton Carlos e outros muito legais. Não achava o jornal propriamente a personificação da imprensa marrom. O ocorrido com o Zuenir marcou, pois foi a revolta de um atacado. Não sei os motivos do Hélio colocar o Zuenir no mesmo patamar do Roberto Marinho, do Globo e do Adolpho Bloch, da Manchete. Ele um simples jornalista ser comparado a dois barões, esses sim marrons atér a medula. Vou ler o texto que me indicou. Obrigado.

    Quanto às informações sobre os primórdios do projeto Viagem Literária, gostei muito e ao tomar conhecimento dos porques não tem vindo para nossa região (meros sete livros a serem adquiridos), mostra o desinteresse pela cultura.

    Um abracito bauruense
    Henrique - direto do mafuá

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