DOIS EX-JOGADORES, UM DAQUI, OUTRO ARGENTINO - E A PARTIDA FINAL DE "REBUÁ"
No futebol, todos sabemos, os atletas nem sempre primam por serem pensantes, a viverem com livros embaixo dos braços e proferindo frases com começo, meio e fim. É um tal de "Se Deus quizer", "O professor (como se dirigem aos técnicos) mandou fazer desse jeito" e daí por diante . Os mais famosos vivem num luxo desmedido e com procuradores a responderem sobre suas vidas. Desse seleto grupo, conto nos dedos uns poucos a fazerem um discernimento bem construído do meio em que vivem. PELÉ até hoje, soube levar sua vida pessoal de uma forma exemplar, mas dá muito fora quando resolve abrir a boca. Da geração surgida quando comecei a me interessar por futebol lembro com saudade de AFONSINHO. E hoje, quem seriam os caras? Pera lá, tenho que pensar um pouco para responder. Nenhum concilia uma vida de voltada para um melhor entendimento das injustiças desse mundo com a dos gramados.
Mas eu tenho meus dois, aposentados do exercício da profissão. Ambos cracaços de bola. Primeiro falo do brasileiro. SÓCRATES, que encantou no Corínthias e no Flamengo. Fez medicina e comandou algo único dentro do esporte nacional, a "Democracia Corintiana", uma experiência que dificilmente irá se repetir dentro do cenário atual. Quando Sócrates parou de jogar começou a despontar com mais afinco o outro, o ser pensante e atuante, bem dentro do seu tempo. Ele, que sempre esteve posicionado ao lado das mais justas questões nacionais, escreve tão bem quanto continua atuando, tanto na medicina, como no jornalismo. Falar dele, para mim, é chover no molhado. Vou direto ao um escrito, publicado na edição de 11/12/2010 na coluna Pênalti da semanal Carta Capital:
"Quando garoto eu me apaixonei perdidamente pelos Beatles. Os caras eram o máximo para minha cabecinha infantil, mas plena de sonhos. Let it be, Help e muitos outros foram títulos musicais inesquecíveis. Ao lado do futebol, a música fez parte de minha formação sensitiva e intelectual, ainda que nunca tenha verdadeiramente me aproximado da língua inglesa que até hoje me leva a pensar mais nos americanos do norte e pouco aos ingleses. Uma pena, pois são muito diferentes, mesmo que em algum momento das suas histórias tenham sido, ou ainda são, imperialistas, no pior sentido da palavra. Mas isso não vem ao caso já que fomos (ou ainda somos) escravagistas. Nem por isso devemos nos penitenciar generalizando estes desvios de conduta ideológica. Se o futebol nunca me ofereceu um ídolo pleno, os Beatles sim. John Lennon me fez perceber que o mundo caminhava e ainda caminha para a destruição da humanidade por meio da perda ou esquecimento do humanismo. Quando a banda se dissolveu perdi um pouco o rumo, retomado logo depois com a melhor fase de John. Imaginemos alguém brigando pela paz em pleno coração de Nova York, absolutamente envolvida com a invasão do Vietnã? Grande ser destemido defendendo suas causas. Assistindo Paul McCartney no Morumbi, palco dos sonhos esportivos, em pleno domingo de festa e absolutamente lotado de emoções, pude finalmente juntar os cacos de quem sou hoje. Um êxtase extraordinário, imperdível e inesquecível, como um gol de título".
E agora o argentino, que não poderia ser outro, MARADONA. Gosto demais desse sujeito, mesmo com toda sua empáfia e pedantismo. Faz parte de sua marca registrada. Jogou muito bola, comandando um dos maiores escretes portenhos. Naquela época o via como a maioria dos brasileiros, um rival, ou melhor, um inimigo a ser vencido sempre. Esse tempo, felizmente, já se foi. Hoje, revendo toda sua trajetória de vida, a repetição de alguns tropeços e os acertos em posicionamentos fortes e contundentes, tornei-me um "maradonista" de carteirinha. Primeiro, duas admirações recíprocas, Che Guevara e Fidel Castro. Ele se mostra um verdadeiro latino e entende como poucos os problemas desse imenso continente subjulgado pelo poder imperialista de um Grande Irmão a nos fazer sombra lá do Norte. E ele, com todo o poder que possui e a marca conquistada pelo seu nome, combate isso. Isso é mais do que adorável. Querem mais. Em todo e qualquer momento que algo de contundente acontece nessa nossa América, como na tentativa de golpe no Equador, na Bolívia, na Venezuela, em todas essas oportunidades, Maradona se fez presente e posicionando-se ao lado de Correa, Evo e Chávez. Que outro jogador faz isso hoje? Só ele e Sócrates. Esse ano o craque completou 50 anos (minha idade) e após um início vibrante na Copa, comandando o selecionado de seu país, sairam do torneio após uma derrota acachapante e triste, muito triste. Não consigo me alegrar com aquilo, como vejo muitos fazerem. Queria que a Argentina avançasse e talvez um enfrentamento com o Brasil na final. Esses meus dois craques. Cadê os de hoje a pensarem não só em suas coisas, em enricar e esbanjar o conseguido com as futilidades da vida? No mundo da bola de hoje quem se sobressai é a ESPN, comandada por outro da mesma cepa, JOSÉ TRAJANO.
Abro os jornais de hoje e estampado no JC algo a me entristecer, Rebuá morreu de forma trágica, atropelado numa rodovia e sem socorro, com vários carros passando sob seu corpo. Gladston de Toledo Rebuá foi-se aos 61 anos e irreverente como poucos, um ser dos mais populares de nossas ruas. Não o conheci na fase áurea, mas a pouco tempo, coisa de uns seis anos. Já na rua, fazendo se passar pelo personagem criado por ele, o de um autêntico judeu, todo de preto, sempre falante e apregoando suas proximidades políticas. Falava que estava com reunião marcada com Franciscato, que Pedro Tobias junto com ele iriam estar em tal lugar, que Marcelo Borges lhe procurou, Caio Coube esteve com ele, o deputado Maluf ligou e assim por diante. Suas estórias sempre compridas, vinham recheadas de detalhes, todos inventados ao sabor do vento. Não gostava dessa sua reverência a gente de um poder nada popular, elitista demais pro meu gosto, mas dava corda, alongávamos o papo, pois mesmo ciente do seu estado, sempre rendia algo animado. Vê-lo degradando-se a cada dia era algo a doer, pois nos últimos tempos nem sua roupa estava mais em ordem. Estava num abandono de dar pena. A tragédia anunciada aconteceu e que não pegue ninguém de surpresa. Conheço outros tantos na mesma situação. Fiz um Retratos de Bauru com ele aqui no Mafuá em 30/01/2008, o de número 9 (tenho várias fotos dele pelas ruas) e ali os primeiros traços do abandono, que viria a ficar mais evidente com o passar do tempo.
Para quem é de Bauru e costuma caminhar pelas ruas da cidade, principalmente na região central, alguma vez pelo menos já deve ter visto uma das figuras populares entre bauruenses que era o Gladson Rebuá.
ResponderExcluirE é ele a nota triste deste fim de ano, faleceu de uma forma trágica, foi atropelado esta semana aos 61 anos quando atravessava a rodovia Bauru-Jaú.
Faço este registro não apenas pela figuraça que era, mas também por conhece-lo há uns 15 anos, era frequentador assiduo da academia de Karate do professor Ciborg, quase que diariamente ouviamos as loucas conversas de Rebuá. Era um cidadão que passava uma conversa alegre ao mesmo tempo que dava pena ver mais uma pessoa vitima deste sistema que em determinado momento da vida mergulhou no mundo do alcool e das drogas trazendo danos que eram bem visiveis.
Mas era um personagem 10, sempre que o encontrava me cobrava sentar para tomar um vinho tinto com o professor Ciborg, tenho histórias mil com ele, que ficarão sempre guardadas como boas lembranças em minha memória, de certa forma, aprendemos também muita coisa com o Rebuá, por apesar de estar fora de si(mas quantos não estão no capitalismo??) ele era muito inteligente.
Para a saudável memória sempre, Rebuá!!!
Marcos Paulo - Comunismo em Ação
Renato Senis Cardoso
ResponderExcluirA morte de Rebuá, no final do ano, serve para que reflitamos nosso papel quando em vida aqui na terra. Quantos ricos não mereceram tanto espaço como os aqui dedicados a ele? Quantos lamentaram sua morte aqui e por outras formas? E quantos nesse momento não se arrependem por não terem feito algo para que tivesse ele a assistência médico-psicológica que precisava. Consideremos que Rebuá frequentava o escritório de Pedro Tobias, daí...
Falar de Maradona para mim é motivo de alegria, de fato foi o meu primeiro grande ídolo em minha vida, eu era um garoto em 1986, minha primeira Copa vista totalmente e consciente, já que na anterior eu era muito pequeno e a vi anos depois em VT apenas, e nesta copa de 86, eu não vi o Brasil brilhar, já um futebol decadente em termos de seleção, eu vi grandes times brasileiros ainda com brilho como Flamengo de Zico, Corinthians de Sócrates, São Paulo de Telê, mas seleção mesmo a me encantar foi a Argentina de 86, e em especial o homenageado de hoje, o gênio da bola, Maradona.
ResponderExcluirSeu toque, seus passes, corrida, chute e controle incrível da pelota eram o mais puro tango argentino em campo, meus olhos de garoto ainda descobrindo as belas artes do mundo brilhavam diante da telinha com a genialidade deste homem, quem não viu, perdeu uma perfeita representação da arte humana em movimentos tão precisos que parecia algo surreal.
A partir daquele ano, nunca mais deixei de acompanhar Dieguito, os jogos nas manhas de domingo da Napoli no campeonato italiano eram sagrados, lances incríveis que jamais saíram da minha memória, agora mesmo, neste exato momento que escrevo, imagens daquela época passam como um filme bem na minha frente. Maradona iniciou a minha "argentinização", a descobrir um povo com a cara da América Latina, que já tinham em Che Guevara um ídolo máximo e agora Maradona que em sua melhor representatividade latina tem em seu corpo eternizadas as imagens dos comandantes Che e Fidel.
E essa postura de Maradona em defender incondicionalmente a revolução cubana, em ser amigo pessoal de Fidel Castro, de participar ativamente de movimentos ao lado de Chávez, vejam que seu primeiro ato público pós copa do mundo foi visitar Chávez e dar seu apoio ao líder venezuelano, tudo isso o faz ser o único representante do futebol a ter sua imagem ao lado de grandes lideres revolucionarios em minha galeria da revolução.
Dizem que sua vida fora dos gramados não é exemplo, é sim, Maradona além de defender os ideais latinos, sempre foi autentico e sempre assumiu tudo o que fez, isso o fez uma figura incontestável na Argentina, só quem é argentino sabe o que representa este homem para sua nação, os latinos tem muito apego e referencia aos seus heróis, coisa que aqui não se permitiu criar uma identidade assim, uma pena, pois grandes nomes não faltam em nossa história.
Eu vi Maradona pessoalmente em campo uma vez em 1993 num amistoso no Morumbi do São Paulo contra o Sevilha, Dieguito estava em campo, já fora de forma, mas mostrando que dominar a pelota ele entende, o São Paulo venceu a partida por 2X0 com Raí no auge da carreira sendo figura determinante no jogo, mas meus olhos não deixavam de acompanhar o gênio, aquele que me apresentara ao futebol arte.
Tenho muita saudade daquela época, até porque o capitalismo acabou com toda a arte e o futebol também foi vitima, quem conhece este jogo pelo que assiste hoje, não tem idéia do tamanho da obra de arte que era ver Maradona e outros craques em ação, cheguei até reviver um pouco desses momentos com a presença de Maradona na copa deste ano como treinador, a vibração,as imagens, os momentos, sem dúvida o grande destaque do mundial, uma pena não ter vencido, eu tinha também feito uma promessa para os amigos quando Dieguito fez a sua, eu já tinha reservado passagens para no caso de conquista da copa, eu iria ficar peladão com Maradona em Buenos Aires, a Argentina toda iria ficar nua com o ídolo, mas quem sabe, talvez ele volte e façamos a festa daqui 4 anos.
Parabéns Maradona, 50 anos mais para ti, adoro você, minha vida só tem a agradecer por tudo que me proporcionou ver, aprender e admirar, você é o tango da alegria de uma noite infinita no salão dançante.
Eu não acredito em nenhum deus, exceto Dom Diego Maradona, felicitaciones compañero!!!!
VIVA DOM DIEGO MARADONA!!!! VIVA A ARGENTINA!!!
MARCOS PAULO - COMUNISMO EM AÇÃO
Meu amigo Rebuá; estou triste pois Bauru está menor sem vc.
ResponderExcluirQue encontre a paz no Senhor e sua passagem por aqui tenha servido para seu crescimento espiritual junto ao Pai.
Esteja bem onde estiver.
Na última vez que nos vimos, eu estava na casa de minha mãe vc estava a conversar com o Robertinho na Gustavo Maciel, logo abaixo da Rua XV.
Grande Galdston Rebuá, que esteja em paz e junto do Pai, sempre !
Do amigo
José Salmen Neto