EU VI PAPAI NOEL E SEU TRENÓ NAS RUAS DE BAURU
Ele circula livremente e sem nenhum tipo de assédio nas principais ruas de Bauru. De origem nipônica, com os olhinhos puxados, algo um tanto estranho, esse senhor, desgastado pelo tempo, queimado de sol e calado como quase toda pessoa de origem oriental, circula em andrajos. Seu provável trenó são seus pertences, que amarrados uns aos outros são puxados pela força de seus braços, levados de um lugar para outro.
Ele circula livremente e sem nenhum tipo de assédio nas principais ruas de Bauru. De origem nipônica, com os olhinhos puxados, algo um tanto estranho, esse senhor, desgastado pelo tempo, queimado de sol e calado como quase toda pessoa de origem oriental, circula em andrajos. Seu provável trenó são seus pertences, que amarrados uns aos outros são puxados pela força de seus braços, levados de um lugar para outro.
Muito conhecido nas cercanias da Rua Araújo Leite, anda alguns metros, dá uma breve parada, descansa o suficiente para poder continuar e segue em frente, não se sabe para onde. Morador de nossas ruas, com idade já ultrapassando os 60 anos, é personagem das mais conhecidas na cidade. Por ser de origem nipônica, ouço dizer que membros da comunidade já tentaram de todo jeito tirá-lo das ruas, pois isso denigre as origens pregadas pela colônia. Nada conseguiram. Irredutível, peregrina impassível aos olhares dos que ainda conseguem se indignar com tal cena.
Nessa época dezembrina lembra demais um personagem que invade os lares brasileiros. O outro, de roupa vermelha, impecável e provocando calafrios, pelo calor que deve emanar a acalorada vestimenta. Esse, calça amarrada com barbante, camisa rota e quase sem botões, sapatos sem cadarços e um pé de cada modelo, às vezes com algo na cabeça, num objeto que nem pode ser denominado de chapéu, mesmo nessas condições, relembra muito o personagem criado para reverenciar o comércio natalino.
Ele não circula nos lugares mais iluminados da cidade, onde o festival de luzes e cores explode num mar de beleza. Seu cenário são as calçadas e sarjetas. Ali ele reina e passa impávido diante de todos, puxando sua tralha, sua casa e pertences. Tudo o que é seu está ali, junto dele. Vai e vem, sobe e desce. Assim como ele, milhares arrastam a inconstância e as incertezas por nossas ruas, quase sem serem notados. Não consigo me engajar numa festa de presentes e comes e bebes enquanto gente assim segue sem rumo e sem perspectiva.
Em dezembro eles chamam muito mais a minha atenção. Paro o carro e enquanto as luzes piscam me mostrando outro lado, prefiro continuar dando minha atenção para esses invisíveis, os deserdados do atual mundo em que vivemos. Sem ser piegas, sem falsear na escrita, sem sentimentalismo barato, isso me toca muito mais que o festejo todo que se avizinha.
MINHAS OBSERVAÇÕES: Esse texto foi escrito inicialmente para ser publicado no semanário O Alfinete, da vizinha Pirajuí e saiu na edição nº 613, dessa semana e enviado como Especial para o Jornal da Cidade, que o reproduz na edição de hoje, com destaque, em página interna. Aguardei a publicação em ambos para efetuar sua reprodução aqui no blog. A forma como retratei o sr TIMURA (como me disse se chamar) não foi em nenhum momento com um viés sarcástico, mas de constatação de como encaro tudo isso. Não dá para ser feliz e se inserir nas festas, todas com viés de gastos, compras, etc, enquanto persistir um outro mundo, invisível para a maioria das pessoas. É disso que escrevo. Ontem, domingo, acompanhei seu Timura na sua caminhada, ajudei-o a subir com seu "trenó/pertences" no elevado da rua Araujo Leite sob os trilhos ferroviários e constatei que dorme todos os dias dentro do terminal rodoviário, sob suas coisas. Seu canto é quase ao lado do terminal de embarque da Prata. Ele chega pela Nuno de Assis, ali se instala e fica até o dia clarear, quando circula pela cidade, ele e tudo o que pertence. Com ele nenhum presente a ser distribuido, mas o que é seu, o que lhe resta. Ele para mim é muito mais importante do que qualquer Papai Noel.
OUTRA COISA, PARA MIM TAMBÉM IMPORTANTE: Não queria escrever sobre outro tema hoje, mas o faço porque ocorre algo que me é muito próximo. Abaixo um CONVITE distribuido por mim via e-mail e o impresso. Aguardo os que puderem lá estar.
Caro
ResponderExcluirHenrique,
Acabei de publicar seu artigo no blog da macro,
http://macroptbauru.blogspot.com/2010/12/papai-noel-em-bauru.html
fique a vontade para fazer os comentários necessários. Tendo mais coisa vamos replicar camarada...
att,
--
Ivan Meneses
14 9162.8563
twitter.com/ivanambiental
Parabéns caro amigo Henrique.
ResponderExcluirVocê foi extremamente feliz em seus comentários.
E pode ter certeza, o epílogo de sua carta me levou às lágrimas.
Que Deus te dê: saúde ( para continuar seus caminhos), sabedoria ( para ver e sentir algo que nós, simples mortais, não sentimos ) e vida longa ( para podermos desfrutar de sua sensibilidade de um poeta grego).
Felicidades amigo,
Do amigo de sempre ( um pouco triste, mas isto passa, quem sabe em 2011 não seja o ano do nosso amado Coringão).
ANTONIO MIGUEL GARCIA - Professor Toka.
Ah!, permita-me mais um detalhe: e o mestrado! , continuarei cobrando-0.
Pra não variar, eu amei seu texto, vc é uma pessoa muito especial...
ResponderExcluirbjs
Neli
puxa ainda bem que outras pessoas além de mim cobram o mestrado - acadêmico digo - do henrique. fico feliz. vê se toma tento henrique ! um beijo da sua namorada ana bia, agradecendo ter publicado no blogo o convite da modesta exposição. professor toka, se deus quiser ele terá todas as questões, com muita oração. saúde, sabedoria e vida longa é o que desejamos aos que amamos. obrigada.
ResponderExcluirQUE LINDO, HENRIQUE, ADOREI!
ResponderExcluirROSE BARRENHA
Oi Henrique!
ResponderExcluirLendo esse email relembrei seu lado "poeta intelectual".
Muito bem escrita essa carta e quanta sensibilidade dentro desse coração!!!!
"De poeta e louco, todos temos um pouco... "
Beijo grande.
Iraci
Valeu Henrique..Gosto da maneira como vc retrata tudo o que e relacionado com Bauru...Voce faz isto com maestria....Sou seu fan....Abracos
ResponderExcluirFotografe as fotos,por favor!Estou em Marilia, mas meu coração estará com vcs...beijos!!!ROSE BARRENHA
ResponderExcluirQUE BELEZA AMIGO HENRIQUE.
ResponderExcluirQUANTO TEMPO CAMARADA.
ME MANDE SE E MAIL PRECISO FALAR OU TECLAR CONTIGO.
KIZAHY baracatkizahy@hotmail.com
Oi Henrique!
ResponderExcluirIsso me lembra o poeta Luiz Vitor Martinelo:
Final Feliz Natal
Neste natal
quando o menino jesus
acordar
e escovar os dentes
com ultra brite
tomar
banho com palmolive
servir-se
para o breakfast
com chá mate leão pão pullman
bolachas maria
procurar
a chave do chevette
ir
correndo para a kibon
onde trabalha
neste natal
quando o menino jesus
voltar para o almoço
e comer
fejoada bordon com arroz camil
e na sobremesa goibada cascão
ouvir robertinho do recife
fafá de belém
procurar
a chave do chevete
voltar
correndo para a kibon
e depois do expediente
passar
no bar
encontrar os amigos
e beber da costumeira 51
se atrasar para o jantar
(caldo verde knorr)
neste natal
quando ligar a t.v. mitsubishi
para assistir a plumas e paêtes
terá o menino jesus
crescido
e bêbado com o château duvalier
da última ceia
estará
à margem da vida
morto
crucificado
tendo como chagas
as 5 estrelas do cruzeiro do sul
indicando o caminho de belém
(viaje bem viaje vasp)
Abração
W.Leite
meus caros e caras:
ResponderExcluirObrigado pela receptividade.
É gratificante isso e quem escrevinha muito, nem sempre acerta na mosca. Patino muito. Eu também gostei. Porém, o mais importante é algo que poderia ser feito para tirar seu Timura das ruas e amenizar não só o dele, mas a aflição de uma imensa legião a perambular pelas ruas de nossas cidades. Iguais a ele vejo muitos e na mesma situação. problemas sociais que precisam contar com a sensibilidade pública (municipal, estadual e federal). Falam horrores de Cuba, mas não vi isso em nenhum lugar nos 20 dias que lá passei. E olha que são bem mais pobres que nós brasileiros e infinitamente mais que os EUA, ambos infestados de problemas sociais.
A percepção das pessoas é interessante. Wellington me fez recordar de uma velha poesia do amigo Vitor Martinello, das melhores de sua lavra. Ontem cedo ligo para dois conhecidos para falar de assuntos variados e em ambos as esposas atendem e me falam terem lido o artigo. E mais, dizem da identificação. Sei que não é só isso, uma identificação momentânea e depois o virar de costas e recomeçar tudo como dantes.
Eu escrevo me sensibilizando com o que vejo. É dessa forma que toco minha vida. Não sei fazer de outro jeito. Obrigado a todos (as).
Henrique - direto do mafuá