sábado, 26 de março de 2011

UM LUGAR POR AÍ (10)

MUSEU DE AVAÍ - ODE A REVERENCIAR O TRABALHO DE VIVALDO PITTA
Precisei pesquisar documentos ontem em Avaí, mas precisamente no Museu Municipal Francisco Pitta. Aquela preciosidade só existe por causa da abnegação de VIVALDO PITTA (filho do Francisco, nome do museu), seu idealizador, criador, incentivador e mantenedor por muitos anos. Hoje, Vivaldo vive uma dramática situação de saúde, estando afastado de tudo e de todos, tentando se recuperar. Atende aos clamores dos que necessitam de seus préstimos, como o fiz, por telefone, sempre solicito e com informações de memória sobre fatos relevantes da história de toda nossa região. Assim com o museu que criou, uma pessoa a ser preservada e melhor entendida.

Anos atrás não possuia o entendimento que possuo hoje sobre sua pessoa e ação. Hoje dou todo valor ao que fez, arrebanhando peças e mais peças, muitas delas férreas, mas não com o intuito, como muitos, de manter algo pessoal, dentro de casa. Pitta viu o acervo ferroviário esvaindo-se no abandono causado pela privatização e juntou boa parte disso. Guardou tudo e concretizou um sonho. O resultado ocorreu com a lei municipal da Prefeitura de Avaí, datada de 20/12/2002, criando o Museu e com a sua inauguração em 15/03/2003. Manteve também até quando consegui o único jornal de um museu brasileiro, O Avaiense, bancado com algum recurso público e o envolvimento de quase todo seu salário como diretor daquele museu. Escrevia de tudo, principalmente da cidade de Avaí e de todas da região. Fonte inesgotável de consulta e pesquisa.

Quem mais faz isso hoje na região com a abnegação de Pitta? Conto nos dedos de uma mão. Pitta não é confuso no que fez juntando tudo no mesmo espaço, como já ouvi por aí, pois foi uma espécie de garantidor de que nada daquilo se perdesse. Alguém com um real preparo museológico poderia prestar um auxílio aquela Prefeitura, dando seu quinhão de contribuição para que aquilo fosse perpetuado, porém sem perder a naturalidade de sua distribuição atual. Faz-se necessário hoje uma catalogação do rico acervo, uma separação por temas, uma exposição não de tudo, mas das peças mais significativas, talvez num local mais arejado, mas o pontapé inicial foi dado com louvor e isso precisa ser reconhecido e enaltecido.

Louvemos essa pessoa enquanto ela consegue resistir bravamente a algo que lhe corrói por dentro. Sua dor não é só a física, a do corpo, sendo também a dos que vêem aquilo tudo e não reconhecem como algo de valor, não dão a devida importância. Vi nas paredes do Museu dois diplomas de reconhecimento pelo trabalho prestado por ele, primeiro um título de Cidadão de Avaí, depois o dado ano passado no III Encontro Ferroviário de Bauru, o do Mérito Ferroviário. Ele merece a ambos, mas precisamos todos os que conhecem e dão valor para o Patrimônio Histórico fazer algo mais, aproveitar esse momento em que ele resiste como pode às adversidades da vida para demonstrar que toda sua luta não foi em vão.

Posso não concordar com algo da sua linha de pensamento, que diverge da minha, mas reconheço nele algo que não possuo e não consegui colocar em ação, ele fez e aconteceu. Ele não desistiu um só momento do seu sonho, lutou contra imensos e resistentes "moinhos de vento", como um verdadeiro Quixote. E só por isso é um bravo guerreiro. Imaginem o que seria de todo esse acervo lá existente se não fosse o trabalho incessante de uma pessoa como ele, com certeza, tudo estaria perdido. Circulo muito por cidades vizinhas, pequenas como Avaí (imaginem a grandiosidade de um museu numa cidade brasileira de 5000 habitantes) e em nenhuma delas algo como esse museu. Ali é um espelho, algo que todos dessas cidades babam de ver e gostariam de ver implantado em suas cidades. Documentos, peças importantes de todas essas cidades estão definitivamente perdidas pelo simples fato de lá não existir alguém com a coragem de fazer de um Vivaldo Pitta.

Da visita de ontem, ressalto uma historinha a demonstrar como Pitta atuou para conseguir o acervo lá existente. O cinema funcionou por lá até meados dos anos 90 e pouco. Quando fechou foi esquecido e uns dez anos depois, museu aberto ele foi fazer uma inspeção no local, subiu uma escada e lá encontrou, no local de projeção, os imensos e pesados projetores, ainda de carvão. Maravilhado, moveu céu e terra para conseguir aquilo para o museu. Tanto fez que hoje as peças são as mais olhadas com curiosidade dentre os visitantes. Noutra, ouço o tom de vitória, algo retumbante pelo museu ter conseguido uma verba específica para encadernar todas as edições do jornal O Avaiense. Valor pequeno, conseguido com intenso trabalho. O alento vem de tomar ciência de um grupo de pessoas dali e de outros locais, denominadas de Amigas do Museu, a reunirem-se com certa periodicidade, lutando pela sua consistência.

Falo dele de peito mais do que estufado, já tivemos rusgas no passado, mas a superamos, pois ele mais do que ninguém lutava não por algo pessoal, mas para que tudo o que lutava fosse perpetuado. Ele conseguiu e hoje, lá naquele museu encontra-se um seu fiel seguidor, José Ricardo Navarro, ainda como responsável, mas seu futuro Diretor, tendo começado a se interessar por essas questões desde praticamente a abertura do museu. Faço várias perguntas a Ricardo, mas a mais significativa, aquela a me calar mais fundo e que publico aqui em negrito é algo que precisa ser seguido e entendido por todos os envolvidos com museus: "O melhor dia para os Museus é nos finais de semana e os feriados, principalmente os prolongados. Nesses o museu bomba. Feriados para nós é uma beleza". A frequência deles é de umas 300 pessoas por mês (ótima pela condição de isolação em que estão) e funcionam de terça a sexta das 8 às 17h e aos sábados, domingos e feriados (todos eles) das 8 às 12h. Entrada gratuita e a localização é simples, adentrem Avaí e perguntem pelo Museu, pois para ali chegar não se faz necessário nenhum mapa. Liguem ainda hoje para 14.32871183.
OBS.: Na foto maior fotos de Vivaldo espalhadas em mesa do museu e na menor, Ricardo, atual responsável por aquele espaço público.

DUAS COISAS DA "CULTURA" DE BAURU: Na primeira, ontem foi aficializada a assinatura do contrato de implantação de DEZ "Pontos de Cultura" pela Secretaria Municipal de Cultura de Bauru, através do atual secretário Elson Reis e do prefeito. Gosto demais dessa parceria entre os governos federal e municipal no incentivo da popularização da cultura popular. Apressar a chegada da verba para viabilizar isso tudo é outra coisa e Elson deve estar empenhado nisso. Louvando um dos projetos, o do amigo LÁZARO CARNEIRO, do Clube da Viola, parabenizo a todos. Por fim, um puxão de orelha cultural. O Museu Histórico Municipal de Bauru fechou suas portas a mais de seis meses (acho que mais) no antigo endereço, na rua Antonio Alves, com acervo transferido provisioriamente para o MIS. Apoiei de início, pois vi ali possibilidade de ser reaberto ampliado num lugar próprio e definitivo. Queria saber o que já foi feito, como e quando ocorrerá a mudança? Aposto que Elson luta para que esse Museu não caia no esquecimento, mas saber de novidades é de ótimo alvitre. É para quando mesmo?

10 comentários:

  1. Meu caro Henrique: valeu sua homenagem ao Vivaldo. Não existe, rigorosamente, ninguém como o Vivaldo Pitta.Convivo com ele e com a família há tempos. Torço, dia e noite, para ele vencer essa luta. A cabeça dele é privilegiada. Digo sempre à ele que ele vai vencer, como já venceu no passado. Abração.
    João Francisco Tidei de Lima

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  2. Enquanto a cultura for vista apenas como perfumaria e não como uma política - ferramenta legítima de transformação, veremos os casos de museus e arquivos fechando suas portas, tomados pela poeira do esquecimento. Política cultural não se trata de um calendário de eventos...mas sim de algo estruturado para valorizar nosso modo de vida - nossa práxis, nossa identidade latino americana ...mas essa é outra história. Cabe agora a prefeitura de Avaí, não deixar que o museu se transforme num mero aglormerado de coisas velhas, descontextualizadas - isso seria um passo para a deterioração e o fim. Vamos ficar de olho...

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  3. Olá Henrique , como vai, tudo bem ?

    Eu gostaria de aproveitar esse momento para lhe dar os parabéns sobre o levantamento histórico que você tem feito na nossa região.

    Sinceramente, é muito bom mesmo !!!!

    Aproveito para agradecer a aula de história que você nos tem dado sempre, e ressaltar que esse material sobre o Sêo Vivaldo Pitta, está muito interessante...

    Abs, Giuliano Tamura

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  4. Henrique, valeu pela lembrança,em breve teremos novidades na tv,na literatura,e aqui no meu museu.um abraço lazaro carneiro

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  5. HENRIQUE,
    o Vivaldo foi meu aluno na década de 50, no noturno do "Ernesto Monte"...
    Merece tudo pelo trabalho.
    "Abracitos".
    MURICY DOMINGUES

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  6. O Pitta é um batalhador. Tivemos muitos embates quando ele ainda era da ativa na RFFSA, mas sempre nos tratamos com respeito. Vem lutando com coragem e determinação para conquistar a vida, e com muita coragem, alegria e empenho edificou o Museu em Avaí.
    Roque Ferreira

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  7. Henrique, a exposição de fotos "Visões mágicas de Bauru" organizada pelo Pitta e aqui do Núcleo da USC, vai estar brevemente no Bauru Shopping. Abracitos, Terezinha Zanlochi

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  8. 22/08/2010 22:25
    Ainda é cedo para partir.
    Em tratamento contra um câncer, Vivaldo Pitta quer viver para realizar mais projetos ligados à memória da ferrovia

    Cristina Camargo
    Agência BOM DIA

    Há dez anos o ferroviário aposentado Vivaldo Pitta teve leucemia e ouviu de dois médicos que morreria em pouco tempo.
    Não acreditou, fez o tratamento, apostou na espiritualidade e sobreviveu.

    “Não morri, montei o museu de Avaí e estou aqui”, comemora.

    Agora, aos 72 anos, enfrenta outro câncer, que atinge próstata e ossos.De novo, resolveu não entregar os pontos.

    “Não posso morrer agora. Preciso viver porque ainda tenho muita coisa para fazer”, avisa.

    Entre os projetos dele está a implantação de um passeio turístico de trem, entre Bauru e Avaí, a cidade onde nasceu e que o inspirou para as pesquisas históricas que sempre realizou de forma apaixonada.

    Vivaldo quer acertar a situação do Museu Municipal de Avaí, formado a partir do acervo dele. Uma das possibilidades é a doação legal do material reunido em sua trajetória de memorialista.

    Ele quer também publicar dois livros, já prontos. Um sobre o passado de Avaí e outro narrando a vida do médico Alberto Salles, morto aos 31 anos, de tifo, e agora invocado em supostas curas espirituais.

    O memorialista é um personagem da história que insiste em preservar, mesmo nem sempre encontrando a valorização necessária.
    Ele trabalhou 33 anos na antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Conheceu a linha de ponta a ponta.

    Começou aos 13 anos. Ainda adolescente, de terno e gravata, substituía os chefes de estações da região em férias e fazia tudo: vendia bilhetes, despachava mercadorias, fazia cobranças e liberava trens. Já era o responsável pela família, porque perdeu o pai cedo.

    “O dinheiro vinha pelo trem, em bolsas de couro, colocadas depois em caixas fortes. “Nunca se falou em assalto”, recorda.
    Depois foi chefe de expediente e trabalhou na fiscalização, o que o levou a percorrer toda a Noroeste.
    Aposentado, assessorou a superintendência e logo começou as pesquisas.

    “A Noroeste foi tudo para Bauru, a cidade cresceu por causa dela”, diz.

    No projeto de trem turístico que ele quer ver sair do papel, um trem partiria de Bauru e iria até a estação de Avaí. Lá, a ideia dele é instalar velhos telégrafos e mostrar aos turistas como eles funcionavam.
    “Quero montar a estação como era antes. É um projeto interessante para toda a região”, defende.


    Acervo particular tem memória valiosa
    Uma das peças que mais chama a atenção no acervo particular de Vivaldo Pitta é um álbum com 700 fotos 3x4 de ex-ferroviários da Noroeste. Ele mostra as imagens e fala sobre a vida de alguns deles. Informa, por exemplo, que em Bauru 150 ruas têm nomes de pessoas que trabalhavam na antiga estrada de ferro.

    O memorialista guarda também telégrafos, telefone antigo, documentos e máquinas fotográficas, que usava para registrar os acidentes de trem, relatados em processos internos.

    “Só escrevo com base em documentos”, informa.

    De 2005 a 2008, manteve com recursos próprios e ajuda da Prefeitura de Avaí o jornal “O Avaiense”, que escrevia e distribuía.

    “Era o jornalista e o jornaleiro”, brinca. “Punha do bolso R$ 1.500 por mês”.

    O jornal era uma forma de compartilhar tudo o que sabe sobre a história da ferrovia e das cidades que cresceram em torno dela.

    Vivaldo é também colecionador de moedas e pintor. O tema preferido de seus quadros é, claro, a ferrovia.
    Já aposentado, viu um pintor trabalhando e concluiu: “É assim que faz? Então também consigo”.

    O TEXTO É DO ANO PASSADO E SAIU NO BOM DIA, ESCRITO POR CRISTINA CAMARGO E VALE A PENA SER LIDO. O DRAMA DE PITTA AUMENTOU, POIS A SAÚDE PIOROU.

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  9. Henrique

    Vamos discutir um pouco a questão do nosso Museu, o Histórico.
    Sua trajetória nem sempre foi algo de muito saudável para uma instituição meuseológica. Primeiro, quando foi criado estava junto aquele prédio onde o DAE mantém uma caixa d'água, confins da cidade. Uma espécie de exílio para tudo e todos. Depois outros locais, culminando com esse último na rua Antonio Alves. Essa última mudança foi uma queda de braço entre alguns que não propunham algo novo, mas resistiam na mudança, pois não queriam ser controlados ou ter a administração municipal da cultura junto a eles. Cederam e foram para junto da Estação da Paulista, onde hoje está também o MIS. A equipe atual do museu, recebe influências de funcionários que não fazem nada para alterar sua atual situação. Parece preferirem fazer política do que atuar e transformá-lo em algo de visual belo, acervo sugestivo e trabalhando muito mais para mostrar um pouco da história da cidade. Fogem disso. Estão escondidos, sem mostrar a cara e ocultos por algo inexplicável. Quem estaria por trás disso e apostando no quanto pior melhor. Não é difícil de descobrir isso. Seria bom todos estarem envolvidos com a transformação do acervo num museu realmente palatável. As transformações no poder público são lentas e chegará o dia em que ele estará num local próprio, amplo e em condições de abrigar todo o atual acervo. Lutar contra os problemas internos, de gente a apostar no insucesso disso é tão urgente quanto sua inauguração. O atualsecretário sabe muito bem disso tudo e acompanha todo o processo de revitalização do Museu Histórico. Aposto nisso e acho que os que não concordam com isso precisam explicar melhor os seus motivos. Desculpe pelo longo texto, mas estou um pouco cansado de gente que joga contra. Combater isso é uma luta de todos os dias. Compreenda isso, algo vivido diariamente por aqui nos bastidores.

    F

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  10. gostaria de agradecer o atendimento que obtive do funcionário e do responsável pelo acervo do museu histórico de Avaí, estive em 26.09.2014, em busca de documentação sobre meus familiares, Antonio Domingos de Oliveira e fiquei encantada com a prontidão que fui atendida.O trabalho do idealizador e realizador do sonho de muitas pessoas que sente saudades dos trens de passeio, especialmente em minha infância, sempre passava minhas férias em casa de meu tio que morava no Horto de Araribá, trabalhava na E.F.Noroeste e nos contava histórias incríveis de seus contatos com os índios tupis guaranis.Encontrei bastante coisa sobre eles, mas ainda existem algumas lacunas a serem preenchidas, que buscarei com amigos de Bauru.Muito obrigada, Deus abençoe e ilumine seus caminhos.Abraço fraterno a todos.

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