quinta-feira, 19 de maio de 2011

OS QUE SOBRARAM E OS QUE FAZEM FALTA (20) e UMA MÚSICA (74)

1.) AFONSINHO, PRECURSOR DO PASSE-LIVRE, OS 35 ANOS DO “TREM DA ALEGRIA” E ALGO COM BAURU
Afonsinho foi um jogador revolucionário na acepção da palavra. Enfrentou a ditadura militar com as armas que possuía, o bom futebol e uma cabeça pensante, sempre a serviço da coletividade. Foi dos primeiros a enfrentarem os tais rigorosos padrões de comportamento dentro de campo, primeiro exibindo uma vasta cabeleira e barba e depois fazendo algo pouco visto hoje em dia, um jogador a defender sua categoria e propor mudanças e alterações para o benefício dos jogadores. Mereceu linda música de Gilberto Gil, seu amigo, o “Meio de Campo”, com um refrão dos mais conhecidos: “Prezado amigo Afonsinho/ Eu continuo aqui mesmo/ Aperfeiçoando o imperfeito/ Dando tempo, dando um jeito/ Desprezando a perfeição/ Que a perfeição é uma meta/ Defendida pelo goleiro/ Que joga na seleção/ E eu não sou Pelé, nem nada/ Se muito for eu sou um Tostão/ Fazer um gol nesta partida não é fácil, meu irmão/ Entrou de bola, e tudo!”. Cliquem no e vejam Gisele Almeida: http://www.youtube.com/watch?v=rUbYbI21k3Y

Esse nosso caro amigo, posso assim dizer (reencontrava sempre ele pelos mais diferentes cantos cariocas), começou jogando bola aqui do lado de Bauru, na vizinha Jaú e depois foi para o Rio de Janeiro, de onde não mais saiu. Formou-se em medicina, onde atua até hoje e além de ser um dos que literalmente atropelou a ditadura militar, é protagonista de outro feito, maquinista do TREM DA ALEGRIA, um time de pelada, desses poucos a sobreviver ao tempo, pois nesse mês está comemorando 35 anos de existência. Mas o que seria esse trem? É a reunião de gente alegre, desenvolta, ex-jogadores, músicos e afins em torno de algo em comum, a bola. Fizeram fama viajando pelo país, de megafone na mão, entoando reuniões de alerta e conscientizando muitos sobre seus direitos.

Fico sabendo da festa ao passar pelo Rio de Janeiro na semana passada e ler n’O Globo, edição de 14/04, na seção “A pelada como ela é”, a matéria MAQUINISTA, relembrando um pouco da trajetória do craque e de suas andanças. Depois dele, vi em Sócrates a continuidade do que fez lá atrás. Hoje em dia, tento forçar a memória, ativo os neurônios e não vislumbro ninguém com tais predicados, tanto dentro como fora de campo. Dizem que hoje não caberia alguém assim, pensando ideologicamente o futebol. Sei não, mas que seria por demais instigante ver alguém com esse pensamento hoje em dia, ah, isso seria algo oxigenador para um esporte vivendo meio que lusco-fusco e dominado por empresários e dirigentes meia-boca. Estive no lançamento do seu livro de memórias (uns dez anos atrás), escrito por um jauense e guardo aqui no mafuá com o maior carinho. Ele é um dos meus ídolos, não só meu, como também do ex-gogador Sócrates e de muitos saudosistas de um futebol que não mais existe.

Ainda dele, levo a página com a matéria para seu primo bauruense, o Fernando, da Livraria Sapiência (Afonso é filho do irmão do pai do Fernando) e juntos recordamos passagens do menino Afonsinho por aqui: “Ele nasceu em Marília e estava sempre em Bauru na casa dos meus pais, ali na rua Julio Prestes, onde meu irmão mora até hoje. Quando chegava era uma festa, me lembro que reuníamos uma turma de garotos e íamos bater bola ali no largo da estação, onde hoje é a Feira do Rolo. Tínhamos por volta de uns 15 anos e nosso jogo era ali mesmo no piso de paralelepípedo. Ele pedia para escolhermos um time com os melhores, ele ficava ao lado dos que ninguém queria no seu time e ganhava o jogo praticamente sozinho. Tenho uma outra história com ele, essa já famoso, voltou certa vez em Jaú e estava lavando seu Mustang defronte a casa de uns amigos, quando passam duas lindas garotas da sociedade local e vendo ele, todo bonitão, já famoso, pedem para ajudar. Afonso olha para mim e deixa a esponja e o sabão na mão delas e saímos juntos para a cidade. Nem deu bola para elas. Ele sempre foi assim, não ligava para a fama e mesmo tendo jogado em Jaú, até hoje seus amigos por lá são as pessoas mais simples, ex-jogadores, ninguém entre os graúdos. Lembro também de sua relação com o ex-jogador Nei Conceição, que estava numa fase ruim, envolvido com drogas. Por todo time que Afonso ia, levava junto o Nei, foi uma espécie de conselheiro dele, o ajudou bastante até resolver sua vida. Ele foi sempre muito humano. Hoje não existem mais jogadores com um pensamento desse jeito”.

2.) OUTRO ABNEGADO, ESSE NAS COMUNICAÇÕES EM BAURU, JOSÉ ESMERALDI:
Recebo deste um e-mail com algo singular, a continuidade de sua luta para manter-se no ar, irradiando o que sabe, gosta e faz bem feito, uma rádio pelos descaminhos internéticos. Esse é, sem sombras de dúvida, um dos que sobraram, aroeira a resistir e insistir. Um que poderia muito bem ser merecedor de uma bela letra de música como a que Gil fez para o craque Afonsinho, afinal, ambos continuam “aperfeiçoando o imperfeito”. Leiam seu relato: “Amigos e amigas, a partir desta 2ª.feira, 16 de maio, aqueles amigos e amigas que nos prestigiam através da internet poderão sintonizar o seguinte endereço de nossa rádio via web: http://www.slfm.webnode.com.br/ . O novo site, com o mesmo layout dos anteriores, conterá como novidade principal a inserção do Blog do Zeraldi onde estaremos comentando as programações e demais assuntos relativos aos meios de comunicação da cidade: jornais, revistas,TV e, principalmente, sobre o rádio, veículo que militamos cerca de 20 anos. O Blog abre a oportunidade de nos manifestarmos sobre curiosidades, fatos e histórias que vivenciamos nesse ambiente “repleto de estrelas” (jamais imaginamos que existissem tantas). Será uma forma de atendermos uma razoável quantidade de amigos e amigas, antigos ouvintes, até porque somos constantemente questionados sobre esse assunto. Não duvidem, temos muitas “historinhas cabeludas” guardadas para contar, tantas que, precavidos, resolvemos antecipar a contratação de excelente advogado de defesa... (risos). Valerá a pena visitar-nos vez ou outra... Finalizando, informamos que neste final de semana o site da Rádio Baú FM foi retirado do ar... Um abraço e bom final de semana a todos! José Esmeraldi”. OBS.: Nessa foto maior, Esmeraldi em ação na extinta (será?) 710 AM, tendo ao fundo um folgadão menino, meu filho, que me acompanha até hoje nas incursões radiofônicas.

5 comentários:

  1. Querido Henrique,
    Mais uma vez muito obrigado pelo carinho da consideração. Qualquer coisa que eu possa escrever aqui irá parecer "bajulação barata" visto os elogios a mim dirigidos, por isso só ratifico meu MUITO OBRIGADO pelas constantes menções à meu nome em seu magnificamente bem elaborado e redigido Mafuá.
    Um grande abraço,
    José Esmeraldi

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  2. Henrique

    Que bela trajetória possui o Afonsinho, um caipira do interior paulista, mais carioca que muitos daqui, pois está sempre a defender as boas coisas dessa terra. Como não leio o Globo e algo assim, como a divulgação dos 35 anos do Trem da Alegria não sai em qualquer lugar, não sabia da data redonda. Então ele ralou os joelhos em campos de paralelepípedo aí de sua Bauru?


    Pascoal

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  3. Henrique - leia isso... Daniel

    Afonsinho: um médico jogando pela saúde mental.
    Por Augusto Morais



    Dr.Afonso Celso
    Fuga do ostracismo e criação de uma nova imagem para os portadores de distúrbios mentais é o lema do trabalho que o médico e ex-jogador de futebol Afonsinho está implantando no Instituto Philippe Pinel, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Rolando a bola de um lado para o outro, os internos estão conhecendo os limites de seu corpo, além de mostrar para todos que a paixão nacional não se restringe apenas aos grandes craques.

    Mais uma vez à frente de seu tempo, o visionário Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho, que no passado foi o primeiro jogador brasileiro a lutar e conquistar o passe livre, agora briga para acabar com o estigma sofrido pelos doentes mentais, que muitas vezes são totalmente excluídos pela sociedade. Agora, 30 anos depois de sua vitória diante do "imperialismo" imposto, segundo ele, pelos grandes dirigentes, o técnico está ajudando os internos do Pinel a provarem que são gente como qualquer outro cidadão.

    O médico está utilizando a sua experiência de anos jogando profissionalmente na posição de armador — hoje conhecido como meio campo — e ensinando futebol, através do projeto do Lar Abrigado, a pessoas em tratamento psiquiátrico no Instituto Philippe Pinel e Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil (IPUB/UFRJ).

    Para Afonsinho, unir técnicas desportivas à medicina é um prazer muito grande, principalmente quando se conseguem bons resultados, como o que está ocorrendo com os seus pacientes-atletas do Pinel. Lá, de acordo com o treinador, o que mais interessa é a participação e a integração do grupo. No entanto, engana-se quem pensa que os participantes desconhecem as regras do esporte. "Aqui todos entendem de futebol. Os que são mais assíduos colaboram com os novatos e tudo acaba bem; o resultado é muito satisfatório", explica.

    Os treinos, que acontecem duas vezes por semana no campus Praia Vermelha da UFRJ, fazem com que os pacientes do centro psiquiátrico rompam as barreira do hospital. A cada ida ao local, os internos se unem em partidas com parentes, amigos, estudantes e a comunidade, que também tiram proveito da atividade. O resultado, segundo o técnico, não poderia ser melhor: há uma confraternização proveitosa entre pessoas diferentes.


    Mas treinar um time com atletas tão distintos não é tarefa nada fácil. Afonsinho explica que é preciso unir pacientes, comunidade, estudantes e quem mais quiser fazer parte da partida de futebol em torno de um único objetivo: o de se realizarem jogos de qualidade em cima das regras já existentes, e fazer do esporte a porta rumo a uma melhor qualidade de vida para todos. "É muito gratificante trabalhar com uma equipe heterogênea e saber que, com o futebol, alguns internos estão podendo voltar ao convívio social", declara.

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  4. grande Henrique, pois é, fica marcada nossa cerveja para o final de semana, muito legal a homenagem aos (meninos), se voçe estivesse em Serra Pelada estaria rico, muito rico, pois descobre preciosidades raras.
    procure sistematizar esses relatos e, pensar em outras possibilidades.abraço

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  5. Lindo esse trabalho do craque Afonsinho. Me emocionei ao ler o relato do dr. Augusto Morais. O desprendimento e dedicação com que o médico Afonsinho trata seus pacientes, procura reintegrá-los à sociedade de uma maneira simples e objetiva, pois o exercício físico cuida do corpo e da alma.
    Belo trabalho, digno de um craque.
    Parabéns ...

    Helena Aquino

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