UMA CARTA (65)
IMPRESCINDÍVEIS FAZEM FALTA, PITTA SE FOI - carta publicada hoje na Tribuna do Leitor, Jornal da Cidade - Bauru SP
Adoro escrever sobre os guerreiros a defender verdadeiramente essa terra. Muitos falam de seus amores, mas da boca para fora, poucos nutrem algo verdadeiramente sólido e sincero, exercendo na prática e no dia-a-dia o que a boca propaga. Um deles se foi na manhã dessa terça, Vivaldo Pitta, ferroviário apaixonado por tudo o que a ferrovia representou na vida de suas cidades, Avaí e Bauru. Foi um abnegado, desses a gastar do próprio bolso para continuar movendo os moinhos de sua paixão.
Convivi com ele por poucos anos e de uma desconfiança inicial, nasceu um respeito imenso, por ter a certificação de no seu fazer não nutrir nenhum sentimento de benefício das benesses do meio ferroviário em ebulição. Pitta vivenciou a ferrovia em todos os seus momentos e no pior deles, a privatização a decretar o seu fenecer, quando todo um patrimônio estava sendo dilapidado, se esvaindo entre os dedos, com muitos levando peças importantes para casa, ornamentando fazendas, salas de estar ou revendendo para colecionadores, ele fez o oposto.
Empenhou uma luta fratricida para angariar tudo o que podia e o fez, dentro do alcance dos seus braços e montou com tudo um museu, o de Avaí. E o fez lá porque aqui já exista um museu ferroviário e lá, sua cidade natal, local onde também encontrou amparo de administradores a concretizarem a realização de seu sonho. O de sua vida.
Minha desconfiança advinha daí. Via Pitta no seu passo ligeiro, objetivos definidos, pouca conversa e muita ação, sempre circulando nos meios férreos, galgando objetos e peças. Nos museus um voraz pesquisador, desses a ser considerado rato de biblioteca, tal a persistência na pesquisa, tudo canalizado para um jornal, um dos únicos de um museu brasileiro. Um memorialista na acepção da palavra. E a fonte de sua pesquisa está à disposição de todos, ofertada gratuitamente. Lá em Avaí no museu muito de uma história pouca conhecida de muitas cidades da região, algo garimpado com sangue, suor e lágrimas em jornais antigos de Bauru, fonte inesgotável de história. Ele sabia disso e sugou esse néctar até não mais poder.
Dentro poucos, um verdadeiro e exemplar “consultor”, desses que se podia perguntar qualquer coisa da história da ferrovia e obter quase sem consulta uma resposta precisa e definitiva. Ele entendia que a história, o arrebanhado ao longo do tempo não podia e nem devia ser comercializado, e sim, exposto, oferecido à comunidade. Nisso foi um exemplo para tantos outros.
Num momento de grande dor e padecimento em minha casa, com minha mãe sofrendo entrevada num hospital, vi Pitta sofrer demais nos últimos tempos e verdadeiramente descansou. Seu nome permanecerá ad eternum, pois fez diferente, mais do que isso, mostrou que é possível ser diferente. Que sirva de exemplo para todos os interessados nessas questões de defesa do patrimônio histórico, para que se apeguem menos no ter e só no fazer.
PS 1.) Na segunda recebo telefonema de William Pitta, filho do seu Vivaldo me comunicando que seu jornal, o CONDOMÍNIOS SA (http://www.jornalcondominiossa.com/ ), de sua propriedade, na edição 18, segunda quinzena de maio, havia feito uma homenagem a Vivaldo e ali estava reproduzido um texto que publiquei aqui no blog, o "MUSEU DE AVAÍ - ODE A REVERENCIAR O TRABALHO DE VIVALDO PITTA". Fiquei lisongeado.Na terça ele falece e pego exemplares do jornal no velório. No velório vou conversar com Gabriel Ruiz Pelegrina, Abel Dias da Silva e Ricardo Bagnato, ficamos a relembrar histórias férreas, todas com Vivaldo. William me conta uma, carregado pela emoção do momento: "Dois dias antes de falacer, tivemos que o deixar só por algumas horas no leito do Hospital Estadual. Sentia dores, queria um atendimento e num descuido deixa cair o instrumento que acionava a enfermaria. Grita por elas e não é ouvido. Pega seu celular e o primeiro fone que lembra é o 190. Liga para a Polícia e diz que eles não precisariam vir até onde ele estava, era só avisar as moças do atendimento do hospital para virem até seu leito, pois precisava de atendimento urgente. E assim foi feito". Em tempo: Divirjo do pensamento político de Pitta, "cada um no seu quadrado", mas estamos no mesmo barco no pensamento sobre o despreendimento na condução histórica de algo a ser preservado.
PS 2.) Já que escrevo de um imprescindível, cito outro e também com louvor. O jornalista Juca Kfouri em sua coluna publica essa nota (repassada a mim pelo amigo Marcos Paulo): "Dr Sócrates conversou com um representante do governo cubano que deseja vê-lo na seleção de futebol do país. Falei com o Magrão. Ele mostrou interesse em trabalhar lá. Nas próximas semanas vão discutir o assunto. O ex-craque de Corinthians, Fiorentina, Flamengo e Santos não sabe se a idéia é ajudar a organizar a seleção ou até ser o treinador dela. Na contramão de quase todos os jogadores e ex-atletas de futebol, ele me disse que só tem uma exigência. “Quero ganhar como qualquer trabalhador cubano. Não aceito ser diferente”. Quem senão alguém realmente diferenciado e despreendido de valores do ter, mas sim do ser, faria e colocaria em prática algo assim. Desses dois citados aqui, espero isso.
Gente como Pitta é cada vez mais raro. Também estive no velório e conversei também o professor Gabriel Pelegrina, outra rara pessoa. Contou a todos belas histórias, frutos de uma rara memória.
ResponderExcluirUm abraço
João Francisco
Título da Matéria: Vivaldo Pitta
ResponderExcluirComentário: Grata pelo texto sobre Vivaldo Pitta, meu irmão, por quem tinha um grande carinho e admiração. Sua homenagem nos sensibilizou e não poderia silenciar diante de um texto como o seu. Mais uma vez os nossos agradecimentos e meu abraço sincero
Neiva Pitta Kadota
Esse email foi encaminhado ao JC e enviado a mim por e-mail. Reproduzo aqui.
Olha que bonito o comentário da Neiva no site do BOM DIA:
ResponderExcluir"Vivaldo Pitta, meu irmão, será sempre por nós lembrado pelos seus valores, pela sua integridade moral e pelo carinho dedicado à família e aos amigos. Em seu sepultamento, às dez horas da manhã, até o acaso o homenageou. Nesse mesmo momento, um trem, cuja linha passa ao lado, apitou e por longos minutos deslizou suavemente sua composição, como ele sempre desejou. Todos nos surpreendemos, o que me fez pensar que Guimarães Rosa estava certo ao afirmar que "As pessoas nâo morrem, elas ficam encantadas."
Socialista, Sócrates recebe convite de Cuba e quer salário de trabalhador comum
ResponderExcluirpor ESPN.com.br
Um dos maiores jogadores da história do Corinthians e do futebol brasileiro, o ex-craque Sócrates pode voltar a exercer uma função dentro das quatro linhas. Ou melhor, fora delas, mais precisamente no banco de reservas. Ele foi convidado para trabalhar na seleção de Cuba, país pelo qual nutre simpatia histórica e ideológica.
Socialista convicto, Sócrates, de 57 anos, jamais escondeu a admiração e o alinhamento ideológico com Cuba e seu ex-presidente, Fidel Castro. Um dos filhos do ex-jogador foi batizado com o nome do líder cubano, que comandou a ilha até 2006 e transferiu o poder a seu irmão, Raúl Castro.
“No que eu puder ajudar, eu vou ajudar”, disse o ex-craque ao jornal. “Cuba terminou a última eliminatória sem perder. Foi desclassificada, mas saiu invicta”, defende o possível futuro treinador da seleção caribenha. “O futebol nunca foi o esporte predileto deles. Talvez isso explique seu fraco desempenho.”
Sócrates ainda afirmou que a possibilidade de ir para Cuba foi levada a ele por alguns amigos próximos, que o colocarão em contato direto com a diplomacia do país. Ele só tem uma exigência: quer receber o mesmo salário pago a qualquer trabalhador.
“Disso eu não abro mão. Tenho que me sentir como um cubano, receber a mesma cesta básica, as mesmas coisas que eles têm lá, que não é pouca coisa, não”, defende o socialista.
Em entrevistas anteriores sobre Cuba, Sócrates já declarou que o país é o “símbolo de um sonho” de igualdade entre os cidadãos e oportunidades. Ainda nos tempos de jogador, Sócrates foi um dos líderes do movimento denominado Democracia Corintiana, nos anos 1980, e sempre se engajou em causas políticas e nunca escondeu suas posições.
Camarada Insurgente Marcos Paulo "Stalin III"
Movimento Comunismo em Ação - A RETOMADA