FRASES DE UM LIVRO LIDO (52)
UMA FORMA BEM ESPECÍFICA DE VIAJAR, CONHECER LUGARES E PESSOAS
Hoje fiz uma coisa e a relato aqui. Comprei um livro de presente para Ana Bia, mas não vou entregá-lo de imediato e o motivo é somente um: preciso ler antes. Trata-se do “Terra, Mar e Ar – Peripécias de dois turistas Culturais”, do casal Ruy Castro e Heloísa Seixas (Cia das Letras SP, 1º edição, 2011, 216 páginas). Escrevo hoje, 16/09 e daqui para frente vou anotar as frases que mais gostei. No exato dia em que terminar, publico no blog, faço uma dedicatória e o entrego. Veremos quanto tempo demoro nessa empreitada. O tema é instigante. Em 2007 fui com o Marcão para Buenos Aires só para ver Chavéz num discurso no Ferrocarril, esse ano novamente por lá visitei o Página 12, Madres Praça Maio, Urquiza FM, livros na Avenida Corrientes, etc. Isso sem falar em 2008 na visita à Cuba. E nas idas ao Rio só para percorrer os caminhos dos sebos. O interesse que tive nesse livro foi por sempre ter agido assim e acredito que, para mim as viagens só tem sentido dessa forma. Não faço turismo, quando vou para algum lugar, traço planos de vasculhar algo existente por lá, exatamente o que o casal Castro e Seixas fazem. E não é lindo isso? Vamos às frases:
- “Acordar numa cidade que não a nossa é sempre uma experiência e, não importa de onde você venha, acordar em Veneza é uma experiência difícil de superar”, pág. 11.
- “...são 70 mil turistas por dia em Veneza, para engrossar uma população residente de apenas 270 mil. (...) sob o peso desses exércitos que marcham de tênis e botas sobre ela, não admira que a cidade esteja afundando”, págs. 12 e 13.
- “Mas, o que é ver tudo em Veneza e, mais ainda, em 6 ou 8 horas? (...) É uma façanha, considerando que escritores como Goethe, Mark Twain, Proust. Hemingway, Ezra Pound e Mary McCarthy passaram um bocado de tempo nela, nos séculos XVIII, XIX e XX, e não viram tudo”, pág. 13.
- “...alguma coisa, nos tetos e paredes do Rezzonico, faz com que, ao passar por aqueles espelhos e se ver refletido de tênis, jeans e camiseta, você se pergunte, como eu fiz, se não estará mais bem vestido para um rodeio em Barretos do que para um bordejo em Veneza”, pág. 14.
- “Não gosto muito de cidades modernas – tenho um certo trauma de Brasília”, pág. 17.
- “Mas Berlim, como o Gabinete do Dr Caligari, é assim: nada é o que parece ser”, pág. 19.
- “A frase deliciosamente machista, passou pela minha cabeça outro dia durante uma viagem à Itália. Não a frase em si, mas uma adaptação, que seria assim: ‘Italiano não liga para antiguidade. É que nem nós cariocas com paisagem’. Nos dois casos, porque as temos demais”, pág. 44.
- “Numa cidade em que as línguas mais faladas são, pela ordem, espanhol, spanglish e inglês, falar em português talvez seja mesmo chique – mais isso só porque o querido Bobby Short nunca o ouviu falado por José Sarney” (sobre Nova York), pág. 57.
- “Você já esteve, muitas vezes por toda Manhattan, conhece cada buraco e é íntimo das suas íntimas bruebas – mesmo que nunca tenha ido lá. Sua passagem foi o ingresso do cinema; neste estava incluída a hospedagem; e o tempo de vôo foi um imperceptível clique que jogou a sala no escurinho, prateou a tela e iluminou sua vida”, pág. 66.
- “Quando temos alguma viagem em vista, tentamos ver filmes que se passam nas cidades que vamos visitar, ou que tenham alguma relação com ela”, pág. 81.
- “Apesar da exagerada fama de grosseria dos parisienses, os franceses continuam a ser um dos povos mais formais do mundo. Isso foi uma coisa que a Revolução, com todo o blá-blá-blá pelo fim das hierarquias e privilégios, não liquidou”, pág. 99.
- “Viver nababescamente faz parte do emprego de rei em qualquer parte, e há vários reis vivendo assim até hoje, em países em que a monarquia não corre o menor risco”, pág. 107.
- “O irônico é que se vivesse ali hoje, Robespierre, que gostava de se tratar, teria como vizinhos Louis Féraud (roupas), Longchamps (malas), Cartier (perfumes), Lacoste (toda a linha do jacaré) e outras griffes cujas Maison tornam a rue Saint-Honoré muito mais um cenário de revista Vogue do que um ninho de revolucionários de 1789”, pág. 116.
- “Quem se defronta com um prédio, paisagem ou obra de arte depois de tê-la visto muitas vezes estampada em livros tem um estremecimento”, pág. 126.
- “O metrô de Moscou é seguramente o mais deslumbrante do mundo. E, para quem pensa que seu luxo é remanescente da Rússia czarista, uma informação: ele foi construído nos anos 30. Stálin queria que as estações de metrô parecessem palácios (seriam os palácios do povo). E conseguiu”, pág. 131.
- “Eu não moro no Rio. Eu namoro o Rio, disse certa vez Tom Jobim. (...) desde 1808, quando o príncipe regente d. João surgia no meio da rua ou o imperador d. Pedro podia ser visto a desoras entrando numa casa da rua do Lavradio, o povo do Rio acostumou-se a roçar cotovelos com os poderosos – e a não levá-los muito a sério”, pág. 154.
- “Esse é um dos grandes charmes do Rio: reduzir qualquer pessoa, por mais cheia de vento, a si mesma. Não importa quão momentaneamente em voga, ninguém consegue se sentir importante demais diante de tanta beleza. (...) No Rio, o simples fato de saber que a História não nos esperou para começar é suficiente para nos por no nosso devido lugar”, pág. 155.
- “Além do show da natureza, há também um espetáculo humano a se apreciar no Rio e que parece resistir a todas as modernidades. Um exemplo: provavelmente nenhuma outra praia do mundo tem idosos tão saudáveis e bronzeados como Copacabana”, pág. 158.
- “Na volta ao Rio, sempre que possível venho de janela, poltrona A ou F, longe de asa. E, todas as vezes, de dia ou de noite, ali pela altura do trigésimo minuto de vôo ponho-me em alerta. Lá embaixo, a partir da baia de Marambaia, vai começar o espetáculo que, quanto mais visto e amado, mais me deixa de boca aberta. E, depois de cinco minutos de deslumbramento olhando lá de cima – ilhas, praias, montanhas, barcos, o porto -, chego à cidade que, todo prosa, me habituei a chamar de minha, mas que, na verdade tenho de repartir (o que faço com orgulho) com todos os brasileiros”, pág. 160.
- “Coisa boa é fazer turismo sem sair da própria cidade. É perfeito para quem mora em um lugar onde muitos gostariam de passar as férias. Andamos pelas ruas do Rio com alma de turistas”, pág. 163.
- “...já superei a mania de restaurantes de nariz empinado, principalmente se estiverem na moda. Da mesma forma, não espero mais em filas de restaurantes – tenho medo de morrer de velhice numa delas – e muito menos naqueles a que se vai para ver e ser visto. Restaurante bom é aquele em que a comida é saborosa, a que se pode ir a pé, em que os garçons nos dão um tapinha na barriga e chamam pelo nome e o chef – digo, cozinheiro – aceita fazer algumas alterações no prato para acomodar o seu paladar. (...) E que seja freqüentado por pessoas como você e eu, que não estamos ligando para ninguém, e não por colunáveis a fim de exibir o último modelito. (...) Prefiro os restaurantes que se possa ir de bermudas, sem prejuízo de quem quiser ir a rigor. (...) Há restaurantes cujo forte não é a comida, mas a clientela. E, embora algumas clientes sejam altamente comestíveis, prefiro dar um tchauzinho de longe e entrar, feliz, no botequim mais próximo”, págs. 182 e 183
- “Botequim, você sabe, é um lugar perto de sua casa, a que se vai para berber, comer e conversar fiado, em pé ou sentado, calçado ou desclaço, vestido ou moderadamente pelado, exigindo-se uma mistura equitativa de homens e mulheres, bacanas e vadios, sóbrios e bebuns. Pelo menos essa é a receita do botequim carioca – o autêntico berço da baixa gastronomia mundial”, pág. 183.
- “Os esnobes podem torcer o nariz, mas além de instigante, tem antecedentes ilustres. Alguns dos momentos mais decisivos da História aconteceram no que hoje poderíamos chamar de botequim. O cristianismo, veja só, nasceu ao redor de uma mesa, em Jerusalém, com treze homens bebendo vinho, mastigando uns pedaços de pão e fazendo planos para os 2 mil anos seguintes”, pág. 184.
OBS.: Nessa semana fiquei no Rio de domingo, 18/09 a 22/09 (trabalho, trabalho e trabalho) e tenho histórias vividas ao lado de pessoas das mais queridas e revendo lugares indescritíveis. Não via a cara de praia. Nunca fui lá para isso. Conto um pouco aqui nos próximos dias.
Hum... Um livro que não fica incentivando viagens para Miami, Disney, acredito que as madames não vão gostar nem um pouco, pois gostam mesmo é de voltar com as malas mostrando os adesivos dos santuários de compras.
ResponderExcluirUm belo tema. Vou ver se acho por aqui.
Silvio - Jaú
Odeio restaurantes que não aceitam uma modificaçãozinha sequer no seu cardápio. E gosto também de ir de bermudas e chinelos de dedo a esses lugares.
ResponderExcluirPaulo Lima
amor da minha vida
ResponderExcluirtenho a certeza de que já somos e continuaremos a ser masi um casal de viajantes terramarear. em qualquer lugar deste planeta - ou mesmo de outros - sempre dando tudo certo ao nosso modo, e sendo felizes que é muito do que importa nesta vida. beijo da ana bia