MEMÓRIA ORAL (109)
QUATRO ESCUDEIROS NÃO SE RENDEM NA SITIADA AGUDOS
Na imprensa a divulgação de um grandioso "Rodeio das Estrelas" em Agudos, 40 mil habitantes e tendo comemorado 113 anos no mês de agosto passado. De 14 a 18 de setembro, com entrada franca, show todos os dias, muita propaganda, patrocínio explícito da Prefeitura Municipal e algo na contramão disso tudo, o evento está ocorrendo dentro da área urbana da cidade e isso fere a legislação. Uma pessoa conhecida por outras ações na cidade, Elias Brandão, 50 anos, pertencente à ONG Naturae Vitae, aciona a justiça tentando impedir a realização da festança e aguarda ansioso o julgamento do mérito. Para se inteirar dos fatos o procuro para saber dos motivos de tanto envolvimento com as questões da cidadania naquela cidade, sendo o mesmo morador de Bauru, cidade distante 14 km. Sua resposta é um convite para se debruçar sobre algo ainda pouco conhecido da vida de uma aparente pacata cidade interiorana: “Quer ir comigo lá e conhecer outro lado de Agudos? Tudo lá gira em torno de somente uma pessoa, espécie de dono. Te apresento a algumas pessoas e você se surpreenderá”.
Convite aceito, aportamos na tarde de quarta, 14/09, primeiro no Salão Alternativo, o mais movimentado salão de cabeleireiro masculino da cidade, comandado por Enoque Antonio de Morais, 61 e há quase vinte anos na cidade. Ali um dos pontos de encontro dos descontentes com a atual situação política do município. “Agudos vivia um vácuo político. Tivemos o governo do Marcos PT, depois Afonso Conde PSDB e finalmente o Carlão Octaviani, eleito pelo PMDB em 2000, que chegou e com seu jeito mandão, populista, ficou e não quer mais sair do poder. Dois mandatos e não podendo mais ser eleito, hoje o sobrinho Everton, 23 anos é o prefeito. Chegou a se impor com um cargo criado por ele, o de Gerente da Cidade”, conta Enoque enquanto corta o cabelo de um cliente.
Nisso somos interrompidos por Elias, querendo contar algo: “Um moço daqui, o Ronaldo me encontra em Bauru e diz: ‘Você é o Brandão?’. Conta a história toda, pede minha ajuda e me convence a conhecer o Carlão. O encontro sentado na mesa do prefeito e com os pés em cima dela, digo que quem deve estar lá é o prefeito e saio dali decidido, só a Justiça para dar cabo numa situação dessas. O processo foi montado, ele perdeu o cargo, mas em seguida assume como Secretário de Obras. Pouca coisa mudou”. Enoque pára o corte e dá uma cutucada: “O agudense é conhecido como boca amarela, pois chupava muito manga e hoje esse boca amarela, depois de ter transformado nossa cidade num local sitiado, quer ser prefeito de Bauru. Todas as secretarias daqui batem continência para ele, virou o único comprador da Prefeitura, tudo passa pelas suas mãos. Imaginem isso em Bauru”.
Pergunto a ele se tem problemas por ser oposição. “As pessoas não deixam de vir aqui por eu ser oposição. No começo cheguei a acreditar que Carlão, por ser jovem, impetuoso, faria alguma coisa. Depois vi que não era nada disso. Nunca tivemos tanto a omissão das pessoas e tanta vigilância em cima de todos, estamos vivendo no limite”. Quem não se segura e entra na conversa é João Lucio Balduzzi Pereira, 49 anos, quase dois metros de altura, forte no corpanzil e na fala dura: “O município não comporta mais tantos cargos de confiança. Nem vereador consegue a relação desses cargos. Toda obra por aqui, por mais curta que seja, demora no mínimo uns três anos. Em nenhuma placa tem a informação do valor das obras, tudo oculto e se for consultar no site, lá um vazio”. Enoque confirma: “Foram vários anos para terminar um simples sanitário da praça e a biblioteca até hoje funciona em imóvel alugado, tudo defasado”.
Os três diante de mim iniciam uma longa explanação de fatos meio que surreais ali repetidos com uma freqüência de assustar até assombração. João é o mais exaltado: “Tudo leva a crer que a população de Agudos está sob uma dinastia política escolástica e de uma ditadura religiosa. Usam a religião para tudo, fingem-se de. Enquanto os astros do cosmos giram, aqui estamos vendo a banda passar e nada fazemos. Queremos nos livrar disso. Aqui é praticado um subterfúgio na prática do nepotismo, o feito de forma cruzada”. Enoque é quem explica: “A Câmara contrata o primo do prefeito e o prefeito contrata o filho do ex-presidente da Câmara. Atinge-se desde o 1º, 2° até o 3º graus. Não pense que as brigas com a CPFL e a Sabesp são de verdade, tudo efeito de mídia. E nem espaço para fazer denúncias temos, pois no jornal e a rádio daqui só podem ser publicadas coisas falando bem deles”. Para dar o arremate final, João fica no meio do salão e diz com emoção: “Uma cidade sem oposição é uma cidade sem vida, é como uma casa que não tem goteira. Por aqui, onde está indo a maioria está indo junto a mentira”.
Elias me puxa pelo braço e quer que vá ver o local onde está para ocorrer o Rodeio e João diz que logo ali pertinho uma área de preservação com sinais evidentes de devastação, com árvores arrancadas, máquina limpando tudo e um preparo para a chegada da especulação imobiliária. Circulamos pelos dois locais, tiramos muitas fotos e Elias diz que se encarregará de novas denúncias da devastação do meio-ambiente, enquanto João continua abrindo o bico: “Agudos se tornou o paraíso dos políticos forasteiros, que chegam aqui com algum poder aquisitivo e logo se elegem e ao mesmo tempo quer exportar um itinerante prefeito. Nem carnavais têm mais e por determinação dos escolásticos igrejeiros. Era uma tradição na cidade e hoje não mais permitido, assim como o desfile de Sete de Setembro. Algumas pessoas querem brilhar mais que o sol, ficam criando fatos 24h por dia, inclusive o Rei Sol que quer brilhar no sol de Bauru”.
De lá damos uma passada na casa de Ronaldo Cesar Barbosa de Matos, 39 anos, morador do Jardim Márcia II e há pouco mais de oito anos na cidade. Ficou conhecido pelo fato do ex-prefeito ter exposto no ar de uma TV em Bauru o seu endereço, acusando-o de ser o culpado pelo atravancamento da Saúde Municipal. “Ele citou meu nome e de minha esposa como se quiséssemos acabar com a Saúde do município, quando o que fizemos foi denunciar irregularidades. Precisava de um exame, me enrolaram e depois me passaram que o preço era R$ 200 reais no particular, sendo que eu pagaria a metade e a Prefeitura a outra. A minha metade, paga em cheque foi depositada numa conta particular e a nota emitida em valor integral para a Prefeitura. Denunciei tudo mesmo, isso é exercício de cidadania. Cada vez mais me certifico de que Agudos é hoje uma cidade sitiada, onde tudo se sabe. Quando percebo estar sendo seguido, saio do carro e aceno, deixo claro que percebo tudo. Eles não aceitam ninguém contrariando seus interesses”.
Ronaldo veio da Grande São Paulo, por recomendação médica, necessitando de clima mais ameno, parentes em Agudos escolheu a cidade. “Se aqui, 350 km de São Paulo é assim, imaginem no Maranhão. Isso aqui daria uma novela, do tipo Cordel do Fogo Encantado. Tem uma grande família aqui, a Kuninari, quase 120 anos, geração para geração, formou um império, com mercados, lojas variadas, materiais de construção, tudo aos poucos. Já os que estão no poder hoje, em menos de vinte anos já possuem um império igual ou até maior. Como pode? E se for ver, tudo espalhado no nome de muitos da família, mas como esses conseguem sem renda para tanto?”, são questionamentos que vão se juntando aos de todos.
Reunidos numa roda final, Enoque diz: “Pelo meu salão circulam três ex-prefeitos, o lugar não é chique, mas aqui tem conversa lógica, bonita, transparente, real. Veja as mensagens que os amigos vão fixando aqui. Eu falo o que estou vendo”. João segue na mesma linha: “Os outros precisam tomar conhecimento do que se passa de verdade aqui no município. Até quando vai se tapar o sol com a peneira? E quando voltarem, nos avisem, para que acompanhemos todos, pois de vez em quando o bicho pega por aqui”. Ronaldo prossegue: “Exercer a cidadania por aqui é algo mal visto. E o povo tem culpa disso, pois faz vista grossa. Sabe de tudo, mas tem medo, receio de se indispor. O que a gente pede é o cumprimento da Constituição, só isso, mas nem isso pode por aqui”. Todos se voltam para o Elias e ele dá o arremate final: “De cada vinte ações correndo na Justiça da cidade, mais da metade são desse quarteto. Nós não temos medo, mostramos, apontamos, juntamos material e colocamos o bloco na rua. E mais, não temos intenção nenhuma de parar, pois temos muito mais o que fazer para devolver a dignidade para Agudos”. E ao deixarmos a cidade, eu e Elias escutamos fogos no ar, esses os sinais de que o rodeio está prestes a começar.
Em tempo: Esses quatro e mais alguns outros, me fizeram prometer voltar e continuar relatando mais algumas escabrosas histórias agudenses. É o que farei muito em breve.
No JC de hoje, a decisão judicial:
ResponderExcluirHenrique - direto do mafuá
15/09/11 00:45 - Regional
Justiça nega liminar para brecar rodeio
Entidade entra com ação civil na tentativa de suspender a realização de evento em Agudos, iniciado ontem à noite
Da Redação
Agudos – O juiz Adilson Aparecido Rodrigues Cruz negou a concessão de liminar (decisão provisória) para suspender o Rodeio das Estrelas que se iniciou ontem em Agudos (13 quilômetros de Bauru). A Naturae Vitae - Sociedade de Proteção Animal e Ambiental - ajuizou ação civil pública com pedido de liminar contra a prefeitura de Agudos por ter autorizado a realização do rodeio na área urbana residencial.
A entidade alega que os animais serão levados para dentro do bairro residencial, o que contraria o Código Sanitário do Estado de São Paulo, além de provocar excesso de ruído incomodando moradores e maus tratos físicos e psicológicos aos animais.
“E nesse quadro de caos, em benefício apenas e tão somente de um grupo econômico. Se permite que animais sejam levados para dentro de um bairro residencial levando consigo toda uma sorte de zoonoses. Ressalte-se que todos os animais são naturalmente hospedeiros dos Rhipicephalus sanguineus, vulgarmente conhecidos como carrapatos, e estes mesmos carrapatos são transmissores de várias doenças (muita vezes fatais) aos seres humanos, dentre as mais comuns podemos citar a babesiose canina, a erliquiose canina, a doença de Lyme e febre maculosa”, aponta a entidade na ação.
O promotor de Justiça Luiz Eduardo Sciuli de Castro deu parecer contrário a concessão da liminar para brecar o rodeio. De acordo com ele, a entidade não trouxe informação concreta nos autos sobre os possíveis problemas de saúde pública.
Sobre maus tratos aos animais, o promotor afirma que a entidade aborda muito sutilmente, mas há ações em Bauru em que há discussão jurídica sobre a legalidade dessas leis. O juiz rejeitou a liminar e extinguiu o processo. Ele concordou que não há qualquer fato concreto de dano ao meio ambiente, à saúde pública ou aos maus tratos aos animais como a entidade alegou. A sentença cabe recurso
enrique - Bom dia. Parabens pelo texto, pelo conteúdo e pela coragem. Isaias
ResponderExcluirPau na jaca, Henrique.
ResponderExcluirConheço eles todos e sei da luta deles aqui junto a minha querida Agudos.
Precisamos restabelecer a ordem e a dignidade na cidade.
Até quando a Justiça vai fazer vista grossa para um amontoado de coisas inesplicáveis que acontecem por aqui? Sim, é verdade, a cidade tem medo. Tá cheio de segurança da Prefeitura espalhado e nos vigiando. Viramos todos suspeitos.
Não pare por aí, que espalharemos isso que o sr está escrevendo.
Agudos está precisando de gente corajosa
e esses qued tiveram a coragem de por a cara para bater estão de parabéns, pois provaram que gostam mesmo da cidade e lutam por dias melhores.
Sônia
QUERO ME DIRIGIR A TODOS:
ResponderExcluirHENRIQUE, ENOQUE, JOÃO, RONALDO E O ADVOGADO ELIAS BRANDÃO - Não esperem por comentários de ninguém de Agudos por aqui, TEMOS MEDO. Seu texto está correndo de mão em mão, mas serão pouco, mas poucos mesmo os que terão coragem, como voces fizeram de por a cara para bater. Dou os parabéns e peço para continuarem escrevendo sobre as atrociodades que acontecem aqui em Sucupira. Esse nome, Sucupira é depois que esse pessoal começou a administrar a cidade. Viramos motivo de chacota e tema para novela.
Márcia - Agudos
Li hoje na Tribuna leitor do Jornal Cidade algo que me fez lembrar do queescreveu aqui. Leia:
ResponderExcluir19/09/2011
Agudos me mata de inveja!
Em contato com protetoras de animais da simpática cidade vizinha, verificamos as brutais diferenças existentes entre as administrações. O prefeito de lá não é ambientalista, porém, destina verba para castração dos animais, proporciona espaço para alojamento transitório, vai chipar os animais da cidade e, o principal de tudo, é acessível para conversar com a comunidade interessada em prestar serviços voluntários. Não é para nos matar de inveja?!
Maria Dolores Barbosa Gómez - União Internacional Protetora dos Animais Seção Bauru
Essa mulher não conhece a verdadeira face de bom mocinho do administrador de Agudos. A cidade está pondo abaixo uma imensa área verde, praticamente dentro da cidade, sem consulyar ninguém, só para atender os interesses da especulação imobiliária. Eles não estão nem aí para interesses ecológicos e muito menos dos animais. Quer conhecer melhor Agudos vá lá e pergunte nas ruas.
Leandro da Ponte