AMIGOS DO PEITO (60)
A SAGA PARA TENTAR REPRESENTAR DIGNAMENTE O POETA BRANDÃO NO RIO
Na última sexta, 28/10, no Rio de Janeiro num dos salões da Academia Brasileira de Letras, uma homenagem a um bauruense (ele é de Dois Córregos, mas vive por aqui desde os tempos da Lalai na Batista), o professor e poeta JOSÉ CARLOS MENDES BRANDÃO. O motivo é salutar. Brandão concorreu no “Concurso Internacional de Literatura”, promovido anualmente pela UBE - União Brasileira de Escritores na categoria POESIA, Prêmio Jorge de Lima e conquistou o segundo lugar com o livro ainda inédito “LIVRO DOS BICHOS”. A premiação é só a honraria de receber um diploma, ao vivo e a cores num dos auditórios mais charmosos da ex-Capital Federal, o do teatro Raimundo Magalhães Jr, na avenida presidente Wilson 203, centro do Rio.
A premiação abrange várias categorias, como de Crônicas, Romance, Poesia, Teatro, Contos, Literatura Infantil e Ensaios. O “Livro dos Bichos” compõe-se de 46 poemas, todos sobre bichos - o gato, o cavalo, o elefante, a tartaruga, etc. Reproduzo duas inéditas poesias do nosso poeta para sentirem a grandiosidade de sua veia criativa: “O UIRAPURU - O uirapuru é pássaro esquisito,/ por exilar-se no seu próprio canto./ O seu vôo com as árvores confunde-se,/ o canto é o que fica do que passa./ Esse pássaro, como o conhecemos,/ a sua imagem rara, quase mítica,/ nasce do canto e perde-se no canto/ e é memória do canto nunca findo./ O uirapuru disfarça-se de flor,/ com pétalas douradas e uma estrela/ no cinzento das costas, um sol lírico,/ em sua concha cria a luz da dor./ O uirapuru se inclina para o rio:/ é a pérola oculta na paisagem/ e embala o silêncio da prata d’água,/ fechando e abrindo o dia com seu canto” e “O MACACO - A morte das estrelas fez nascer/ o meu corpo, as montanhas, os oceanos./ A explosão das estrelas espalhou/ as entranhas no espaço sideral/ e criou o sistema solar e este/ macaco que questiona a sua origem./ Sou um resto de estrela com consciência./ O cosmo nasce da explosão do tempo./ Serei a conseqüência inevitável/ de uma lei natural? Um acidente?/ Sou ou não necessário ao universo?/ Posso apenas medir? Existe um plano?/ Somos feitos do cosmo e estamos nele./ A ciência busca Deus, concreto, físico./ Antes do tempo, Deus guarda a existência/ e de mim mesmo sou um ancestral”.
Agora o fato hilário que me fez escrevinhar isso tudo. Como estaria no Rio e Brandão comunicado em cima da hora não poderia viajar, pediu para que, se pudesse, o representasse. Fiz o que pude, dei meus pulos, corri e lá estava na hora aprazada. Olhei para os lados e me vi num mundo estranho, pois de camiseta de gola, calça esportiva, sacolas nas mãos e tênis no pé, tudo diante de uma platéia toda de terno, social e perfumada, além da presença de alguns imortais. Pensei até em tentar emprestar um paletó de um fotógrafo, mas inibido, não levei a idéia adiante. Declinei de subir ao palco e não trouxe o diploma do Brandão, que o conseguirá via Correios. Se o fizesse seria o motivo dos fuxicos no salão e isso também muito me aprazariam, mas não dizia respeito só a mim e sim, a Brandão, um resoluto e impoluto senhor, que teria assim manchada sua ilibada ficha de poeta sem máculas. Curti como pude aquela pompa toda e depois voltei à normalidade da vida, não sem antes presenciar exposições lá realizadas, casa de Machado de Assis, um dos romancistas que mais gosto.
Quando comunico via e-mail o fato ao poeta, elegante como sempre soube ser, na exatidão do termo, me envia como resposta: “Henrique, estava deixando para lhe agradecer pessoalmente, mas vou viajar - perto, Termas de Ibirá, mas não o verei nos próximos dias. Muito obrigado por pelo menos tentar me representar na ABL - e me desculpe, uma sessão solene é sempre uma forma de querer justificar o evento com "pompa e circunstância". Não é para a nossa simplicidade. Quer dizer, até podemos imitar os pavões, mas, como costuma acontecer e aconteceu no seu caso, há compromissos pessoais que seriam comprometidos. Então, agradeço-lhe mais uma vez. Um abraço amigo. Brandão”.
OBS.: Somente as três últimas fotos, tiradas por mim, são do evento no Rio, as demais ilustram o escrito, como a do próprio poeta, clicada no dia do lançamento do último livro do também poeta nativo, Luis Vitor Martinello, no Automóvel Clube.
"Henrique, espero voce dia 12 de novembro ou 19 de novembro, 21 horas, na CC Celina Neves, dois grandes textos: Ä Raiz do Grito" e "Fica Comigo doce como a chuva"...
ResponderExcluirMe ajude a divulgar, por favor! ( rua gerson frança 6-66) obrigado, grande amigo!"
abração no Brandão
Paulo Neves
Caro Henrique - grato pelo texto do poeta Brandão. Uma das vantagens de envelhecer e esta de conhecer e lembrar dos amigos, como outro dia falou do Arcôncio. Hoje fala do Brandão, aliás, Professor Brandão com o qual tive a honra e o prazer de trabalhar no velho e sempre lembrado "MORAES PACHECO". Era muito querido dos alunos. A escola deveria tê-lo homenageado de forma condigna. Modesto,cumpriu sua missão de educador. Fico feliz em saber que ele continua produzindo e já abiscoitou vários prêmios e honrarias. Um abraço - Isaias Daibem
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