segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (159 e 160) e ALFINETADA (94)

SER, FAZER E ACONTECER – texto publicado diário bauruense BOM DIA em 21/01/2012
Repudio qualquer pessoa que ao assumir um cargo público faz corpo mole ou até mesmo “deixe a vida lhe levar”, sem esboçar esforços para fazer o que tem que ser feito. Enfeitar o cargo, expor a plumagem, resignar-se a ele ou dele tirar proveito, status garantido e com pífio exercício prático é algo deplorável. Uso para esses o termo “aspone” e na acepção de sua designação. Seu significado é nacionalmente conhecido e difundido. Imagine alguém num cargo de chefia, tendo possibilidades mil de realizações, amplo horizonte à sua frente e deixando de enfrentar o “touro a unha”. Aspones, sem tirar nem por. Muitos não gostam muito de se esforçar, vêem dificuldade em tudo, fantasmas em cada canto e quando obrigadas a pressionar graduados de sua própria vinculação ideológica, o deixam de fazer para não ferir suscetibilidades, provocar mal entendidos, colocar o cargo em risco ou simplesmente não o fazem por receio de um pito. Aspones até a medula, meros objetos de decoração. Ali estão, mas quando acionados é um caos. Fogem até de um contato, agendas sempre cheias. Muita justificativa e pouca ação. Felizmente não dá para generalizar, exceções precisam ser valorizadas. O oposto é algo perceptível e dignifica quem tudo faz para buscar sempre o algo mais, o novo, o possível e o impossível, tentam o inatingível. Não deixar nunca de tentar, sem pedantismo e empáfia. Nessa semana bato efusivas palmas para o trio dirigente da Secretaria Municipal de Bauru, Elson Reis, Orlando Alves e Neli Vioto, que dentre tantas tarefas na capital paulista tentam reverter algo sacramentado pelo Governo do Estado, a não realização da Virada Cultural em Bauru. Preterida por Botucatu, por lá ser reduto tucano, mesma sigla a dirigir o Estado e Bauru não o ser, eles se mostram eficientes, corajosos, arrojados, atuantes, perspicazes e com comprovada atitude diante de algo, que alguns acreditam intransponível. Demonstram que o termo aspone passa ao largo de suas atitudes. Vibro com gente assim.

O BRANQUELO E O RACISMO - texto publicado diário bauruense BOM DIA em 14/01/2012
Dizem que o Brasil não é racista, mas pipocam aqui e ali explícitas demonstrações do contrário. Um garoto negro acaba de ser chutado para fora de um restaurante na capital paulista. Negar o racismo faz parte da indiferença de como é tratado o tema. O mundo branquelo é racista até a medula e nega da mesma forma. Sou branco e sei dos males por nós produzidos.
Tudo de ruim nesse planeta foi praticado pelo branco. O patrão que me oprime, o dono do banco, o rei da negociata, o que deu o grande golpe do baú, o que inventa falcatruas para ganhar sempre mais, o que prende e manda soltar, o que assina a sentença, o que tem conta na Suíça, o que rouba mas faz, o político que mais detesto, o vereador que mais apronta, o bicheiro que vai preso e assim por diante. Todos brancos. E por que o negro é tão odiado e não o branco? O branco danou esse planeta. Não um negro. Um branco jogou a bomba nas guerras mundiais. Não um negro. São brancos os piores mandantes e mandatários de negociatas. O negro nunca teve tempo para isso, pois tem que ralar muito, pegar no pesado e quando numa posição de destaque, fazer tudo o que faz de forma perfeita, sem deslizes, sem falhas, pois do contrário, será alvo de críticas mil, chacotas, deboche e muito preconceito. Quero enaltecer o trabalho de um e dessa forma demonstrar onde estão os negros na nossa sociedade. Num famoso restaurante de Bauru, o Sin Tae, sempre lotado, mar de branquelos (como na maioria Brasil afora) observo lá dentro um negro. Como não podia deixar de ser, não como cliente, mas funcionário. Gilmar seu nome, maitrê, preto retinto, de mesa em mesa, pronto para resolver tudo. Não pode falhar e tem que estar sempre sorrindo. Muitos lhe batem às costas, pois ele sabe como fazer e faz, com primor. Vive entre a cruz e a espada, mas consegue tirar de letra nessa profissão onde pode exercer seu conhecimento. Ele é a cara de um Brasil que insiste, mesmo sabendo que enfrentará o diabo para continuar se mantendo onde está. Eu não consigo tapar o sol com a peneira.

O NEGRO SOFRE – publicado n’O Alfinete, semanário de Pirajuí SP, edição n° 669, 21/01/12
Eu sou amigo do Adelino Silvestre, um negro retinto, proprietário de uma renomada oficina de funilaria aqui em Bauru. Na casa dos 60 anos já viu de tudo na vida, sujeito sorridente, desses sem reclamações, considerado boa praça por “gregos e troianos”, “alhos e bugalhos”. Toca seu negócio sem sobressaltos, desde quando abriu mão de ter uma infinidade de funcionários, pelo modo mais tranqüilo, ou seja, com apenas três dentro da oficina, menos stress e mais saúde.

Lembrei dele nesses dias, após duas demonstrações explícitas de racismo, ambas ocorridas na capital paulista. Na primeira um menino negro dentro de um restaurante é enxotado porta afora e noutra um estudante é agredido por um PM, que por ser negro é confundido com um meliante. O negro sofre por demais da conta e ainda insistem em apregoar em alto e bom som que “esse país não é racista”. É sim e muito. Nesse mundo de branquelos, esses os grandes culpados de todos os males da humanidade e ainda nutre-se algo no inconsciente contra uma raça oprimida séculos afora.

A lembrança do Adelino foi por histórias me contadas por ele. Foi para a capital buscar um carro importado (“chique no último”), para um cliente e junto de outras pessoas, um branco e mais dois negros. Perdido no bairro de Santana notou estar sendo seguido por uma viatura policial. Quadras e quadras. Seguiu até uma avenida mais movimentada e ali aconteceu a abordagem. Com a sirene ligada são interceptados, policiais com armas em punho e o clássico pedido: “Saiam e de mãos na cabeça. Colocaram o revólver dentro do seu ouvido e nisso mais quatro viaturas e na seqüência um daqueles opalões, onde andavam as ditas autoridades maiores". Foi um “Deus nos Acuda”, até que conseguiram esclarecer tudo. Por fim o levaram num comboio até o destino pretendido.

No mesmo dia, já na saída da cidade uma patrulha o para novamente e ele já de saco cheio diz ao policial: “O que é dessa vez?”. Espantado o policial pergunta: “Por que dessa vez? O que lhe aconteceu?”. Explica tudo e não escapam de uma vistoria no carro, documentos averiguados, ligações para a Central e tudo liberado. Lembrou outra história parecida, ocorrida noutro episódio. Também na capital estava dentro de um carro com dois amigos, também a serviço e perdido. Vendo uma viatura, resolve parar e ir buscar informação. Desce e não percebe que seus colegas descem juntos e todos se dirigem à viatura policial. O guarda sozinho leva o maior susto ao ver três negros ao redor de seu carro, desce de arma em punho e os obriga a deitarem no chão. Imaginem a cena até tudo ser esclarecido. Sabe o que resultou disso tudo? Adelino pegou a maior trauma da capital paulista. “Podem me convidar para ir até na China, que irei sem susto, mas se me pedem para ir a São Paulo tenho trauma”, me diz. Sabem como classifico essas situações todas passadas por Adelino: RACISMO, sem tirar nem por.

OBS. FINAL DE ALGO QUE NÃO PODE SER ESQUECIDO: Ontem, 22/01 , lembro que um grande líder brasileiro estaria completando 90 anos, LEONEL DE MOURA BRIZOLA. Esse deixou uma obra que nem a mesquinharia de Sergio Cabral e das elites apagará da história. Dele uma frase de Darcy Ribeiro, outro a dispensar apresentações, em algo escrito em 1994: "Brizola é o primeiro governante brasileiro a compreender em toda a sua profundidade a inexcedível importância do problema educacional, cuja solução é requisito indispensável para que o Brasil progrida".
ESSE VÍDEO É DO CASAL ISSAC E DA LUANA, CANTANDO "QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ", DO CHICO, NO ÚLTIMO SÁBADO, NO RESTAURANTE DO LUSO. UM ALENTO PARA OS AMANTES DA BOA MÚSICA...

4 comentários:

  1. Caro Henrique, o racismo no Brasil como tantas outras doutrinas indignas nas quais temos projeção mundial é tão pernicioso que se tornou praticamente invisível. A violência policial é a parte talvez unicamente notada. Mas atente para a quantidade ínfima de famílias negras (pai, mãe e filhos juntos, eventualmente avós) que vc encontra simplesmente passeando num shopping, no cinema, teatro, em shows, viajando de férias, ou em qualquer outra atividade de lazer normal e corriqueira. Fico pensando como pode? Sempre que saio para um passeio qualquer destes observo este desnível tão claro e ao mesmo tempo tão invisível. O indivíduo negro até encontramos por ai(na esmagadora maioria das vezes trabalhando) mas encontrar a família negra é raríssimo. Ela está fora do mercado. A célula mater já está excluida. Quantas fotos ou filme de famílias negras felizes vc já viu em anúncios publicitários? Onde os pais negros levam seus filhos para um lazer sadio, normal e necessário? A quantidade de estudantes negros que adentram as universidades públicas anualmente é irrisória perto de brancos e amarelos. E muitos privilegiados ainda combatem o sistema de cotas alegando mil razões e todas elas desmerecendo o negro, fazendo dele mais uma vez o vilão. Penso que cotas é necessário pois ao negro, desde que aqui chegou contra sua vontade, tudo lhe foi negado, dificultado ou roubado. É preciso criar uma geração (quantidade mesmo) de famílias negras instruidas e inseridas no mercado em pé de igualdade para que começem a mudança. Ideal seria se não fosse necessário o sistema de cotas, mas nosso racismo é tão perverso e como já disse perniscioso que não ha outra saída no momento. Ou educa-se uma geração inteira, dando-lhe a oportunidade de participar como cidadãos que são, ou continuaremos vinculados a este sistema de ensino elitista e vicioso, que trabalha exatamente para se perpetuar a exclusão motivada por raça no Brasil, e é esta exclusão o maior entrave para a consolidação da nossa frágil democracia, uma exclusão racializada profundamente enraizada. Tal exclusão tornou-se "normal" aos olhos cegos da sociedade brasileira e faz parte do senso comum ordinário. A brancura da pele tem sido usada pelas elites dominantes para legitimar os seus próprios privilégios e para excluir a maioria dos brasileiros do exercício de seus direitos de cidadãos plenos e iguais (menos em oportunidades). Uma das maiores vergonhas nacionais.

    ResponderExcluir
  2. Jovem é preso por atitude preconceituosa de taxista
    Tiago Paulino solicitou os serviços de uma empresa de táxi e acabou sendo preso e agredido por policiais, sem ter cometido crime algum
    Arquivo Pessoal

    Tiago PaulinoO jovem Tiago Paulino foi preso na madrugada desta sexta-feira, 13, por um crime que não cometeu. Morador do Setor Nova Suíça, em Goiânia, ele chamou um táxi por volta da meia noite para ir até a casa de um amigo. Entretanto, durante o trajeto, o taxista parou em frente ao 8° DP, no Setor Pedro Ludovico, e começou a gritar, obrigando-o a descer do carro e alegando que não o levaria a lugar nenhum.

    Assustado, Tiago desceu do veículo e foi rapidamente abordado por policiais militares, que estavam no local participando de outra operação em parceria com a Polícia Civil. Os PMs chegaram atirando e o prenderam, sem dar tempo para que ele se defendesse. “Não deu tempo de falar nada, quando tentei falar alguma coisa o policial me bateu. Então eu tive que lidar com eles com calma até conseguir provar minha versão da história”, relatou o jovem.

    Após apresentar seus documentos de identificação, número de celular e uma nota fiscal que continha seu endereço, os policiais ligaram na casa de Tiago e confirmaram as informações fornecidas por ele. Só então o jovem foi liberado, após ficar claro que ele não tinha envolvimento com nenhuma prática criminosa. Tiago, que é formado Sistemas de Informação pela UEG (Universidade Estadual de Goiás) e trabalha como desenvolvedor de web, relatou ao Jornal Opção que após todo o constrangimento, a abordagem ainda virou motivo de chacota entre os policiais.

    O taxista foi embora do local assim que os policias prenderam Tiago. O jovem acredita que a atitude foi originada por racismo. “Ele oferece um serviço que é o transporte. E não tinha nada a ver. Então, imagino que ele usou de preconceito, pela minha cor e aparência eu tive cara de bandido, de marginal”, declarou.

    A Polícia Civil não gerou boletim de ocorrência pelo acontecido. Já a Polícia Militar gerou um relatório sobre o ocorrido, mas, segundo Tiago, o documento não consta nenhuma informação sobre os disparos, racismo ou agressão. O jovem está sendo auxiliado por um advogado, que deve dar prosseguimento às medidas legais.


    postado por LUIZ HENRIQUE NASCIMENTO

    ResponderExcluir
  3. esse é o Adelino meu irmão negro, fomos criados juntos em bauru.muita saudade,um forte abraço meu irmão te amo muito.

    ResponderExcluir
  4. esse é o Adelino meu irmão negro, fomos criados juntos em bauru.muita saudade,um forte abraço meu irmão te amo muito.

    ResponderExcluir