sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

UMA FRASE – GILETE PRESS (87)

A TURMA DE PAULO NEVES FEZ, FAZ, CONTINUARÁ FAZENDO E DÁ UM CUTUCÃO EM QUEM MERECE SER CUTUCADO
A Mostra de Teatro do Paulo Neves é o grande acontecimento de Bauru, o que dá o pontapé inicial na contenda a impulsionar o ano. Todo ano me preparo para tentar assistir a um grande número de espetáculos, mas sempre me decepciono comigo mesmo, pois deixo a desejar. Vou a menos da metade do que gostaria (e deveria) ter ido. Nesse ano não foi diferente. Peguei o roteiro, deixei um no carro, um na agenda, outro com a Ana e fiz marcação cerrada, corpo a corpo. Bem que tentei, mas todo ano existe uma desculpa, dessas bem formuladas e acabei marcando presença em somente três espetáculos, dentro de um universo de 14 peças. Quero escrevinhar aqui um pouco sobre o que vi.

A primeira delas foi a “ELES NÃO USAM BLACK-TIE” (21/01/2012, 21h), texto marcante para os de minha geração, pois é todo focado numa família de operários, moradores dos grotões destinados a eles e com algo muito forte sobre a participação desses nas greves e no engajamento político e social. Já assisti várias encenações, vi o filme e li o livro. Também passei a adorar o Gianfrancesco Guarnieri por causa desse texto e toda vez que o via como ator na TV, sua imagem me remetia a esse texto. Vejo aqui a cara do Paulo Neves, numa direção bem ao seu estilo, pois acaba se envolvendo justamente em peças com essa conotação. Paulo é de posições firmes e contundentes. O cenário é simples, a casa de um líder grevista e todas as conseqüências das escolhas que uns e outros fazem em suas vidas. Quando Paulo nos joga na cara esse texto, deixa cada espectador espremido ali na poltrona e cutuca cada um com o posicionamento que adota para sua vida nos dias de hoje. Ainda consigo pensar em fazer uma greve? É possível isso nos dias de hoje? Como agir no dia-a-dia diante de um mundo cada vez mais individualista, onde pensar em grupo passou a ser algo de tresloucado? Ele mesclou atores locais mais experientes e outros novatos, mas a mensagem foi bem passada. Sai de lá, junto de Ana Bia, a pensar nisso tudo e nada mais consegui fazer de sensato naquele dia, com o visto a me encaraminholar as idéias.

A segunda foi a “E NÓS QUE AMÁVAMOS TANTO A REVOLUÇÃO” (22/01/2012, 21h), de autoria do Ewerton Frederico e direção também do Paulo Neves. Quem assistiu comigo foi o amigo Duílio Duka e na saída reencontramos na platéia gente interessada pelo tema, como o vereador Roque Ferreira, Tatiana Calmon e o professor Rubens Colacino. O interessante da noite é que após a tensão com a sessão explícita de bestialidade que o regime militar fez com o professor de uma Escola Estadual, Antonio Maria, que foi preso e morto pelo simples fato de ter tido um poema seu publicado num jornal comunista clandestino e mesmo declarando não ter autorizado a publicação, todos nós fomos discutir o tema por mais algumas horas. Roque, em sua crítica, feita a nós, afirma que a peça é boa, mas continua a ressaltar algo a excluir o operário do processo. “Com pouquíssimas exceções, nunca é mostrada a situação do operário”, diz. Que diria de Santo Dias E Manoel Fiel Filho? E a peça do Guarnieri? E Plínio Marcos, que sempre fez questão mostrar o povão mais simples? Um bom elenco e uma mensagem bem passada. Repasso a dica dessa peça para o professor Clodoaldo Meneghello, da Unesp Bauru, que está fechando um ciclo grandioso de debate sobre esse tema para abril e com essa encenação teria, com certeza, um fecho de ouro.

A terceira foi “NELSON ROGRIGUES, SUA VIDA COMO ELA FOI”, autoria de Silvio do Prado e direção do competente Marco Giafferi (que bombou como ator no curta Abel Contra o Muro) e realizou para essa encenação um intenso trabalho de pesquisa sobre os primórdios da vida do famoso dramaturgo. O enfarte de Nelson e sua vida sendo revivida, num provável bate-papo na ante-sala da morte com Madame Clessi (a de Vestido de Noiva) e as histórias que o marcaram. Anos depois ele nos devolveria tudo em forma de pulsantes textos a retratar a vida suburbana carioca de forma primorosa. Adorei ver amigos em cena, como Caleb Patrício no papel do repórter inescrupuloso, Victoria Galvão (menina de 15 anos que vi nascer) como irmã de Nelson e Mônica Salles, talvez no primeiro papel de uma bauruense a aparecer totalmente nua em cena, em uma bacia, como a louca do cortiço. E quem me diz que o mesmo estupor demonstrado com as personagens faladeiras da peça, ambientadas no meio do século passado, não continua a ocorrer nos dias de hoje? Vivemos anos de retrocesso, perigoso emburrecimento humano, perceptível pela paixão causada pelos BBBs da vida. Os textos do Nelson parecem terem sido escritos para o hoje e não a representar algo de tão longa data. Tudo é compreensível diante de atores inexperientes, até porque a mensagem foi muito bem passada. Fui com o filho Henrique, 17 anos e o texto rendeu boas discussões.

Encerro esse prolongado texto com algo contundente. Não quero comentar a fala de Paulo Neves (estendo aplausos calorosos para Thiago e Talita, reis dos bastidores) no palco no encerramento da Mostra, pois ela diz tudo por si só. Vendo-a entenderão tudo. Em aproximadamente quatro minutos, algo para reflexões variadas e múltiplas, culminando com um texto de quando perguntaram a Mahatma Gandhi quais eram os fatores a destruir com os seres humanos. Ele respondeu: “A Política sem princípios. O Prazer sem compromisso. A Riqueza sem trabalho. A Sabedoria sem caráter. Os negócios sem moral. A Ciência sem humanidade. E a Oração sem caridade. A vida me ensinou que as pessoas são amigáveis, se eu sou amável. Que as pessoas são tristes, se estou triste. Que todos me querem, se eu os quero. Que todos são ruins, se eu os odeio. Que há rostos sorridentes, se eu lhes sorrio. Que há faces amargas, se eu sou amargo. Que o mundo está feliz, se eu estou feliz. Que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva. Que as pessoas são gratas, se eu sou grato. A vida é como um espelho, se você sorri para o espelho, ele sorri de volta. A atitude que eu tome perante a vida é a mesma que a vida vai tomar perante mim”.

6 comentários:

  1. Henrique

    O cutucão do Paulo é para os empresários, que não contribuem com a verdadeira cultura brasileira e sim, com manifestações de péssimo gosto, mas que caem no que o povo hoje ouve, vê e gosta, como o BBB. Tenhamos todos a certeza de que o teatro do Paulo, grandioso com suas 14 peças encenadas continuará tendo muitas dificuldades enquanto perdurar esse gosto pelo que de pior temos.

    Paulo, assim como o Percy, que se foi, você com sua linha de pensamento e tantos outros a insistir em apontar algo de valor continuarão tendo dificuldade para tocar seus projetos, mas terão sempre muita gente sabendo apreciar o que é bom.

    Você foi em três peças e eu que não fui em nenhuma. De ler seu texto me deu vontade de assistir, mas já é tarde. O som de sua gravação está um tanto baixo, mas é compreensível, talvez pela distância de onde gravou. Deu para entender tudo.

    Fico triste e alegre ao mesmo tempo ao ver manifestações como essa.

    Valéria

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  2. "Oi Hen,obrigada por ter ido assistir ao teatro ontem prestigiar ,a Victoria Galvao,vi vc e o Hnriquinho entrando mas na saida te perdi de vista,foi uma pena queria ter falado com vcs, mas uma vez obrigada pelo carinho,bjsss"

    NORMA E ALEX LEONI

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  3. "Obrigada Hen,ficamos emocionados com o carinho e atencao que sempre trata a Victoria,Mostrei seu blog pra um monte de amigos estou me sentindo...kkk...bjs"

    Norma e Alex

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  4. "Caro amigo vc precisa conhecer 2 musicas do Djairo do pagode sexta feira e mulher nota mil esta com o pessoal da unesp fm sivestre vamos ver se toca domingo no batuque na cozinha abçs fiquem com DEUS vc e tda sua fmilia e uma honra ser seu amigo te conhecer Abcs Djairo Alves Dos Santos"

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  5. HENRIQUE
    SAIU HOJE NO JC E COMO CITAM AS MULHERES, PRINCIPALMENTE A MONICA SALLES, RESSALTADA NO TEXTO DO PAULO, ACHEI BOM REPRODUZIR AQUI.
    AURORA

    29/01/12 03:00 - Tribuna do Leitor do JC:
    MULHERES DA XI MOSTRA DE TEATRO

    Fazendo o primeiro balanço da XI Mostra de Teatro, as mulheres predominaram em quase todas as peças, tivemos atores com desempenhos extraordinários, mas eu não posso esquecer Mariana Camargo, como Dona Romana, em Eles Não usam Black Tie. Incorporou de tal modo o papel de uma grande personagem feminina do teatro brasileiro e saiu-se a contento, desempenho para não se esquecer! Uma grande criatura! Ser humano sensível e de uma eficácia extraordinária, na maioria das peças. E foram 14, lá estava Mariana ajudando a Talita, o Marcos, o André... e todos. Parabéns! Fico feliz em você estar em nosso Curso de Teatro. Não uso, mas tiro o chapéu pra você! Obrigado por tudo.

    Marina Pasian (que vai dedicar-se aos estudos, agora no terceiro colegial, precisa realmente estudar... a Talita Neves nos legou grandes atrizes). Muito obrigado pela sua ajuda na XI Mostra e um momento muito bonito sua participação em “Nelson Rodrigues...”, com a iluminação muito competente de Thiago Neves; Larissa Ávila (turma da Talita Neves, momento grandioso o ataque de risada em “Curto Circuíto”, maturidade em cena)! Parabéns! Obrigado pela ajuda!, Isabella Tomazzini, começou agora e tem um futuro brilhante. Aline Barude, grande trabalho em “Mulheres de Atenas”e uma das atrizes que mais trabalham e vibram na Casa de Cultura Celina Neves. Lívia Jabbour, um trabalho de pesquisa em “Nós que Amávamos tanto a Revolução” ótimo! Minha Assistente em “Eles Não usam Black Tie”, de grande valia e qualidade. Perfeccionista! Inteligente e tranquila, mas quero vê-la retornando este ano aos palcos, qualidade e maturidade você as tem... (também da turma da Talita Neves).

    Mônica Salles, os papéis mais difíceis são entregues à Mônica e ela tira de letra, com muita qualidade e tranquilidade. Uma grande atriz e uma das pessoas que vestiram a camisa da Casa de Cultura Celina Neves. Vamos parar por aqui, continuamos na próxima semana... Muito obrigado a todos atores e atrizes que participaram da XI Mostra de Teatro Paulo Neves.


    Paulo Neves - diretor de teatro

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  6. Olá, Henrique...
    Adorei sua crônica sobre o trabalho do Curso Livre Paulo Neves...
    Mto bom...concordo com tudo o q disse...eu ainda assiste mais alguns trabalhos mto bons.
    "Mulheres de Atenas" apenas mulheres personificando a antítese do Teatro Grego onde as mulheres não podiam interpretar trajadas com roupas de homens dos dias de hj, super montagem....Lindo...as mulheres mais conhecidas das tragédias gregas...Um verdadeiro espetáculo. Direção de Paulo Neves, no primeiro dia...
    Outro q me deixou de queixo caído foi "Alarga Coração" , direção de Marco Giafferi...Brilhante encenação de Rafael Maia, Monica Salles e Thales Mandelli , entre outros...Show de interpretação dessa moçada nova e competente ao lado da direção precisa de Marco Giafferi.
    Vi tbm "Fulana, Cicrana e Beltrana", uma comédia bastante leve que arrancou mta gargalhada da platéia, dirigida por Silvio Selva, que deu um toque bem engraçado à mostra, com alunas novas do curso mas q vestiram a camisa e fizeram o q era prá ser feito...Trabalhar em teatro é de doar...E isso elas fizeram...
    E tbm assisti ao espetáculo "As portas" sobre a história do vocalista do The Doors, Jim Morrison...acho q é assim q se escreve...tbm direção de Marco Giafferi...Mto bom...
    E lógico os maravilhosos "Eles não usam Black Tie" e " Nelson Rodrigues, sua vida como ela foi"...Adorei...
    Valeu ter podido ir a todos esses espetáculos...
    Agora estou me aprontando para tbm entrar na luta com meus cursos de teatro...estou voltando....
    Abraços a vc amigo...
    Beijão...
    Madê Corrêa.

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