ANIVERSÁRIO DA ANA BIA, NEGA QUERÔ, AMOR NOROESTINO E FRASES DO BRA'Z'IL
CASO 1: Dia 24 foi o aniversário de minha partner (ou seria o contrário, eu partner dela?) ANA BIA. Em Bauru há dois anos e pouco, virou minha alma gêmea. Somos unha e carne. Para comemorar mais uma passagem de ano, algo muito simples, uma singela reunião de amigos mais próximos, num dia onde a chuva caiu a cântaros e num acanhado lugar, o Espetu’s Bar e a acomodação dos que vieram de forma amontoada. Sobrou calor humano e todos saíram literalmente respingados. Fomos até agraciados com uma música ao vivo pelos donos do estabelecimento, porém eles cantavam tudo o que não fazia parte do que gostávamos. Gentilmente pedimos algo mais palatável e perceber que tentavam foi algo agradável. Buscaram lá no fundo de suas lembranças recordações de Rauls, Ramalhos e alguns sambas.
Dentre tudo o que rolou naquele espaço, ressalto algo, um inusitado presente. Mariza Basso e Kyn Jr, os bonequeiros da cidade, moradores quase parede meia com o bar a presenteiam com algo singular. Ele no microfone anuncia que Mariza abriu seu baú de peças raras e irá fazer uma apresentação. Explica: “Diz a lenda que todo bonequeiro deve construir um boneco que o acompanhará por toda vida, uma espécie de mascote. Assim fez o Mestre Manoel Kobachuk que tem o seu boneco "Chico Lua" e o Beto Hinça que construiu o seu "Felizberto". Não diferente Mariza Basso quis seguir a tradição e pensou como seria seu personagem boneco que a acompanharia por toda vida. Era uma decisão difícil, uma espécie de casamento a moda antiga: até que a morte os separe. Mariza, em uma homenagem ao povo brasileiro e a raça negra decidiu construir uma mulata sambista, mas a mulata ainda não tinha nome, quando seu irmão Paulo ao vê-la perguntou: Quem é essa negra querosene? Foi batizada a mascote: Nega Querosene... Nega Querô para os íntimos”. Um trecho da apresentação está aqui gravado e noutra foto ela tenta nos explicar, até fazendo uso de biquinho, dos muitos motivos de ter-nos presenteado com uma ilustração do casal gordo de Botero:
CASO 2: Esse negócio de torcer para um time interiorano, o de sua aldeia é algo difícil de explicar, pois com a tamanha transformação no futebol nos tempos atuais, esse motivador de te fazer sair de casa, ir para o estádio, juntar-se a outros na mesma situação é de um prazer inenarrável. Estou sempre do lado do mais fraco. Escrevinhamos horrores contra os desmandos todos do futebol atual, os males de um nefasto Ricardo Teixeira para o futebol, negócios perniciosos grassando como peste e no começo da festa, o pessoal da diretoria do time aporta no estádio de helicóptero, direto para a Tribuna de Honra. Esses os donos do time e nós, os torcedores a fazerem festa, meio que sem notar o inustitado da cena. Minha indiferença (e não aceitação) tem uma explicação. Sou daqui, meu avô jogou num dos primeiros elencos do Esporte Clube Noroeste, anos 10, aprendi com ele a torcer e gostar de futebol, vibrar com a cor vermelha do meu time, tenho lembranças mil de escretes que fizeram história a vestir essa camisa e hoje, mesmo absorvendo esse momento atual, como Brizola o fez numa eleição presidencial, a que denominou de "obrigação em engolir o sapo barbudo", continuo do lado de cá (e só do lado de cá). Engulo o que fizeram do nosso futebol a fórceps, mas como não sei mais abandonar esse vício, continuo nele, tentando extrair o que restou do néctar. Permaneço junto os que conheço, os que sei torcerem por amor, os que vibram com a camisa vermelha, os que vem para o estádio, para terem a felicidade de se reencontarem, baterem papo, xingarem o juiz e é claro, gritarem felizes da vida os gols que dão a vitória do seu time. Volto por causa disso.
Ontem, 25/02, o Noroeste empatou com o Rio Claro por 1x1 e poderia ter facilmente ganho o jogo. Isso um detalhe, o inebriante desse negócio da bola. O que nos faz ir e voltar aos estádios. Esse amor, tenham certeza, não será Damiões ou outro qualquer que o dimunuirá. Voltarei, pois sei que tudo isso, assim como a vida, sempre terão suas voltas, idas e vindas. No Brasil de hoje, não existe um time puro, onde não impere esse negócio esportivo de uns lucrando sobre os demais, tirando proveito, mas volto não só por causa do amor conquistado, mas para rever pessoas. Como me é grato abraçar os amigos a cada curva. O Mirtão, que mora quase ao lado estádio não perde um jogo e vibra como criança. Eu trouxe ontem pela primeira vez um garotão, que o chamo de Corintiano, meu vizinho, que nunca tinha vindo a um estádio e sua cara era de pura alegria, por ver como todos tratavam o espetáculo. No meio da Sangue Rubro, Pavanello sempre atento aos excessos da rapaziada e nas costas de um torcedor uma marca recém feita, a de uma tatuagem com o escudo do time. "Sofreu bastante, acabou nessa semana, mas mesmo com a dor, diz que valeu a pena", me diz Pavanello. Venho com Aldo Wellicham e vou trombando com gente conhecida, como a mais remota lembrança que tenho de gente a comercializar produtos dentro do estádio, o do vendedor de paçocas. O mesmo de décadas atrás, que passa o negócio para seu filho. O velho fica no carrinho e o filho a percorrer as arquibancadas.
O time perde gols, bola na trave, outras raspando o travessão, ataques desperdiçados e num único ataque, sofremos um empate com um gol de falta. Vi belas jogadas, toques sutis, que bonito ver tabelas bem feitas para entrar na zaga adversária. Em alguns momentos, fiquei, como a maioria, cheio de esperanças. Não deu, mas foi vibrante estar ao lado de outro jovem torcedor, não mais que uns vinte e cinco anos, desses que tentam demonstrar com sua energia como o time deve se conduzir. Não parou de falar um só minuto (e de xingar), mas foi vibrante vê-lo, falante e a demonstrar um amor pouco visto em outras atividades vida afora. Vendo que não ganharíamos de jeito nenhum propôes uma tática de game, mas ela não foi escutada pelos do lado dentro. No fim da contenda, paro para um papo com Tigrão, um velho e conhecido torcedor, cuja lembrança dele vindo ao estádio com uma bateria e uma sonora buzina, virando marca registrada de uma época. Volta todo jogo, como eu e esses aqui presentes. Reclama, grita, estravaza, mas não deixa de marcar presença. Eu, assim como Tigrão, estamos muito preocupados com os bastidores, mas na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, estaremos sempre por aqui. Qual é o próximo jogo mesmo?
CASO 3: Sou um inveterado contador de histórias (e muitas estórias). Gosto de quem as bem escrevem. Coleciono escritos assim. Um deles, pouco conhecido entre os bauruenses é MARCOS VASCONCELLOS, arquiteto carioca já falecido, fino observador da vida cotidiana, dono de uma despojada prosa, quase seca, envolvente e sagaz. Quero repassar um pouco dela a quem aqui me lê, com a reprodução de umas poucas frases de um livrinho da Editora Nova Fronteira, o "BRAZIL - A MARCA DA ZORRA" (edição de 1984), só para tornar esse quente domingo mais palatável: "Conversavam Sebastião Nery e o então governador de Minas e dono do banco Nacional, dr Magalhães Pinto. Pergunta-lhe o Nery: Como o sr conseguiu ficar tão rico, governador?. Guardando, meu filho, guardando, foi a resposta. Nery não resistiu: De quem, governador?" / "É sabido o amor que os magistrados dedicam a palavras engalanadas, de penacho, plumas e egretes". / "Aderiu as regras comunistas por entendê-las humanitárias, até mesmo evangélicas - lato sensu, lato sensu. Era um comunista aplicado, fervoroso, consciente, convicto e convincente". / A mãe do psiquiatra Artur Moreira Lima telefonou para a farmácia: Os senhores aplicam injeção a domicílio?. Aplicava. Precavida, perguntou: Quem aplica é homem ou mulher?. Homem, minha senhora - responderam -, mas com todo o respeito". / Mussum entando no botequim Bracarense, no Leblon, e só vendo crioulo: Vocês proibiram entrada de branco? Deixa só o Afonso Arinos saber disso!". / Roda de papo no Antonio's, alguém pergunta para o ex-ministro e publicitário Mauro Salles: Quem é seu advogado?. Varia - responde ele. - Depende do crime". / No enterro do Vinicius, aqui no Rio, estava presente uma multidão de amigos, parentes, admiradores, jornalistas e a pequena e querida multidão de ex-mulheres. Um dos amigos, o inesquecível boêmio e intelectual Roniquito, já chegou de porre. Quando passou pela capela vizinha à do poeta, viu um mortinho solitário, acompanhado por dois velhos senhores. Roniquito, como era de costume atacou: 'Esse teu morto não tem nenhum prestígio! Defundo de merda!'. Não fossem os separadores, ele próprio teria virado outro defunto, tal a disposição dos ofendidos. Sérgio Cabral, o verdadeiro, presente ao velório do poetinha, fez a proposta: 'Deviam abrir um bar nesta josta! Bar pra valer, de birita, de Brahma, para gente poder homenagear legal nossos defuntos'. E sugeriu o nome do bar: Saideira". Essa minha leitura dominical.
OBS FINAL: Não me convidem para assistir a retro transmissão do OSCAR de hoje a noite, mas ontem fui assistir um filme no cinema e se acredito existir um favorito ao prêmio de Melhor Filme (mesmo sem ter assistido a nenhum outro) é esse, A INVENÇÃO DE HUGO CABRET, do mestre MARTIN SCORCESE. Desde "Cinema Paradiso" não havia visto uma tão bela homenagem ao cinema. Indico de olhos fechados, um CLÁSSICO.
Henrique ..Eu pus o Titulo no Caso 2 como "Sofrendo no Alfredao"..
ResponderExcluirSe vc nao achar bom eu mudo, sem problemas..
Parabens pelo texto, ficou otimo.. Já postei no www.blogdonorusca.blogspot.com
Abracos
Reynaldo Grillo