O LIVRO DO PONTO CHIC, O NOSSO “BAURU” E O ESQUECIDO RECONHECIMENTO
Quem tem verdadeiros amigos não fica nunca chupando o dedo. Algo que deixei de comparecer (por motivo de viagem) e gostaria de ter estado foi no lançamento do livro “PONTO CHIC – Um bar na história de São Paulo”, do jornalista italo/brasileiro ANGELO IACOCCA, ocorrido na hall do Teatro Municipal na última terça, 29/05 aqui em Bauru. Ao chegar de viagem recebo ligação de Sivaldo Camargo, mestre coordenador da Cia Estável de Dança da Secretaria Municipal de Cultura e me diz ter comprado para mim o livro, com direito a autógrafo e tudo ("Para HPA, Uma de tantas versões que tornaram o "bauru" patrimônio paulistano. Com um grande abraço do AI"). Sivaldo conversou com Iacocca relembrando os tempos em que fui o Diretor de Patrimônio Cultural e ele de Ação Cultural da SMC (2005/2008) e trouxemos aqui o José Carlos Alves de Sousa, proprietário do Ponto Chic para a abertura de uma exposição no Museu Histórico e inauguração de uma imenso banner a reverenciar Zé do Skinão, um que imortalizou a receita original aqui em Bauru, pois durante décadas foi o único na cidade a fazer o famoso sanduíche seguindo rigorosamente a receita original. José Carlos trouxe o busto original do Casimiro Pinto Neto, o mesmo que ornamenta a entrada do mais famoso Ponto Chic, o do Largo do Paissandu, na capital paulista, tudo para engrandecer o que estávamos fazendo. Logo a seguir, numa festa de aniversário de Bauru, consegui emplacar na revista Carta Capital um texto sobre algo a ocorrer na cidade, envolvendo o sanduíche e seu criador. Leiam algo mais aqui no: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=sandu%C3%ADche+bauru .
Esse assunto me empolga. Escrevo só mais dois parágrafos. No primeiro comento do livro. Devorei de cara o texto da orelha, escrito pelo José Carlos, depois o da contracapa e a magnífica apresentação, “Um local de vivas recordações”, feita pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, araraquarense e amante de trilhos e trens, como esse que vos escreve, além de degustador do “bauru” original e frequentador do Ponto Chic. Loyola é primoroso quando escreve: “O Ponto Chic foi a instituição mais democrática que conheci. Igualava classes sociais. Promovia a solidariedade. Dia e noite, cheio. Barulhento. Com o cheiro do queijo derretido se esparramando pelo ar”. No livro, muito mais do que a famosa história do sanduíche levando o nome dessa cidade onde nasci e moro, mas algo sobre um elo perdido, o dos cada vez mais raros bares de congraçamento humano. O livro deve ser tão saboroso quanto o original “Bauru” e aproveitarei esse tempo chuvoso, final de semana, trabalho em baixa para devorá-lo igual faço com o sanduíche, que aqui em Bauru ainda o faço no Skinão e no Bar Aeroporto (que saudade do Bauru Chic, do amigo Egberto, um que cansou de dar murro em ponta de faca e deixa irreparável saudade em quem gosta de saborear um elaborado com o máximo de requinte - olha a foto dele aí ao lado). Primoroso trabalho da editora Senac, ricas ilustrações e uma impecável apresentação. Esse livro tem cheiro de coisa boa e isso você sente ao pegá-lo nas mãos. Quer coisa mais saborosa que essa?
Nesse último parágrafo a reclamação. Não do bar, muito menos do livro, mas do pouco caso em algo iniciado e não concluído. Padecemos disso em Bauru. Quando estava lá na Cultura Municipal, comandada por José Vinagre, fizemos e acontecemos junto com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico, comandada por Wallace Sampaio (Sueli Lima acompanhou tudo) para fazer vingar o reconhecimento da receita original do famoso “bauru” junto ao IPHAN. O acarajé e o queijo mineiro tiveram suas receitas eternizadas como patrimônio imaterial. Faltava o nacionalmente conhecido “bauru”. A Cynthia Bombini lá da Cultura deve ter até hoje guardado todo o imenso material que coletou, as inúmeras correspondências travadas entre as partes. Fez entrevistas primorosas, uma até com a viúva do Casimiro. Até a graduada funcionária do IPHAN, Cláudia Vasques veio de Brasília até Bauru dar continuidade no que fazíamos e Simone Toji, antropóloga do mesmo órgão, lotada em São Paulo orientava os trabalhos de transformação do sanduíche num bem patrimonial, podendo ser transformado em Patrimônio Histórico Nacional. Fomos embora e tudo parou. Até a Certificação que era feita nos locais onde a receita original fosse mantida foi abolida. Foi criado um vistoso blog, com o designer Petraglia formatando sua identidade. Ninguém parece se interessar mais por essas coisas. E por quê?, me pergunto. Não sei. Que gaveta esconderia essa papelada toda? O Desenvolvimento Econômico parece estar em outro mundo, pois engavetou nosso sanduba e fechou também o restaurado vagão ferroviário que até poucos meses era uma das atrações do Poupatempo. Faltava tão pouco para os "píncaros da glória". Acredito num empurrãozinho como algo necessário, lembrando a todos os que ainda podem fazer algo, para que o façam. O “bauru” ainda não é patrimônio imaterial brasileiro por puro desleixo. Aproveitemos o livro do Iacocca para lembrar e clamar pelo resgate de alguém interessado em dar continuidade naquilo tudo.
Oi Henrique!!!
ResponderExcluirQue saudades de ti, cara!!!...
Vou ler depois os comentários, mas me deu uma vontade tão grande de comer o BAURU do Bar do Ulisses, lembra???? Era o melhor Bauru de Bariri.
Como vai a vida?
Beijos
Iraci
HENRIQUE,
ResponderExcluirconcordo plenamente.
Uma vez desejaram me servir um Bauru em prato, com garfo e faca, na cidade de Caxias do Sul. Perguntei por quê?
Pedi que chamasse o cozinheiro e mostrei meu RG dizendo de onde era. O que fiz ? Ensinei-o a fazer o verdadeiro Bauru...O dele era pão, presunto, queijo, um misto quente no prato.
Continue a luta.
Abs.
MURICY DOMINGUES
Olá Henrique,
ResponderExcluirInclusive depois que sai da presidência do COMTUR tudo parou... inclusiva o processo de certificação dos estabelecimentos que buscam fazer o Bauru tradicional. É realmente lamentável ver isso!
Abraços
Helerson de Almeida Balderramas - ex-presidente do COMTUR - Conselho Municipal de Turismo
Caro Henrique - parabéns pelos belos textos, obrigatórios de se ler. Esse do Bauru tá legal. Um abraço - Isaias
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