MEMÓRIA ORAL (123)
OS LEONI DE BANCA EM BANCA E SEMPRE DE BEM COM A VIDA
Todos os que circulam no quadrilatero da avenida Duque de Caxias e a rua comendador José da Silva Martha, entre a Antonio Alves e a Gustavo Maciel estão habituados com um casal a trabalhar numa banca de jornais, sempre sorridentes, fazendo amizades e resistentes como aroeira, pois mesmo sendo obrigados a mudarem de ponto constantemente, acabam localizando outro na mesma região e por ali permanecem para alegria e felicidade de todos. Trata-se de Rogélio Leoni, 76 anos e Maria Aparecida Ribeiro Leoni, 74, ambos aposentados e atuando no seguimento de bancas há quase 28 anos e somente há seis juntos debaixo do mesmo zinco.
Todos os que circulam no quadrilatero da avenida Duque de Caxias e a rua comendador José da Silva Martha, entre a Antonio Alves e a Gustavo Maciel estão habituados com um casal a trabalhar numa banca de jornais, sempre sorridentes, fazendo amizades e resistentes como aroeira, pois mesmo sendo obrigados a mudarem de ponto constantemente, acabam localizando outro na mesma região e por ali permanecem para alegria e felicidade de todos. Trata-se de Rogélio Leoni, 76 anos e Maria Aparecida Ribeiro Leoni, 74, ambos aposentados e atuando no seguimento de bancas há quase 28 anos e somente há seis juntos debaixo do mesmo zinco.
A história deles é longa e emocionante, de pura persistência (ou seria resistência). Ela, foi telegrafista por 30 anos na Cia Paulista Estradas de Ferro, depois Fepasa, entrando aos 14 anos e aposentando-se aos 44. Ele, açougueiro de profissão, 45 anos atuando no setor. “A mesma parteira que fez o meu parto, dona Pierinha fez o dele. Já estava escrito, fomos feitos um para o outro. Foram 5 anos de namoro e já são 51 de casados. Eu sei até o que ele pensa só no olhar. Ele teve açougue na Baixada do Silvino, a Casa de Carnes Rogélio por décadas e antes foi motorista, fiscal do Quaggio e viajamos juntos, ele como carreteiro, eu de ajudante. Aprendi a dirigir caminhão observando ele ao volante, num daqueles Mercedões cara chata. Isso foi em 72 e aprendi de tanta vontade que tinha”, começa seu relato a divertida dona Leoni.
Ela se aposentou no telégrafo e ele no açougue da Baixada, onde começou moleque, seguindo o pai, Adolfo Leoni, o Nenê Calabrês, que tinha casa de carnes no jardim Bela Vista. Com três filhos, um homem e duas mulheres, ambas cursaram Nutricionismo na antiga Fafil, fazendo com que a permanência em casa fosse somente de um ano. Para ajudá-las abriram duas bancas de revistas e jornais, uma para cada. Ele permaneceu 22 anos numa defronte um supermercado na rua felicíssimo Antonio Pereira, na Vila Independência e ela numa na área central da cidade, de 1984 a 1992 perto de onde moravam, na rua Virgilio Malta e depois mais um outro tempo na rua Ezequiel Ramos. Não pararam mais. Dali ela foi para seu ponto mais famoso, o da rua Joaquim da Silva Martha, perto de onde é hoje o supermercado Pão de Açucar. Três anos recheados de muita história e alegria.
O motivo das constantes mudanças daí para frente foi sempre o mesmo. “Quando estávamos gostando da coisa pediam o ponto. Foi assim em todos. De lá, ainda sozinha fui para a Araújo Leite, duas quadras do anterior. Foram mais seis anos ali. Pediram a casa para demolir e aí já vou trabalhar junto do Rogélio, pois fechamos a banca da Independência quando fechou o mercado. Tudo melhorou, pois quando um precisava sair o outro ficava no lugar. Mais um tempinho e fomos para a quadra 20 da Antonio Alves, pra cima da Duque. Ali o movimento era muito bom, foi quase um ano e meio, mas também pediram a casa. Daí descobrimos esse estacionamento, aqui na quadra 18 da Antonio Alves, para baixo da Duque, conversamos com o dono, eu fico cuidando da banca e ele acabou por gerenciar o estacionamento”, continua seu relato.
O trabalho, com as filhas formadas já não tinha mais aquela necessidade anterior, mas quem dizia que eles queriam parar. Que nada, continuaram, mesmo com os filhos insistindo que havia chegado a hora de descansar. “Isso aqui é o nosso descanso. Fazemos aqui muitas amizades, é divertido e o tempo passa rápido. Melhor do que ficar em casa tocando mosquito”, conta Rogélio. Ela não para de contar suas piadas, ouvidas das velhinhas que batem cartão diariamente na banca e mostra a foto do neto Paulo: “Olha que lindo, brinco com ele desde seu primeiro ano. Brinquei muito de pião, burica e espada com ele. Hoje faz faculdade, tem 21 anos e é a alegria dos avós. Ensinei até telégrafo para ele”, conta a coruja avó dona Leoni. Enquanto conversamos um motorista de ônibus para o veículo no sinal vermelho e sinaliza para ela lhe levar o jornal até a janela do coletivo, enquanto atende dona Matilde Maria Giraldi, 79 anos, moradora da região que faz questão de deixar registrado: “Conheço eles desde a banca lá na Araújo e venho diariamente bater papo. São uma alegria para todos nós essa convivência”.
A banca funciona de segunda à sexta das 7 às 18h e aos sábados até às 14h. Levantam diariamente a partir das 5h, quando preparam o almoço e trazem para a banca. Ali tem de tudo, fogareiro elétrico, pequena televisão, ventilador e um rádio, ligado o tempo todo na Auri-verde. Até um pequeno altar tem seu espaço num canto e além do serviço, sendo o forte a venda de cartões telefônicos para celulares e jornais, o que mais dá prazer a ambos são as histórias que contam sem parar. Rogélio tem uma Brasília creme, ano 79 e muitos já tentaram comprá-la, mas ele é irredutível. “Enjeitei R$ 10 mil e não vendo, não troco, não alugo e nem empresto. Meu filho já sabe, dar uma volta nela, só comigo junto. É meu xodó”. Ela também tem das suas e conta uma do mercado: “Mulher de açougueiro conhece bem carne. Pedi um quilo de alcatra ao cara e ele me cortou miolo de sete e perguntou se podia passar um pouquinho do peso. Disse falando só para ele ouvir que sim, mas que não queria aquela e sim a que pedi. De carne só não sei desossar”.
Do novo local só alegria e quem também vive alegre com eles é seu João Luquini, o dono do estacionamento que sabe ter encontrado gente da melhor qualidade para cuidar dos veículos sob seus cuidados. Fizeram uma parceria perfeita e felizes tocam suas vidas sem grandes turbulências. Desvencilhar-se deles é algo difícil, pois é tal o emaranhado de histórias a se multiplicar, com uma engatando na outra. Quando já tinha me despedido, Rogélio me diz no pé do ouvido: “Vou lhe mostrar algo que só eu tenho”. Fiz cara de espanto e ele me tira um vistoso anel do dedo, dizendo ser de açougueiro: “Tem mais de 60 anos, de um lado tem um arado e do outro uma cabeça de touro. Não a tiro do dedo. Peça única”. Dona Leoni faz questão de dizer ter imitado o marido e fez uma de telegrafista, tendo de um lado um raio e do outro um telegrafo. Querem mais, passem por lá, passatempo mais do que garantido e se precisar, carreguem ali os créditos de seus celulares e tornem-se clientes. Os Leoni agradecem.
Do novo local só alegria e quem também vive alegre com eles é seu João Luquini, o dono do estacionamento que sabe ter encontrado gente da melhor qualidade para cuidar dos veículos sob seus cuidados. Fizeram uma parceria perfeita e felizes tocam suas vidas sem grandes turbulências. Desvencilhar-se deles é algo difícil, pois é tal o emaranhado de histórias a se multiplicar, com uma engatando na outra. Quando já tinha me despedido, Rogélio me diz no pé do ouvido: “Vou lhe mostrar algo que só eu tenho”. Fiz cara de espanto e ele me tira um vistoso anel do dedo, dizendo ser de açougueiro: “Tem mais de 60 anos, de um lado tem um arado e do outro uma cabeça de touro. Não a tiro do dedo. Peça única”. Dona Leoni faz questão de dizer ter imitado o marido e fez uma de telegrafista, tendo de um lado um raio e do outro um telegrafo. Querem mais, passem por lá, passatempo mais do que garantido e se precisar, carreguem ali os créditos de seus celulares e tornem-se clientes. Os Leoni agradecem.
CARO HENRIQUE,
ResponderExcluirCOMO SÃO TERNOS E LINDOS OS TEUS PERFIS.
VOCÊ TEM DE MONTAR UM LIVRO COM ESSAS PÉSSOAS,
ELAS SÃO A HISTORIA DE UMA CIDADE.
A HISTORIA NÃO É SO DE POLITICOS, JUIZES, GRANDES VULTOS.
FIQUEI COMOVIDO
ABRAÇOS
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
Meus caros e caras
ResponderExcluirComo que a gente responde a um afago desses feito por um Ignacio de Loyola Brandão?
Eu não sei. Sei que gosto muito dele e descobri sua obra, aos 19 anos, anos de 1979, lendo o Pasquim, quando publicou pela Codecri o famoso "ZERO". Depois fui lendo tudo o que publicava.
Da última vez que esteve em Bauru para uma palestra, atuava na Cultura municipal (2006 ou 2007?) e convidei-o para rever a Estação da Noroeste, motivo de alguns dos seus escritos, ele de Araraquara e com laços aqui. Revivi aqueles momentos num Memória Oral aqui no blog. Depois ele me citou numa crônica sua lá no Estadão.
De lá para cá mantenho regularmente uma troca de emails com ele e vez ou outra ele graciosamente me elogia e eu fico todo derretido do lado de cá. Com esse último texto, mais um afogo, desses inesquecíveis, marcantes e a motivar esse HPA para continuar tentando escrevinhar.
Loyola saca das coisas no ar. Ele sabe que não sou dado a retratar nada relacionado aos grandões da cidade, pois tenho a certeza que para isso existam muitos já o fazendo e a maioria dos meios de comunicação idem. Estou em outra, retratando os mais simples, os que possuem pouco espaço. É isso que gosto de fazer, é isso que procuro fazer.
Essa comoção do famoso escritor é para tirar o sono desse mafuento escrevinhador. Tô que nem pinto no lixo, cheio de orgulho e se achando. Ganhei o dia, o mês e o ano.
Henrique - direto do mafuá
Que lindooos , e não adianta pedir para eles pararem .....eles amam o q faz !!!!!
ResponderExcluirLindo esse casal, singela e maravilhosa história de vida. Parabéns do Fausto
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