segunda-feira, 6 de agosto de 2012

DROPS – HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (74)

A INESQUECÍVEL MARLENE, OPERADA ARTESÃ NA FEIRA DE SAN TELMO
Permaneci por oito dias fora de Bauru. Não vi nada da festança dos seus 116 anos. Perdi o show do Edu Lobo, isso sinto muito, mas não fico por demais perturbado, pois nem bem chego e já tomo conhecimento que quem vem por aí é a Rosa Passos. Na rolança do tempo ligo a TV hoje a tarde e ouço nossos edis todos falando bem dessa cidade, verdadeiras declarações de amor, uma mais comovente que a outra. Assim sendo, como tudo caminha inexoravelmente bem, tudo nos trilhos, não me resta outra coisa, até para não ficar só saindo dos trilhos, conto uma historinha vivida na viagem. Curtinha, algo do jeito que gosto, uma descoberta de alguém meio que sem querer e com uma bela história por detrás de si.
Marlene é uma loira argentina, passou dos 70 anos e todos os domingos está na famosa feira de artesanato e quinquilharias de San Telmo, a mais famosa dos arredores de Buenos Aires, na Argentina. Domingo retrasado, 29/07/2012, fazia um frio dos bravos por lá e nada teve início antes das 10h da manhã. Eu é que cheguei antes, enfrentei o cortante vento, pois acreditava que tudo já estaria em pé logo no comecinho do dia. Vi tudo ir sendo montado, banca por banca. Subi e desci aquelas ruas todas junto de Ana Bia, a inseparável parceria de todos os momentos. Encapotados, íamos curtindo cada parada e além de ver o exposto, assuntando sobre as pessoas por detrás de cada balcão. Em cada semblante uma história de vida, aliada ao que trazia para comercializar ali nas ruas. São várias viagens no mesmo espaço físico.

Paramos numa e dali só arredamos pé após um longo bate papo. Quem estava ali trabalhando era a tal Marlene. Primeiro nos contou um pouco do que fazia, os famosos fileteados portenhos, placas com desenhos e escritos variados. Muito da Argentina ali naqueles escritos e uma mais linda que a outra. Difícil escolher somente uma. Quando decidimos pela nossa, ela nos vendo brasileiros diz ter morado longo tempo no Brasil, no Rio e que havia trabalhado no Cassino da Urca. Citou uma infinidade de artistas que conheceu e trabalharam com ela, dentre eles Nelson Gonçalves e Leny Eversson. Quando diz ter atuado por muito tempo na famosa Galeria Alaska, em Copacabana, reduto de shows dos travestis por décadas, termina nos expondo algo que não havíamos percebido. “Fui uma das primeiras operadas. Fiz a minha no Marrocos e podia expor a genitália nos shows, pois muitas delas, desde a Rogéria, como depois, pouco antes de voltar ao meu país, a Roberta Close ocultavam o segredo. Só voltei para a Argentina após o fim da ditadura militar, quando a perseguição por aqui abrandou. Tenho muita história para contar”, relata.  
E mais não contou por causa do movimento na banca. Deixou conosco seu endereço no facebook e prometeu ir fazendo um relato minucioso de sua história, de sua vivência em shows antológicos pelo Rio de Janeiro. Fez ainda mais citações, muitas pessoas conhecidas da vida artística e da "night" carioca. Hoje, casada com um colombiano, vive de bem com a vida, produz junto dele todo o artesanato que revende e não tem vergonha de no reencontro com quem estiver predisposto a ouvi-la, contar e reviver algo marcante de sua vida. A deixamos querendo saber mais. Os contatos estão sendo feitos e não nego, algo realmente encantador, em qualquer lugar por onde circule é poder registrar histórias de vida como a que descobrimos naquela manhã de domingo, meio que sem querer. Marlene, cujo nome foi inspirado, claro, na famosa Dietrich, “as pernas do século”, sabe que tem por trás de si algo que precisa ser registrado e se possível, não esquecido. Com o pouco ouvido já escreveria algo inebriante, podendo ouvir tudo em detalhes, algo que não saberia nem como descrever.

Assistam esse vídeo gravado numa cada noturna de Buenos Aires. Depois explico tudo:

3 comentários:

  1. Bom dia Garotinho,
    Um grande abraço e continue nessa maratona informativa. Sucesso! Gemicrê Nascimento

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  2. Escrevo de Gemicrê
    Esse bom baiano, interiorano de Feira de Santana é professor de Design em sua cidade e pela primeira vez esteve em Buenos Aires e participando, como minha Ana, do Congresso de Design em Palermo. O conheci num bar em Palermo, junto de outras pessoas e bateu de cara uma empatia mútua. Pessoa simpática, generosa e cheio de boas histórias para contar. Foram horas das mais agradáveis das quais não me esquecerei jamais. Um novo amigo conquistado. Abracitos a ele

    Henrique - direto do mafuá

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  3. Caro Henrique
    Ficamos felizes com sua viagem, seus textos, os elogios do Ignácio de Loyola Brandão e entrevistas dadas. Parabéns mesmo, você merece!
    Mas você perdeu um show inesquecível... o Edu foi sensacional!
    Nos vemos no show da AmoRosa, o João Gilberto de saias.
    Abração
    W.Leite

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