AMIGOS CANDIDATOS, “SEM PALAVRAS” – publicado BOM DIA BAURU, edição de 21.07.2012
Passava por momentos aflitivos diante de alguns amigos e conhecidos saindo candidatos à vereança aqui em Bauru. Alguns já me cercavam na rua, outros lançavam olhares de aproximação mesmo em calçadas diferentes. Pararam o veículo no meio fio só para um mero aperto de mão, além, é claro, das mensagens via internet, chegando a todo instante. Virei personagem principal, requisitado e disputado. Alemão, o da Kananga me disse que será o homem da Cultura e quer meu apoio. Marta, do DAE me olha com um olhar desses de clemência, do tipo “não me abandone”. Isaías Daibem, ainda não cruzou comigo, mas não sei o que lhe falar no próximo reencontro. Markinhos, o da Labirinthus me aperta a mão durante um jantar e diz “estamos aí”. Digo ao Issac Ferraz que alguém a cantar tão bem João Bosco só pode ser boa gente. Roque não me diz nada, pois sabe o reconhecimento que tive pelo que vem fazendo. À Suzy, da Apeoesp nem sei o que direi. Os Ricardos, o Barreira e o Oliveira sabem que nossa diferença é ideológica. Eliza Turolo é minha considerada de longa data. Pedro Valentim, Nilson Costa, Clemente, João Fumaça, Hilda Campos, Artemio Caetano, Cidinha do Azulão, Alex Gasparini e tantos outros. A lista é grande e minha campainha toca novamente, só que já tenho meu voto mais do que definido. Só não quero magoar tanta gente de uma só vez. O meu é ideológico. Não basta nessas horas ser amigo. Com muitos a cervejar e jogar conversa fora não teria coragem em confiar missão tão séria. Sivaldo Camargo, meu amigo professor de balé lá da Cultura municipal me deu a definitiva dica para não magoar ninguém, sem entrar em desgastantes detalhes. Disse-me que o ator Paulo Autran tinha uma saída honrosa quando colocado em saia justa. Opinando sobre uma peça, um prato no refinado restaurante ou em qualquer outra situação saia sempre com essa: “Sem palavras”. E feito com imponência, entonação de voz como algo definitivo, deixando a pessoa sem jeito sequer para questionar se aquilo representava uma coisa ou outra. Ou nada. Ou tudo.
“HD” CHEIO E O SEXO DOS ANJOS – publicado BOM DIA BAURU, edição de 28.07.2012
Minha caixa de e-mails continua entupida. Dessa feita me enviam de forma desmedida informações sobre o próximo pleito eleitoral. Elas me chegam de tudo quanto é jeito e maneira. Querem que me mantenha informado de cada detalhe e possibilidade. É impossível ler tudo, mesmo se quisesse (e não quero) saber de tanta coisa inútil a respeito dos candidatos. Olha o nível do que recebo. “Que acham de alguns candidatos não terem patrimônio algum? Seria por conta de não saber gerir suas receitas? Ela tem patrimônio considerável. Tenho uma pesquisa que procura dizer se teremos segundo turno na cidade. Quem será o candidato a vereador mais votado? A coligação Y fará no máximo dois vereadores. Que nome sugere da coligação X como possível eleito? Imaginando o partido K elegendo três, qual nome sugere com probabilidades. Do partido Z você votaria no João ou no Manuel? Tenho absoluta certeza que a renovação será de 90% na nossa Câmara. E você? Teremos dois turnos em Bauru? A próxima composição de vereadores terá...”. Esse processo político está sendo um dos mais desinteressantes de que se tem notícia. O de maiores possibilidades de informações nos seus bastidores, tudo chegando on-line, porém, com o eleitor cada vez mais dando sinais de não estar nem um pouco interessado nesses detalhes. Preferiria saber quem desses todos tem realmente interesse em atuar pela cidade, quem já fez algo sem mandato, quem está do lado do quê, quem defende o quê e quando no embate, de que lado se posicionará. Um influente advogado da cidade disse-me dias atrás: “Quero eleger um vereador corajoso, que coloque o dedo na ferida e que não tenha medo de ser cassado por causa disso”. Poucos com essa qualificação e nenhuma discussão sendo feita nesse sentido. A melhor resposta eu ouvi de um dileto amigo, outro igual a mim, cuja decisão já está mais do que tomada e cuja propositura não coaduna com a maioria do que ouve, lê e recebe via e-mail. “Meu HD não comporta mais isso”, me disse. Cansamos de discutir o sexo dos anjos.
CIDADÃOS DO MUNDO – publicado BOM DIA BAURU, edição de 04.08.2012
Gosto demais de conhecer pessoas de espírito universal. As que conseguiram suplantar algo muito além da abrangência de sua própria aldeia. Tornaram-se cidadãos do mundo. Responsabilidade aumentada, pois tudo o que dizem e escrevem possui grandiosa repercussão. Existem muitos nesse patamar, alguns com o ego extremado, querendo por para fora somente algo de si próprio e de seu currículo. Esses são desprezíveis, pois ainda acreditam que o mundo gire em torno de si próprio. Nada mais juvenil que isso. Fujo desses. Porém, quando nas raras oportunidades que a vida me proporciona, me deparo com alguém de caráter universal, corro ao encontro delas e fico a ouvi-las atentamente, viro escancarado tiete e depois faço exatamente o que exponho aqui, passo a ideia para frente. Viajando por Buenos Aires nessa semana pude conhecer uma dessas pessoas. Rep é um dos maiores muralistas no mundo de hoje, argentino, publica diariamente suas tiras no jornal Página 12, sempre abordando temas a tocar profundamente o ser humano diante desse globalizado e inconstante mundo em que vivemos. “Sou um humanista político, preocupado com a história. Vivo apartado e não tenho nenhum problema em mostrar a minha ideologia. Defendo ideias e os que o fazem não podem viver escondendo-as. O governo do meu país e do seu não estão com o poder. O poder está do outro lado e é sobre isso que desenho, é sobre isso que falo e escrevo”, me diz no primeiro encontro. As oportunidades das pessoas hoje alcançarem um patamar de respeitabilidade, diante de um mundo onde trombamos uns nos outros é como a de ganharmos o prêmio máximo num jogo de loteria. Miguel Rep (www.miguelrep.blogspot.com) chegou lá, possui credibilidade estabelecida em toda América, Europa e a usa pelo bem comum. Pinta murais mundo afora, todos com temas sociais e diante de um microfone não tergiversa, vai ao cerne da questão. Provoca, instiga, faz pensar e sem medo de cara feia ou das provocações do outro lado. Talvez o vejamos em Bauru em setembro. É o que tento por aqui.
Henrique
ResponderExcluirAcredito que vc mesmo deve ter percebido um pequeno erro no seu texto sobre a frase do Paulo Autran. O título do livro com suas memórias é "Sem Comentários" e não "Sem Palavras". A frase correta é a do título do livro, porém em nada desmerece o que escreveu. Tanto um como outro se encaixam no que quis dizer com seu texto. Fica só a retificação. Verifique se o Sivaldo, que te passou a frase, o fez também com a palavra trocada.
Um abraço do
Daniel Carbone
Henrique
ResponderExcluirAndo pensando como ti. Incrédulo com tudo o que vejo e leio sobre essas eleições. Essa infinidade de inúteis informações não acrescentam nada em nossas vidas. E ainda mais quando todos os candidatos são muito parecidos e quando no poder terão uma ação muito parecida. Desilusão é o que sinto.
do seu amigo das barrancas do Mato Grosso, o Paulo Lima