BASTIDORES JORNALÍSTICOS COM MINO CARTA E ALGUÉM DE NOSSA ALDEIA, MARIA DALVA
Aqui nesse mafuento espaço até as coisas aparentemente mais desconexas possuem certa relação. E possuem mesmo, pois nada acontece por acaso (ou ocorrem? Sei lá!!!). O fato é que ao dar minha matinal batida de ponto, domingo passado pela banca de livros do Carioca dentro da Feira do Rolo, dou de cara com um livrinho que já possui, li décadas atrás e o perdi por aí, o “Mil Dias – Os bastidores da Renovação em um Grande Jornal”, do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, com introdução de Otávio Frias Filho e prefácio de Mino Carta. "Essa é a história do que acontece num grande jornal que resolve mudar, e das consequências que as modificações propostas causam no meio profissional e na própria sociedade”, a explicação em sua orelha. Trata-se da tese de livre docência do autor, apresentada na USP e transformada em livro, versando sobre algo instigante no frigir no final dos anos 80, a reforma jornalística ocorrida na Folha de SP, denominada de Projeto Folha. Dentre os prós e os contras, o que me fez reler o livro à toque de caixa foi o texto do Mino (confesso, comecei detrás para a frente, pois o dele está no fim). Uma bela lição de jornalismo, explicada em poucas frases selecionadas e aqui registradas:
- “Carlos Eduardo Lins da Silva sabe que jornalismo é negócio, ora muito bem. (...) ...os colegas de profissão tendem a considerar a si próprios como intelectuais de esquerda, o que acarreta irreparáveis afecções oculares. (...) Dono de jornal tem de estar perfeitamente inteirado do estrei to relacionamento entre jornalismo e negócio. Resta ver como cada qual enxerga o seu negócio”, pág. 213.
- “Alguns fundaram clubes e seitas achando que estavam indo às ruas com um novo jornal. Outros mais mergulharam na corrupção e exibiram competência invulgar na prática da natação na lama, esporte tão popular quanto o chute do cadáver. Todos serviram ao poder, quem mais, quem menos, dependendo da arrumação do cenário e da força do seu jornal. Nada de surpresas. O imprensa no Brasil é sempre parte do poder, é o próprio poder, mesmo quando está na oposição. Uma eventual divergência com o governante de plantão não abala esse pilar do establishment”, pág. 214.
- “Há diferenças, evidentemente, entre empresas jornalísticas que vivem e crescem valendo-se das suas receitas de circulação e publicidade e empresas que chantageiam poderosos e vendem apoio. (...) A contribuição da imprensa para a manutenção do status quo tem sido magnífica – em certas circunstâncias, vital”, pág. 214.
- “O que não está claro é se o boss da Folha, se dão conta de que o Brasil global e maranhense, sempre e sempre burbônico, está longe de ser o caldo de cultura ideal para para os melhores negócios, embora seja imbatível para golpes e falcatruas. (...) Nem por isso, a Folha mostra um límpido entendimento de outra relação, além daquela entre jornalismo e negócio: a relação entre avanço democrático e a transformação de um capitalismo cartorial em capitalismo moderno”, pág. 215.
- Quem sabia destas coisas, e outras mais, era Claudio Abramo, o melhor jornalista engajado pela Folha em todos os tempos. (...) De saída custa a acreditar que a operação se resuma a passar para o papel o óbvio a ulular na esquina: a necessidade da crítica, a prestação de serviço, o ditatismo na exposição dos fatos. (...) Quem casa com o projeto, passa a viver a experiência com rigor monástico: a ‘missão’ tem de ser ‘cumprida a cada dia, com afinco, aplicação e responsabilidade’. Quem não acredita é peremptoriamente admoestado a largar o emprego, ‘por discordância ou inapetência’”, pág. 216.
- “A Folha que aí está surgiu em um momento raro na sua singular amizade com Abramo. (...) Arrisco, porém, a hipótese de que Octavinho sofra, em um silêncio que não concede sorrisos de Gioconda, a sua condição de diretor de redação por direito divino. Sempre lhe faltará a certeza de que foi para o trono por mérito próprio, e não por ser filho do patrão”, pág. 217.
- “Espera-se que saiba que a maioria dos jornais europeus são feitos por um número de profissionais não notadamente superior ao efetivo da sucursal da Folha em Brasília. Sinal de economia, em proveito do bom negócio. Também sinal de competência e cultura. (...) Parece improvável que os nossos jornais deixem de exprimir as carências de uma nação ainda distante da contemporaneidade do mundo. Segundo tema de reflexão. A melhores textos da Folha são em grande parte de autoria de profissionais que não se formaram à sombra do Projeto”, pág. 218.
Basta de citações e vamos às comparações. A Folha foi, não é mais nem sombra do que já foi um dia. Morro de saudade de Claudio Abramo, como também sinto muito a falta de jornalistas da cepa de um Mino Carta circulando por redações variadas, tanto de órgãos impressos, como também TV e rádio. Vivemos um péssimo momento no jornalismo, onde dá-se muita opinião, mas quase todas, ou sua grande maioria a louvar o pensamento único. Quando algo destoa disso, um perigo à vista. Foi-se o tempo em que jornalista era comparado à intelectuais de esquerda. Hoje, fazem o jogo descarado do patrão e mandam o jornalismo às favas. A correta informação foi enviada para as cucuias. Diante disso resistem alguns ainda a seguir o jeito correto da prática jornalística. Cito vários, mas a lista é pequena e tende a ser reduzida ano após ano. Persistem mais hoje pelos meios alternativos.
Encerro o longo texto de hoje versando sobre uma jornalista local, MARIA DALVA. A conexão citada no início do texto e quando comparada ao que acabo de citar do livro, tem nela uma expoente quase em vias de extinção e possui toda conexão possível e imaginada. Bauru tem bons jornalistas, tem até faculdades, mas cadê os que o praticam dentro dos verdadeiros e originais manuais, os da prática da verdade factual dos fatos? Conto nos dedos de uma das mãos, e olha lá. Essa jornalista é uma delas. Faz o que tem que ser feito há bom tempo, fala forte e doído, doa a quem doer. Dirige o jornalismo da 94FM, de forma arrojada, enfrentado dragões, rufiões, gaviões e até os malandrões do cenário em que vivemos. Bate de frente e conquista com isso muitos admiradores, como por outro lado, adversários e até inimigos. Semana passada pegou no pé nos “donos da cidade”, quando da aprovação de um condomínio que não passou pelo crivo dos donos de imobiliárias bauruenses e por isso está tento problemas mil de legalização. Escancarou uma situação, que perpassa por todas nossas relações comerciais e pasmem, sumiu do ar a partir dessa segunda, quase sem explicações. Deu um susto em todos seus diletos admiradores e assíduos ouvintes. A explicação que busquei via um telefonema para a rádio foi a de ter saído de férias. Ufa! Mas seria de bom alvitre ouvir isso dela própria, pois o que disse pelas ondas do rádio repercutiu muito, sendo motivo de amplas discussões e como as frases de Mino explicitam e escancaram, as relações no meio jornalístico atuais são mais conturbadas do que possam imaginar nossa vã filosofia. Pressão todos sofremos e quem garante que algo nesse sentido não pudesse ter ocorrido junto aos proprietários da 94FM?
Momentos prazerosos de leitura Henrique Perazzi de Aquino ... tbm frequentei a redação da Folha, nas décadas de 70 e 80, quando minha mãe trabalhou lá, e concordo plenamente que péssimas mudanças ocorreram na Folha ... contudo, para quem desde pequeno teve esse jornal no bidê de casa .... é como time de futebol .... por mais que erre, não ficamos sem ele. Mas concordo que é um vício de merda. Quanto à Maria Dalva, fiquei com vontade de entrevistá-la depois das suas linhas. Abçs querido, e parabéns pelo artigo.
ResponderExcluirPaul Sampaio Chediak Alves
Recebo um e-mail pessoal do Paulo Sérgio Simonetti me esclarecendo a situação da Maria Dalva, já aposentada e do esforço dele em fazê-la continuar apresentando ao menos o noticiário do horário do almoço. Eu sei que com ele isso de pressões, ainda mais nesse momento, não vingariam. Ela está de férias, só que como está aposentada, pode ou não voltar. Depende também dos pedidos que venha a receber no período de descanso. O meu já segue agora: VOLTA DALVA... VOLTA DALVA... VOLTA DALVA...
ResponderExcluirHenrique - direto do mafuá
Informe:
ResponderExcluirO Brasil é o tema da palestra que o diretor de redação da revista Carta Capital, Mino Carta, dará no espaço de Eventos da FNAC paulista na quarta feira dia 12. O bate papo faz parte da série de seminários intitulada Diálogos Capitais, uma iniciativa da revista Carta Capital, parceria da FNAC nesse encontro.
Mino Carta falará em primeira mão sobre seu novo livro, O BRASIL, a ser lançado em fevereiro.
12 de dezembro, 19h, FNAC Avenida Paulista 901 - entrada gratuita e sem prévia inscrição.
Te aguardamos lá