sábado, 15 de dezembro de 2012

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (23)

NA ROLANÇA DE UM LONGO BATE PAPO EM UMA VIAGEM COM PAULO BETTI
Desapareci na parte dessa tarde, fui abduzido e conto o ocorrido. José Vinagre, o produtor da peça “Deus da Carnificina – Uma Comédia sem Juízo” (junto com a Ferreira Produções, de Botucatu), tendo o ator Paulo Betti no elenco, envolvido com o corre-corre para lotar dois espetáculos amanhã em Bauru (Veritas, 19 e 21h30) não poderia o levar em Botucatu onde a peça ocorre hoje. Ciente da amizade que temos com ele, eu e Ana (ela por ter trabalhado ao seu lado na Casa da Gávea, eu pelos contatos que tivemos das vezes que esteve aqui) fomos busca-lo no aeroporto às 12h30 e o levamos para a vizinha cidade. Queríamos muito ter a possibilidade nessa sua visita de momentos de um papo em particular e nada melhor do que essa oportunidade. Gostaríamos de colocar algumas conversas em dia e nada melhor do que nessa hora de viagem. Foi o que fizemos. Ainda no aeroporto uma senhora se aproxima e pede para tirar fotos com seu conterrâneo, cearense e ele tira as fotos, mas não a desmente, pois isso renderia uma conversa das mais longas.

Paulo é um cara muito simples, interiorano como nós todos (ele é de Sorocaba, torce pelo São Bento e sempre esteve envolvido com o pensamento e a ação mais à esquerda), além de muito cordial e bom de conversa fiada (séria também). Chegou com fome, mas um almoço o esperava em Botucatu. A única parada foi no Graal, ali pertinho do SESC, para comer uma maçã e um pão com manteiga na chapa. Lindo ver como as atendentes do posto o trataram ao reconhecê-lo. Foi algo tão informal, numa conversa onde lhe perguntaram até o signo (Virgem). Rimos muito e ele deixou cravado em guardanapos alguns autógrafos e eu com a obrigação de levar até elas cópias das fotos.
Na estrada fomos falando de tudo. Comentamos sobre a Eucatex da família Maluf, das arvores de reflorestamento pelo caminho (“como será possível manter a fauna viva nisso tudo?”, foi sua pergunta) e até do amor por Tonico e Tinoco, com estátuas na entrada de São Manuel (“ouvia o programa Na Beira da Tuia, da rádio Bandeirantes e adoro os dois”, disse). Relembramos as histórias vividas em Bauru e lembra sempre de dona Celina Neves, a dama do teatro bauruense e de sua importância na formação de atores em anos passados. Comentou de um monólogo que está em fase de preparação, com o tema divulgado só a nós, com uma observação: “Longe dos stand up, mas algo bem teatral, bem produzido. Acham que emplaca?”, nos pergunta. Disse também ter terminado a gravação da continuação do filme Casa da Mãe Joana, do Hugo Carvana, mas quando lhe pergunto se aparece novamente pelado, diz: “Dessa vez a audiência será pouca, pois estou vestido o tempo todo”.

Queríamos mesmo hablar com ele de dois assuntos. Primeiro a sua participação em algo que o comoveu ao ser comunicado, uma semana para homenagear Chiquinho Brandão, o ator jauense que morreu tragicamente 21 anos atrás, seu compadre e com peças em parceria (O Amigo da Onça, uma delas). Fomos citando seus filmes, como o “Beijo 2348/72”, “Cidade Oculta” e “Anjos da Noite” (leia isso: http://moraesjau.blogspot.com.br/2011/12/20-anos-sem-o-jauense-chiquinho-brandao.html). Paulo batizou o filho do Chiquinho e hoje esse tem uma banda no Rio. Pensamos em muita coisa que poderá ocorrer na tal semana, até numa grande mesa para recontar histórias vividas pelo amigo: “Não podemos deixar de fora o José Rubens Chachá, que atuou em Gabriela e foi grande amigo do Chico. Esse tem histórias muito loucas para contar. Ele com um microfone na mão vai ser um sucesso”. Paulo diz ter a cópia gravada da peça que fizeram juntos, os muitos filmes, os amigos reunidos, um documentário sobre sua vida, que está saindo do forno e poderá ser lançado na semana, mas a peça do Paulo, talvez o próprio monólogo. “Vamos fazer um grande evento e se o prefeito topar, terá toda minha contribuição”, disse. Rafael Agostini, o prefeito que está assumindo Jaú em 1º de janeiro já manifestou interesse, talvez encaixando o evento dentro do Festival de Inverno, mês de julho. Falamos muito com ele também sobre o acervo do cineasta norte-americano George Stoney, o documentarista ativista, que permaneceu uma temporada no Rio, morou na casa de Ana e foi professor de ambos. Morreu esse ano aos 94 anos e deixou com ela um rico acervo, mais de 70 fitas em VHS de documentários inéditos, todos prontos para serem transcritos. Talvez nasça uma parceria muito rica sobre isso. Vejam isso dele: http://thecreatorsproject.com/pt-br/blog/original-creators-george-c-stoney-o-documentarista-ativista. Gostoso mesmo foi Paulo ter visto minha revista Carta Capital em cima do banco traseiro e não satisfeito em folhear, ficou com ela para ler entre hoje e amanhã: “Te devolvo. Essa é a que dá para ler, uma pena que tenha tiragem de 60 mil e outras um milhão. Julgamento político, esse hem? Precisamos ver se o Barbosa vai continuar com outros julgamentos, pois a imprensa não terá o mesmo interesse daqui para frente. E o Lula, tentarão destruí-lo de todas as formas, pois o reconhecem forte para 2014, esse o motivo da ira”. Quando descobre que minha revista está toda grafada com uma caneta marca texto, aí sim não me devolve: “É justamente o que marcou que quero ler, amanhã te devolvo”. E a guardou na mala.

Em Botucatu, chegamos ao restaurante Mão na Roda para o almoço, por volta das 14h30, mas os outros três atores já haviam ido descansar no hotel. Comemos e o gostoso foi novamente o assédio dos garçons, todos ávidos por fotos. O simpático dono da casa o leva até um mural na entrada, com fotos de antigos jogadores e Paulo faz questão de ir ver de perto uma com Pelé no BAC, quando é rodeado por uma mesa só de mulheres, todas de Bebedouro. Dali para o hotel, um descanso e a peça à noite. Eu e Ana voltamos para Bauru e estou já confabulando como poderá ser essa tal Semana em Jaú e do Projeto a envolver os filmes do Stoney. E amanhã, domingo, Paulo estará por aqui (a peça, como pensamos é baseada mesmo no texto do Roman Polanski, "Carnificina" e ele nos diz: "Vão gostar muito") e o papo continuará.

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