PALANQUE – USE SEU MEGAFONE (35)
POETA NICODEMOS DESFERE SEU DESABAFO EM “COISA COM COISA”
Ele é um dos nossos poetas que se foram, fez a viagem inversa, do Sul Maravilha para o Nordeste, de Bauru para o Crato e hoje vive de música numa das regiões que mais vicejam nesse país. Porém, tanto lá, como cá, uma situação conflituosa. Recebo o texto com um recado: “Caros amigos, tomo a liberdade de compartilhar com vocês este texto que produzi. Grande abraço!”. Gostei e o reproduzo para abrir uma discussão sobre o tema:COISA COM COISA.
Dia destes estive conversando com uma criança, atividade de que gosto muito. É um menino inteligente e muito perspicaz. Depois de algumas brincadeiras linguísticas, utilizando rimas, ritmo, e um pouco do imaginário infantil, no meio da conversa ele parou, pensou um pouco e disse num tom entre sério e debochado: "Ele não diz coisa com coisa!" Outro adulto que estava presente repetiu a frase como quem confirma e aprova a expressão. Fiquei triste e bastante preocupado. Um adulto pensar assim, é até natural, mas uma criança de cinco anos com sintomas dessa natureza?
Tudo bem que um gato seja um gato e um passarinho seja um passarinho... Mas com um pouco de imaginação, um gato pode querer voar e cantar como um passarinho, ou um passarinho aprender a miar e conversar com o gato. Como diria um amigo meu, o mundo das fábulas é fabuloso! Enquanto poeta, transito livremente entre o estreito universo da razão e as infinitas possibilidades da transcendência. Afinal, poesia é transcendência.
Uma criança de tão pouca idade, olha e vê o mundo com espanto, onde tudo é novidade. Um caramujo no jardim, uma borboleta sobre a flor, uma fileira de formigas... Tudo isso é ao mesmo tempo real e fantástico. Partes de um mundo a descobrir e reinventar. A lógica binária dos computadores não chega nem a arranhar o verniz destas realidades tão profundas e, por isso mesmo tão simples, quando tenta explicá-las. Sou irmão umbilical das metáforas, das metonímias, enfim da metalinguagem. Assim, acredito e tenho fé, que a Verdade - com "v" maiúsculo e a Beleza -idem- só podem ser alcançadas por esta via. Entenda-se como metalinguagem todas as formas de linguagem que transcendam aos estreitos limites racionais, incluindo as não verbais.
Não que eu despreze a Razão e o conhecimento que dela decorre. Afinal toda esta conversa (para muitos, chata) está firmada em argumentos plenamente razoáveis. Prefiro considerar que a razão e suas ferramentas sejam como pedras num caminho pantanoso, onde devamos pisar com segurança para dar um próximo passo. E ainda que nos arrisquemos pisando no desconhecido, as pedras da razão devem ser nossas referências, nosso porto seguro entre um e outro movimento.
Vejam que não posso abrir mão da metáfora, mesmo pra pensar a razão. Então vamos imaginar que a casca do ovo, em sua pequena espessura, contenha o universo racional. Toda a razão e todo o conhecimento racional ali estão contidos. Com este conhecimento é possível abarcar todas as realidades racionais. Tudo que existe no universo racional, contido na espessura da casca de um ovo. Admito que isso seja suficiente, para a maioria das pessoas. Acontece que no interior desta casca imaginária, no interior deste ovo-metáfora, existe mais um universo de fenômenos e possibilidades, totalmente desconhecido e inatingível pelas ferramentas do mundo racional. E como não bastasse, existe ainda o exterior deste ovo imaginário, que não compreende nem sua casca (o mundo racional) nem o seu interior.
Ao descobrir-formular este pensamento tenho um susto imenso, quase um surto, e percebo que a Verdade e a Beleza são muito maiores e mais plurais do que poderiam supor nossos parcos recursos racionais. Penso com Leonardo (Boff) que a transcendência seja uma das necessidades humanas; assim como o alimento, o abrigo, a procriação; e se não fosse esta necessidade de transcender nossa condição humana, de buscarmos o além-de-Nietzsche, não teríamos supra-humanos como Leonardo (o Da Vinci); a Terra teria a forma de uma bolacha e seria o centro do universo; o espaço seria plano e Einstein e Deus estariam errados, e... Sinto muito pelos meninos inteligentes que são forçados a dizer coisa com coisa. Sinto por eles e por toda a humanidade”, João Nicodemos – www.poemasdonicodemos.blogspot.com .
Meu amigo/irmão Henrique. Parabéns pela excelente cobertura sobre a arte e as obras do nosso querido Nico.
ResponderExcluirGostaria que você fizesse uma matéria desta linda e magnífica obra do Nelson Gonçalves: PEDRA BRILHANTE. Um verdadeiro resgate histórico, nos moldes do seu sobre Reginópolis. Só que em fotos e melodia.
Vale a pena conferir.
http://www.youtube.com/watch?v=7R_6R9VkDp4
Abracitos
DUILIO DUKA DE SOUZA ZANNI
Caro Duka, o Nelson Gonçalves bom, era o outro, já falecido, esse sim era um dos caras mais punks do Brasil, com entrevistas memoráveis, falava e criticava sem papas na língua, era o politicamente incorreto e conhecia música.
ResponderExcluirEsse que usa o nome de Itaberá, é o oposto do que somos, do que pensamos, defendemos e faz algo que acho péssimo na música que é uma reinvenção regressiva, letras pseudo intelectuais com harmonias batidas que não há pau que levante, brocha sem gozar. Pena Branca e Xavantinho por exemplo, além de letras fantásticas, já eram modernos nos arranjos em sua época, sabiam desenvolver e hoje se pudessem com certeza mostrariam uma visão ainda mais moderna do sertanejo, algo que o Zeca Pagodinho e o Paulinho da Viola fazem no samba, agora esse cidadão com isso aí, vai tocar é na pizzaria.
Procure o trabalho musical do Luis Paulo Domingues aqui de Bauru, como articulista de jornal ele ainda está verde, mas como compositor faz um dos trabalhos mais legais não só de Bauru, mas pelo país, letras riquíssimas, arranjos bem trabalhados, modernos, unindo influências de vários lugares sem essa coisa nazista de se prender a "raízes", esse cara é de verdade como compositor e escreve olhando daqui para frente.
Marcos Paulo
Comunismo em Ação