Mafuá do HPA

ALGO DA INTERNET (68)

HÁ MUITO TEMPO O BRASIL NÃO PRODUZ... A IMBECILIZAÇÃO,  A INTELIGENTZIA E O CARNAVAL

Viajando hoje e amanhã, longe de Bauru, com pouco tempo para interneticar queria escrever pouco e nesses dias fazê-lo só sobre Carnaval. Não vai dar, vou juntar um algo mais. Ontem debaixo de chuva fui ver o Noroeste e queria reverenciar o amigo Marcos Cunha, emérito torcedor, lojista de CDs e uma espécie de incentivador do time da arquibancada. Fica isolado num canto e de lá esbraveja o tempo todo. Ontem ficou na chuva, que insistia em cair e mesmo ensopado, lavou a lama com a vitória. No intervalo, jogo ainda 0 x 0 (depois ganhamos de 2x0, contra o Catanduvense), foi lindo observar à distância ele tirar a molhada camiseta, dar aquela torcida e vesti-la novamente para o segundo tempo. Marcos persiste e quando questionado demonstra gostar de fazer tudo como nos velhos tempos. Quem o conhece sabe de sua resistência na manutenção de uma quase única loja de CDs num dos lugares mais caros da cidade, o Bauru Shopping Center. "Como alguém ainda consegue vender CDs com tudo podendo (sic) ser baixado via internet?", me pergunta um que não compra mais nada e só ouve porcariada. Não respondo, pois não vale a pena. 

Fui me lembrar dele ao ler o texto dessa semana de Mino Carta, editorial de sua Carta Capital, a melhor revista semanal brasileira. O título é sintomático, A IMBECILIZAÇÃO DO BRASIL. Veja o início: “Há muito tempo o Brasil não produz escritores como Guimarães Rosa ou Gilberto Freyre. Há muito tempo o Brasil não produz pintores como Candido Portinari. Há muito tempo o Brasil não produz historiadores como Raymundo Faoro. Há muito tempo o Brasil não produz polivalentes cultores da ironia como Nelson Rodrigues. Há muito tempo o Brasil não produz jornalistas como Cláudio Abramo, e mesmo repórteres como Rubem Braga e Joel Silveira. Há muito tempo...”. Mino para por aí, mas poderia continuar com suas citações. Sinto o mesmo que ele, uma saudade de tempos idos e uma triste constatação da predominância de uma porcariada cultural a infestar mentes e tornando as gerações atuais imbecilizantes, bestiais, seguidores de olhos fechados de algo a nos tornar mais burros, imbecis, párias, reducionistas, restritos, verdadeiras bestas humanas, sem profundidade em nada e propagando-se como entendidos em quase tudo.

Tento criar um bloco de Carnaval na cidade, o BAURU SEM TOMATE É MIXTO e algo escrachado como alvo, meta, trilha ou sei lá o que mais. Não viemos para elogiar ninguém, pois sigo à risca uma das melhores frases de Millôr Fernandes, com uma leve adaptação de minha parte: “Carnaval é oposição, o resto é balcão de secos e molhados”. A frase dele não continha a palavra Carnaval e sim, Jornalismo. Serve para ambas e tantas outras. Não faço oposição por oposição, modo arrivista de criar inimigos e criticar sem propostas. Minha crítica é para o modelo excludente e o sistema capitalista, mais excludente ainda. Recebo elogios por estar tentando recriar algo em desuso hoje em dia, uma audaz e sagaz crítica, mas alguns me dizem ter pego pesado demais e outros, dizem o contrário, afirmando que pegamos leve demais. Teve até uma que disse textualmente: “Não cabe política partidária em bloco”. Quem deu a resposta exata e definitiva foi Lázaro Carneiro, nosso nietzhiano de plantão: “Desse jeito o bloco já começa rachado”.

Que estamos mais imbecis e nem conseguimos mais distinguir crítica e punhalada, afago de bajulação, sexo virtual de sexo presencial, isso já não tenho a menor dúvida. O facebook, tão rápido, tornando possível eu falar instantaneamente com minha amiga Márcia Nuriah, eu daqui e ela lá da Holanda, eu daqui e Reynaldo Grillo lá de New Jersey, eu daqui e meu amigo Nicodemus lá no Crato, eu daqui e o Rep lá em Buenos Aires, eu aqui e todos os outros daí, mas vejo que não sabemos aproveitar esse maravilhoso instrumento em nossas mãos. O utilizamos de forma errada, besta e mais para enaltecer algo nosso, do transformar o mundo. Ficamos dando voltas e não saímos do lugar, muito jogo de ego pessoal, muito do arraigado conservadorismo que a maioria guarda dentro de si e disso tudo, uma saudade imensa de tempos idos. Daí ter colocado lá no alto o trecho do texto do Mino Carta. Aqui longe de Bauru, lembro da noite da última sexta, 01/02, quando fui na abertura do Carnaval em Bauru e vestido com uma roupa de presidiário. O que ia ouvindo era: “Fantasiado de Zé Dirceu, hem!”. Muitos se espantaram com a minha resposta: “Que nada, tô é fantasiado de detido por presunção, coisas de ministros do STF julgando à margem e nos desvios da lei. A roupa é para eles, agindo também fora da lei”. De olhares até então alegres, vi muitos torcerem a fuça e se afastarem rapidamente de tão nociva pessoa. Eu, assim como Mino e tantos outros morro é de saudade de tempos quando líamos mais, se discutia mais e com sabedoria, sapiência e papos profundos. Superficialidade, tolerância zero. Afinal, quem é mesmo Raymundo Faoro, alguém aí se lembra dele??? E do Kuduro alguém se lembra?