TREM ABANDONADO POR AQUI É MATO, MAS AINDA EXISTE JEITO...
O jornal Bom Dia produziu duas excelentes matérias escrachando a situação de um imenso acervo apodrecendo em Bauru a céu aberto, enquanto em muitas cidades brasileiras existe hoje uma disputa quase fratricida pela restauração de carros ferroviários. “O triste abandono de nossa história”, com o subtítulo, “Patrimônio ferroviário se perde, dia a dia, em uma cidade que já teve o coração e o desenvolvimento sobre os trilhos: trens e vagões agora são apenas sucata”, estão em sua primeira página, edição do último domingo, 03/03.
Para uma cidade onde ainda é praticamente impossível não se ter algum parente próximo com ligação ferroviária, sendo ela o grande impulsionador do seu progresso, isso teria que ser inadmissível. Uma vergonha, uma chaga exposta e a nos ferir por dentro e por fora. Mas o que seria isso? Por quatro anos estive investido do cargo de Diretor de Proteção ao Patrimônio da Secretaria Municipal de Cultura, cargo abaixo do de Secretário, administração Tuga Angerami e vivenciando esse problema tenho algumas coisas a relatar.
Existe uma equipe de profissionais competentes e abnegados lotados na Cultura Municipal e prontos para atuarem exclusivamente nessa questão. O fato é que a Cultura até hoje (nem no tempo que lá estive) conseguiu manter uma equipe especialmente dedicada a essa questão. O fazer várias coisas ao mesmo tempo é um problema, pois nada é feito adequadamente. O projeto Ferrovia para Todos poderia ter esse papel e voltar a pensar 24h somente essas questões férreas. Temos um Museu Ferroviário, sempre muito atraente, com gente dedicada ao seu dia a dia, sem tempo para focar no amparo desse acervo espalhado pela cidade. Bauru abrindo a boca choveriam cidades interessadas em levar muito do que ainda nos resta em condições de restauro. Tentou-se abrigar tudo, porém sem pernas para algo de concreto, muito permanece no estado visto pelas fotos do jornal. O prefeito pode resolver isso da seguinte forma: designando uma equipe, um grupo de pessoas só para cuidar disso. Teriam um trabalhão, mas conheço muitos que topariam na hora e mudariam esse quadro num curto espaço de tempo.
Temos aqui em Bauru, a Associação de Preservação Ferroviária, capitaneada pelo engenheiro Ricardo Bagnato, temos a Associação dos Amigos dos Museus, onde atuo de forma ainda insipiente, temos o Conselho DELIBERATIVO do Museu Ferroviário, que se reativado poderia em muito alavancar projetos e viabilizar recursos para fomentar uma transformação positiva no assunto. E o Ferrovia para Todos, que muito já fez, como todo o restauro da composição Maria Fumaça, mas está estagnado há anos. Critiquei ano passado a Prefeitura quando criou um grupo para focar temas ferroviários e tudo não passou de uma reunião. Com a mentalidade somente de fazer política e não de atuar de verdade, nada ocorrerá. Esse não existe mais, pois que se crie outro, mas sério, pautado em soluções. Tem também o Codepac que muito pode ajudar nisso tudo. E tem os ferroviários, uma legião de gente sempre pronta a dar o seu quinhão pela causa, esses nunca abandonam o amor pela ferrovia. Imaginem juntarem isso tudo. Seria para endoidecer gente sã. O último restauro feito foi ainda quando lá estava e contou com muitos comerciantes da cidade e região, cada um dando sua contribuição para a entrega do carro de passei de 1º classe. Envolvimento de uma cidade por inteiro.
Ainda é tempo de salvar muita coisa e até repassar para outras cidades interessadas em promover projetos como o nosso. A ação do tempo é implacável e se nada for feito já, daqui há bem pouco tempo nada mais restará. Encerro com uma curta história envolvendo Bagnato e minha pessoa. Ele realizou por quatro edições um Encontro Ferroviário e de Ferromodelismo no espaço da Estação na NOB e no segundo, coisa de três ou quatro anos atrás, fizemos uma grande movimentação para mover todos os vagões parados debaixo da gare da estação, tudo realizado com a equipe da ALL – América Latina Logística. Foi um parto tirar tudo, limpar a gare e fazer o evento. Ontem passei por ali e registrei que os carros encontram-se todos fora da gare desde aquele período. A culpa não é da Cultura e sim da ALL, pois sei que desde aquele período cobra-se deles a remoção, o empurrar tudo para a área coberta e eles não fazem. Inventam mil desculpas e não tiram os carros apodrecendo no tempo, verdadeiros motéis a céu aberto. Esse foi um dos motivos do Bagnato ter desanimado de fazer os já saudosos encontros. Esse um dos motivos da necessidade da criação de um sério projeto a envolver a questão e daí nascer um grupo homogêneo de trabalho e ação. São idéias. Eu topo qualquer coisa pela e para a ferrovia. Conheço bem mais uns quinze iguaizinhos, maluquinhos para entrarem em ação e reverterem isso tudo. AQUI NÃO É A CIDADE DO CARRO E DO ÔNIBUS, AQUI SEMPRE FOI E SEMPRE SERÁ A CIDADE DO TREM.
Olha só que bela foto. Vamos fazer um quadro e mandar para o gabinete do Pedro Tobias, outro para o Geraldo Alckmin e outro para o Serra.
ResponderExcluirDanilo Carlos
esse é mais um dos péssimos exemplos de administração pública desse país que não tem memória. Enquanto os cargos chave desse país não for ocupado por quem realemnte está diretamente envolvido com a cultura e o desenvolvimento, veremos casos como esse , de total abandono.
ResponderExcluirAs novas gerações não terão como saber das histórias dos municípios que como Bauru, tiveram e ainda tem suas raízes fincadas na FERROVIA.
LAMENTÁVEL, mas é a triste realidade a qual não podemos nos calar nem tampouco cruzar os braços. Temos que denunciar as más administrações para que esses políticos se locupletem da função para obter benefícios na maioria das vezes escusos
abraçitos carioca
Paulo Humberto Loureiro - Rio de Janeiro
à vinte anos atrás em uma reunião onde falávamos do tal consenso de Washington eu disse que as empresas privadas seriam mais forte que o estado e que mandariam em nos e nas autoridades, hoje essa all faz o que dá na veneta.
ResponderExcluirlazaro carneiro
E nao é nem dizer que nao ha interesse, o que nao há é o respeito aos interesses do cidadao. Sempre vao alegar a ausenca do motor universal - $$- custa demais, nao da lucro, da prejuizo, e pra que precisamos de historia, se ela nao compra yens??
ResponderExcluirHenrique, parabéns pelo texto.
ResponderExcluirPara nós que somos de família de ferroviários, é muito triste ver o estado em que se encontram as Ferrovias, fruto da incompetência de nossos políticos em gerênciar o transporte público, priorizando, por interesses, o transporte rodoviário..
Eduardo Lopes