domingo, 3 de março de 2013

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (48)

LÍNCOLN, O FILME, AS BARGANHAS DE ONTEM E AS DE FHC, TUDO IDÊNTICO
Ontem, 02/03, sábado, 18h30 fui ao Cine’n Fun com o filho assistirmos LÍNCOLN, o quase ganhador do Oscar 2013, filme do Steven Spielberg. O filme, como sabido, não retrata toda a vida do presidente norte-americano, mas somente o período em que esteve à frente do país e durante a sangrenta Guerra Civil. A beleza do filme foi verificar os meandros internos de um governo para tentar colocar fim à guerra e também outra batalha, também cruel, talvez até mais difícil, essa dentro de Washington, com os congressistas, tentando passar uma emenda à Constituição acabando com a escravidão. O filme é bom, talvez por ser bem detalhista.

Saio da sala e o primeiro pensamento é como as relações dos congressistas não mudaram nada daquele tempo para hoje e isso, tanto lá nos EUA como cá no Brasil. Deve ser da mesma forma na maioria dos países capitalistas. Um toma lá dá cá, que para muitos é a coisa mais normal desse mundo, mas na verdade é a prostituição política e o motivo de sua degradação. Tudo dentro de um ambiente desses é barganhado, cada passo dado é milimetricamente pensado e todas as decisões são feitas mais por interesses do que pelo bem do que se está votando. Isso ficou escancarado no filme. Assim como, num processo como esse é praticamente impossível todos deixarem de participar, desde os que votam, ao dirigente maior do país. Líncoln, que muitos dizem ter sido impoluto, impávido e não corrupto, estava ciente de todas as transações, tanto que num certo momento diz a um assessor: “Eu sou o presidente e não vou fazer isso, mas vá lá e faça o que tem que ser feito. Precisamos ganhar”.

Independente de ver se a causa era boa ou não, o fato é que a escravidão foi ali abolida. A barganha foi efetuada, alguns mudaram de lado para isso ocorrer e em todo o processo não me lembrei por um só momento do ex-presidente Lula quando disse ser o próprio Líncoln brasileiro, mas sim em FHC, o anterior a ele, Fernando Henrique Henrique Cardoso, que praticou uma barganha muito parecida com o Congresso brasileiro e por motivos muito menos nobres, a sua reeleição. Até as pedras do reino mineral sabem que barganhas desse tipo ocorreram entre gente ligada ao presidente e congressistas e FHC se fez vitorioso em seus intentos. Já virou folclore sua atuação na compra dos votos dos congressistas (falta um digno julgamento). No sistema vigente, mesmo descoberta toda a maracutaia, pelo menos aqui, tudo continua como dantes, desde que sejam amigos da mídia nativa, do contrário por muito menos é pedido a cassação ou o impeachment.  Imaginei algo surreal, FHC assistindo ao filme, observando as tratativas de negociação e vindo à sua mente como se processou as suas, muito mais nefastas, pois visou algo pessoal, benefício próprio. Será que ninguém vai perguntar isso a ele? Gostei do filme mais pela comparação e pela constatação de que tudo continua sendo votado dentro dos parlamentos da mesmíssima forma. Ou não?

Um comentário:

  1. Brilhante artigo sobre o filme e o tema: http://www.ocafezinho.com/2013/01/03/o-mensalao-de-abraham-lincoln/

    Antonio Morales

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