sábado, 9 de março de 2013

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (27)

DOIS EVENTOS, “NÓS MULHERES” E “SLAM POESIAS”: A BAURU QUE RESISTE E INSISTE.
O calor ferve tudo aqui pelos lados mafuentos. Antes do derretimento total, acredito que mais dia menos dia deve ocorrer comigo o mesmo do lastimável acontecimento com EMILIO SANTIAGO e ZÉ RAMALHO, cada qual internado no mesmo hospital e com complicações de saúde. Antes dos escrevinhamentos uma justa homenagem a um deles no começo do texto, Emilio Santiago, um dos maiores intérpretes brasileiros e no fim, uma para o Zé. Vejam e ouçam essa maravilha na voz desse “baita negão”, Youtube, num vídeo de 2007, cantando Tu Me Acostumbraste: http://www.youtube.com/watch?v=2J6M7r19sPc . Impossível não parar tudo para ouví-lo. É o que sempre faço.

Escrevo hoje de dois eventos ocorridos em Bauru durante a semana. No primeiro, a 16º edição do NÓS MULHERES, um evento a reunir uma pá de mulheres maravilhosas e divinais no Templo Bar, sob a batuta do “painho” (como elas o chamam) Fernando, o manager do local. Escrever bem do Templo e do rola por lá é chover no molhado. A comida é pra lá de boa, o ambiente idem e o astral inquestionável. Fernando consegue reverter um pouco do que ganha em excelentes apresentações musicais. Faz isso desde que me conheço por gente e nas edições do Nós, uma só fora dali (ocorreu no Teatro Municipal), sempre comemorando o Dia Internacional das Mulheres, o palco só com elas e uma imensa legião de fãs, admiradores, ardentes e apaixonados  de queixo caído, vendo a cada ano um texto novo, um texto diferente, o renovar de alguns nomes, mas sempre um impecável tratamento e a excelência no quesito repertório. Acredito que tudo o que rola no palco do Templo, Fernando deixa a coisa fluir mansamente, mas com uma exigência, a de só e tão somente passar por ali música da mais alta qualidade. Nessa edição o escolhido foi Vinicius de Moraes e elas deitaram e rolaram, provando que a música do mestre foi mesmo feita para estar na boca e no coração delas. E elas foram se revezando no palco, Luly Zonta, Lizeth, Denise Amaral, Tânia Guerra, Giovana Contador, Marli Nunes, Regina Macebo (deu uma de Tiãzinho, só batendo bumbo), Wanny, Débora Marquez, Tayla Toledo, Nataly, Francine Busch, Audren Victorio e uma que não sei porque cargas d’água estava fora da formação desse ano e apareceu de última hora, de boca cheia e convidada a subir ao palco, também deu seu recado, falo de Marthynha, a cantante dos pés descalços. Se o poeta Vinícius é o das mulheres, a noite esteve com tudo em cima. O clima acolhedor, as mesas todas com gente conhecida, calor humano saindo pelo ladrão e no palco a versatilidade delas elevada à máxima potência. Uma noite memorável, como todas passadas no Templo. Aqui algumas poucas fotos dentre tantas que tirei na noite de terça, 05/03. Não preciso nem beber para sair de lá em estado inebriante, tal o visual, o som as companhias todas. É disso que eu gosto, é nisso que sempre estarei.

A segunda noite foi na quinta, 07/03, com a realização do I SLAM, um inédito em Bauru Festival de Poesia. O idealizador e realizador foi poeta Brandão, sendo mais ou menos assim: cada inscrito teria no máximo um minuto para poetar na frente de todos e sendo julgado por uma comissão avaliadora. Escolheram o Bar Brazuka, ali na Duque quadra 9, propriedade do maneiro Colcci ou Eduardo ou Ruedas (cada um o chama de um jeito e maneira), acolhedor e acachapante, com precinhos mais do que honestos e cerveja sempre gelada. E diante de
todos iam desfilando gente conhecida de Bauru, poetas, poetinhas e poetaços, tudo ali diante dos nossos olhos. O melhor de tudo foi a performance de cada um, sendo o mais aplaudido e insuperável no que faz, Esso Maciel, com 7.2 no lombo e com gases renovados para eventos como esse. A premiação eram livros, pacotes deles e misturados, a nova, a atual e a velha geração de poetas da cidade. Até o hoje cratense Nicodemus enviou um para ser lido no vento. Cada um deu um belo recado e dois novos, gente de uma safra pulsando temas populares, sociais e também os do coração, tudo junto e misturado. Brandão comandou e Regina Ramos foi a versátil apresentadora, conseguindo domar as feras a contento. Todos saíram satisfeitos, felizes da vida e muitas homenagens ao Expressão Poética de Bauru, algo que marcou e nunca é esquecido nesses momentos. Deixo de citar os nomes dos ilustres, pois me esqueceria de alguns e prefiro dizer que a nata estava lá presente. No fim, uma bela homenagem do Cláudio Dangió, não concorrendo a nada, mas lendo e interpretando magistralmente um poema seu, o “Lázaro, o Cerrado e a Profecia” (reproduzo abaixo), para nosso caipira poeta. Outro que ao final fez uso várias vezes do microfone para relembrar clássicos foi o professor Reginaldo Furtado e arrancou emocionados aplausos. Brandão estava tão radiante que já promete uma 2º edição e até ouvi de um dos concorrente: “Não deveria ocorrer classificação, pois vira uma concorrência desnecessária no espírito do que vi aqui. O que não queria mesmo é ir embora cedo, queria mais”. Sintam o clima do poema que o Cláudio fez para o Lázaro: “Lázaro nasceu no cerrado/ O cerrado se fez em flor/ Ipê, copaíbas e faveiros/ Raízes e cipós entrelaçaram-no./ E o cerrado nasceu em Lázaro/ Entre amigos bichos do campo/ Disputando frutas silvestres/ Gabirobas, marolos e cambuís./ E assim aculturou-se/ Com músicas vindas da mata/ Sinfonias de aves e pássaros/ Sabiás, jacús e mutuns./ Também se evangelizou/ Com estórias de assombração/ Saci, caipora e lobisomem/ Suas crenças e mitos./ Nas campinas incandescente/ Das noites de lua cheia/ O guará uivava em ritual/ E Lázaro tinha visões./ Dragões com chamas e fumaça/ Correntes mata adentro/ Arrancaram arbustos da Mãe/ E a profecia fez-se então./ Em seu derradeiro suspiro/ Lázaro bradou:/ - Pai! aFasta de mim/ O gosto amargo do açúcar./ Abraçado, morreu com o cerrado/ Seus amigos sem julgamento/ Queimados foram todos/ Das cinzas, a metamorfose verde./ O progresso sentenciou:/ - Lázaro, levanta-te/ E deixe o canavial/ E assim cumpriu o veredito./ Hoje, uma voz mansa e cansada/ Clama solitária no deserto:/ - Quero apenas um eito/ Um eito do cerrado”.

E tudo está dito, nada mais se fazendo necessário para um bom entendimento de que uma outra cultura insiste em pulsar e flanar aqui por Bauru. É nela que vou, embarcando nessa onda e com ela navegando. Para encerrar, um algo de um outro, também doentinho nessa semana, Zé Ramalho, cantor e letrista dos bons, aqui cantando algo também do Youtube, não dele, mas de outro monstro sagrado na música mundial, Bob Dylan: http://www.youtube.com/watch?v=wu7qh6jyCPg . E para encerrar meus escritos de hoje algo que acabo de ler numa manchete de jornal, ainda sobre a maledicência dita e escrita sobre Hugo Chávez, um dos libertadores dessa América, ainda atrelada, atada e atolada nos ditames dos profetas do pensamento único: “Jamais se mentiu tanto sobre um homem".
OBS.: Nessas duas fotos maiores, os idealizadores, Brandão (junto da esposa e Madê) do SLAM  e Fernando (junto da Audren Victorio) do NÓS MULHERES.

5 comentários:

  1. caro H.P.A., sempre passo por aqui e dou meus palpites ,mas hoje ao faze-lo estou legislando em causa própria
    quero agradecer voce pela rica lembrança e ao Claudio Dangió pela poesia ele conseguiu sintetizar minha vida,minhas dores e lembranças nesta linda poesia, se mereço ou não,ja não é comigo pois não foi escrita para mim e sim para os que apreciam a arte.
    deixo aqui o meu slam à todos os mafuentos. NÃO TENHO PAPAS, NEM NA LINGUA NEM EM ROMA
    LÁZARO CARNEIRO

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  2. Lázaro, meu amigo só tem um defeito, grave por sinal, sai pouco de casa e para de lá tirá-lo é um parto, verdadeira operação de guerra. Perdeu o dia da poesia onde poderia ter também declamado a sua. Eu adoro ter amigos dessa laia, são os iguais a mim
    Henrique - direto do mafuá

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  3. Henrique

    A vida é dura, mas sabendo usá-la ainda conseguimos extrair delas belas fragrâncias.
    Essas duas possibilidades.
    Adorei a frase do Chávez, pois leio aberrações de alguém que tanto fez por seu povo e aqui no Brasil uns abilolados o desmerecem gratuitamente.
    Aurora

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  4. Oi Henrique!!
    Que felicidades! Pena eu estar amarrado em casa ultimamente.
    Abração!
    W.Leite

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  5. Henrique

    Queria te falar sobre esse bar, o Brazuka, que antes era ali na quadra de cima da Duque, sempre lotado de estudantes e hoje ali na Duque. o dono, o Colcci e a tia Edna, sua mãe, tocam aquilo entre muitas risadas. No cartão do bar está lá escrito: Nunca fiz amigos bebendo leite! Gosto muito do astral do bar e dos seus donos e também dos que lá frequentam. Perdi o evento de poesia e vendo nas fotos a casa cheia, fiquei radiante de alegria e louco de vontade de voltar lá. Bares fazem a nossa alegria e voce retratou dois dos bons da cidade.

    Chiquinho Lemos

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