ALGO DA INTERNET (73)
QUANDO NÃO TENHO O QUE FAZER, ESCREVO DE PESSOAS, ELAS PREENCHEM MEU TEMPO
Estou novamente na estrada, tempo curto, afazeres de volante e com pouca disponibilidade para internetar. Assim sendo repito aqui algo que produzi para o facebook e do qual tenho muito apreço, escrevinhar sobre pessoas. Depois de produzir os Personagens sem Carimbo – O Lado B de Bauru, tento fazer o mesmo com personagens nacionais e internacionais. Os dois primeiros aqui reproduzidos e no último, algo bem pessoal, uma distinta senhora, que toda vez que venho ao Rio de Janeiro faz questão de me ciceronear.
CHARLES RAMSEY, DE CLEVELAND, O VIZINHO
Esse senhor negro, dentes imperfeitos na boca é o vizinho da casa onde três jovens permaneceram retidas numa casa nos subúrbios de Cleveland, EUA por mais de dez anos, sem que ninguém notasse algo de estranho por lá. Quando uma fugiu, deu de cara com Ramsey. Sua fala, horas depois, para a imprensa, ao ver a menina vindo em sua direção foi: “Entendi que tinha alguma coisa errada quando uma menina branca bonitinha correu para os braços de um preto”. Hoje, o jornalão paulista quatrocentão Estadão, num texto, o “Negros Braços Salvadores”, reproduzido pelo jornal e escrito por Lee Siegel, numa frase me faz começar a descrever personagens como esse mundo afora (além dos bauruenses, que hoje chega ao nº 156, tento escrevinhar algo dos do mundo afora). Lá está: “Talvez ninguém admita, mas o que fascina em Ramsey é o fato de ele ser do tipo que faria muita gente mudar de calçada se o visse caminhando em sua direção. Ramsey está absolutamente certo quando fala do efeito assustador de sua raça, e de seu lugar na sociedade”, 11/05.
RESHMA, SOTERRADA VIVA POR 17 DIAS EM BANGLADESH“Uma mulher foi encontrada viva nesta sexta-feira (10) após ficar 17 dias sob os escombros do prédio Rana Plaza, em Savar, em Bangladesh. O edifício, que abrigava cinco confecções, desabou em 24 de abril, deixando até o momento mais de mil mortos”, é dessa forma que essa mulher é conhecida hoje mundo afora, um rosto a mais, um nome desconhecido e alguns breves momentos de solidariedade. A mulher é RESHMA, assim sem sobrenome, não tinha ferimentos graves e chegou a conversar com as equipes de resgate. Ela foi levada para um hospital local e está viva, assim como as fábricas de roupas locais, verdadeiros depósitos de gente, que costuram em grande quantidade para as grandes confecções mundiais (Bennetton, WalMart, El Córte Inglês...), quase sem nenhum direito trabalhista, a não ser o de trabalhar e trabalhar e ganhar um soldo insignificante no final do turno. Não pensem que a ocorrência é uma mera fatalidade da vida, pois isso é fruto da insanidade dos que querem ganhar e ganhar, sem olhar para o próximo. Fecham-se fábricas aqui, abrem-se acolá e o ser humano é desprezado aqui e ainda mais nesses miseráveis países. Uns poucos lucram muito e a imensa maioria morre dessa forma, da idêntica forma que essa já esquecida Reshma escapou por pouco. Ela terá que voltar a trabalhar em breve e adivinhem aonde o fará..., 12/05.
ENCERRO com minha amiga carioca, dona Leda Wilma Cantuária, mãe de dois e que não sai mais às ruas sem uma folhinha de Arruda, Cidreira, Alecrim (como na foto) atrás da orelha. Não o faz com uma Espada de São Jorge por causa do tamanho e peso. Diz ela que o olho gordo está cada vez mais atrevido e dessa forma precisa se proteger. Esse um dos seus escudos. Como não rezo, ela diz fazer isso por mim.
Heheheheheh tá certa ela Henrique, alguma coisa tem que ser feita. Arruda já é um começo.
ResponderExcluirPaulo Roberto Proença
Henrcão
ResponderExcluirEsse seu olhar diferenciado para as pessoas mais simples, as que só possuem espaço na grande mídia com tragédias ou ao acaso, são a sensibilidade de quem nota o invisível e tenta mudar o estado de coisas que os tornam desprezíveis. Para tu, todos são mais do que importantes e isso é tão bonito.
Leio todos e te peço, não pare.
Rosana
Professor, parabéns temos que dar voz a aos ignorados. Abração
ResponderExcluirHenrique
ResponderExcluirFale também dos que espezinham os poderosos de Bauru. Esses tem um sabor especial.
Alvarenga